CURY, Augusto. 1ª ed. Ansiedade: como enfrentar o maldo século? SãoPaulo: Saraiva, 2014.
Prefácio
Vivemos numa sociedade urgente,
rápida e ansiosa. (...). Raros são os que contemplam as flores nas praças ou se
sentam para dialogar nas suas varandas ou sacadas. (...) é muito triste
descobrir que grande parte das pessoas de todas as nações não sabe ficar só, se
interiorizar e refletir sobre as nuances da existência, se curtir, ter um auto
diálogo.
Essas pessoas conhecem muitas
outras nas redes sociais, mas raramente conhece alguém a fundo e, o que é pior,
raramente conhecem a si mesmo. Muitos pensam que o mal do século é a depressão,
mas neste livro outro grande mal, talvez mais grave, embora menos perceptível:
a ansiedade decorrente da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Pensar é bom,
pensar com lucidez é ótimo, porém, pensar demais é uma bomba contra a saúde
psíquica, o prazer de viver e a criatividade.
Não são somente as drogas
psicotrópicas que viciam, mas também o excesso de informação, de trabalho
intelectual, de atividades, de preocupação, de uso do celular, entre outros.
Desacelerar nossos pensamentos e aprender a gerir nossa mente são tarefas
fundamentais: “O dinheiro compra bajuladores, mas não compra amigos; compra a
cama, mas não o sono; compra pacotes turísticos, mas não compra alegria; compra
todo e qualquer produto, mas não uma mente livre; compra seguros, mas não o seguro
emocional”. (p. 15)
Cap.
1: O Mal do Século: Depressão ou Síndrome do Pensamento Acelerado?
De acordo com a Organização Mundial
da Saúde (OMS), 1,4 bilhão de pessoas, cedo ou tarde, desenvolverão esta doença
(dor humana), e que corresponde a 20% da população mundial. Entretanto, a SPA
provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as idades, de alunos e
professores, de iletrados e intelectuais, de médicos e pacientes. (p.17)
A sociedade moderna é consumista,
rápida e estressante. Com isso, alterou o ritmo da construção de pensamentos,
gerando consequências seríssimas para a saúde emocional, o prazer de viver, o
desenvolvimento da inteligência, a criatividade e a sustentabilidade das
relações sociais. Adoecemos coletivamente.
“O sono é vital para uma mente
equilibrada, produtiva e saudável”. As escolas (sistema educacional clássico),
estão levando os alunos a conhecer milhões de dados sobre o mundo em que
estamos, mas quase nada sobre o mundo que somos – o planeta psíquico”. (p. 21)
Um homem (Jesus Cristo), que talvez
seja o maior educador da história, enxergava essa limitação de maneira clara
como uma brisa. Quando morria no madeiro, disse algo surpreendente: “Pai,
perdoa-os, pois não sabem o que fazem”. Fazendo uma análise sociológica e psicológica,
demonstra que a afirmação carrega um altruísmo sem precedente. Mas, ao mesmo
tempo, parece inaceitável sua atitude de proteger os carrascos”. (p. 28)
Os soldados romanos sabiam o que
faziam, pois cumpriam ordens de Pilatos. Para o Mestre dos mestres, o
pensamento construído por eles eram, por uma lado, fruto da livre escolha, e,
por outro, reféns da base de dados da sua memória, da cultura tirânica do
Império Romano. Eles não eram autônomos nem donos do próprio destino. Eram
prisioneiros do seu passado, “escravos” de sua cultura. Para o Mestre da
Galiléia, por detrás de uma pessoa que fere, há sempre uma pessoa ferida.
Cap.
2: O Eu Pode ser Dominado pelo Fenômeno do Autofluxo:
Mesmo dentro dessa base de dados,
não temos plena liberdade de escolha, como defendia Sartre. (...). Mas, apesar
da liberdade que o Eu tem de acessar e utilizar informações para construir
cadeias de pensamentos sob sua responsabilidade. Há fenômenos inconscientes que
constroem pensamentos e emoções sem sua autorização. Se esses fenômenos
realmente existem, isso muda drasticamente nossa compreensão sobre quem somos -
homo sapiens. (p.29)
Afirmo que tal fenômeno
inconsciente é de vital importância para o psiquismo humano, para a
criatividade e para o prazer de viver, porém pode perder sua função saudável
por produzir a SPA.
