Radio do Bloguer do capitão.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

DEMOS E POLIS: TERMOS ANTIGOS, MAS BEM ATUAIS!

         Felizmente, para muitas pessoas ou, infelizmente, para outras tantas, vivemos num País classificado como sendo Democrático. Mas isto não por méritos nossos, mas sim, de nossos antepassados. Eles travaram grandes lutas e embates político-sociais, para aquisição de Direitos e Garantias Fundamentais que desfrutamos nos dias de hoje. Não podemos esquecer que para alcançarem estas grandes conquistas, muitos foram jogados em prisões, outros sofreram banimentos e/ou tremendas torturas e, infelizmente, também ocorreram muitas e muitas mortes. O pior de tudo isso, é que pouco ou quase nada se sabe sobre o local de “desova” de suas vítimas. Com isso, depois de tantos anos, muitas famílias ainda lutam para saber o que aconteceu com o seu ente querido e onde foram enterrados seus corpos. Vale lembrar que, nesses casos, a ferida ainda continua “aberta, dolorida e sangrando”. 

        Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988), que ficou conhecida como a Constituição Cidadã, abriu-se uma nova esperança de dias melhores para o povo brasileiro. Com ela, até a classe dos Militares foi contemplada, tendo em vista que, até então, não podiam exercer alguns direitos sociais, entre eles o de votar e ser votado, ou seja, os Direitos Eleitorais. Assim, a partir do ano de 1988, deu-se início a escrita duma nova página na historia da população brasileira.

      Art. 142, CRFB. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

(...)

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

(...)

§ 6º - As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019).

         Dando sequencia ao propósito da escrita deste artigo, se faz oportuno apresentar o significado dessas duas palavras antigas, mas que o tempo todo “transita” em nossas conversas diárias e faz parte do nosso relacionamento social e cotidiano: Demos e Polis. Quanto a primeira, estima-se que tenha sido criada pelos gregos, como sendo os pioneiros a lançar as sementes da ideia democrática. Com efeito, apenas os integrantes de um “Demos”, cuja significação para o nosso tempo, pode ser interpretada como sendo semelhante a um Município, que era governado por um “Demarca” (para nós, Prefeito), poderiam participar de questões politicas. Foi daí que nasceu a expressão Democracia, comportando o significado de: “o governo de um Demos”. De acordo com nosso dicionário de língua portuguesa, a democracia é “a constituição do poder governamental, realizada através do voto popular (De Holanda, 2010).

        Quanto a segunda palavra, Polis, também origina-se do idioma grego, e era entendida como Cidade ou comunidade formada, organizada e habitada por cidadãos (grego, “Politikos”) nascidos no solo/território desta cidade, livres e iguais. Este mesmo termo era interpretado e foi usado para identificar as famosas Cidades-Estados. Dentre tantas Pólis á época, gostaríamos de destacar apenas duas: Esparta e Atenas. É interessante dizer, que tanto Atenas como Esparta, eram poderosas e bem desenvolvidas, mas, ao mesmo tempo, totalmente opostas nas áreas sociais, politicas e militares. Atenas tinha uma conduta voltada mais para uma educação social e política. Dando ênfase a beleza humana, mas sem os seus exageros. Eram verdadeiros amantes da Filosofia, mas sem valorizar a indolência[1]. Não se envergonhavam da pobreza, mas entendiam que a maior vergonha, devia-se ao fato de se não fazer nada para poderem evita-la. Eles tinham um olhar para o ser humano que ia além de questões políticas, que visavam apenas os seus próprios interesses. Não parece que estamos falando do hoje e do agora? Esparta, como dissemos acima, tinha uma educação totalmente distinta de sua Vizinha. Eles priorizavam uma educação voltada para as questões politicas e para a preparação militar. Neste sentido, quando ocorria o nascimento de uma criança (sexo masculino), havia certos anciãos que iriam acompanhar o desenvolvimento dela. E, em sendo saudável (sem defeitos), o menino ficaria na companhia de sua genitora até os 7 anos de idade. Após atingir esta idade, ela passaria a ser Tutelada pelo Estado Romano. Dito em outras palavras, agora quem iria ter a responsabilidade de sua educação, proteção e administração de seus bens, seria o Estado.  

        Neste mesmo período, o filósofo Aristóteles afirmou que todo o trabalho deveria ser realizado pelos escravos. Enquanto que os cidadãos teriam maior tempo para tratar das questões politicas. Relembrando nossas aulas de História, a sociedade Romana neste tempo, basicamente era representada ou composta por quatro Classes Sociais: os Patricios, Plebeus, Escravos e Proletários. Na primeira classe, estava a elite social e política romana. Tudo do melhor á época, somente eles poderiam usufruir tranquilamente. A segunda, era constituída de pequenos proprietários de terras, artesãos e comerciantes. Boa parte das crises sociais da Roma Antiga, bem como das tentativas de reforma, como a dos irmãos Graco, derivou da insatisfação dos plebeus. Um fato importante para registrarmos, prende-se a questão de que não poderiam “migrar” ou ascenderem para a classe dos Patricios. Quanto a terceria, os Escravos, eram considerados bens de posse daqueles que os compravam ou os capturavam (como objetos/coisas), além de serem desprovidos de qualquer representatividade política ou terem direitos em meio à sociedade romana. Os escravos podiam ser tanto escravos por dívidas, capturas ou conquistados nas campanhas militares romanas.

