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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

Eduardo Veronese da Silva[1]


RESUMO: O artigo que ora se apresenta, busca atender uma exigência acadêmica do Curso de Psicanálise Clínica, chancelado pelo CETAPES e, ao mesmo tempo, fazer com que seus alunos comecem a se familiarizar com o hábito da escrita de artigos acadêmicos. Ele trará em sua abordagem inicial, um breve relato sobre a vida de Sigmund Freud, o autor da psicanálise e, em seguida, uma apresentação superficial sobre um dos temas em que dedicou boa parte de sua vida em pesquisar as fases do desenvolvimento psicossexual do ser humano.   
Palavras-Chave: Criança – Desenvolvimento – Sexualidade.


Desde tempos antigos, muitos estudiosos buscaram entender como se dava o processo de desenvolvimento humano, principalmente em relação ao ensino e a aprendizagem, como também, acerca do desenvolvimento de sua sexualidade.
Descobriu-se num primeiro momento, de que a criança é um ser sexuado, ou seja, ela possui sexo (macho e fêmea). Sendo assim, muitas foram às pessoas que se interessaram em pesquisar sobre esta temática (sexualidade). Outra descoberta importante desta primeira investigação deu conta de que essa aprendizagem possuía uma estreita ligação com a dimensão psicológica do homem.
Buscou-se então, uma tentativa de compreender melhor a relação e a influência que poderia existir no processo de ensino e aprendizagem integral desse ser em plena formação. Embora de forma abreviada, o artigo apresentará como se processa normalmente a manifestação da sexualidade deste ser em plena formação e desenvolvimento e o seu desdobramento pela influência recebida dentro de seu contexto social (em meio aos familiares e ao local de sua maior permanência).
Sabe-se que o primeiro grupo social que a criança se relaciona é com sua família, em especial, com a sua mãe. Porém, com o decorrer dos anos, surgiram novos núcleos familiares que foram se configurando por décadas e essa interação sofreu e ainda sofre diversas modificações. É nesse novo contexto familiar e social, que está totalmente inserida a criança em fase de formação de sua identidade.
Esse é o grande desafio das famílias e da escola, que devem procurar trabalhar toda esta diversidade de valores, costumes, crenças e tabus, para ampliar o universo inicial da criança e criar possibilidades para sua boa convivência com o outro, mesmo apresentando origens e hábitos totalmente diferentes.