O nosso Eu é livre para pensar,
para organizar os dados da sua memória, mas, ao mesmo tempo, há fenômenos
inconscientes, que até então não tinham sido estudados por outros teóricos, que
produzem pensamentos sem a autorização do próprio Eu e que podem sabotá-los,
escraviza-los e encarcera-los.
Podemos e devemos ser educador para
ser autores da nossa história, mas esta liberdade é conquistada e tem seus
limites. A história da humanidade, com suas inúmeras injustiças e atrocidades,
é um exemplo clássico disso.
O
Fenômeno RAM domina a Memória e o Eu:
O registro de tudo o que contatamos
é automático e involuntário, produzido por um fenômeno inconsciente chamado
Registro Automático da Memória (RAM). Não apenas o que o nosso Eu deseja será
arquivado, mas também o que ele odeia e despreza. Tudo o que mais detestamos ou
rejeitamos será registrado com mais poder, formando janelas traumáticas que
denomino de Killer.
Se o Eu, que representa a
capacidade de escolha, não tem liberdade para evitar o registro de nossos
pensamentos perturbadores e dos estímulos estressantes que nos abarcam, como
podemos dizer que o ser humano está condenado a ser livre? O fato de o mais
complexo de todos os fenômenos do intelecto – o pensamento, ter sido muito
pouco investigado trouxe consequências seríssimas para o desenvolvimento da
nossa espécie. (p. 31-32)
O
Erro de Einstein e outras Consequências:
Estamos no apogeu da medicina e
psiquiatria, mas nunca estivemos tão doentes. Estudo recente do Instituto de
Pesquisa Social da Universidade de Michigan aponta que, ao longo da vida, uma
em cada duas pessoas deve desenvolver um transtorno psiquiátrico, ou seja, mais
de 3 bilhões de pessoas.
Estamos na era do conhecimento, da
democratização da informação, mas nunca produzimos tantos repetidores de
informações, em vez de produzirmos pensadores. Quando estudamos o processo de
construção de pensamentos, somos iluminados para entender que a loucura e a
racionalidade são mais próximos uma da outra do que imaginávamos. Por isso, uma
pessoa inteligente jamais discrimina ou diminui os outros.
Cap.
3: Quem somos? Teses e Fundamentos.
A construção de pensamentos não é
unifocal, mas multifocal, não dependendo apenas da vontade consciente, ou seja,
do Eu, mas de fenômenos inconscientes. Essa tese já é suficiente para
demonstrar que a mente humana é mais complexa do que postulam a psicanálise, as
teorias comportamentais, as teorias cognitivas, as teorias existencialistas, as
teorias sociológicas e as teorias psicolinguísticas. (p. 35)
Somos tão complexos que, quando não
temos problemas, nós os criamos. Quem cobra excessivamente se si mesmo pode ser
ótimo para a sociedade e para sua empresa, mas certamente será seu próprio
algoz. Quem não souber dar um choque de lucidez em sua emoção e em seus
pensamentos, jamais poderá dizer que é autor da própria história.
Certa vez, (...), afirmei que nunca
houve nas sociedades livres e democráticas, tantos escravos no único lugar onde
é inadmissível ser um prisioneiro: em nossa própria mente. O Tempo de
escravidão não terminou, apenas mudou de endereço. Antes, algemavam-se o corpo;
hoje, algema-se a psique. Antes, havia algozes que puniam os encarcerados;
hoje, nós mesmos nos encarceramos. (p.37)
Pensar
é uma Grande Aventura:
(...), os nossos pensamentos estão
distorcidos e contaminados por nossa cultura e personalidade (quem sou); por
nossa emoção (como estou); pelo ambiente social (onde estou) e por nossa
motivação (o que pretendo). Não há interpretações puras. Por isso há julgamentos políticos, baseados
menos na lei e muito mais nas intenções subjacentes e subliminares de quem
julga. (p.40)
O ciúme é a necessidade neurótica
de controlar o outro, tão comuns na juventude, são exemplos de distorções do
raciocínio nas relações interpessoais.