        A última, os Proletários, tinham a única expressividade social que consistia em gerar filhos. Foi daí que se originou o termo “Proletarii”. Eles compunham a parte da sociedade que ficava sob o jugo do Estado e que, quase sempre, servia para engrossar as fileiras mais frágeis do exército romano. Entretano, não podemos esquecer de outras classes que, embora fossem bastante mal tratadas, tiveram participações importantes naquela ocasião: as Mulheres, os Estrangeiros e os Prisioneiros de guerra. Os Politikos - cidadãos romanos, como e quando quisessem, poderiam fazer uso dos mesmos e das mais diversas formas possíveis. Voltando para o Brasil, durante os anos de 1964 a 1985 foi implantado um novo Regime Político de Governo, que ficou conhecido historicamente como a Ditadura Militar. Durante este tempo, fomos governado por um Militar das Fileiras do Exército Brasileiro (EB); perído em que muitos direitos e garantias fundamentais foram retirados ou suspensos por um tempo (incerto/indeterminado) aos cidadãos brasileiros (também de alguns Militares). Entre esses direitos, principalmente a liberdade de pensamento e expressão. Pessoas que tentassem exercer publicamente estes direitos, sofriam (e muitos sofreram) uma repressão severa por parte do Governo Militar. Passada esta fase, começamos a viver num País dito Democrático, tendo no Art. 5º, de nossa Carta Magna, como o verdadeiro pilar de Direitos e Garantias Fundamentais de seus Cidadãos.   

           TÍTULO II

DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

 

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015);

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (Vide Lei nº 9.296, de 1996);

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

(...).

Capítulo IV

Dos Direitos Políticos

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal (processo de escolha por votação; eleição) e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante (acréscimo nosso):

(...)

§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: (grifamos)

I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;

II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade (Reserva Remunerada). 

        Por mais que muitas pessoas critiquem o período do Regime Militar, muitas conquistas foram alcançadas. Tantas Foram que chegamos a polarizar para uma democratização popular, abrindo espaço para todo e qualquer cidadão brasileiro candidatar-se a um cargo político, desde que atendidas as mínimas exigências legais. Infelizmente, com o passar dos anos e, devido a  procedência de certos parlamentares, muitos se candidataram (e ainda se candidatam) com o propósito único de adquirirem status social, fama e muita riqueza material (bens e posses). Até então, muitas pessoas que eram “invisíveis” em nossa sociedade, inclusive em alguns casos, “semi-analfabetas”, conseguiram ser eleitas e exercerem o seu mandato. Logicamente, que não podemos esquecer que “(todo/qualquer) o homem é um ser político”, independentemente de seu grau de instrução, classe social ou cor da pele. E que a verdadeira Democracia se dá, quando “o governo é do povo, pelo povo e para o povo”. Para tanto, não se pode confundir Política como sendo apenas o ato de votar e ser votado. Na verdade, se faz política o tempo todo e todos os dias. Ela se desenvolve naturalmente dentro duma Comunidade ou de qualquer ambiente social, por exemplo, em nossas casas, no local de trabalho, nas escolas e faculdades e no próprio bairro ou município em que moramos.

     É compreensível quando ouvimos alguém dizer assim: “Eu odeio e não gosto de política e nem de políticos” (eu já falei isso). Na verdade, desta fala podemos extrair que, provavelmente a pessoa queria dizer: - Eu não gosto de pessoas que exercem a função ou a Profissão Politica! Talvez, pelo grave e triste fato, de ver e testemunhar todos os dias, notícias dos grandes desvios de verbas públicas (nas esferas: Federal, Estadual e Municipal), que estavam destinadas para obras sociais importantíssimas para a melhoria do Estado e do próprio Brasil. Precisamos urgentemente rever os nossos pensamentos e conceitos, tendo em vista que pensamentos geram atitudes. E essas atitudes podem resultar em benefícios e garantias que irão socorrer inúmeras pessoas, em especial, os mais pobres, necessitados e aqueles em estado de vulnerabilidade social. Esta revisão é de suma importância, principalmente por tanto tempo de sofrimento, pelo escorrer de intenso suor, pelos rios de lágrimas e do sangue derramado. Não basta apenas dizer que vivemos num país Democrático. Ou, simplesmente, construir uma Legislação Maior e muito bem redigido. Temos e necessitamos que ir muito mais além disso! Precisamos realmente desfrutar destes Direitos de uma forma plena e igualitária: 


“Todos são iguais perante a Lei, sem distinção (discriminação/preconceitos) de qualquer natureza (ou espécie); garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (Art. 5º,CRFB). 

    Falemos com verdade e com muita sinceridade; não é lindo e prazeroso de se ler este texto legislativo. É o que reza em nossa Constituição Federal, em nossa Lei Maior – A Carta Magna. Apesar de ter sido muito bem redigido, enquanto não houver a aplicação do Princípio da “EQUIDADE” - o respeito a igualdade de direitos a todos os Cidadãos no Brasil, ainda continuaremos vivendo num mero País em Desenvolvimento ou Subdesenvolvido (foi-nos ensinado desde décadas e décadas passadas) e sob um Regime de Governo Ditatorial ou Autoritário! Fato que foi e está sendo muito bem comprovado durante o transcorrer deste período Intitulado de Pandemia. Para encerrarmos, viver numa Democracia é o mesmo que dizer: - o Governo de meu País é exercido com a aquiescência de seus Governados (do povo). 

    Se no Brasil ou em qualquer outra parte do Mundo, não é assim! Isto não é e nunca foi Democracia. Por certo, pode até ser, mas somente impressa no papel (texto Legislativo) ou bem verbalizada publicamente (nos Palanques Eleitorais e diante das Câmeras de televisão). Para tanto, amigos e irmãos brasileiros, não se deixem iludir ou viver numa grande utopia. Lutemos com muita hombridade, determinação e com sabedoria, para que não aconteça conosco o mesmo que ocorreu com os nossos antepassados.


[1] Indolência. Estado daquele que se põe acima das Paixões. 2. Indiferença ou ausência de dores.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

DEPENDÊNCIAS: QUÍMICA E VIRTUAL, HÁ ALGUMA SEMELHANÇA?

       Os registros históricos acerca do surgimento da humanidade na terra, dão-nos informações de que, simultaneamente a sua criação ou logo após, foram criadas as árvores e vegetações de todas as espécies que conhecemos na atualidade. E, juntamente com elas, podemos afirmar que também surgiram as “drogas” que faziam (e fazem) parte natural de suas constituições orgânicas:” E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra. E assim foi” (cf. Gênesis 1:11). Durante um bom tempo, após o Criacionismo de Deus, multiplicou-se em muito o número de seres humanos espalhados por todo o canto desta terra. Num dado momento, intencionalmente ou não, este mesmo homem que fora criado por Jeová, descobriu uma das ricas propriedades dessas “ervas” e plantas nativas; e o seu nome, o patriarca Noé!

