FASES DO DESENVOLVIMENTO
PSICOSSEXUAL
RESUMO:
O artigo que ora se apresenta, busca atender uma exigência acadêmica do
Curso de Psicanálise Clínica, chancelado pelo CETAPES e, ao mesmo tempo, fazer
com que seus alunos comecem a se familiarizar com o hábito da escrita de
artigos acadêmicos. Ele trará em sua abordagem inicial, um breve relato sobre a
vida de Sigmund Freud, o autor da psicanálise e, em seguida, uma apresentação
superficial sobre um dos temas em que dedicou boa parte de sua vida em
pesquisar as fases do desenvolvimento psicossexual do ser humano.
Palavras-Chave:
Criança – Desenvolvimento – Sexualidade.
Desde tempos antigos, muitos
estudiosos buscaram entender como se dava o processo de desenvolvimento humano,
principalmente em relação ao ensino e a aprendizagem, como também, acerca do
desenvolvimento de sua sexualidade.
Descobriu-se num primeiro momento, de
que a criança é um ser sexuado, ou seja, ela possui sexo (macho e fêmea).
Sendo assim, muitas foram às pessoas que se interessaram em pesquisar sobre
esta temática (sexualidade). Outra descoberta importante desta primeira
investigação deu conta de que essa aprendizagem possuía uma estreita ligação
com a dimensão psicológica do homem.
Buscou-se então, uma tentativa de compreender
melhor a relação e a influência que poderia existir no processo de ensino e aprendizagem
integral desse ser em plena formação. Embora de forma abreviada, o artigo apresentará
como se processa normalmente a manifestação da sexualidade deste ser em plena
formação e desenvolvimento e o seu desdobramento pela influência recebida
dentro de seu contexto social (em meio aos familiares e ao local de sua maior
permanência).
Sabe-se que o primeiro grupo social
que a criança se relaciona é com sua família, em especial, com a sua mãe.
Porém, com o decorrer dos anos, surgiram novos núcleos familiares que foram se
configurando por décadas e essa interação sofreu e ainda sofre diversas
modificações. É nesse novo contexto familiar e social, que está totalmente
inserida a criança em fase de formação de sua identidade.
Esse é o grande desafio das famílias e
da escola, que devem procurar trabalhar toda esta diversidade de valores, costumes,
crenças e tabus, para ampliar o universo inicial da criança e criar possibilidades
para sua boa convivência com o outro, mesmo apresentando origens e hábitos totalmente
diferentes.
1. CONHECENDO
UM POUCO SOBRE SIGMUND FREUD
Ele nasceu no ano de 1856, na cidade da Morávia[2], onde está localizado hoje a República Checa. Por
um período de quatro anos moraram nesta cidade, mas seus pais tiveram que se
mudar para Viena e ali viveu até o ano de 1938. Aos dezessete anos de idade (1873),
ele ingressou na Universidade de Viena para freqüentar o curso de medicina.
Freud, diferentemente dos demais alunos deste curso, permaneceu por oito anos
como estudante de medicina (até 1881). Este curso tinha um período de 5 (cinco)
anos para sua conclusão. Ele recebeu seu diploma de médico no ano de 1882, começando
primeiramente a trabalhar como cirurgião e, depois, como clínico geral. Tornou-se
médico do principal hospital de Viena. No transcorrer deste período ele fez um
curso de psiquiatria. Seus amigos o incentivaram a abrir uma clínica
particular.
Do ano de 1884 a 1887, fez várias investigações e pesquisas
com a substância química (tóxica) de nome cocaína. Inicialmente aos estudos,
era defensor do uso desta substância, mas, posteriormente, após se aprofundar
sobre seus efeitos viciantes (causadores da dependência química), passou a
ficar apreensivo quanto ao uso da droga de forma compulsiva.
Em 1885, ele ganhou uma bolsa de estudo e foi morar
e trabalhar em Paris. Neste país, conheceu e começou a trabalhar com Jean Marie Charcot. Este médico defendia
a tese de que era possível tratar os sintomas histéricos com sugestão
hipnótica. Ressalta-se que a histeria era considerada uma doença psíquica, cuja
gênese requeria uma explicação psicológica. Trabalhando com Charcot, Freud
descobriu que na histeria, os pacientes exibiam sintomas que são anatomicamente
inviáveis.