De acordo com a Teoria da Inteligência
Multifocal (TIM), a virtualidade dos pensamentos demonstra que a verdade
absoluta é sempre um fim inatingível. (p.41)
O
Pensamento e suas Armadilhas:
Um profissional de saúde mental
deve saber que jamais tocará ou sentirá minimamente a dor do pânico ou da
depressão de um paciente. Se sentir, ela será sua, e não do outro, pois estamos
ilhados em nós mesmos. Muitos profissionais desta complexa área não entendem que
conhecemos o outro sempre a partir de nós mesmos. Nossos pensamentos
jamais representam o outro em sua plenitude. Se pais, educadores e executivos
não treinarem seu Eu para se esvaziar de seus preconceitos e aprender a se
colocar no lugar do outro a fim de entende-lo tanto quanto possível, cometerão
erros crassos (grosseiros).
Cap.
4: As Estatísticas Nos Denunciam:
Pesquisas revelam que 80% dos
jovens do mundo apresentam sintomas de timidez e insegurança. E aí fica a
pergunta: SPA ou Hiperatividade? Muitos profissionais que labutam na área de
saúde mental, chegam a diagnósticos errados, ao observarem crianças e
adolescentes agitados, rebeldes, inquietos, com dificuldade de concentração e
(...) com normas sociais. Quando a maioria desses pacientes é vitima de SPA.
(p.46)
Hiperatividade,
há um fundo genético, pois frequentemente um dos pais é hiperativo. Ademais, a
agitação e inquietação de uma pessoa hiperativa manifestam-se na infância. O
que mais me preocupa na SPA e na Hiperatividade, é a retração de duas funções
vitais para o sucesso social, profissional e afetivo: pensar antes de agir e
colocar-me no lugar do outro (empatia).
Observe que um simples barulho no
motor de um carro nos faz buscar o mecânico. Entretanto, muitas vezes o nosso
corpo grita através de fadiga excessiva, insônia, compulsão, tristeza, dores
musculares e outros sintomas psicossomáticos e, mesmo assim, não procuramos
ajuda. (p.47-48)
Cap.
5: A Vida é Bela e Breve como um Orvalho:
Para os sábios, a brevidade da vida
convida-os a valorizá-la como um diamante de inestimável valor. Ser sábio é
aprender a usar cada dor como uma ocasião para corrigir caminhos e cada
fracasso, uma chance para recomeçar.
De acordo com TIM, construímos
pensamentos não apenas porque queremos construí-los conscientemente pela
divisão do Eu, mas também por meio de outros três fenômenos inconscientes: Gatilho da Memória (auto
checagem); auto fluxo e janelas da memória. (p.50)
a) Gatilho
da Memória: é o primeiro
fenômeno inconsciente que constrói pensamentos. Ele é acionado quando estamos
em contato com cada estímulo extrapsíquico
(luz, sons, estímulos táteis, gustativos, olfativos etc.), ou intrapsiquico (imagens mentais,
fantasias, desejos, emoções etc.) e inclusive com determinados estímulos
orgânicos (substância metabólica, drogas
psicoativas, etc.);
b) As
Janelas da Memória: são
áreas de leitura da memória num determinado momento existencial. São arquivos
em que o Eu, o gatilho e o autofluxo se ancoram para ler, utilizar as
informações e construir o mais incrível dos fenômenos: o pensamento. (p.52-59)
Existe um consenso na Psicologia de
que a personalidade não muda. Na verdade, este consenso não tem fundamento, não
se sustenta. A personalidade não é rígida, não é linear, ela está em processo
de mudança. Ela se desloca ou se transforma quando se muda a base das janelas
da memória e quando o Eu é equipado para ser líder de si mesmo. Se a
personalidade é mutável, por que então não é fácil mudar características
doentias como o mau humor, impulsividade, timidez? Porque a intenção ou o
desejo de mudança produz uma janela solitária e, além disso, “pobre” e com
poucos recursos. (p.60)
Cap.