 

Gênesis 6:1;9:.20-22. E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, (...). E começou Noé a ser lavrador da terra e plantou uma vinha (várias videiras plantadas num mesmo terreno). E bebeu do vinho (produto líquido extraído da uva) e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda. E viu Cam (ou Cão), o pai de Canaã, a nudez de seu pai e fê-lo saber a ambos seus irmãos, fora.  

      A partir desta e doutras descobertas acerca da propriedade das plantas, inúmeras pessoas vêm sofrendo com as consequências produzidas pelo uso abusivo e desenfreado de suas substâncias químicas e nocivas à saúde física e mental do homem. Elas são atualmente conhecidas mundialmente como substâncias psicoativas ou psicotrópicas (SPA), sendo classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em duas categorias: ás de ordem legal ou lícitas, como o álcool etílico, tabaco (e variedades) e certos medicamentos; e ás tipificadas como ilegais ou ilícitas, como a maconha, a cocaína, o crack e tantas outras. Neste artigo, falaremos um pouco sobre algumas delas, sem nos aprofundarmos muito, tendo em vista que é por meio do uso abusivo e o consumo desenfreado, que podemos passar de mero usuário experimental ou recreativo, progredindo para o usuário disfuncional ou problema, até (são muitos os casos) assumirmos a posição complicada e perigosa, classificada pela ciência como dependentes químicos ou toxicômanos.        

          Vale acentuar que este processo não ocorre linearmente com todas as pessoas. No entanto, o percurso que temos observado em sua grande maioria é este. Nada impede que um indivíduo experimente uma substância química (legal ou ilegal), mas não sinta prazer ou contentamento com a mesma. E por isso, não venha a usá-la mais! Na verdade, de repente ele se arriscou em usá-la por mera “curiosidade” ou pela pressão do grupo social a qual pertence ou tem vontade de fazer parte (necessidade básica do Pertencimento). Entretanto, essa mesma pessoa pode experimentar outro tipo de SPA, gostar muito e passar a usá-la outras vezes. E, sempre que a substância estiver acessível e o local for aprazível para o consumo, ele não vai pensar duas vezes. E a partir daí, pode adquirir o hábito de usá-la com certa frequência e regularidade. Deste seu novo relacionamento com a droga, o usuário pode acabar perdendo o controle sobre seu uso (quando inicia/quando deve parar). E devido a este descontrole, pode fazer sua utilização de forma excessiva, inclusive com doses exageradas, correndo o risco de ter uma “overdose”.

          E isso é o que testemunhamos diariamente em nossa sociedade. Pessoas que usavam uma substância química “socialmente” (álcool/cigarro etc.), mas que, de um momento para outro, acabaram migrando da posição de “usuário” para tornar-se num toxicômano (adicto/dependente). Diferentemente do que muitas pessoas pensam, a dependência química é considerada uma doença crônica, progressiva e, além disso, incurável. Porém, ela pode ser tratada. Geralmente, o indivíduo que começa a ter envolvimento com essas substâncias, quer seja lícita ou ilícita, começa a apresentar mudanças comportamentais repentinas e bem perceptíveis aos olhos humanos. Um dos primeiros sinalizadores para a suspeita dos pais e responsáveis, prende-se a observar (e monitorar) se está ocorrendo alguma mudança neles que, seja distinta daquelas tidas como habituais. Não se pode precisar que todas as pessoas, principalmente os adolescentes, irão percorrer este caminho até ingressar na dependência química, como dissemos anteriormente. Alguns podem pular “degraus” e ir mais rápido para este triste caminho. Outros, podem experimentar por mera curiosidade, mas nunca mais voltar a usá-las. Para nós, pais e responsáveis por crianças e adolescentes, existe um Decálogo de Alerta Comportamental, elaborado pelo Dr. Osvaldo Moraes Andrade, psiquiatra, que pode nos ajudar a observar e acompanhar os nossos filhos (e jovens) e, quem sabe, alertá-los antes que entrem neste caminho perigoso. E, quase que sem volta! 

Decálogo de Alerta Comportamental

1.  Mudança brusca em sua conduta diária. 2.  Insônia rebelde. 3.  Irritabilidade. 4. Inquietação Motora: não tem paciência e não quer estar com a família. 5. Depressão: sem uma causa aparente. 6. Queda ou Desinteresse Estudantil: evasão, notas baixas e abandono. 7.  Isolamento: dos amigos de infância e de familiares. 8.  Mudança de hábitos (novos): surgimento de objetos estranhos, comprimidos etc. 9.  Desaparecimentos de coisas e objetos de valor, insistência em pedir dinheiro e, 10. Más companhias: pessoas desconhecidas de sua família (amigos que usam drogas). 

          Pode até ser que não venhamos a evitar que eles ingressem neste quadro clinico, mas se torna muito importante, sob nossa ótica, saber deste detalhes para, pelo menos, saber o momento e a hora de se fazer uma intervenção precoce, ou seja, logo que notar os primeiros sinalizadores que indicam o possível envolvimento com substâncias entorpecentes. Como costumo dizer: “Se soubermos toda a verdade sobre determinado assunto, temos mais possibilidades de conversar com eles sobre esta conduta pessoal (e social) e, quem sabe, levá-los a evitar ao ingresso deste comportamento, fazendo com que sejam libertos”.

 

1.  A Dependência Química: 

          Vimos na abordagem introdutória, um dos caminhos mais comuns e percorridos por muitas pessoas, antes de se tornarem em dependentes químicos. E por falar nisso, o que vem a ser a Dependência Química? Ela é conhecida vulgarmente na sociedade em geral, como sendo um “vício”. Termo este, que não é mais usado pelos profissionais da área médica, pois soa com tom pejorativo. Alguns especialistas afirmam ser ela “um transtorno de ordem mental, relacionado ao uso abusivo de certas substâncias químicas”. Outra significação dada, desta vez, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), diz que: “é o estado de adaptação do organismo, que se manifesta pelo aparecimento de profundas modificações físicas (e/ou mentais), quando se interrompe a administração da droga ou do medicamento”. Uma definição desta patologia que muito nos agrada, diz bem assim: “a dependência química é um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de uma droga ou de uma classe de substâncias psicoativas, começa a alcançar uma prioridade maior na vida de determinado indivíduo”. 