Freud conhece Martha
Bernays, com quem acaba se casando. Deste casamento advieram seis filhos. Em
1887, ele começa a se dedicar ao estudo e uso da hipnose com seus pacientes.
Pouco tempo depois, ele conhece o médico austríaco Joseph Breuer, com qual confecciona estudos mais aprofundados sobre
os sintomas da histeria.
Desta nova parceria, surge a criação de um novo
método que visava especificamente o tratamento de pacientes histéricos. Ele foi
intitulado de “Método Catártico[3] ou Teoria da Conversa”. Em síntese, eles concluíram
que os sintomas neuróticos resultavam de processos inconscientes e a tendência
é que desapareceriam a partir do momento em que estes sintomas se tornassem
conscientes.
Freud passou a tratar uma das pacientes de Breuer,
de nome Bertha Pappenheim, mas
conhecida popularmente como “Anna O.” Foi por meio das verbalizações contadas por
ela a Freud, que possibilitou que desenvolvesse a psicanálise.
A partir de 1890, ele começou a anotar seus próprios
sonhos, totalmente convencido de que eles poderiam fornecer pistas para a
descoberta das atividades desenvolvidas pelo inconsciente.
No ano de 1896, Freud passa a abandonar a hipnose e
convence seus pacientes a contarem livremente tudo que passava em suas mentes
(neuroses). Desta mudança, surge a técnica psicanalítica denominada de
“associação livre ou livre associação”. Com esse novo método ou esta nova
técnica, ele começou a dar contornos a sua própria teoria.
Depois disso, ele começa a dedicar-se a “autoanálise”.
Por meio de suas inúmeras observações e anotações, passou a investigar e
compreender melhor sobre os anseios sexuais infantis através de sua própria
experiência. De acordo com suas pesquisas, chegou a sugerir que esses fenômenos
sexuais não estavam restritos ao desenvolvimento patológico das neuroses, mas
que pessoas essencialmente normais poderiam sofrer experiências
semelhantes.
No ano de 1900 ele publica a obra: “A Interpretação
dos Sonhos”. Além desta obra literária, Freud escreveu: “Os Aspectos da Prática
Clínica (24 volumes) e Ensaios e Monografias Especializadas sobre questões
religiosas e culturais”. Por volta do ano de 1933 o Nazismo tomou grande
propulsão, principalmente na Alemanha e Áustria. Eles chegaram a incinerar
várias obras de Freud em Berlim e quando começou a ocupar a Áustria, ele teve
que fugir para Londres.
Freud sempre apresentou um quadro clínico de saúde
debilitado, mas entre os anos de 1938 e 1939, seu estado se agravou bastante. Um
câncer lhe alcançou a boca e a mandíbula, além de sofrer de muitas dores.
Passou por mais de 33 (trinta e três) cirurgias, na tentativa de conter a
doença e diminuir o seu sofrimento. Ele morreu no ano de 1939, na cidade de
Londres.
2.
FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL
Freud fez
uma pesquisa e estudo aprofundado sobre como era apresentada a sexualidade
pelas crianças. O estudo desenvolvido por ele teve muita influencia á época, e
perdura até os nossos dias, trazendo grande entendimento de como se desenvolve
esse processo sexual nos seres humanos. Ele foi dividido e apresentado por
fases de desenvolvimento ou etapas do desenvolvimento psicossexual; conforme serão
apresentados abaixo:
2.1 Fase Oral
Ela também é conhecida
como fase das organizações ou fase canibalesca. Caracterizada por uma
indistinção da atividade sexual com a nutrição e na qual o alvo sexual é a
incorporação do objeto.
A fase oral indica a fonte
primária de prazer do ser humano, da emoção e de contato com o mundo através da
boca. Este prazer é originado pelas atividades de alimentação e se desenvolve
através da ligação entre o mamar e a satisfação decorrente deste ato.
2.2 Fase Anal
O
modo de obter prazer nesta fase, se expressa por atividades de controle da
retenção e de eliminação das fezes e da urina. As crianças, nessa fase, dão
muita importância as suas fezes, uma vez que apresentam o primeiro bem material
produzido pelo seu próprio corpo e o controle dos esfíncteres[4].