1.   CONHECENDO UM POUCO SOBRE SIGMUND FREUD

Ele nasceu no ano de 1856, na cidade da Morávia[2], onde está localizado hoje a República Checa. Por um período de quatro anos moraram nesta cidade, mas seus pais tiveram que se mudar para Viena e ali viveu até o ano de 1938. Aos dezessete anos de idade (1873), ele ingressou na Universidade de Viena para freqüentar o curso de medicina. Freud, diferentemente dos demais alunos deste curso, permaneceu por oito anos como estudante de medicina (até 1881). Este curso tinha um período de 5 (cinco) anos para sua conclusão. Ele recebeu seu diploma de médico no ano de 1882, começando primeiramente a trabalhar como cirurgião e, depois, como clínico geral. Tornou-se médico do principal hospital de Viena. No transcorrer deste período ele fez um curso de psiquiatria. Seus amigos o incentivaram a abrir uma clínica particular.
Do ano de 1884 a 1887, fez várias investigações e pesquisas com a substância química (tóxica) de nome cocaína. Inicialmente aos estudos, era defensor do uso desta substância, mas, posteriormente, após se aprofundar sobre seus efeitos viciantes (causadores da dependência química), passou a ficar apreensivo quanto ao uso da droga de forma compulsiva.
Em 1885, ele ganhou uma bolsa de estudo e foi morar e trabalhar em Paris. Neste país, conheceu e começou a trabalhar com Jean Marie Charcot. Este médico defendia a tese de que era possível tratar os sintomas histéricos com sugestão hipnótica. Ressalta-se que a histeria era considerada uma doença psíquica, cuja gênese requeria uma explicação psicológica. Trabalhando com Charcot, Freud descobriu que na histeria, os pacientes exibiam sintomas que são anatomicamente inviáveis.
Freud conhece Martha Bernays, com quem acaba se casando. Deste casamento advieram seis filhos. Em 1887, ele começa a se dedicar ao estudo e uso da hipnose com seus pacientes. Pouco tempo depois, ele conhece o médico austríaco Joseph Breuer, com qual confecciona estudos mais aprofundados sobre os sintomas da histeria.
Desta nova parceria, surge a criação de um novo método que visava especificamente o tratamento de pacientes histéricos. Ele foi intitulado de “Método Catártico[3] ou Teoria da Conversa”. Em síntese, eles concluíram que os sintomas neuróticos resultavam de processos inconscientes e a tendência é que desapareceriam a partir do momento em que estes sintomas se tornassem conscientes.
Freud passou a tratar uma das pacientes de Breuer, de nome Bertha Pappenheim, mas conhecida popularmente como “Anna O.” Foi por meio das verbalizações contadas por ela a Freud, que possibilitou que desenvolvesse a psicanálise. 
A partir de 1890, ele começou a anotar seus próprios sonhos, totalmente convencido de que eles poderiam fornecer pistas para a descoberta das atividades desenvolvidas pelo inconsciente.
No ano de 1896, Freud passa a abandonar a hipnose e convence seus pacientes a contarem livremente tudo que passava em suas mentes (neuroses). Desta mudança, surge a técnica psicanalítica denominada de “associação livre ou livre associação”. Com esse novo método ou esta nova técnica, ele começou a dar contornos a sua própria teoria.
Depois disso, ele começa a dedicar-se a “autoanálise”. Por meio de suas inúmeras observações e anotações, passou a investigar e compreender melhor sobre os anseios sexuais infantis através de sua própria experiência. De acordo com suas pesquisas, chegou a sugerir que esses fenômenos sexuais não estavam restritos ao desenvolvimento patológico das neuroses, mas que pessoas essencialmente normais poderiam sofrer experiências semelhantes. 
No ano de 1900 ele publica a obra: “A Interpretação dos Sonhos”. Além desta obra literária, Freud escreveu: “Os Aspectos da Prática Clínica (24 volumes) e Ensaios e Monografias Especializadas sobre questões religiosas e culturais”. Por volta do ano de 1933 o Nazismo tomou grande propulsão, principalmente na Alemanha e Áustria. Eles chegaram a incinerar várias obras de Freud em Berlim e quando começou a ocupar a Áustria, ele teve que fugir para Londres.  
Freud sempre apresentou um quadro clínico de saúde debilitado, mas entre os anos de 1938 e 1939, seu estado se agravou bastante. Um câncer lhe alcançou a boca e a mandíbula, além de sofrer de muitas dores. Passou por mais de 33 (trinta e três) cirurgias, na tentativa de conter a doença e diminuir o seu sofrimento. Ele morreu no ano de 1939, na cidade de Londres.

2. FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

Freud fez uma pesquisa e estudo aprofundado sobre como era apresentada a sexualidade pelas crianças. O estudo desenvolvido por ele teve muita influencia á época, e perdura até os nossos dias, trazendo grande entendimento de como se desenvolve esse processo sexual nos seres humanos. Ele foi dividido e apresentado por fases de desenvolvimento ou etapas do desenvolvimento psicossexual; conforme serão apresentados abaixo:

2.1 Fase Oral

Ela também é conhecida como fase das organizações ou fase canibalesca. Caracterizada por uma indistinção da atividade sexual com a nutrição e na qual o alvo sexual é a incorporação do objeto.
A fase oral indica a fonte primária de prazer do ser humano, da emoção e de contato com o mundo através da boca. Este prazer é originado pelas atividades de alimentação e se desenvolve através da ligação entre o mamar e a satisfação decorrente deste ato.

2.2  Fase Anal
O modo de obter prazer nesta fase, se expressa por atividades de controle da retenção e de eliminação das fezes e da urina. As crianças, nessa fase, dão muita importância as suas fezes, uma vez que apresentam o primeiro bem material produzido pelo seu próprio corpo e o controle dos esfíncteres[4].
Este ato é muito enfatizado pelos pais, onde as crianças por sua vez, controlam o comportamento de seus pais, ora com uma defecação adequada, ora com a inadequação do controle esfincteriano.