Vale lembrar duas coisas importantes sobre este relacionamento entre o “Usuário” e a “Substância Química” por ele usada: a primeira prende-se ao fato, de que ninguém se torna num dependente químico, de uma noite para o dia. Normalmente decorre um período de tempo, entre o uso inicial (experimental ou recreativo), para que possa resultar no quadro clinico classificado como dependente químico. E nem sempre o usuário vai se tornar num adicto, toxicômano ou dependente de droga. Mas, não podemos nos esquecer de uma coisa: “TODO dependente químico, um dia foi ou esteve na posição de USUÁRIO!” Quanto a segunda, ela volta-se para o tipo de substância química que está sendo usada por este indivíduo que, até então, ainda figura como sendo usuário. Aliado a isso, outros aspectos são de fundamental importância, tais como: 

. A dosagem que é usada;

. Quantas vezes a SPA é usada (por dia/semana);

. A forma que se dá esse uso: é fumada, inalada, intravenosa ou adesiva (colada na pele);

. A sensibilidade e personalidade de cada usuário;

. O local e ambiente em que é usada a droga etc.;

. A expectativa sobre os efeitos que são esperados pelo usuário;

. A associação durante o uso com outras SPA, o uso “cruzado”. 

        Cada tipo de SPA possui um teor de toxidade próprio, umas mais e outras menos. Vale lembrar que a utilização em sua forma “cruzada”, faz com que ocorra a potencialização destas substâncias, por exemplo, a maconha com o crack, que é conhecida como “Fristo”. Qual o propósito de se fazer esta mistura na hora do uso? Turbinar ou Potencializar os efeitos dessas drogas.  Com isso, tanto a maconha como o crack elevam seu teor de toxidade, podendo trazer maiores sensações e por mais tempo, e que são desejadas por seus usuários. Aqueles que procedem assim, podem estar num alto nível de dependência, beirando-se (se já não estiverem) ao estado de insanidade (demência). Outra coisa importante e grave acerca deste uso cruzado, volta-se para a questão de ser usada substâncias com atuações totalmente opostas no organismo de seus usuários: por exemplo, o álcool com a cocaína. A primeira substância química, é um depressor das funções Cerebrais (desacelera e retarda); enquanto que a segunda, faz parte das substâncias estimulantes das funções cerebrais (estimula e acelera). Portanto, durante o seu uso ou logo após, seu usuário pode vir a ter um AVC - Acidente Vascular Cerebral (AVE/Encefálico) ou uma complicação de ordem Cardiorrespiratória, entre tantas outras. 

1.1 – Algumas SPA e os possíveis Efeitos aos Usuários:     

         Como dissemos anteriormente, não iremos nos aprofundar muito acerca dessas SPA[1], mas, entendemos que não tem como se falar da Dependência Química, sem tecer alguns comentários sobre alguns personagens principais, que levam as pessoas a ingressarem nesta estrada sinuosa da vida. Por isso, destacamos abaixo, algumas substâncias químicas com suas peculiaridades: 

        . Álcool Etílico: também conhecido como Etanol. Embora ele se apresente com muitas variedades, mas o mais comum utilizado em bebidas alcoólicas é o Álcool Etil. No Brasil é popularmente chamado de “cana”, “cachaça ou mé etc.”. Ele pode ser apresentado em sua forma fermentada (cerveja, chope, vinho etc.) ou destilada (conhaque, vodca, uísque etc.). As duas formas de apresentação atuam no SNC de seus usuários e costumam promover mudanças social, familiar, comportamental e mental. A sua forma fermentada, costuma apresentar um teor alcoólico que varia basicamente entre os 4% e 12% (por cento). Enquanto que o produto oferecido em sua forma destilada varia entre os 30% e 50%. (por cento). Os efeitos mais comuns são: fala pastosa (embolada), perda do equilíbrio, tristeza, lentidão, mal-estar, sonolência, indisposição etc. Lembrando que os efeitos podem se apresentar de forma distintas de pessoa para pessoa. 

        . Tabaco: são vários os produtos extraídos ou derivados desta substância, os mais comuns são: os cigarros industrializados (e ilegais doutro País), charutos, fumo de rolo (o rapé/mascar), entre outros. Sua fabricação industrial agrega vários e perigosos produtos tóxicos e muito nocivos à saúde de seus usuários. Segundo os especialistas no assunto, são muitos os produtos usados em sua fabricação, mas iremos destacar apenas três: a cafeína, a nicotina e o alcatrão (contém monóxido de carbono), todas as três tem a capacidade de levar o usuário ao quadro de dependência química. É bem provável, que você conheça alguém que não consegue ficar sem tomar um cafezinho, de tantas em tantas horas. E, se ficar, provavelmente virá em seguida uma dorzinha de cabeça. Lembrando que as “drogas” que mais matam no mundo, pelo seu uso e consumo são e continuam sendo o Álcool e o Tabaco. 

Uma pesquisa feita a nível mundial, apresentou como resultado de que o uso e abuso do cigarro, mata por ano, em média 5 milhões de pessoas no mundo. Este número ultrapassa em muito, o número de todas as mortes produzidas por todas as guerras mundiais. Vale sempre lembrar, que essas duas substâncias; o Álcool e o Cigarro (e seus derivados), são classificadas como Legais e, também conhecidas como “Drogas Sociais”. Isto porque são encontradas em qualquer lugar da sociedade e usadas por quaisquer pessoas, sem nenhuma proibição legal, a não ser para menores de 18 anos (embora aqui não se cumpra). Os seus efeitos mais comuns são: aumento da frequência cardíaca, da pressão sanguínea e da frequência respiratória, redução das contrações estomacais (o que inibe o apetite), náuseas, tonteiras, vômitos, dores abdominais, diarreias, entre outras. 