6: O Dependente de Drogas:
Eles não se tornam encarcerados
pelas drogas (substância química) em si, mas pelo arquivamento das experiências
que tiveram com elas. Com o passar do tempo, o problema não é mais a substância
psicoativa, mas a masmorra construída dentro do Eu, financiada pelas
inumeráveis janelas Killer espalhadas
por sua memória. (p.61)
Porque
os Dependentes Recaem com Facilidade:
Por mais que eles tenham tido
sucesso em seu tratamento, na realidade, eles reeditaram uma parte das janelas
traumáticas que contém a representação da droga. Entretanto, outras janelas
doentias permanecem “vivas” e capazes de ser encontradas durante um foco de
tensão e financiar uma nova compulsão.
Existe um conceito falso de que um
dependente de drogas será dependente a vida toda. Embora o conceito seja falso,
ele é útil para o Eu viver sempre em estado de alerta, pois numa crise, perda
ou frustração, o gatilho da memória poderá encontrar janelas doentias que ainda
não foram reeditadas.
E, neste caso, se o Eu não proteger
a emoção e nem gerenciar seus pensamentos, poderá recair e se autodestruir
novamente. Ao recair, ao invés de se punir e se autodestruir, o Eu poderá usar
a recaída par dar uma nova chance para si mesmo, ser mais seguro e reescrever
as janelas que o enredaram. (p.62)
Cap.
7: Tipos de Janelas da Memória:
Janelas Neutras:
corresponde a mais de 90% de todas as áreas da memória. Contem milhões de
informações “neutras”. Em tese, estas informações são sem conteúdo emocional,
tais como: números, endereços, telefones, informações escolares, dados
corriqueiros, conhecimentos profissionais. Todas as informações existenciais
registradas no córtex cerebral, desde a aurora da vida fetal até o último
fôlego, estão contidas nessas janelas. Essas informações se apagam ou são
substituídas com o tempo?
É difícil dizer com certeza, mas é
bem possível que uma parte seja necessariamente substituída, haja vista que são
milhões de informações por ano. O “passado” é reorganizado pelo “presente”. É
muito provável, que milhões de dados do passado, organizados eletronicamente
nas células do córtex cerebral, ficam arquivados não no centro consciente, que
chamo de Memória de Uso continuo (MUC), mas sim, na imensa periferia da
memoria, que chamo de Memória Existencial (ME).
Janelas Killer:
correspondem a todas as áreas da memoria que tem conteúdo emocional
angustiante, fóbico, tenso, depressivo, compulsivo. São as janelas traumáticas
ou zonas de conflito. Killer em
inglês significa “assassino”. Por isso o nome, pois são janelas que assassinam
não o corpo, mas o acesso a leitura de inúmeras outras janelas da memoria,
dificultando ou bloqueando respostas inteligentes em situações estressantes.
(p.66)
Essas janelas controlam, amordaçam,
asfixiam a liderança do Eu. Há vários tipos de janelas Killer, como as janelas
do mau humor, ciúme, raiva, pessimismo, alienação, fobias, excesso de
autoconfiança e dependência. Todos
devemos saber que não é possível deletar essas janelas, mas é possível
reescrevê-las. (p.67)
Janelas Light:
corresponde a todas as áreas de leitura que contém prazer, serenidade,
tranquilidade, generosidade, flexibilidade, sensibilidade, coerência,
ponderação, apoio, exemplos saudáveis. Elas, como seu significado em inglês –
“luz ou acender”, traduzem a ideia de que iluminam o Eu para o desenvolvimento
das funções mais complexas da inteligência: capacidade de pensar antes de
reagir, colocar-se no lugar do outro. Resiliência,
criatividade, raciocínio complexo, determinação, (...), proteger a emoção,
gerenciar pensamentos. (p.68)
O
Eu entra no “Palco” quando o “Circo” está armado:
O fenômeno RAM arquiva todas as
experiências que vivenciamos, sejam elas prazerosas ou angustiantes. Ela forma
e preenche as janelas da memória que serão a base de sustentação e formação do
Eu, que , como vimos, representa nossa consciência crítica e capacidade de
escolha.