2.3  Fase Fálica
É marcada pela primazia dos órgãos genitais. Freud menciona algumas fontes de excitação que provocam um prazer erógeno: excitações mecânicas (agitação ritmada do corpo pelo movimento), atividade muscular (como lutas corporais), processos afetivos intensos (situações assustadoras, situações de dor, inclinam-se para a sexualidade) e o trabalho intelectual.
2.4  Período de latência
É uma fase mais calma, compreendida entre os cinco e dez anos de idade que, para Freud, não é uma verdadeira fase, pois não há nova organização de zona erógena, não há organização de fantasias básicas e nem novas modalidades das relações objetais. Nessa fase ocorre à socialização nos aspectos cognitivos e morais do desenvolvimento, as atividades escolares, os esportes competitivos, as brincadeiras com o grupo de iguais e o desejo do saber serão alvos da energia libidinal.
É um período intermediário entre a genitalidade infantil (fase fálica) e a adulta (fase genital). Nela a sexualidade permanece adormecida, mas as grandes conquistas dessa etapa situar-se-ão nas realizações intelectuais e na socialização. É por isso que este é o período típico do início da escolaridade formal ou da profissionalização em todas as culturas do mundo.
É na latência que a ligação afetiva com os pais vai se deslocando para fora da família, havendo a substituição dos progenitores, como, por exemplo, professores (as tias e tios) e amigos do mesmo sexo. Durante essas fases ocorrem vários processos, dentre eles destaca-se o Complexo de Édipo[5] (acontece entre os dois e cinco anos), pois é em torno dele que ocorre a estruturação da personalidade do indivíduo.
Posteriormente, por medo da perda do pai, “desiste” da mãe, isto é, a mãe é “trocada” pela riqueza do mundo social e cultural, podendo agora participar do mundo social, pois tem suas regras internalizadas através da identificação com o pai. Este processo também ocorre com as meninas, invertendo-se as figuras do desejo e de identificação.

2.5  Puberdade

Nesta fase as pulsões parciais se organizam, as zonas erógenas passam a se subordinar à primazia genital e a pulsão sexual (libido) que era, principalmente, autoerótica (libido do ego ou narcísica). Elas buscam o objeto sexual a serviço da função reprodutora (libido do objeto). Freud salienta que tais transformações acontecem concomitantemente às mudanças físicas da puberdade (em especial as alterações dos genitais), que proporcionam a obtenção do prazer e de satisfação da atividade sexual.
Todas as mudanças da puberdade culminam numa diferenciação sexual cada vez maior, já que os dois sexos terão funções distintas. Cabe pontuar que Freud faz um questionamento a respeito do que seria masculino e feminino, dizendo da complexidade destes conceitos (noção de bissexualidade) e acaba privilegiando a noção de passividade e atividade. A partir daí, afirma que a libido é masculina, já que a pulsão é sempre ativa.
Apesar da dificuldade em distinguir masculino de feminino, deixa claro que existe uma diferença entre a puberdade da menina e do menino. As zonas erógenas seriam homólogas (clitóris e glande), mas enquanto o homem permanece com a mesma zona erógena de sua infância, a mulher transfere a excitabilidade clitoridiana para a vagina, realizando uma troca da zona genital dominante. Estas mudanças deixariam as mulheres mais propensas à neurose histérica.
Outro aspecto levantado por Freud, é que na puberdade ocorre um afrouxamento dos laços com a família (inclusive um desligamento da autoridade dos pais), já que a proibição do incesto impele o jovem a procurar objetos sexuais que não sejam seus parentes.
Inicialmente, estes objetos sexuais são da ordem da fantasia, como a de escutar a relação sexual dos pais, da sedução, da ameaça de castração, romance familiar, entre outros.
Quando essas transformações da pulsão, ocasionadas pelo advento da puberdade, não ocorrem, surgem às patologias (inibições no desenvolvimento).
Freud destaca a fixação como um fator que pode atrapalhar o desenvolvimento sexual normal. Acrescenta a isso a importância de fatores acidentais, que podem levar a uma regressão a fases anteriores do desenvolvimento. “Cada passo nesse longo percurso de desenvolvimento pode transformar-se num ponto de fixação, cada ponto de articulação nessa complexa montagem pode ensejar a dissociação da pulsão sexual”.
Freud finaliza seu trabalho dizendo que os conhecimentos acerca da sexualidade (em seus aspectos psicológicos e biológicos) ainda são insuficientes para uma compreensão total do que é normal e patológico. Como ele não observou diretamente manifestações sexuais em crianças, sua rica teoria é apoiada apenas nas lembranças de seus pacientes.