        . Maconha: ela é conhecida cientificamente por Cannabis Sativa, mas é popularmente chamada no Brasil de baseado, fininho, etc. Em outros países ela costuma ser chamada de haxixe, marijuana, bangh, diamba e ganja. No ano de 2005, foi realizada uma pesquisa em todo o território brasileiro, em que apresentou como resultado, de que a cada 100 brasileiros, pelo menos 9 já fizeram uso desta substância. O resultado ainda nos trouxe, que a faixa etária desses usuários, estava os 18 e 24 anos de idade. Por volta dos anos 60 e 70, acreditou-se e era propagado, que o seu uso não apresentava nenhuma nocividade em seus usuários. Entretanto, estudos e pesquisas realizadas em anos posteriores, comprovaram que poderia surgir muitas complicações tanto de ordem física como mental aos usuários. Para alguns, vermelhidão ocular (hiperemia das conjuntivas), secura evidente na boca, falta da produção de saliva (xerostomia), aceleramento dos batimentos cardíacos (taquicardia), tantos outros. Como dissemos anteriormente, esses efeitos a nível físico e/ou mental, podem variar de pessoa para pessoa, principalmente em relação a “qualidade” da substância química usada e da sensibilidade (e metabolismo[2]) de quem fuma. 

        . Cocaína: ela é um alcalóide[3], principalmente encontrada no vegetal de nome cientifico Erythroxylum coca, originária da América do Sul, na região do Alto Andes (Cordilheira). Sobre esta planta e região onde é encontrada, escreveu Cesar Rodrigues de Souza (1991): “Nas regiões altas dos Andes, onde a planta Coca vem sendo cultivada desde os tempos pré-históricos, a folha é mastigada, pois produz calma, relaxamento muscular, servindo ainda de remédio (alivio) para a fadiga”. A cocaína é uma substância psicotrópica e a mais potente estimulante do SNC. Sua nocividade por meio de seus efeitos, dependem de como o usuário faz a sua administração, se é de forma oral (cafungada pelo nariz), intravenosa (agulhada direto na veia) ou pulmonar (inalação). Seus efeitos mais comuns são: aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e da temperatura corporal, dilatação das pupilas (midríase), sudorese (suor excessivo), tremores nas extremidades do corpo, vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos sanguíneos) etc. 

        . Crack: esta substância é criada pela mistura de alguns componentes químicos, entre eles, a Pasta Base (da Cocaína), o Bicarbonato de Sódio e outro produto inflamável, por exemplo, gasolina (muito corrosivo). Pesquisadores e especialistas no assunto, afirmam de que esta SPA é a forma “mais impura” da cocaína (restos do refinamento para transformar o Pó/Branquinha). A fumaça que é produzida durante a utilização (pedra queimada), chega ao cérebro em questões de segundos, devido a sua grande absorção pulmonar. Importante lembrar aos leitores, que da mesma forma que ela chega com rapidez ao SNC, os seus efeitos também não são muito duradouros: costumam variar entre 5 a 15 minutos. Esses efeitos tendem a agir com maior intensidade em seus usuários; são eles: muita agitação (corporal), euforia, prazer intenso (porém curto), midríase (pupilas dilatadas), dores no peito, contrações musculares, degeneração corporal (emagrecimento) e óssea (rabdomiólise[4]).

        Como esta substância degenera e “suga” (absorve) com muita intensidade as propriedades enérgicas (corpo, vigor etc.) de seus usuários, outras áreas ou órgãos serão mais exigidos para se tentar buscar a recomposição (equilíbrio), principalmente pela atuação dos hormônios cerebrais que são responsáveis pela sensação do prazer, tais como, endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina. Com isso, pode (e acontece) haver o desequilíbrio destes hormônios a nível cerebral, trazendo grandes problemas físicos e mentais em seus usuários (insanidades). Para concluirmos esta parte, nos apropriaremos da fala do Doutor João Goulão, responsável pela questão do uso abusivo de drogas e especialista na área da dependência química que, após adotar medidas ousadas, promoveu uma “virada de página” em Portugal, acerca dos usuários de drogas. Medida que foi muito criticada por outros países, inclusive pelo Brasil. No final dos anos 1990, o consumo de heroína ocupava as ruas de Portugal, o país decidiu tomar uma medida radical e polêmica: descriminalizou o consumo de qualquer droga. A ação adotada pelo Poder Público, deixou de ser focada na repressão policial ao consumo de entorpecentes, para privilegiar o tratamento da saúde e assistência social de seus usuários. 

Mesmo enfrentando grande resistência à descriminalização, os especialistas defendem que o mais importante é que a prisão não seja o “primeiro e único” recurso para tratar o consumidor. A forma, qualquer que seja, deve evitar a estigmatização do usuário, disse ao Portal Opera Mundi, Dr. João Goulão, presidente do IDT - Instituto da Droga e da Toxicodependência, de Portugal. O órgão, que fica sob a alçada do Ministério da Saúde, é o equivalente ao português da SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, do Brasil, subordinada ao Ministério da Justiça.

 “Penso que a descriminalização não é condição sine qua non para a dissuasão. O que me parece essencial é que o contato do usuário com o sistema (penal ou outro) seja acompanhado por um olhar de profissionais da área da saúde e de apoio social, tendo em vista encontrar respostas para além da mera reclusão, que habitualmente não tem outros resultados que não sejam os do aumento da exclusão e estigmatização”, afirmou Goulão[5]. 

     Com a mudança da lei, no ano de 2000, em Portugal, o usuário de drogas, em vez de enfrentar um Processo Criminal, quando é pego em flagrante com drogas para consumo próprio (quantidade máxima e necessária para 10 dias), respondem a um Processo Administrativo nas Comissões de Dissuasão de Toxicodependência. Hoje, o país é elogiado pelas estatísticas que apontam queda no uso de drogas. Para alguns analistas deste fenômeno social, a política portuguesa deveria servir de referência para o Brasil e outros países, por exemplo, na luta contra o uso do crack. Em contraposição à repressão policial aos seus usuários, principalmente naquela região conhecida como Cracolândia, no centro da cidade de São Paulo.