Os
Exemplos Gritam mais que as Palavras:
Provavelmente, mais de 90% da
influência que os pais exercem no processo de formação da personalidade dos
seus filhos se deve não aquilo que falam, corrigem, apontam, mas aquilo que são
fotografados pelo fenômeno RAM dos filhos. “O exemplo não é apenas uma boa
forma de educar, é a mais poderosa e eficiente”. (p.70)
Cap.
8: O Fenômeno do Autofluxo e o Eu:
O autofluxo é um fenômeno
inconsciente de inigualável importância para o intelecto humano. A leitura do
autofluxo é diferente, ele faz uma varredura inconsciente, aleatória, não
programada dos mais diversos campos da memória, produzindo pensamentos, imagens
mentais, idéias, fantasias, desejos e emoções.
Ele tem outra função vital: ler e retroalimentar as janelas da memória
desde o útero materno a fim de armazenar milhões de dados para o desenvolvimento
do pensamento na primeira infância. (p. 73)
Freud foi quem descobriu o
inconsciente ou, pelo menos, foi o primeiro grande porta-voz da existência do
inconsciente. Ele discorreu sobre o principio do prazer como mola mestra da
movimentação do psiquismo. Dos bebês aos
idosos, todos são famintos de prazer, mais a maior fonte de prazer é ou deveria
ser o fenômeno do autofluxo.
Quando esta fonte falha, as
consequências são serias, e um estado de infelicidade inexplicável surge no
cenário psíquico. Sem a existência desse fenômeno, nossa espécie desenvolveria
um tédio mordaz; uma depressão coletiva, uma total falta de sentido
existencial.
Há pessoas bem sucedidas
financeiramente, tem bons amigos, filhos maravilhosos, parceiro (a), ou seja,
motivos de sobra para festejar sua existência, mas são mal-humorados e
insatisfeitos. Qual seria a causa? O autofluxo não tem uma produção intelecto
emocional capaz de inspirá-los a sentir o pulsar da vida como um espetáculo
imperdível. (p.74-75)
Em muitos casos, o ponto de partida
para a leitura realizada pelo fenômeno do autofluxo são as janelas abertas pelo
gatilho da memória. Por exemplo, quando uma pessoa claustrofóbica pisa numa
aeronave, seu gatilho dispara a janela traumática que contém o medo de que
faltará ar ou de que o avião irá cair. Para dirigir a mente humana, que é mais
complexo, é preciso ter ferramentas educacionais e treinamentos inteligentes.
O
Eu e Seus Papéis:
O Eu é o centro de nossa
personalidade, o líder da psique ou da mente, o desejo consciente e a
capacidade de autodeterminação e a identidade fundamental que nos torna único. Muitos
profissionais e intelectuais, tem um Eu não estruturado e intolerante a
frustrações (...), não podem ser contrariados, e não sabem dar um choque de
gestão em seus pensamentos. Sua mente é terra de ninguém, não tem segurança.
(p.
76-77).
Há
pelos menos 25 funções do Eu, mas destacarei apenas algumas (Veronese):
II. Ter consciência crítica e
exercer a arte da dúvida sobre tudo o que o controla, em especial as falsas
crenças;
III. Ser autônomo, aprender a ter
opinião própria e fazer escolhas, mas saber que todas as escolhas implicam
perdas;
V. Gerenciar os pensamentos e
qualifica-los para não ser escravo das ideias que ruminam o passado ou
antecipam o futuro;
VII. Gerenciar a emoção protegê-la como
a mais excelente propriedade e filtrar estímulos estressantes;
X. Aprender a dialogar e transferir
o capital das experiências, e não apenas comentar o trivial ou ser um manual de
regras. Quem é apenas um manual de regras está apto a lidar com máquinas, mas
não a formar pensadores;
XI. Reciclar influências genéticas
instintivas (raiva, punição, agressividade, competição predatória) que nos
tornam homo bios para enriquecer o homo sapiens;
XV. Pensar antes de agir e
raciocinar multifocalmente; não ser escravo das respostas, mas em primeiro
lugar ser fiel a própria consciência;
XVI. Colocar-se no lugar do outro
para interpretá-lo com maior justiça a partir de si mesmo;
XVIII. Desenvolver resiliência:
trabalhar perdas e frustrações e reciclar o conformismo e a autopiedade;
XX. Pensar como humanidade, e não
apenas como grupo social, nacional, cultural, religioso.