CONCLUSÃO
Não resta nenhuma dúvida de que as pesquisas e teorias freudianas foram e são até os dias de hoje, de uma riqueza e dimensão gigantesca para compreendermos o processo de iniciação da aprendizagem como um todo, principalmente sobre a sexualidade infantil e o nível de conhecimento adquirido pelo ser humano no decorrer dos anos.
Como foi de vital importância conhecer que muitas de nossas motivações são inconscientes e que a ocorrência e o desenvolvimento da sexualidade infantil podem, e geralmente se dão de uma forma espontânea. Por isso, temos que dar maior relevância aos primeiros anos de vida destas crianças, para que possa haver melhor estruturação de sua personalidade.
Freud descobriu a existência de um ser muito complexo, bem como a descoberta de que este ser era dotado de um grande conhecimento intelectual. Pode-se afirmar, que por meio de seus vários estudos e pesquisas, que tanto a sexualidade como o processo de civilização humana é algo que ocorre de forma natural, e que se fará presente na vida de qualquer ser humano. Não podemos esquecer que a “criança não é um adulto em miniatura”, como muitos dizem por ai, mas ela é totalmente diferente do adulto.
Precisamos rever nossos conceitos, valores e opiniões, e compreender que a criança irá apresentar de forma natural e espontânea sua sexualidade, tudo isso no decorrer de seu desenvolvimento social e familiar, pois estará retratando e confirmando estar em plena fase de desenvolvimento em diversas áreas de sua vida, tanto a biológica, como a motora, psicológica e social.

REFERÊNCIAS

CECHIN, Andréa Forgiarini. Teoria Psicanalítica. Universidade Federal de Santa Maria. (material fornecido pelo Professor Gilvandro Salles).

FREUD, Sigmund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1856-1939), Tradução de Paulo Dias Corrêa – Rio de Janeiro: Imago; 2002. (Versão eletrônica do livro “Crítica da Razão Pura”. Autor: Emmanuel Kant. Tradução: J. Rodrigues de Merege).


[1] Licenciatura plena em Educação Física-UFES; Bacharel em direito – FABAVI/ES; Especialista em Direito Militar- UCB/RJ.
[2] Morávia. É uma região da Europa central, formando hoje em dia a parte oriental da República Checa. Seu nome vem do rio Morava, às margens do qual um grupo de Eslavos se estabeleceu por volta de 500 d.C. 

[3] Catarse.  Esse termo antigo foi cunhado por Aristóteles que preconizava pela limpeza simbólica das emoções. Ele também significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama.
[4] Esfíncteres. Geralmente é um músculo de fibras circulares concêntricas dispostas em forma de anel, que controla o grau de amplitude de um determinado orifício. O corpo humano tem três esfíncteres importantes: o esfíncter cárdico, o esfíncter anal e o esfíncter pilórico, que faz comunicação entre o estômago e o duodeno.
[5] Complexo de Édipo. Nele, a mãe é o objeto de desejo do menino e o pai é o rival que impede o acesso ao objeto desejado. Ele procura assemelhar-se ao pai para “ter” a mãe, escolhendo-o como modelo de comportamento.

Um comentário:

  1. É interessante buscarmos conhecer um pouco de como se processa o desenvolvimento do ser humano, principalmente no tocante a sua aprendizagem e, também, quanto a sua sexualidade.

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