2.  A Dependência Virtual: 

   Fizemos questão na primeira parte deste artigo, trazer a conhecimento do público e dos diversos leitores, como normalmente se processa o funcionamento cerebral a partir do uso de Substâncias Psicotrópicas (licitas ou ilícitas), sendo que seu usuário pode chegar a ocupar o quadro clínico classificado como dependente químico (adicto). A escrita foi intencional, haja vista que muitos estudiosos neste assunto, afirmam que o processo mental desencadeado pelo usuário abusivo das Redes Sociais, trabalha de forma muito semelhante ao dos usuários de determinadas drogas. Portanto, para que ocorra o desenvolvimento da Dependência Virtual (ou Redes Sociais), pelo uso abusivo e cotidiano das curtidas no Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, entre outras, ocorre também, a nível cerebral, a ativação dos mesmos neurotransmissores cerebrais. E quais seriam eles? Eles são conhecidos como o “Quarteto do Prazer ou do bem-estar”; são eles: a Dopamina, Endorfina, Ocitocina e a Serotonina. E como eles atuam a nível cerebral? Eles existem e são ativados naturalmente no decorrer de nossos afazeres diários, trazendo-nos a sensação de prazer, alívios, relaxamento, felicidade, entre outros benefícios importantíssimos. Vamos conhecer um pouquinho mais sobre este Quarteto da Felicidade:    

        a) Dopamina: neurotransmissor principal na regulação dos processos motivacionais, tendo como uma de suas principais funções, nos impulsionar a alcançar os objetivos.

    b) Endorfina: é liberada no organismo como um analgésico, diante das situações de dificuldades, tais como: dores e estresse, com o objetivo de amenizá-los.

     c) Ocitocina: é conhecida por ser responsável pela sensação de confiança, auxiliando na criação em laços de relacionamentos, de um modo geral. É produzida no parto, na amamentação e durante o orgasmo.

     d) Serotonina: neurotransmissor responsável por promover a sensação de prazer e bem-estar. A ausência dessa substância no cérebro pode causar de mau humor a depressão.

      É importante destacar, que estes hormônios atuam o tempo todo em nossas vidas. Lembra daquela sensação gostosa, quando a pessoa está apaixonada? Nesta situação, ocorre a liberação dos quatros hormônios direto na corrente sanguínea, garantindo uma sensação prazerosa. Sensação parecida com aquela sentida, depois duma boa caminhada, uma corridinha para manter a forma ou após uma disputada partida de futebol com os amigos. São várias as possibilidades de prazeres gerados por esses neurotransmissores cerebrais. Eles estão sempre ativos em nosso organismo. Se eles se desequilibram, o corpo pode reagir com insônia, estresse, ganho de peso, mau humor e irritabilidade. Também pode levar à desmotivação e à tendência de adiar tarefas e compromissos. Em casos graves de baixa desses hormônios cerebrais, as pessoas podem até desenvolver a depressão (tristeza profunda). Esse Quarteto do Prazer e bem-estar, tem moradia em nosso cérebro, podendo também se desequilibrarem pelo uso abusivo de drogas (lícitas ou ilegais), pelo uso excessivo das Redes Sociais, entre tantas outras formas.  

     Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio de estudos realizados acerca das Redes Sociais, principalmente nas verificações de curtidas no Instagram e Facebook, com base também do número de notificações recebidas pelo WhatsApp, verificou uma grande tendência de levar seus usuários a verificarem e conferir de onde/quem partiram estas mensagens. Outros estudos realizados evidenciaram que repetidas curtidas no Facebook geram picos de “bem-estar” cerebral, através do sistema de recompensa. E esse pico eleva estado de prazer e bem-estar das funções cerebrais, que ocorrem durante o uso das Redes Sociais, como um de seus efeitos ao usuário. 

Segundo o resultado deste estudo, a sensação de felicidade e bem-estar gerada por estas curtidas, equipara-se a outros prazeres que são desencadeados pelos mesmos hormônios do bem-estar, mas motivados por outras atitudes humanas, como o uso abusivo de drogas. Só para reforçar como se dá esta atuação hormonal prazerosa, por exemplo; o simples ato de se alimentar; ao ter uma boa relação sexual ou ao fazer o uso da cocaína, que é uma substância psicotrópica com efeitos estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC), entre outros. 

2.1 Comportamentos de Usuários das Redes Sociais: 

        Os usuários frequentes e assíduos das Redes Sociais, costumam apresentar comportamentos muito parecidos com os de certos usuários abusivos de drogas psicoativas. Neste caso, vale abrir um parêntese, para relatar um fato verídico que aconteceu dentro de uma aeronave, antes dela decolar do aeroporto, com destino a Orlando, nos Estados Unidos. A aeronave estava recebendo seus passageiros, preparando-se para decolar. De repente, uma jovem, aparentando ter entre 14 e 16 anos de idade, estava acompanhada de sua mãe. Quando começou a ter uma crise “histérica” (gritava bem alto e tentava sair da cadeira, enquanto a mãe a segurava). A aeromoça e alguns passageiros foram para saber o que estava acontecendo e tentar ajudar. Eles acreditavam tratar-se de alguma dor, um mal-estar ou pelo medo de voar de avião. Depois de algumas intervenções, descobriu-se o motivo de sua gritaria: A mãe havia tomado o seu aparelho celular, haja vista não poder usá-lo no decorrer da viagem. 