Um dos meus gritos de alerta, é que
o sistema educacional está agonizante, formando alunos imaturos e despreparados
para ser lideres de si mesmo, numa sociedade desigual. (p. 80).
Cap.
9: Os Seis Tipos de Eu:
1º. O Eu Gerente:
São
as pessoas que exercem a arte de se autoquestionar. Elas libertam seu
imaginário, são criativos, motivados, inspirados e também capazes de criticar
suas ideias, verdades e crenças. Elas têm consciência de que o fenômeno do
autofluxo é uma fonte de inspiração, entretenimento e aventura, porém não
permitem ser dominados por ele.
2º. O Eu Viajante:
Também
conhecido como desconectado. O céu e o inferno emocional estão muito próximos
de alguém que tem um Eu desconectado. Como eles não tem gestão mínima de sua
mente, dependendo do lugar da memória em que se ancora o auto fluxo, as pessoas
deste tipo assistirão como espectadores passivos aos pensamentos, ideias,
imagens mentais e emoções construídos por esse fenômeno inconsciente. Elas
vivem fantasiando, imaginando e pensando.
3º. O Eu Flutuante:
Não
tem ancora, segurança, estabilidade, clareza sobre onde está e aonde quer
chegar. Elas não têm autonomia, ideias próprias e não exercem sua capacidade de
escolha. São muito instáveis, desestabiliza a própria emoção, tornando-a
volúvel. Por isso, estão alegres num período do dia e, noutro, entristecidos.
Num momento, afetivos, noutro, irritadiços e até agressivos.
4º. O Eu Engessado:
Elas
têm grande potencial criativo, mas são seus próprios punidores, não sonham, não
se inspiram, têm medo de ser abertos e pensar em outras possibilidades. Vivem entediadas e entendiam quem está próximo.
Costumam ser robotizados. Levanta sempre do mesmo modo, faz as mesmas
reclamações, dá as mesmas respostas. É uma pessoa encarcerada pela rotina.
5º.
O Eu Auto Sabotador:
Por incrível que pareça, vai contra
a liberdade, conspira contra seu prazer de viver, sua tranquilidade e seu êxito
profissional e social. Uma das mais graves consequências de quem cobra
excessivamente de si mesmo é aumentar os níveis de exigência, o que impede de
relaxar, sentir-se realizado, satisfeito e feliz.
6º. O Eu Acelerado:
Um
número de pessoas em todo o mundo pertence a este tipo de Eu, de crianças a
idosos, que se entulham de informações, atividades e preocupações. E,
consequentemente, excitam o fenômeno do
auto fluxo a produzir pensamentos numa velocidade nunca vista, gerando a
Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA).
Cap.
10: A Síndrome do Pensamento Acelerado – SPA:
Pensar é bom, pensar com
consciência crítica é melhor ainda, mas pensar excessivamente é uma bomba
contra a qualidade de vida, uma emoção equilibrada, um intelecto criativo e
produtivo. Qualquer pessoa sabe que uma máquina não pode trabalhar em alta
rotação constantemente, dia e noite, pois ocorre o risco de aumentar sua
temperatura e fundir suas peças.
Infelizmente, nós, seres humanos,
não temos consciência de que pensar exageradamente e sem nenhum autocontrole é
uma fonte de esgotamento mental. Crianças e adolescentes estão esgotados
mentalmente. Pais e professores estão fatigados sem saber as causas.
Profissionais das osmais diversas áreas já acordam sem energia e carregam seu
corpo durante o dia. Estamos levando a psique a um estado de falência coletiva
e não percebemos o mal do século.