Este
ato é muito enfatizado pelos pais, onde as crianças por sua vez, controlam o
comportamento de seus pais, ora com uma defecação adequada, ora com a
inadequação do controle esfincteriano.
2.3 Fase Fálica
É marcada
pela primazia dos órgãos genitais. Freud menciona algumas fontes de excitação
que provocam um prazer erógeno: excitações mecânicas (agitação ritmada do corpo
pelo movimento), atividade muscular (como lutas corporais), processos afetivos
intensos (situações assustadoras, situações de dor, inclinam-se para a
sexualidade) e o trabalho intelectual.
2.4
Período de latência
É uma fase mais calma, compreendida
entre os cinco e dez anos de idade que, para Freud, não é uma verdadeira fase,
pois não há nova organização de zona erógena, não há organização de fantasias
básicas e nem novas modalidades das relações objetais. Nessa fase ocorre à socialização
nos aspectos cognitivos e morais do desenvolvimento, as atividades escolares,
os esportes competitivos, as brincadeiras com o grupo de iguais e o desejo do
saber serão alvos da energia libidinal.
É um período intermediário entre a
genitalidade infantil (fase fálica) e a adulta (fase genital). Nela a
sexualidade permanece adormecida, mas as grandes conquistas dessa etapa
situar-se-ão nas realizações intelectuais e na socialização. É por isso que
este é o período típico do início da escolaridade formal ou da
profissionalização em todas as culturas do mundo.
É na latência que a ligação afetiva
com os pais vai se deslocando para fora da família, havendo a substituição dos
progenitores, como, por exemplo, professores (as tias e tios) e amigos do mesmo
sexo. Durante essas fases ocorrem vários processos, dentre eles destaca-se o
Complexo de Édipo[5] (acontece entre os dois e cinco anos),
pois é em torno dele que ocorre a estruturação da personalidade do indivíduo.
Posteriormente, por medo da perda do
pai, “desiste” da mãe, isto é, a mãe é “trocada” pela riqueza do mundo social e
cultural, podendo agora participar do mundo social, pois tem suas regras
internalizadas através da identificação com o pai. Este processo também ocorre
com as meninas, invertendo-se as figuras do desejo e de identificação.
2.5 Puberdade
Nesta fase as pulsões parciais se
organizam, as zonas erógenas passam a se subordinar à primazia genital e a
pulsão sexual (libido) que era, principalmente, autoerótica (libido do ego ou
narcísica). Elas buscam o objeto sexual a serviço da função reprodutora (libido
do objeto). Freud salienta que tais transformações acontecem concomitantemente
às mudanças físicas da puberdade (em especial as alterações dos genitais), que
proporcionam a obtenção do prazer e de satisfação da atividade sexual.
Todas as mudanças da puberdade
culminam numa diferenciação sexual cada vez maior, já que os dois sexos terão
funções distintas. Cabe pontuar que Freud faz um questionamento a respeito do
que seria masculino e feminino, dizendo da complexidade destes conceitos (noção
de bissexualidade) e acaba privilegiando a noção de passividade e atividade. A
partir daí, afirma que a libido é masculina, já que a pulsão é sempre ativa.
Apesar da dificuldade em distinguir
masculino de feminino, deixa claro que existe uma diferença entre a puberdade
da menina e do menino. As zonas erógenas seriam homólogas (clitóris e glande),
mas enquanto o homem permanece com a mesma zona erógena de sua infância, a
mulher transfere a excitabilidade clitoridiana para a vagina, realizando uma
troca da zona genital dominante. Estas mudanças deixariam as mulheres mais
propensas à neurose histérica.
Outro aspecto levantado por Freud, é
que na puberdade ocorre um afrouxamento dos laços com a família (inclusive um
desligamento da autoridade dos pais), já que a proibição do incesto impele o
jovem a procurar objetos sexuais que não sejam seus parentes.
Inicialmente, estes objetos sexuais são
da ordem da fantasia, como a de escutar a relação sexual dos pais, da sedução,
da ameaça de castração, romance familiar, entre outros.
Quando essas transformações da pulsão,
ocasionadas pelo advento da puberdade, não ocorrem, surgem às patologias
(inibições no desenvolvimento).