        Parece brincadeira, mas muitas pessoas na atualidade, não conseguem ficar alguns minutos sequer, sem o seu aparelho celular. Neste sentido, foi feita uma pesquisa com 2 (duas) mil pessoas voluntárias, na faixa etária entre 16 e 45 anos, sendo que todas possuíam Smartphones, comprovando-se que 91% (noventa e um por cento) delas, não conseguiam ficar 1 (uma) hora sem o seu aparelho[6]O professor Ofir Turel, oriundo da Califórnia State University, atuou como coordenador de um grupo de pesquisadores, que chegaram a acompanhar 20 (vinte) voluntários durante um certo tempo, onde identificaram que o sistema amígdala-corpo estriado, envolvido na dependência do uso de drogas, era afetado quando esses voluntários observavam fotos relacionadas ao Facebook. Segundo disse o coordenador do grupo, este resultado não quer dizer que os efeitos advindos do uso das Redes Sociais, são totalmente similares aos efeitos provocados pelos usuários de drogas químicas (lícitas ou ilícitas). Ele defende haver uma expressiva diferença entre os dois tipos de dependência, quando diz que: “É bem mais fácil largar o Facebook do que o vício em drogas pesadas”. Mas, contrapondo a sua fala, uma matéria veiculada pela Revista Isto é (Edição 263326/06, de 09/05/12), disse assim: “Novos estudos mostram que é mais difícil resistir à tentação de acessar sites como Facebook e Twitter do que dizer não ao álcool e ao cigarro” (grifamos).

             Vale lembrar que a mesma motivação e relacionamento entre o usuário com determinada SPA, que pode resultar na dependência química, que se dá, geralmente, pelo uso intenso e descontrolado desta droga, pode levar também o usuário de Redes Sociais ao mesmo quadro clinico que ele. Segundo a pesquisa, pelo mesmo motivo, isto é, o uso exagerado e sem controle das diversas Mídias Sociais, em geral, tem causado diversos problemas relacionados à sociabilidade (dificuldade de se relacionar com outrem), transtornos mentais e comportamentais em seus usuários[7], inclusive, com o desencadeamento da dependência virtual. Outra pesquisa recente acerca deste mesmo tema, demonstrou que aproximadamente 11% (onze por cento) das pessoas sofrem de alguma forma de dependência tecnológica, sendo que o Facebook estaria afetando o cérebro de seus usuários de forma semelhante às drogas (grifamos). Os comportamentos ou as reações podem ser apresentadas de forma distintas entre seus usuários. No entanto, o GEAT – Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas, com base dos estudos em usuários do Estado do Rio Grande do Sul, observou que, quando “esses” usuários ficavam por um período de tempo sem poder fazer o uso ou acessar as redes sociais, “acabavam sentindo um vazio intenso”, muito parecido com o apresentado por alguns dependentes de substâncias químicas.

        Em nossos dias, não há um consenso entre a classe humana adulta, acerca do tempo recomendável ou ideal para se estar fazendo o uso das Redes Sociais diariamente. No entanto, quando nos referimos as crianças e os adolescentes, os especialistas em psicopedagogia e de saúde física e mental, recomendam aos pais e responsáveis, o tempo estimado em torno de 2 horas por dia. Mas, eles fazem uma ressalva sobre este período de tempo: nestas duas horas, não deve ser incluído as tarefas e as lições escolares. Noutras palavras, duas horas por dia. Gostaríamos de apresentar alguns comportamentos que a OMS orienta para serem observados no usuário de drogas, e que podem sinalizar para o desenvolvimento da dependência química. Mas, de forma proposital, iremos compará-los com algumas condutas também apresentadas por usuários de Redes Sociais[8]:       

               Usuários de Drogas                                              Usuários de Redes Sociais

1.   Forte/incontrolável desejo de consumir a                1. Compulsão para usar e acessar as redes    a  droga (Fissura);                                                                  sociais: vendo posts, vídeos e etc.;


2.   Perda/dificuldade de controlar o início e quando     2. Perda da noção da hora e do tempo de seu uso;    deve interromper o uso;  

                            

3.   Utilização persistente, mesmo sabendo dos            3. Acesso rápido e intenso pela facilidade de    riscos ou de sua nocividade;                                                 de estar em suas mãos, a qualquer hora/lugar;

4. Sua maior prioridade é fazer o uso da droga;            4. Sua maior prioridade é acessar as redes sociais;                                            

5. Sente necessidade de aumentar a dose                      5. Aumenta a intensidade dos acessos e a

para obter os efeitos desejados (Tolerância);                 duração de sua utilização (Tolerância);


6. Com a interrupção do uso da SPA, tende a                 6. Sem seu celular ou impossibilitado de acessar as

    apresentar a Síndrome de Abstinência[9].                  Mídias Virtuais: Síndrome de Abstinência.

 

    Os dados elencados à esquerda, foram extraídos do livro que aborda o tema Drogas, estando referenciado no rodapé deste artigo. Quanto aos dados do lado direito da página, da mesma forma, foram extraídos de artigos que abordam o tema: Dependência das Redes Sociais. Estando também citados no rodapé deste artigo. Tudo isso, para respaldar o que estamos escrevendo, mas, também, com o propósito maior, de que o leitor possa pesquisar e se aprofundar mais em conhecer acerca deste tema tão complexo, controvertido e que se apresenta de forma multifacetada em nossa sociedade. Deve ser ressaltado, que nem todo o usuário virtual (e de drogas), necessariamente irá apresentar os comportamentos e reações, da maneira como foi apresentado no decorrer de nossa abordagem. Segundo afirma o Psiquiatra da Infância e Adolescência, Daniel Spritzer, Coordenador dos Estudos do GEAT, “quando tais prazeres geram uma trama cognitiva (o processo mental de percepção) na qual se espera de forma muito intensa por recompensas (os efeitos desejados), após ter postado uma foto, vídeo ou um pensamento, está se falando de situações nas quais o uso pode estar se aproximando de um caráter alusivo de dependência”.

        Spritzer acrescenta outra situação muito importante e tendenciosa a sinalizar para a possível dependência virtual, quando diz assim: “Quando a interação que se desenvolve nas redes sociais, se baseia demasiadamente na busca de um suporte emocional”. Esta pessoa pode estar vivendo um momento de grande fragilidade, sentindo a necessidade de ouvir (ou ler) mensagens de encorajamento e estímulos. Não conseguindo isso, ela pode ingressar num estado totalmente angustiante (e depressivo). As gratificações com as curtidas de suas postagens, é só um entre os inúmeros prazeres proporcionados pelas Redes Sociais. E, entre tantos outros, podemos citar para exemplo, o de poder mostrar para os outros, que fazemos parte dum grupo específico (notoriedade/ostentação). Como também, poder compartilhar suas atividades pessoais, social, estudantis, trabalhista, de lazer e entretenimento, entre tantos outros exemplos. 