Alguns
dos Sintomas: O
autor apresenta neste capítulo dezesseis sintomas, dentre os quais, destaco
alguns:
Ansiedade;
Cansaço físico exagerado;
Sofrimento por antecipação;
Dificuldade de lidar com pessoas
lentas;
Baixo limiar para suportar
frustrações;
Déficit de concentração;
Déficit de memória;
etc.
Do final do século XX para cá,
crianças e adolescentes estão cada vez mais agitados, inquietos, sem
concentração, sem respeito uns pelos outros e sem prazer em aprender. Porque muitos estão fatigados?
O sono deixa de ser reparador, não
consegue repor a energia na mesma velocidade. E os sintomas físicos, porque surgem? Quando nosso cérebro está
desgastado, estressado e sem reposição de energia, procura órgãos de choque
para nos alertar. Nesse momento, aparece uma série de sintomas psicossomáticos,
como dores de cabeça e músculos, que representam o grito de alerta de bilhões
de células suplicando para que mudemos nosso estilo de vida. (p.101)
Cap.
11: O Assassinato da Infância
O sistema social cometeu um dos
mais dramáticos assassinatos coletivos: o assassinato da infância. Uma criança
de sete anos, na atualidade, provavelmente tem mais informações do que tinha um
imperador da Roma antiga.
O mundo fica estarrecido com o uso
de armas de destruição em massa, mas silencia diante das “armas” usadas pelo
sistema social que provocam a destruição em massa da infância de nossas
crianças. (p.107)
Nossas crianças são instáveis,
irritadiças, intolerantes a contrariedades, inseguras em relação a situações
novas e tem enorme dificuldade de debater ideias em ocasiões minimamente
estressantes.
Nunca
Foi Tão Difícil Educar:
Todos nós temos responsabilidade no
assassinato da infância. Quando as crianças são atingidas pela SPA, na primeira
infância, até os cinco anos de idade, os pais ficam extasiados achando que seus
filhos são gênios. Eles não conseguem perceber os sintomas. Para piorar,
colocam os filhos num mar de atividades (escola, aprendizagem de idiomas,
música, esportes, etc.) e, além disso, permitem que acessem as redes sociais
indiscriminadamente. Esse processo agita mais ainda a mente deles. (p. 109)
Os pais se esquecem de que as
crianças precisam ter infância, caso contrário, terão uma emoção instável,
insatisfeita, irritadiça, intolerantes e, claro, hiperpensantes. Quando chega a
segunda infância, dos seis aos dez anos, a pré-adolescência e adolescência, os
pais começam a perceber que algo está errado, pois o gênio desapareceu.
É fundamental que os pais não deem
presentes e roupas em excesso aos filhos, mas também não deixem que fiquem o
dia inteiro conectados em redes sociais. A utilização ansiosa desses aparelhos
pode causar dependência psicológica, igualmente aos usuários de drogas.
Cap.
13: Graves Consequências da Síndrome do Pensamento Acelerado:
13.1
Emocionais:
1. Envelhecimento Precoce da Emoção: Insatisfação Crônica. Quando
hiperaceleramos os pensamentos, a emoção perde em qualidade, estabilidade e
profundidade. São necessários cada vez mais estímulos, aplausos, reconhecimento
para sentirmos migalhas de prazer.
Uma mente hiperpensante envelhece
precocemente a emoção, gerando um estado desconfortável que é bem
caracterizado: irritabilidade, reclamação frequente, impaciência com quem não
pensa a mesma coisa ou não tem o mesmo ritmo, falta de disciplina para correr atrás
dos sonhos, dificuldade de desfrutar o próprio sucesso.
Tem jovens de 10, 12, 15 e 20 anos,
com idade emocional mais avançada do que muitos idosos de 80 e 90 anos. Se
muitos jovens estão emocionalmente envelhecidos, imagine os adultos mentalmente
acelerados. Vários se encontram num asilo emocional. Felizmente, a emoção
humana pode e deve rejuvenescer. Por isso, há idosos com a idade biológica de
80 anos, mas com um vigor inacreditável (p. 122).