Freud destaca a fixação como um fator
que pode atrapalhar o desenvolvimento sexual normal. Acrescenta a isso a
importância de fatores acidentais, que podem levar a uma regressão a fases
anteriores do desenvolvimento. “Cada passo nesse longo percurso de
desenvolvimento pode transformar-se num ponto de fixação, cada ponto de
articulação nessa complexa montagem pode ensejar a dissociação da pulsão
sexual”.
Freud finaliza seu trabalho dizendo
que os conhecimentos acerca da sexualidade (em seus aspectos psicológicos e
biológicos) ainda são insuficientes para uma compreensão total do que é normal
e patológico. Como ele não observou diretamente manifestações sexuais em
crianças, sua rica teoria é apoiada apenas nas lembranças de seus pacientes.
CONCLUSÃO
Não resta nenhuma dúvida de que as
pesquisas e teorias freudianas foram e são até os dias de hoje, de uma riqueza
e dimensão gigantesca para compreendermos o processo de iniciação da
aprendizagem como um todo, principalmente sobre a sexualidade infantil e o nível
de conhecimento adquirido pelo ser humano no decorrer dos anos.
Como foi de vital importância conhecer
que muitas de nossas motivações são inconscientes e que a ocorrência e o
desenvolvimento da sexualidade infantil podem, e geralmente se dão de uma forma
espontânea. Por isso, temos que dar maior relevância aos primeiros anos de vida
destas crianças, para que possa haver melhor estruturação de sua personalidade.
Freud descobriu a existência de um ser
muito complexo, bem como a descoberta de que este ser era dotado de um grande
conhecimento intelectual. Pode-se afirmar, que por meio de seus vários estudos
e pesquisas, que tanto a sexualidade como o processo de civilização humana é
algo que ocorre de forma natural, e que se fará presente na vida de qualquer
ser humano. Não podemos esquecer que a “criança não é um adulto em miniatura”,
como muitos dizem por ai, mas ela é totalmente diferente do adulto.
Precisamos rever nossos conceitos, valores e opiniões, e compreender que a
criança irá apresentar de forma natural e espontânea sua sexualidade, tudo isso
no decorrer de seu desenvolvimento social e familiar, pois estará retratando e
confirmando estar em plena fase de desenvolvimento em diversas áreas de sua
vida, tanto a biológica, como a motora, psicológica e social.
REFERÊNCIAS
CECHIN,
Andréa Forgiarini. Teoria Psicanalítica.
Universidade Federal de Santa Maria. (material fornecido pelo Professor
Gilvandro Salles).
FREUD,
Sigmund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1856-1939),
Tradução de Paulo Dias Corrêa – Rio de Janeiro: Imago; 2002. (Versão eletrônica do livro “Crítica da Razão Pura”. Autor:
Emmanuel Kant. Tradução: J. Rodrigues de Merege).
[1] Licenciatura
plena em Educação Física-UFES; Bacharel em direito – FABAVI/ES; Especialista em
Direito Militar- UCB/RJ.
[2] Morávia. É uma região da Europa central, formando hoje em dia a parte
oriental da República
Checa. Seu nome vem do rio Morava,
às margens do qual um grupo de Eslavos se estabeleceu por volta de 500 d.C.
[3] Catarse.
Esse termo antigo foi cunhado por Aristóteles que preconizava pela
limpeza simbólica das emoções. Ele também significa
"purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles,
a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional
provocada por um drama.
[4] Esfíncteres. Geralmente é um músculo de
fibras circulares concêntricas dispostas em forma de anel, que controla o grau
de amplitude de um determinado orifício. O corpo humano tem três esfíncteres
importantes: o esfíncter cárdico, o esfíncter anal e o esfíncter pilórico, que faz
comunicação entre o estômago e o duodeno.
[5] Complexo de Édipo. Nele, a mãe é o
objeto de desejo do menino e o pai é o rival que impede o acesso ao objeto
desejado. Ele procura assemelhar-se ao pai para “ter” a mãe, escolhendo-o como
modelo de comportamento.
É interessante buscarmos conhecer um pouco de como se processa o desenvolvimento do ser humano, principalmente no tocante a sua aprendizagem e, também, quanto a sua sexualidade.
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