3. Isolamento Social: aumentou o uso abusivo de drogas e os acessos as redes sociais?

     Como diz um ditado muito antigo: para tudo na vida, sempre existe o lado bom e o lado ruim. Com a chegada do Coronavírus no Brasil e, parece-nos, que este vírus veio para ficar, tendo em vista que ninguém fala com certeza (ocultam/mentem) quando ele vai embora, ou seja, até quando iremos ficar em isolamento social? Dentro de nossas casas, assistindo o aumento do número de contágios e de mortes. Entramos no quinto mês, desde a sua chegada em nosso território e, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Ministério da Saúde Brasileiro, já temos 1.402.041 casos confirmados. E, 59.594 de óbitos. Sendo que nas últimas 24 horas, ocorreram 1.280 mortes pelo COVID-19 (Fonte: olhardigital.com.br, acesso 01/07/20).

        Como dissemos no início, coisas boas também aconteceram. Durante este período de tempo, muitas empresas inovaram acerca de sua empregabilidade (funcionários passaram a trabalhar em home office) e em relação a sua produtividade (oferta/comercialização de sua produção através das redes sociais). Muitas pessoas que foram demitidas de suas empresas, começaram a investir em seu próprio negócio, principalmente nas áreas da gastronomia em geral (refeições e oferta de pratos finos, lanches, bolos, etc.). Entretanto, para aqueles que tiveram condições de manter-se em confinamento social e que estão cumprindo as recomendações dadas pelas autoridades governamentais e sanitárias, as coisas nem sempre correram bem. Quem já tinha o hábito de fazer o uso de bebida alcoólica diariamente, provavelmente deve ter aumentado o seu consumo. De acordo com essas recomendações, foram criadas rotinas para prevenção do contágio deste vírus: “E, no meio disso tudo, percebo nos grupos de mãe, algo recorrente: o consumo de bebida alcoólica como uma “atividade” dentro desta rotina exaustiva que temos enfrentado. E ele pode acabar entrando – mesmo sem perceber, seja no fim do expediente de home office, seja depois que as crianças dormirem, e você (finalmente), tem algumas horas para dedicar-se a você mesmo...” (Fonte: cisa.org.br, postado em 04/04/20). 

        Cremos, em concordância com o relato acima, de que muitas pessoas, enquanto durar este isolamento social, também chamado de “Quarentena”, poderão passar de meros usuários de substâncias químicas, para o quadro clinico da dependência (alcoólica/e outras drogas) propriamente dita: “Temos que reconhecer que o ano de 2020 está sendo um ano atípico e bastante desafiador para o mundo todo. A pandemia do novo Coronavírus (COVID-19) avança em praticamente todos os países do planeta (...), obrigando muitas empresas a adotarem o modelo home office e feito com que serviços considerados não essenciais fechassem temporariamente suas portas. Embora o cenário se mostre crítico, nunca a internet foi tão utilizada (grifamos). Muitos estão se reinventando digitalmente para suprir suas necessidades, sejam pessoais ou profissionais, o que tem provocado um aumento significativo nas interações nas redes sociais nesse período” (Fonte: pointoisp.com.br). 

        Também não temos dúvidas de que, neste mesmo período, pessoas que pouco acessavam a Internet e Redes Sociais (usuários ocasionais) podem ter tido um aumento considerável nesta conduta. E acrescentamos mais: até aqueles que nunca tiveram o interesse de comprar/ganhar um aparelho celular com vários aplicativos, podem (e devem) ter mudado de comportamento (minha Mãe, de 81 anos, é uma delas). Desta forma, as redes sociais passaram a ser suas verdadeiras e reais companhias. Portanto, leitores e amigos, como houve a necessidade (e ainda há) de nos mantermos confinados dentro de nossas casas, buscando adotar os cuidados recomendados para não contrairmos o COVID-19 e morrermos; mas não se enganem! Outras complicações podem surgir no decorrer da quarentena e, caso não se resolva logo esta situação, ainda poderemos sofrer muitas consequências.


[1] SILVA, Eduardo Veronese da. Drogas: Conhecendo suas origens, legislação e seu poder para se prevenir contra este mal. 2ª ed. São Paulo: Biblioteca24horas.com.br, 2012 (pode adquirir pela: www.amazon.com).  

[2] Metabolismo. Conjunto de transformações num organismo vivo, pelas quais passam as substâncias que o constituem: reações de síntese (anabolismo) e de desassimilação (catabolismo) que liberam energia.

[3] Alcaloide. Substâncias encontradas em várias plantas. Geralmente são empregadas para fins terapêuticos.

[4] Rabdomiólise. É uma situação grave caracterizada pela destruição das fibras musculares, levando à liberação dos componentes presentes no interior das células musculares para a corrente sanguínea: o cálcio, sódio, potássio, mioglobina, creatinofosfoquinase, entre outras.

[5] Fonte: https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/19141/experiencia-portuguesa-pode-melhorar-combate-ao-crack-no-brasil-dizem-especialistas - Acesso em 26/06/20, às 13h52m.

[6] Pesquisa. Oficina da Net.com.br, acesso em 30/06/20.

[7] Fonte: Portal da espiritualidade ecumênica – Acesso em 29/06/20.

[8] SILVA, Bernardo. A dependência das Redes Sociais (31/08/2019). Portal Oficina da Net. https://www.oficinadanet.com.br/midias_sociais/27436-a-dependencia-em-redes-sociais-e-seus-impacto

[9] Síndrome de Abstinência. Um conjunto característico de sinais/sintomas que ocorrem após a interrupção (ou pela diminuição) do consumo de uma droga, seja ela lícita ou ilícita. O quadro clínico de uma dada síndrome de abstinência varia de acordo com a droga consumida.