2. Retardamento da Maturidade da Emoção: Quando uma pessoa tem um SPA
impactante e seu Eu é incapaz de gerenciar minimamente os pensamentos, o
processo de elaboração das experiências, que contém perdas, decepções,
derrotas, limites, fica muito comprometido. O fenômeno RAM não forma núcleos
saudáveis de janelas light no córtex cerebral para dar sustentabilidade as
funções complexas da inteligência, como proatividade, autodeterminação,
resiliência, tolerância.
Além da consequência anterior
(número 1), também ocorre o retardamento da maturidade. Imagine um ser humano
adulto com uma emoção envelhecida e, ao mesmo tempo, imaturo? Alguns exemplos
você já conhece: executivos, médicos,
advogados, psicólogos, jornalistas, entre outros, que não aceitam ser
contrariados, criticados ou confrontados. São pessoas sem juventude emocional e
imatura intelectualmente. (p. 123-124)
3. Morte Precoce do Tempo Emocional: Esta é uma das mais graves
consequências da SPA, a morte da percepção do tempo emocional. A SPA nos leva a
viver uma vida tão rápida em nossa mente, que acaba por distorcer nossa
percepção. Em relação ao passado, vivemos mais tempo biologicamente, mas também
morremos mais cedo emocionalmente.
A medicina prolongou a vida, mas o
sistema social contraiu o tempo emocional. Estamos tão atolados com atividades
mentais e profissionais que não temos tempo para desfrutar, digerir e assimilar
as experiências existenciais. Um dos nossos maiores desafios é dilatar o tempo.
4. Desproteção Emocional e Desenvolvimento de Transtornos
Psiquiátricos: Uma pessoa
agitada e hiperpensante reduz a habilidade de filtrar estímulos estressantes.
Ela tem uma facilidade enorme de formar janelas kyller. Qualquer crítica ou
injustiça a derrota. Perdas e decepções a afetam tanto que desertificam seu
dia, sua semana, seu mês e, ás vezes, sua vida.
Estando desprotegida emocionalmente
tem grande chance de desenvolver hipersensibilidade. Ela não só se preocupa com
a dor do outro, mas acaba vivendo esta dor. Costuma ter uma preocupação
exagerada com sua imagem social (reputação), com o que os outros pensam dela.
Elas tem mais facilidade de intensificar a SPA e deflagrar ou desenvolver
depressão, síndrome do pânico e doenças psicossomáticas. Lembrem-se: nossos piores inimigos não estão fora de nós (p. 127).
Outras
Consequências da SPA:
5. Doenças Psicossomáticas:
A ansiedade crônica (contínua) pode causar inúmeros sintomas e transtornos
psicossomáticos: taquicardia, hipertensão, nó na garganta, queda de cabelos,
entre outros. Pode, inclusive, desencadear ou acelerar a evolução de
determinados tipos de enfarto e de câncer. (p.129)
6. Comprometimento de Desempenho Intelectual Global: Em longo prazo, a SPA afeta o
processo de observação, assimilação, resgate e organização de dados. Provas
orais e escritas podem ser severamente afetadas por uma mente hiperpensante e
hiperpreocupada com seu rendimento intelectual e com a opinião de pais e
professores. O estresse crônico da SPA pode dificultar a abertura das janelas
da memória e a construção do raciocínio. (p. 129)
7. Deterioração das Relações Sociais: Uma mente hiperacelerada tem
tendência a ser impulsiva, a não pensar antes de reagir e a ter baixo nível de
paciência com filhos, amigos, cônjuges, colegas de trabalho. Este comportamento
acaba por comprometer a afetividade, a estabilidade e a profundidade das relações
interpessoais. Muitos casais começam sua relação no céu do afeto e a terminam
no inferno dos atritos. (p. 130)
8. Dificuldade de Trabalhar em Equipe: Uma mente agitada tem maior
dificuldade de expressar seus pensamentos, debater ideias, promover seus
colegas, ser simpático (agradável) ou empático (olhar com os olhos do outro). A
SPA compromete a saúde psíquica de um ser humano, o futuro de uma empresa, o
Produto Interno Bruto (PIB) de um país e a sustentabilidade de meio ambiente e
da espécie humana.
Resiliência. É a capacidade de voltar ao seu estado
natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum.