EMERICH, Alcione. Contaminação
Espiritual: no
passado, muitos morreram pelo cristianismo; no presente, milhares morrem de
cristianismo. São Paulo: Editora Hagnos, 2010.
Antes
de apresentar um resumo da introdução desse livro, oportuno ressaltar
comentários de algumas pessoas conhecidas sobre o mesmo.
Rick Joyner: Provavelmente
o espírito de religiosidade tem causado mais dano à igreja do que o movimento
Nova Era e todas as outras seitas juntas.
Carlito Paes: (...) obra bem fundamentada na Palavra de Deus,
estatística e experiências pessoais, é uma das mais graves doenças espirituais
infectocontagiosas de nosso tempo. (...). Este livro é um antídoto de Deus para
atacar essa grave doença de nosso tempo (Pastor Sênior da PIB de São José dos
Campos – SP).
Dr. Russel P. Shedd: O Pastor
Alcione levanta um assunto de suma importância porque “religiosidade contamina
como o fermento dos Fariseus”! O perigo que afetou algumas igrejas da Asia
continua sendo um desafio atualíssimo. A síndrome do irmão mais velho,
igualmente, precisa ser encarada com seriedade (...). É claro que nem todas as
igrejas brasileiras sofrem numa mesma intensidade do mal que o autor
identifica. Acredito que essa avaliação da realidade brasileira seja correta.
Por isso recomendo a leitura deste livro.
Introdução: Alguma
Coisa está Errada Conosco?
Eu me formei em filosofia, mas não tinha a mínima noção à época, em que
ela poderia me ajudar, haja vista que ela pretende nos fazer questionar por que
pensamos como pensamos. (...): Há algo de errado com a igreja? O que ocorre
conosco? O fato que mais me assusta é a origem de nossas divisões. Essa é uma
das marcas mais trágicas da igreja evangélica. Nós, infelizmente, somos um povo
dividido.
Por
que há tanto crente ansioso e com autoestima baixa? E confesso que eu mesmo sou
um deles. Quantos cristãos desistindo de sua caminhada. Pastores que estão
abandonando suas famílias e seus ministérios. Você já percebeu que temos
intensa dificuldade em respeitar o pensamento alheio? Não estou falando do
pensamento da Nova Era, nem do Catolicismo, etc., mas do nosso irmão, aquele
que senta ao seu lado no culto.
Parece
que perdemos o amor (insensibilidade) que é a
marca principal do cristianismo. Muitos se tornaram dotados dos mais altos
padrões éticos e morais, mas não conseguem mais amar. E mais do que isso: em
nome desses valores morais e denominacionais, muitas vezes, acabamos por julgar
pessoas, difamá-las e até convidá-las
(para não dizer expulsá-las) a não congregaram mais conosco. (p. 24)
Alguns
infelizmente foram destruídos por nossas mãos. E não foi em nome do amor, mas
sim, para honrar nossa ortodoxia[1] ou
visão. O mundo pergunta: Pode-se confiar na Igreja? O que podemos responder a
tão importante questão? Sobre esse assunto, Warren W.
Wiersbe afirma que:
“Durante dezenove séculos a igreja vem dizendo ao
mundo que reconheça seus pecados, arrependa-se e creia no Evangelho. Hoje, no
crepúsculo do século vinte, o mundo diz a igreja que enfrente os seus pecados,
arrependa-se e comece a ser a verdadeira igreja desse Evangelho” (p.25).
Wiersbe ainda acrescenta: “A igreja não
precisa de maquiagem, e, sim, de cirurgia”. No tempo de Jesus, creio que as
coisas não estavam muito diferentes, pois Ele percorreu cada sinagoga[2] de
Israel e concluiu que nada andava bem.
Mateus
9:35-38. E percorria Jesus todas as
cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do
reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E, vendo as
multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas,
como ovelhas que não tem pastor. Então, disse aos seus discípulos: A ceifa é
realmente grande, mas poucos os obreiros (ceifeiros). Rogai, pois, ao Senhor da
ceifa, que mande obreiros para a sua colheita.
De acordo com o texto, pode
ser visto que Jesus percorria todas as cidades e povoados e, ainda diz que Ele
ensinava nas sinagogas. Embora estivesse percorrendo cidades diferentes, o
local de seu ensino era o mesmo, ou seja, se dava nas “igrejas”. Ele percebeu
que as pessoas estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não tem pastor. O
Mestre constatou que “havia algo de errado acontecendo com o povo de Deus!”
Após constatar a exaustão e
a ansiedade do povo, Jesus faz um dos mais empolgantes convites registrado nas
Escrituras: “
Mateus
11:28-30. Vinde a mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e
aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso
para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Por
que esse povo estava tão abatido e sobrecarregado? Não eram os trabalhos de
feitiçaria da época que os estavam matando. Era, na verdade, a própria mensagem
que estavam recebendo e vivenciando, ou seja, o “evangelho” deles estava
contaminado! Mais adiante, Jesus adverte aos que interpretavam a lei, dizendo:
“Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis
de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas
cargas” (Lucas 11:46).
Era a
liderança do povo (os sacerdotes) que estava promovendo a contaminação do
evangelho, isto é, ao invés de suas mensagens trazerem edificação e cura, estavam causando doenças. O problema
em si não estava na mensagem que pregavam, mas no modo como a estavam
interpretando e fazendo sua aplicação.
No Livro do Profeta
Ezequiel, há uma advertência direcionada aos Sacerdotes (Pastores) da época,
que estavam procedendo da mesma forma, ou seja, a “mensagem de Deus” era
misturada a conteúdos alheios à ela: rigor, dureza, fardo, dominação,
sobrecarga (p.27-28).
Ezequiel
34:2-4. (...): Ai dos pastores de
Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as
ovelhas? Comeis a gordura, e vos vestis de lã, matais o cevado; mas não
apascentais as ovelhas. As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e
a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não
buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza.
Percebe-se que tanto a mensagem
registrada em Lucas como em Ezequiel, estão carregadas desses conteúdos
alheios. Esse tipo de contaminação pode
gerar as mais diversas anomalias no meio do povo de Deus. A trágica descoberta é que cada um de nós
sofre, em maior ou menor grau, a influência desse espírito. Você se
surpreenderá ao notar como a nossa cabeça funciona de maneira parecidíssima a
dos fariseus do tempo de Jesus e como, na maioria das vezes, o nosso modo de
pensar diverge em muito ao de Jesus.
E, aí sim, você entenderá
por que Jesus exortou severamente os seus discípulos quanto ao Fermento dos
Fariseus (Mateus 16:6). Nosso livro visa denunciar como o espirito da
religiosidade tem agido em nosso meio, trazendo contaminação e provocando as
mais profundas mudanças de pensamento e comportamentais dos cristãos de modo geral. Fazendo com que
você comece a olhar para si mesmo e a avaliar seu grau de contaminação.
Com essa compreensão, será
possível entender o motivo de nossas igrejas estarem no estado atual e, também,
verificar como podemos retomar o caminho de um evangelho vivo e abundante.
Gostaria de esclarecer nesta introdução, alguns tipos de religiosidade (p.32):
O primeiro eu chamo de “Religioso Impio”: Trata-se daquela
pessoa que não conhece a Deus. É uma pecadora, adúltera, pratica feitiçaria e é
beberrona etc. Raramente vai a igreja, não dizima, não oferta, não prega a
Palavra de Deus. Entretanto, é religiosa. Faz o sinal da cruz constantemente,
cumpre a exigência da semana “santa”, isto é, não come carne etc. No entanto, isso
não muda em nada o seu relacionamento com Deus. O mundo está cheio desse tipo
de religioso.
O segundo eu chamo de “Religioso Padrão”: Independente de ser
católico ou evangélico, adota todos os ritos e práticas religiosas, sem que
isso traga mudanças em sua vida privada e familiar. Ele não peca tão
descaradamente como o primeiro. Ele é enrustido. Frequenta os cultos com
regularidade, dizima, oferta, prega a Palavra de Deus com excelência. Ele vive
numa grande contradição entre sua ortodoxia e ortopraxia[3]. Qual é sua grande característica: a
hipocrisia. Assim eram os fariseus, ao ponto de Jesus chama-los de sepulcro
caiados!
A meu ver, esses dois grupos
não experimentaram o milagre da salvação. O próprio Jesus se dirigiu a um grupo
de fariseus que se diziam “filhos de Abraão”, e os chamou de “filhos do diabo”,
pois diferentemente do que falavam, suas obras em nada testificavam de Abraão.
João 8:37,
39,44. Bem sei que sois descendência
de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em
vós. (...). Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes:
Se fosses filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. (...). Vós tendes por
pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai (...).
O terceiro grupo, ao qual me
incluo, chamo de “Cristãos Sinceros
Contaminados pelo Espírito da Religiosidade”: Se você se enquadrou no
primeiro ou segundo tipo, precisa ter um encontro real com Cristo, para que Ele
transforme não suas palavras, mas toda sua “vida”. Se você está inserido aqui nesse grupo, vou
compartilhar algumas verdades que têm trazido profundas mudanças em minha vida
e que poderá levar você a uma restauração interior.
Para isso, basta você reler
os Evangelhos e perceberá que em qualquer um deles, onde Jesus estava sempre
recebia oposição de algum religioso.
Sendo assim, estou convicto que o espírito de religiosidade é o
principal inimigo da igreja. Notará também, que as palavras mais duras
proferidas por Ele, não foram dirigidas às prostitutas, aos ladrões, aos adúlteros
ou aos beberrões, mas sim, aos religiosos da época. Vale lembrar que quem O entregou para ser
crucificado foram alguns principais sacerdotes, anciãos, escribas e
judeus.
Mateus
26:3-4. Então os principais
sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo reuniram-se na sala do sumo
sacerdote, o qual se chamava Caifás. E consultaram-se mutuamente para, com
dolo, prenderem Jesus e o matarem.
Descobri
que a primeira cusparada que Jesus levou na face, não foi dada por um soldado
romano ou de um filósofo grego da época, mas foi de um sacerdote, que fazia
parte do Sinédrio[4] e, com a
Torah na mão, vindo a cometer tamanho
ultraje (p.34).
Você acha que hoje é
diferente? Você não acha estranho que a igreja de Cristo não consiga viver a
unidade, o amor e a comunhão que tanto pregamos? Por que temos tantos pastores
em conflitos entre si? Por que tantas facções em nosso meio? Por que tantas
pessoas cansadas e frustradas? O que está errado? Em minha opinião, é o
“Fermento dos Fariseus’, contra a qual Jesus como Paulo nos alertaram. Ele está em nosso meio. Que Deus tenha
misericórdia de todos nós e abra os nossos olhos.
Cap. 1: Eu
Fui Contaminado.
Apesar de ter nascido num lar evangélico, foi no final de 1991 que, de
fato, tive um encontro com Cristo. Estava
tendo perturbações espirituais (experiências de sair do corpo, por exemplo), e
minha mãe pediu-me que fosse ao pastor de nossa igreja para que ele orasse por
mim. Relutei em ir, mas acabei cedendo e fui ter com o nosso pastor.
Na
sala pastoral havia um grupo de oração, muito fervoroso por sinal. Eles
começaram a orar por mim e foi algo tão extraordinário, que acabei, ali mesmo,
declarando que minha vida a partir daquele dia era de Jesus. Ao me levantar do
chão, já podia sentir uma paz muito grande que invadia o meu coração. A partir daquele dia minha vida mudou, minha
vida mudou, e já fazem quase dezessete anos(p.37-38).
Descobri
há pouco tempo, que a culpa é um tipo de dor mental. Quando somos incomodados
por um sentimento que nos acusa, a nossa consciência “dói”; não é verdade? Hoje
sei que a minha dor de cabeça nada mais era do que a consequência de uma
consciência que não cessava de doer. Estava lendo um livro com o titulo “Cura das Memórias”, de David Seamands; da Editora Mundo Cristão; em que o autor descrevia
no livro algumas características de um pregador legalista. Interessante que
todas elas se encaixavam perfeitamente com a minha vida.
O meu
modo de pregar o evangelho causava medo e uma sensação ruim no coração das
pessoas. Em minhas mensagens havia “morte” (fermento dos fariseus). Acredito
que colocaram sobre mim um peso muito grande com responsabilidades,
ministérios, aconselhamentos, entre outras, embora eu tivesse buscado isso. Era
como se eu fosse uma casinha de um pavimento apenas, com uma base bem
superficial (podia suportar apenas uma laje) e, de repente, visse-me com dez
andares sobre minha cabeça.
Ficou
pesado demais. Percebo que queimei etapas na minha vida e busquei coisas com
muita velocidade na minha vida espiritual. Li um autor recentemente, em que ele
explicava a passagem de Isaías 61, sobre o “Carvalho de Justiça”. Segundo sua
pesquisa, esta arvore leva em média cem anos para chegar ao seu pleno crescimento. Diferentemente de uma aboboreira,
que leva em média seis meses para o pleno amadurecimento (p.40-41).
O
exemplo usado por Deus nesta passagem nos mostra que “temos pressa”, mas Deus
não. Então percebi o quanto estava crescendo mas sem base, sem raízes, sem
tronco e sem estrutura para suportar as responsabilidades nas quais estava me
envolvendo. O livro “O Despertar da
Graça” de Charles Swindoll, da
Editora Bom Pastor, me deixou muito impactado, pois o autor dizia que os
Pastores são os que menos conhecem a respeito da graça de Deus. Mas como pode
ser isto? Não são eles que pregam a mensagem do evangelho da graça de Deus?
Em
visitas as inúmeras igrejas que ministrei (e congreguei) vi que isso era
verdade, pois existe uma carência da mensagem da graça divina. Brennan Manning, em seu livro “O
Evangelho Maltrapilho”, afirma o mesmo que Swindoll, ao dizer que “A igreja
evangélica dos nossos dias aceita a graça na teoria, mas a nega na
prática”(p.42).
Hoje
sei que esse espirito de religiosidade rouba nosso amor a Deus e pelos irmãos.
Já escutei mensagens tão pesadas que minha vontade após o culto era desistir
completamente da vida cristã, pois um Deus santo não podia me amar e me usar,
sendo quem eu sou. Percebi que meu evangelho tinha problemas e que a cada dia
me distanciava da vida abundante prometida por Jesus. Me tornei um Legalista,
orgulhoso, distante das pessoas, rígido com os outros, cruel em minhas
mensagens. Enfim, resumindo em uma única palavra: um Religioso.
Malcom Smith em seu livro “Esgotamento
Espiritual” escreve que também passou por esse esgotamento espiritual e
emocional. Ele diz que esta epidemia não
afeta somente pastores, mas ministros do evangelho e demais irmãos. Vê-se
diariamente muitos crentes abandonando a igreja, e não se pode dizer que são
aqueles que só vão em cultos na pascoa ou no natal (religiosos ímpios), mas sim
crentes exemplares e obreiros esforçados. A resposta para explicar tantos
esgotamentos no meio cristão, segundo concluiu Smith: o Legalismo.
A
confusão em se misturar a “graça e a lei” é algo que persegue a igreja há
longos séculos. Martim Lutero ao perceber que a igreja estava se distanciando
da graça divina, promoveu a Reforma Protestante, no século XVI. É bem provável
que precisemos promover uma segunda reforma, pois o legalismo continua sendo
uma das principais marcas do espirito de religiosidade. Oportuno inserir a seguinte pergunta: Como
poderíamos definir o legalismo ou o legalista? Pode-se dizer que o legalista
exalta suas leis e seu código de conduta. Para ele, as pessoas vêm em segundo
plano. Ele confia em si mesmo, na sua justiça. O legalismo é visto como a lei
do certo em detrimento da lei do amor
(p.44).
Cap. 2:
Compreendendo o Espirito de Religiosidade.
Aqui
o autor baseia-se no texto do evangelista Marcos, em seu capitulo 8, verso de
numero 15: “Vede, guardai-vos do fermento dos fariseus”, para apresentar esta
compreensão. Não tenho duvidas de que o Novo Testamento é o claro relato da
batalha de Jesus contra o espirito religioso que se infiltrou na mentalidade do
povo de Deus daquela época. Em cada capitulo onde aparece o nome de Jesus, seja
curando, salvando, perdoando, libertando etc., logo na sequencia e na mesma
frequência, surge os termos fariseus, saduceus, escribas, anciãos, entre
outros, ou seja, todos religiosos se opondo a Ele.
Quando
Jesus quis nos ensinar algo sobre a religiosidade, Ele usou a figura do
“Fermento dos Fariseus”, alertando-nos sobre o perigo de sermos contaminados
por esse fermento, isto é, pela sua doutrina (ou tradição). Por que Jesus
comparou a religiosidade ao fermento? Há pelo menos seus características
iniciais que nos ajudarão a compreender a natureza do espirito de
religiosidade:
. Pouquíssima quantidade já pode contaminar: Sabe-se que é
insignificante a quantidade de fermento em relação a grande quantidade da massa
em que é misturado. Mas mesmo assim, ele é capaz de modifica-la por inteiro, ou
seja, contamina com pouquíssima quantidade. Assim é o espirito de
religiosidade, não precisa utilizar grandes heresias para produzir ou provocar
a contaminação. Lembrando que a massa é a maior parte (ela representa o
evangelho com sua mensagem de modo geral), mas o fermento, que é em menor
quantidade, representa pequenos ensinamentos que vão se infiltrando no meio da
igreja e, sem percebermos, vai contaminando e adoecendo progressivamente.
Faça uma avaliação se, em sua igreja ou em você mesmo, há alguma ideia,
pensamento, tradição, costume, teologia, visão, ou seja, o que for que tem
sugado você e de sua comunidade a vida de Deus. Esses novos ensinamentos tem
deixado sinais de que o fermento tem estado presente no meio de vocês: “Um
pouco de fermento leveda toda a massa” (Gálatas
5:9).
. É de Difícil Discernimento: Depois que se coloca o fermento na
massa e o mistura, não pode mas ser notado. Só enxergamos o resultado produzido
por sua inserção na massa. Assim também ocorre com a religiosidade, é de
difícil discernimento. Ela vai se misturando a nossa fé e vida com Deus e, de
repente, já não sabemos quem e quem é, ou seja, até que ponto somos filhos de
Deus livres e saudáveis ou se já estamos contaminados (p.50).
A
religiosidade é sutil e traz consigo coisas aparentemente boas: o culto, o
dizimo, os jejuns, frequentar igreja, orações etc. Você deve lembrar como os
fariseus jejuavam pelo menos duas vezes por semana (Lucas 18:9-12). Mesmo assim, Jesus disse que mesmo praticando esses
atos e muito mais, podemos, igualmente a eles, estarmos inseridos na categoria
dos “filhos do diabo” (Mateus 23:15).
Sem
um profundo discernimento, ás vezes, é quase impossível distinguir um cristão
verdadeiro de um meramente religioso. Ambos são muito parecidos, entretanto,
enquanto um é interior, o outro é apenas exterior, só aparência. Como você
sabe, a marca principal da doutrina dos Fariseus era a hipocrisia. Jesus disse:
“Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lucas 12:1).
Agora
veja o dilema: quando alguém está sob a influência de algum espírito maligno,
conseguimos enxergar sinais. Se alguém estiver sob a ação de espíritos de
feitiçaria ou idolatria, é claro que manifestará os sinais tradicionais da ação
dessas entidades malignas. Mas quem está debaixo do espírito da religiosidade,
que tipo de sinais manifestará?
Essa
pessoa continua indo a igreja assiduamente, orando, sendo um dizimista
meticuloso, pregando a Bíblia, jejuando etc. A religiosidade “aparenta” ser de
Deus, mas não é. Tem aparência de “culto”, mas não é. Parece com “santidade”,
mas não é. A dificuldade de discernir a ação da religiosidade em nossa vida ou
de qualquer pessoa é altíssima (p.51).
. Tem Alto Poder de Influência: Quando Jesus se referiu ao fermento
dos fariseus, quis dizer que se não cuidarmos, podemos ser igualmente
contaminados por sua forte influência. Igrejas fundadas por Paulo, em especial,
a de Coríntios e a da Galácia, foram influenciadas por esse espírito maligno (Gálatas 1:8; 5:7-9). O fermento sujo de
religiosidade imiscui-se na mente dos irmãos que receberam a genuína verdade de
Deus.
Aos
Coríntios Paulo também escreveu: “Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para
que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa
páscoa, foi sacrificado por nós” (1
Coríntios 5:7). Para que sejamos nova massa, é preciso retirar do nosso
meio o “velho fermento” da religiosidade.
. Produz Mudanças Significativas: O fermento além de influenciar,
também altera a composição química de outro elemento. Quando você se converteu,
recebeu o bom fermento de Cristo e passou a crescer, prosperar e florescer para
a glória de Deus. No entanto, se o fermento da religiosidade entrou em seu
coração, ele gerará mudanças em sua vida, que aos poucos vai minando sua
relação com Deus, com seus irmãos e consigo mesmo. Essas mudanças são sutis,
mas bastante profundas. Lembre-se de que as duas principais marcas de satanás
são a mentira e a sedução (atração).
. Produz Crescimento Nocivo: Muitas vezes uma congregação pode
crescer, aparentemente prosperar, assim como um líder pode galgar altos passos
na hierarquia eclesiástica; entretanto, nada disso é garantia de que tal
crescimento venho do trono de Deus. Umas das principais marcas das bênçãos de
Deus é o crescimento da igreja, mas não podemos esquecer de um importante
principio de Deus: “é que tudo começa pequeno”. “É semelhante ao grão de
mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta, e cresceu e fez-se
grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu” (Lucas 13:19).
Portanto,
muito cuidado com coisas que já começam grandes, pois geralmente é o contrário
à natureza do reino de Deus. Lúcifer, ou seja, o diabo começou sua “igreja” com
milhares de membros. Entretanto, esse aparente crescimento ou êxito, em nada
tinha de Deus. Tudo não passou de mera sedução, onde todos os seres angelicais
foram conduzidos para fora do monte santo de Deus:
Estavas no Éden, jardim de Deus, toda pedra preciosa
era a tua cobertura (...);no dia em que fostes criado, foram preparados.
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se
achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu comercio, se encheu o teu
interior de violência, e pecaste, pelo que te lançarei, profanado, fora do
monte de Deus e te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas
(Ezequiel 28:14-16).
Este
texto se refere ao rei da cidade de Tiro, porém, parece conter uma alusão
velada a satanás (Lúcifer), como o verdadeiro governador de Tiro e como o deus
desse mundo. Encontrando respaldo na Carta de 2 Coríntios 4:4: “nos quais o
deus desse século cegou os entendimentos
dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da
glória de Cristo, que é a imagem de Deus (acréscimo
nosso).
Portanto, muitas igrejas estão crescendo (inchando) e,
com isso, aumentando-se as contendas, a soberba, o orgulho, a vaidade, as
divisões (dissensões) e o isolamento. Tudo isso tendo como resultado o fermento
estragado da religiosidade (p.55).
Preocupa-me
(fala do autor do livro), ver uma
igreja que adota uma visão de trabalho, tendo-a como se fosse a única. Ou seja,
todas as demais que pensam diferente, possuem estratégias diferentes de
evangelização estão erradas, ou, no mínimo, não são tão espirituais (Bíblicas) quanto a deles.
É
triste constatarmos isso, mas no meio evangélico idolatram a “denominação”, a
doutrina, a tradição e até o “pastor”. Portanto, que tenhamos cuidado com isso.
Pastor deve receber dupla honra, mas não devem ser idolatrados. Se numa igreja
o crescimento gera divisões, soberba, idolatria, feitiçaria (controle sobre as
pessoas), isolamento denominacional e coisas similares, esse crescimento não
vem de Deus.
. Produz Morte Espiritual, Emocional e Física: Da mesma forma que
podemos comer algo bom ao paladar e agradável aos nossos olhos e vir a nos
fazer mal, assim também funciona o espirito da religiosidade. No livro de 2
Reis 4:38-41, registra-se a narrativa em que foi preparada uma comida com ervas
nativas (colocíntidas[5]),
de boa aparência e aroma. No entanto, eram nocivas a saúde humana e com risco
de morte. Ainda bem que aqueles homens tinham paladar apurado e, rapidamente
perceberam que era mortífero (p.57).
No
entanto, muitos de nós, por não termos o discernimento, corremos o risco de
comer anos a fio um alimento carregado do fermento dos fariseus, ou seja, nossa
teologia pode estar contaminada. Nós podemos estar comendo do “pão espiritual”
(a Palavra de Deus), mas sem saber que, quando o mesmo foi preparado, o
fermento usado para fazê-lo crescer, não foi o de Cristo, mas o dos fariseus.
E, aí, é morte certa na panela!
Cap. 3: A
Identidade do Filho de Deus sem a contaminação religiosa:
Na narrativa apresentada no Evangelho de Lucas (15:11-24); Jesus havia
sido cercado por publicanos e pecadores de modo geral (v.1), mas a sua presença
contagiava quem quer que fosse. Ele era uma figura do povo. O fato é que isso
incomodava os fariseus (saduceus etc.), pois uma das marcas da religiosidade é
que “pessoas” sempre estão em segundo plano.
João 7:46-49. Responderam os servidores: Nunca homem algum falou
assim como este homem. Responderam-lhes os fariseus: Também vós fostes
enganados? Creu nele, porventura, algum dos principais ou dos fariseus? Mas
essa multidão, que não sabe a lei, é maldita.
No
capitulo 15 do Evangelho de Lucas, Jesus propôs três parábolas para explicar
aos judeus religiosos daquela época, porque Ele comia e conversava com
pecadores. Nos três relatos, Ele elucida o desejo de Deus em restaurar o ser
humano caído e perdido. Portanto, nosso propósito aqui, é de fazer uma análise
rápida da mentalidade do filho de Deus, isto é, o filho mais novo – o pródigo,
que se sente filho.
1º - O filho sente e sabe que tem um Pai: Não vemos na narrativa uma relação
de servo e senhor, mas de pai e filho. Em todas as vezes que ele se dirige ao
seu pai, ele o chama de “Pai”. Mesmo estando longe de casa e de seu pai, depois
de tomar uma decisão precipitada e equivocada, lembra-se de seu pai. Quando decide retornar para sua casa, ao
avistá-lo, ele exclama: “(...): Pai, pequei contra o céu e perante a ti”
(v.21). Nota-se que ele sabia
se posicionar em sua condição de filho e, por isso, gozava duma relação
maravilhosa com seu pai.
2º - O filho sabe que é herdeiro do Pai: Quando dirigiu-se ao seu pai,
ele sabia o que passava em seu coração, inclusive, que era o herdeiro de tudo
que o pai possuía. Percebe-se, na narrativa, que o filho tinha liberdade em
falar com seu pai, porque foi educado e ensinado sobre a sua identidade. E
você, como filho, se sente herdeiro de todas as promessas em Cristo? O apóstolo
Paulo na Epístola aos Gálatas, escreveu a esse respeito: “Assim que já não és
mais servo, mas filho, e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gálatas 4:7).
3º - O filho sabe que é livre: A narrativa nos mostra que o filho mais
novo teve a liberdade de ir até seu pai e, depois de fazer-lhe o pedido,
ajuntou todas as coisas que tinha por direito, partiu para uma terra longínqua.
A liberdade é uma das promessas feitas e propagadas por Jesus Cristo. O
apóstolo Paulo afirma que: “Onde está o Espírito, aí há liberdade” (2 Coríntios 3:17). O problema
demonstrado pelo filho mais novo foi que, num certo dia, fez uso de sua
liberdade, mas tomando uma decisão (escolha) equivocada (p.63).
Deve
ser destacado na narrativa, é que o pai respeitou a decisão de seu filho. Assim
também é Jesus Cristo, Ele não interfere ou se intromete em nossas decisões,
pois para isso, nos concedeu o livre-arbítrio. O Cristianismo deve promover em
seus seguidores a liberdade, e não a escravidão. No entanto, Ele nos adverte
quanto assumirmos as consequências de nossas escolhas e decisões (acréscimo nosso).
Deus poderia intervir lá no Éden, evitando assim,
consequências seculares por causa do pecado de nossos primeiros pais, mas não o
fez. Sabe por quê? Ele respeita a liberdade que nos deu. Somos filhos, e o
filho é livre. Portanto, aqueles que querem estar com/em Cristo, devem fazê-lo
com liberdade (de sua própria vontade) e não por imposição de alguém (pai,
pastor etc.). Por isso o pai deixou seu filho ir e arcar com as consequências
de sua decisão.
Muitas
igrejas e cristãos estão buscando uma obediência pela via do “medo”, ou seja,
vivem em obediência, mas não motivados pelo amor a Deus e a Sua Palavra, mas
pelo medo de ir para o inferno. Aprendo, nesta parábola (o autor), que o fator
medo não estava presente na vida e no relacionamento desse filho com seu pai.
Sua obediência era um ato de liberdade.
4º - O filho é passível de Erro: Embora sejamos filhos de Deus, somos
sujeitos a erros, falhas e de cometer pecados: “(...), e lá dissipou todos os
seus bens, vivendo dissolutamente” (v.13). Mesmo tendo consciência de que somos
filhos de um Pai Santo, de que temos direito à sua herança e que O servimos
motivados pelo amor, isto não nos livra de cometermos erros em nossas decisões.
João declarou expressamente: “Se dissermos que não temos pecado nenhum
(erramos), a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1 João 1:8).
Por
mais que sejamos santos, nós ainda pecamos. E digo mais: quanto mais santos nos
tornamos, mais cônscios seremos de nossos erros, pecados e falhas e, por isso,
devemos ser mais gratos a Deus por sua infinita graça e misericórdia. O
contrário disso também é verdade, isto é, quanto mais nos afastamos de Deus, e
embora mergulhados na religiosidade, mais confiantes estaremos em nós mesmos,
em nossa própria justiça, em nossas obras, mas pouco gratos a Deus (p.65).
Muitos
cristãos se culpam ou se martirizam por ainda cometerem certos pecados. Parece
que em nosso inconsciente (...) evangélico, por sermos filhos de Deus e a nós é
garantido a impecabilidade. É comum em nossos dias, quando incorremos num erro
(pecado), ouvirmos de alguma pessoa da sociedade: “Mas ele não é crente? Como
pôde fazer isso?” Parece que quando uma pessoa aceita a
Cristo, ela perde o direito de errar!
Dessa forma, tendemos a nos ternarmos fariseus, ocultando nossas falhas,
erros, fraquezas e pecados. Esta
parábola nos ensina o contrário. Sim, os filhos continuam errando! (p.66).
Gary J. Oliver
compartilhou em seu livro “Como acertar depois que você errou?, algumas lições
interessante a este respeito. Ele disse que precisamos tirar proveito de nossos
erros, pois, segundo ele, “a força e o caráter não são valores que se encontram
por aí. Eles “são forjados na fornalha do fracasso e dos erros”. Vejamos
algumas das lições apresentadas e seu livro:
a) Deus sabe
que erramos: ocultar nossos erros e fraquezas das pessoas não é muito
difícil, mas de Deus isso é impossível, pois ele esquadrinha e sonda os nossos
corações e pensamentos (Salmos 139:1-4).
b) Quando
erramos nos lembramos de que não somos deuses: o sucesso constante e
continuo pode nos tornar mais arrogantes. O erro pode nos afastar do orgulho e
soberba. Não podemos esquecer de que somos pessoas comuns, falíveis, sensíveis
e com inúmeras limitações.
Tiago 5:17. Elias era homem sujeito as mesmas paixões
(fraquezas) que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis
meses, não choveu sobre a terra.
Se reconhecermos nossas
fraquezas e pecaminosidades diante de nossos liderados e filhos, estaremos
dando um precioso ensinamento que levarão para o resto da vida. Não se esqueça
de que somos pó, mas Deus nos usa apesar de nós (p.69).
c) O erro deve
nos levar a Deus: o nosso erro pode ser o meio pelo qual Deus nos dá um
tapinha em nosso ombro para chamar nossa atenção. Ele é poderoso para nos
guardar de todo o tropeço: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de
tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória” (Judas 24). Entretanto, parece que Ele
usa esta estratégia como uma ferramenta pedagógica em nossas vidas. A quem diga
que “aprendemos com nossos erros ou com os erros de outrem” (acréscimo nosso).
d) Os erros
devem nos levar a ver tudo na perspectiva de Deus: sempre que Deus usou
pessoas, apesar de serem santas e justas, elas eram pecadoras. Lembra-se do rei Davi? Sua fraqueza era sexual
(adultério e homicídio). E de Noé?
Seu problema era com a bebida alcoólica. Jacó
tinha sérios problemas com a mentira, pois era um enganador (suplantador). O
próprio Abraão, o nosso pai da fé,
quando se viu apertado, acabou mentindo. Deus não tem problema algum em usar
homens falíveis, pois ele enxerga e sabe muito além dos nossos erros, isto é,
Ele sabe o que seremos no futuro (p.70).
e) O erro me
faz experimentar sua provisão e perdão: não podemos esquecer de que a graça
de Deus é muito maior que todos os nossos pecados. Parece que a nossa visão do
que se operou na cruz é um tanto quanto limitada. Quando falhamos, realmente
nos sentimos totalmente abalados (os que são filhos de Deus). E, por vezes,
tentamos em seguida, praticar algum alto de justiça para tentar compensá-lo.
Esses erros podem nos levar para mais próximos da Cruz (de Cristo) e
experimentarmos sua provisão e seu perdão.
5º - O filho tem um coração quebrantado: há, no mínimo, quatro tipos de
pecadores. Penso que todo ser humano se encaixa em algum dele. O primeiro pode
ser chamado de “Pecador Ímpio”. Ele
vive o tempo todo quebrando leis e princípios de Deus para sua vida.
Normalmente não vai a nenhuma igreja, e é totalmente envolvido com o pecado,
não demonstrando desejo algum para ser liberto.
O segundo é o “Pecador Hipócrita”. Ele é dissimulado
na igreja e quando está em meio aos irmãos ou com o pastor. No entanto, em casa
e em outros lugares, todos sabem que vive o oposto daquilo que professa ou
prega. O terceiro é o “Pecador Mau
Caráter”. Esse tipo tem causado estragos nas igrejas atuais. Ele consegue
ter uma duplicidade de comportamentos ao ponto de ocultá-lo até dentro de sua
casa (família). Ele tem sérios problemas em seu caráter. Talvez se encaixe bem
a pessoa de Judas Iscariotes. Ele tinha uma grande deficiência em sua vida
financeira, mas é bem provável que seus companheiros não desconfiavam dele.
O quarto e último é o “Pecador Sincero”. A pessoa foi salva,
converteu-se de verdade, mas que tem consciência de que ainda erra e que é
falível. Entretanto, quando peca (erra), o Espírito Santo fala ao seu coração e
se arrepende prontamente e procura crescer na graça e conhecimento do Senhor (2 Pedro 3:18). Sua grande marca é o seu
“Espirito” de quebrantamento. Por saberem que ainda pecam e erram, embora lutem
para que isso não aconteça, é que essas pessoas (que se enquadram neste tipo),
vivem indo aos cultos na igreja, lendo a Palavra de Deus, orando, jejuando e
pedindo a Deus que as auxilie, ou seja, por saberem que são pecadoras, mas
arrependidas (acréscimo
nosso).
Assim é o caso do filho
pródigo (o mais novo) e, também do rei Davi. O primeiro, quando percebeu a
besteira que tinha feito, arrependeu-se e se humilhou ao voltar para casa de
seu pai e dizer-lhe que não era digno de ser chamado de seu filho (Lucas
15:21). Quanto ao segundo, assim que o profeta Natã o exortou e revelou os
seus pecados, imediatamente se rendeu ao Senhor e reviu a sua vida de pecado (2 Samuel 12:13).
O pecado não deve dominar a
vida do verdadeiro filho de Deus, pois fomos libertados do “espirito das
trevas” e transportados para o “reino do filho do seu amor” (Colossenses 1:13).
O verdadeiro filho de Deus, quando peca ou erra, entra em processo de profundo
arrependimento, como foi o caso do filho pródigo, fato que o motivou a retornar
para casa de seu pai. É importante saber disso, pois, muitas vezes, podemos
desanimar por não aceitar e ver que ainda erramos, muito embora nos esforcemos
ao máximo para não errar.
Precisamos entender que Deus
“conhece a nossa estrutura por completo e sabe que somos pó” (Salmo 103:14). O
apóstolo Paulo viveu um grande dilema em sua vida que o deixava bastante
triste. No texto de Romanos 7, vemos que o homem que disse para que seus
liderados o imitassem como ele imitava a Cristo, dá uma declaração de sua total
fraqueza: “Miserável homem que sou, quem me livrará desta terrível morte?”
Pecamos em pensamentos, palavras e atos, mas não apenas nisso, erramos também
quando não fazemos o que deveríamos ter feito (1 Coríntios 11:1).
6º - O filho pode se tornar um mero religioso: vimos que um dos sintomas
da mentalidade religiosa é a mentalidade escrava. O filho mais moço, a
princípio, não tinha as marcas da religiosidade, mas poderia se tornar como
tal, igualmente ao seu irmão mais velho: “(...), já não sou digno de ser
chamado seu filho; trata-me como um de seus jornaleiros” (Lucas 15:17-19). Se
satanás conseguir fazer com que você
esqueça da verdade de que é “Filho de Deus” ,
ou seja, perder sua identidade de filho, você pode deixar de usufruir de todos
os benefícios pelos quais Cristo morreu: “Esaú perdeu esta condição ao vender
sua primogenitura por um guisado e lentilhas”
(acréscimo nosso).
E
comum nos colocarmos como “servos”, “vasos”, “instrumentos”, “profetas” e até
como “pastores”, mas acabarmos esquecendo-se da verdade principal: Somos Filhos
de Deus! Essa é a nossa real identidade
e o maior título que um homem pode receber. O filho pródigo até sugeriu ao pai
torna-lo como um de seus trabalhadores: “Trata-me como um dos teus
trabalhadores” (v.19). Entretanto, se você é Filho de Deus e se porta como Seu
filho, Ele nunca irá trata-lo como um servo, escravo ou trabalhador. No
entanto, se o espirito de religiosidade invadir a sua mente (e coração), isso
poderá fazer com que você se sinta como trabalhador ou escravo (p.78-80).
Pelo
fato de ter pecado (errado), Deus não te rebaixará a posição de segunda
categoria, ou irá trata-lo com indiferença. Jesus usou estas três parábolas (da
ovelha e dracma perdida e do filho pródigo), para mostrar quem pensa ou propaga
essa ideia, está totalmente errado. Nesta última, estando na casa de seu pai ou
distante dela, em momento algum, o filho mais novo deixou de ser filho. Mesmo
estando em pecado (desviado), seu pai nunca deixou de amá-lo com a mesma
intensidade. Assim também é Deus, que deseja ver em nós, esse coração
quebrantado (e contrito), para que possa ser restaurado.
7º - O filho sabe que tem um pai gracioso: A Palavra de Deus, nos Salmo
51:17, descreve que: “Deus não despreza um
coração contrito e quebrantado”. Após se aproximar do pai e reconhecer o
seu erro, inclusive confessando publicamente seu pecado, o pai o recebe de
maneira fantástica. Neste sentido, manda que seus empregados preparem o novilho
cevado e que coloquem a melhor roupa em seu filho. Imagine se o filho pródigo
tivesse um pai rígido, legalista e implacável, cujas lembranças mais vívidas em
sua mente, fossem as surras, os mal tratos e as humilhações. Você acha que ele
teria algum estímulo para voltar para casa?
Pelo
contrário, as lembranças que ele teve quando estava distante, foi de um pai (patrão)
bondoso, que tratava seus empregados com muita hospitalidade: “Quantos
trabalhadores de meu pai tem pão (...)”. É importante lembrar que a graça de
Deus, é claro, não é condescendente com o pecado e o erro, pois Deus é santo, e
Ele exige de nós arrependimento. O que me chama a atenção nesta passagem (o
autor), é que não foi a lembrança de um pai rígido e autoritário que o motivou
a voltar para casa, mas sim, de um pai amoroso, bondoso e justo. Se as igrejas
evangélicas partirem para o extremo do legalismo no trato com seus membros,
correm o risco de não ter milhares e milhares de filhos pródigos não retornando
para suas casas (p.82).
Cap. 4: As
Evidências da Contaminação Religiosa da Vida dos Filhos de Deus.
A
narrativa do livro de Lucas 15, até o versículo 24, mostra ou encerra, sua
primeira parte, isto é, mostra o processo de restauração do filho prodigo, ou
seja, o filho mais moço. A partir do próximo versículo, nos deteremos na pessoa
do segundo filho, o mais velho, para falar sobre a “mentalidade religiosa”,
isto é, um filho de Deus autêntico, mas que foi contaminado pelo fermento dos
fariseus. A própria declaração do pai
nestes versículos, afirmam que o filho mais velho era verdadeiramente seu filho,
e não um mero religioso hipócrita: “Meu filho; tu sempre estás comigo!”. Sendo
assim, irei mostrar ao leitor onze evidências de contaminação na mente dos
filhos de Deus:
a) Lideres Antigos são mais Propensos a Contaminação: percebe-se na
parábola que o filho mais novo não corria o risco desta contaminação (naquele
momento). A religiosidade costuma afetar logo os crentes mais antigos, e não os novos convertidos. Em nossas
igrejas, geralmente quem está num cargo de destaque (Pastor e Dirigentes de
Congregações) são obreiros mais antigos.
Satanás sabe se ele contaminar os “cabeças”, seus liderados também serão
facilmente contaminados (p.86).
b) Rigidez de Pensamento: o filho mais velho ao se aproximar de sua
casa, percebeu movimentações estranhas e barulho de musicas. Ele não foi até o
pai para saber o que estava acontecendo, mas procurou um dos empregados para
tirar informações. Sabendo o motivo daquele alvoroço, ficou indignado e
preferiu não participar da festa. A
rigidez de seu pensamento e opiniões foram mais fortes. Assim também eram os fariseus da época de
Jesus, rigorosos quanto as leis e tradições judaicas.
Aquele
que foi contaminado pelo espírito de religiosidade, tende a querer aniquilar
(afastar) quem pense diferente dele. Essas pessoas se fecham para qualquer
outro pensamento (entendimento). Assim agiam os Fariseus. Em nossos dias
não é muito diferente. Em algum membro
pensa diferente da liderança da igreja, sua convivência praticamente se torna
impossível (p.88).
David Seamonds: “Sempre que você ver zelo em
excesso, procure por problemas emocionais”. As posturas muito radicais sempre
escondem traumas e problemas emocionais. Se alguém defende uma ideia com
tamanho empenho e tece criticas a quem dele se diverge, oculta a dureza dessa
pessoa, ou seja, seu orgulho e, possivelmente os traumas emocionais. “Quando
nossa doutrina ou metodologia, nos leva a odiar ou desprezar pessoas, isso é
sintoma de religiosidade” (p.88-89).
O
fato de divergir do pensamento da liderança não é motivo para retaliações ou
afastamento da igreja. Paulo emitiu sua opinião sobre o casamento totalmente
contrária ao pensamentos de muitas pessoas (1 Coríntios 7:25). Noutra ocasião,
discordou de Barnabé, nem por isso se tornaram inimigos (Atos 15:36-41).
c) Orfandade – ausência de Intimidade com o Pai: em nenhum versículo
desta parábola, o filho mais velho se dirige ao seu pai e lhe chama de pai.
Você vai notar que ele, num primeiro momento, não vai questionar a atitude do
pai, mas vai até um empregado saber o que estava se passando. Muitas vezes
agimos como ele e nos sentimos igualmente órfãos. A religiosidade rouba nossa
intimidade com Deus como Pai e produz em nós, o sentimento de orfandade
paternal. Deus é Senhor, soberano, santíssimo, entre outros atributos, mas Ele
se alegra quando o chamamos de Pai (Mateus 6:9; 7:11; João 4:23).
A
palavra adoração no idioma grego significa “beijar a face”. Jesus Cristo, em
varias passagens Bíblicas, se refere a Deus sempre o chamando de Pai; ou ainda,
Aba Pai. Expressão de origem aramaica, com o significado de “Paizinho” ou
“Papai”. Quando assim o faz, denota ter uma intimidade com seu Pai (p.94-97).
d) Inveja Aguda: o irmão mais velho ao saber do retorno de seu irmão e
de toda a festança que estava sendo realizada para ele, ficou indignado (v.28).
A expressão no idioma grego significa “ser incitado a ira” ou “ser
provocado”. O que acontece com você
quando coisas boas ocorrem na vida de outras pessoas e te fazem mal? Só podemos
denominar esse sentimento de inveja aguda. Em nosso dicionário de língua
Portuguesa a inveja significa: “desejo violento de possuir bens alheio”.
“Desgosto ou pesar pelo bem ou sucesso dos outros”. E, ainda, “desejar
violentamente que aquela pessoa não tivesse o que ela está tendo”. A expressão
“ciúmes” no idioma hebraico, tem o mesmo significado de inveja. Em Gênesis
37:11, vemos esse sentimento brotar nos irmãos de José. E, depois, o desfecho
ou as consequências advindas por esse comportamento.
e) Ausência de Alegria: a ovelha desgarrada foi encontrada, a dracma
perdida foi achada e o filho prodigo voltou para casa de seu pai. Nas três parábolas houve grande jubilo pelo
desfecho final das narrativas. A alegria é uma das marcas do verdadeiro
Evangelho (Cristianismo) e da vida em comunhão com Deus. Portanto, o amor e a
alegria, deve ser as maiores evidências na vida dos filhos de Deus.
Outro
sintoma marcante da religiosidade no meio evangélico, é a ausência de alegria
entre os irmãos. O filho mais velho não expressou qualquer sinal de
contentamento com o regresso de seu irmão, pelo contrario, ficou indignado. Sua
rigidez era tamanha que não se permitia sorrir ou demonstrar alegria
(p.12-105).
f) Dureza de Coração: o texto registra que, mesmo depois de conversar
com seu pai, e este tentar convencê-lo a entrar, manteve seu coração
endurecido. Ele estava indignado e resistia ao convite e argumentação do pai.
Esta é mais uma das evidências do espírito de religiosidade no meio cristão.
Tenho aprendido durante esses anos, que qualquer processo de cura ou
restauração do que quer que seja, deve passar pelo quebrantamento. Isaías 61:1
diz que: “O Espírito do Senhor (...)”. Nesta passagem, o Mestre diz que curaria
ou libertaria somente os quebrantados de coração. Ele só vai curar quem reconhece seu estado de
“miserabilidade” (1 Pe 5:5).
Tenho
aprendido que tanto a dureza de coração como a cegueira espiritual age
simultaneamente. Geralmente a pessoa de coração duro, também é cega. No livro “O Avivamento do Odre Velho”, do
Pastor e Escritor Marcos Borges (Coty), ele afirma que na igreja
temos três tipos de Cristãos:
1º Tipo: Os que
fazem a obra de Deus com Deus: eles procuram andar seguindo o proposito
divino para sua vida e, por isso, são abençoados.
2º Tipo: Os que
fazem a obra de Deus sem Deus: são os lideres que estão fazendo o que
Deus não os chamou a fazer e deixando de fazer o que Ele os chamou a fazer. Um
exemplo clássico é o caso do Profeta Jonas.
3º Tipo: Os que
fazem a obra de Deus contra Deus: este é o grupo mais trágico nas
igrejas. Podemos ter sido contaminados pela religiosidade ao ponto de não
enxergarmos ou sabermos mais qual é a vontade de Deus. Foi o que Estevam disse de alguns religiosos
de sua época (Atos 7:51).
Interessante
a observar, é que Jesus enfrentou seus maiores adversários em sua terra Natal,
em Nazaré. Eles estavam com seus
corações petrificados, igualmente ao filho mais velho da parábola do filho
pródigo. A chave para essa cura é o quebrantamento (p.110).
g) Mentalidade de Escravo: o diálogo entre o filho “religioso” e seu
pai, iniciou-se sem chamar o seu pai de pai. Talvez, o grande motivo, seria
pela sua fala: “Há tantos anos que te sirvo” (v.29-30). Servir no idioma grego
significa literalmente ser “escravo”. Numa tradução na linguagem atual, seria:
“Faz tantos anos que trabalho como um escravo para o Senhor”. E, na versão da
Nova Bíblia Inglesa, a tradução é: “Tenho sido seu escravo durante todos estes
anos” (p.111).
Muitos
textos do Novo Testamento apresentam as expressões servos e filho, em que, na
verdade, representam que nos somos filhos de Deus, mas chamados para servir. O
próprio Jesus disse aos seus discípulos que não veio ao mundo para ser servido,
e sim “para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28).
Assim, chegamos a uma conclusão de que servir se refere a uma “função” e não a
uma “identidade”. Paulo assim disse: “Porventura, procuro eu, agora, o favor
dos homens ou o de Deus” (Gálatas 1:10). Ele está se referindo ao seu chamado
ou sua função que era o de servir a Cristo.
Quanto
a nós, fomos comprados pelo sangue de Cristo, e vários textos registram sobre a
nossa identidade como sendo seus filhos (João 1:12; Romanos 8:15-16; Gálatas
4:6-7). Em resumo, somos filhos de Deus
e também chamados a servir. Ser filho fala do nosso ser, de nossa identidade e
de quem somos (ou pertencemos). Ser servo, fala do nosso chamado, dos dons e
talentos que Deus (o Pai) nos concedeu para usarmos para sua glória e abençoar
pessoas (p.112).
O
fermento dos fariseus quando é inserido (misturado) no meio da massa (membros
das igrejas), promove a inversão da identidade pela função; e do “ser” pelo
“ter”. O perigo caso isso venha a
acontecer, é o de olharmos para Deus e pensar que Ele somente nos trata como
escravos, mas não como filhos. Em outras palavras, o fato é que incorporamos
mais a identidade de servos do que a de filhos. E isso é o resultado do
espírito da religiosidade que tem grassado em nosso meio.
h) Legalismo Acentuado: o filho mais velho acrescentou em sua fala com
seu pai: “(...), sem jamais transgredir uma ordem tua” (v.29). O que está por
trás deste pensamento ou afirmação? Talvez esta seja a maior marca da
religiosidade: o legalismo. Vejamos a seguir, algumas maneiras dele se
manifestar em nosso meio (p.116-118):
. Extrema Rigidez:
sabemos ser impossível alguém que serve a Deus, não vir a transgredir algum de
seus mandamentos. Embora nos esforcemos ao máximo para não pecar (errar ou
transgredir), iremos errar em algum momento. Mesmo já sendo convertidos, não
podemos esquecer que somos seres humanos, ou seja, somos filhos de Deus, mas
sujeitos a cometer erros como qualquer outra pessoa. João assim o disse: “Se
dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em
nós” (1 João 1:8).
O
legalista concentra-se na tentativa de agradar a Deus através de seus próprios
méritos ou esforços. Segundo Jesus, o legalista é aquele que cumpre os seus
rituais, mas despreza a justiça e o amor
de Deus (Lucas 11:42).
. Orgulho Espiritual:
o filho mais velho, em sua fala com o pai, apresentou mais um dos sinais da
religiosidade: o orgulho. Ele agiu igualzinho ao que narra a parábola do
Fariseu e o Publicano, no livro de Lucas 18:9-14. Perante um Deus santo, toda
justiça praticada pelo homem é injusta. O
profeta Isaias nos diz que o homem que confia em sua própria justiça não passa
de um “trapo de imundícia” (Isaias 64:6). Por mais justo que você possa se
considerar, se passarem a vasculhar minuciosamente toda a sua vida, poderemos
chegar a mesma conclusão a que chegou o apóstolo Paulo (p.122-124):
Romanos
7:24-25. Miserável homem que eu sou!
Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso
Senhor: Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo a lei de Deus, mas, com a
carne, a lei do pecado.
. Hipocrisia–vida de
Aparência: esta palavra do idioma grego, tem como significado: ator,
interprete, artista de teatro, impostor. Isto quer dizer que o legalista vive
uma vida de aparência, isto é, perante a plateia (igreja) ele se apresenta
impecavelmente, mas em seu interior (em outros ambientes sociais) tem outros pensamentos
e comportamentos.
A
religiosidade tende a mudar somente no “exterior”, mas em nada muda o seu
interior. Esta pessoa vive representando muito bem (atuando), mas continua
mentindo, roubando, adulterando, entre outros comportamentos pecaminosos. Os
fariseus da época de Jesus agiam assim, gostavam de orar em praças publicas
para serem vistos; davam esmolas, dizimavam fielmente, frequentavam as
sinagogas com regularidade etc. Jesus disse que se eles queriam ser
glorificados pelos homens, já o tinham conseguido, mas não obtiveram o respaldo
do Mestre.
Mateus 6:1-2. Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos
homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso
Pai, que está no céu. Quando, pois, deres esmolas, não façais tocar trombeta
diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem
glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Até
no ato de jejuar os fariseus eram verdadeiros artistas. Eles jejuavam três vezes
na semana, mas era facilmente notado pelas pessoas quando o faziam, pois seus
rostos ficavam desfigurados e se apresentavam totalmente abatidos (Mateus
6:16-18). Todos os seus atos de religiosidade ou de liturgia, eram feitos de
forma representativa (para aparecer aos outros), e eram completamente vazios
(p.126-127).
Esta
parábola poderia muito bem se chamar “A parábola dos dois filhos pródigos”,
sendo que um estava no mundo e o outro, dentro da igreja (em sua casa). Não se
assuste, você pode ser tornar um filho pródigo mesmo estando na igreja, como
era o caso do filho mais velho. Foi por isso que Jesus se referiu aos fariseus
como sendo “sepulturas que não aparecem” ou “invisíveis” (Lucas 11:44).
Em
nossos dias, tenho percebido duas formas de manifestação da hipocrisia como
sendo sinais de religiosidade em nosso meio. A primeira é quando você tem pessoas na igreja que tem uma vida
dupla, ou seja, na igreja é um, e em casa (e em outros lugares) é outro. Estou
falando de pessoas que vivem uma vida dissimulada, exatamente como sendo um
“impostor”. Se você quiser saber sobre a sinceridade dessa pessoa, pergunte ao
seu cônjuge (se for casado); se não, pergunte aos seus pais ou patrões. Ou,
ainda, aos seus vizinhos.
A segunda forma ocorre de forma mais
sutil em nosso meio. Costumo chama-los de “triunfalista[6]”. Jesus,
mesmo sendo o filho de Deus, quando encarnado, não procurou esconder a sua
humanidade. Esta teologia adentrou em nossos arraiais (igrejas) e nos levou a
uma visão mítica dos personagens da Bíblia e de nós mesmos. Assim fazemos com
nossos Pastores, colocando-os como se não tivessem os mesmos problemas que nós
temos (pessoais, conjugais, profissionais etc.).
O
grande problema é que nós, Pastores (fala do autor), passamos também essa
imagem para a membrezia da igreja. Gostamos que as pessoas nos vejam como
criaturas que não cometem erros. Fingimos ser mais espirituais do que realmente
somos. O grande problema do triunfalismo e que essa teologia nos levou associar
a “fé” com a “hipocrisia”. Com isso, muitos cristãos pensam que são obrigados a
estarem sempre bem (p.128-131).
i) Esvaziamento
da Comunhão com Deus: “(...) jamais
quebrei um dos teus mandamentos”. Como é possível um filho de Deus nunca ter
quebrado (violado) qualquer um de seus mandamentos, e não ter a mínima
“intimidade” com seu pai? Esta passagem nos ensina que isso é
impossível, isto é, um servo de Deus ou membro de igreja, viver um Cristianismo
baseado em Regras e Normas, ser impecável nesse ponto e, ainda assim, não ter
qualquer intimidade com o Pai Celestial.
Alguns
de nós, cristãos, podemos transformar nosso relacionamento com Cristo (ou Deus)
em meros rituais, como por exemplo; ler a Bíblia todos os dias, orar, jejuar,
pregar, evangelizar etc., mas apenas como um ato religioso, mais ser
completamente vazio. E isso pode acontecer conosco? Sim. Basta transformarmos
nossa comunhão com Deus, que deve ser espontânea, voluntária e livre, por um
mero ritual religioso (se acostumar em fazê-los). A contaminação do espírito de
religiosidade pode estar num nível altíssimo, ao ponto de servir para
abastecimento de nosso orgulho e soberba! Do tipo assim: “Hoje eu orei tanto! Já fiz o meu devocional logo cedo! Fui
visitar fulano no hospital!” Que Deus
tenha misericórdia de nós. (p.135)
j) Raiva Oculta de Deus: “(...) tu nunca me deste um cabrito para
alegrar-me com meus amigos”. Por essa fala do filho mais velho, parece que ele
já vinha nutrindo um sentimento de insatisfação para com seu pai. Em outras
palavras, ele parecia não estar muito satisfeito com o tratamento que vinha
recebendo dele por todos esses anos. Ele nunca parou para pensar sobre todos os
cuidados que seu pai teve com ele nesses anos (alimento, vestuário, estudos,
etc.).
A sua
mentalidade estava contaminada, pois, como filho, ele era herdeiro de tudo o
que seu pai possuía, mas não se sentia como participante em nada. Dito de outra
forma, ele estava revoltado (indignado) com seu pai. Podemos interpretar assim
sua fala: “O Senhor não é justo! Abençoa
a todos, menos a mim? (p.136)
Malcon Smith comenta: “(...) o que esse moço e os fariseus não
conseguiam enxergar, por estarem (serem) cegos, era que a aceitação nada tem a
ver com ações ou comportamentos. Entretanto, tinha tudo a ver, com o amor do
Pai”.
Charles Swindoll chama isso de “Mentalidade Salarial”; uma tendência
típica da cabeça (mentalidade) de religiosos. Trabalho para Deus (obedeço) e
Deus me paga (abençoa-me), isto é, dando-me o cabrito que mereço! Quem pensa
assim, pode nutrir ódio (raiva) progressivo contra Deus (Romanos 4:4-5).
Acredito que, a gênese do problema (o autor), é que esse sentimento de ódio
seja contra si mesmo.
David Seamands: o Cristão contaminado começa primeiro a se frustrar
consigo mesmo e a se culpar: “Enquanto vivem sob a escravidão da roda viva do desempenho,
estarão irados. A vida para eles parecerá desleal e Deus parecerá injusto”. Assim
como um filho pode amar e odiar seu pai ao mesmo tempo, temos presenciado
muitos crentes com o mesmo sentimento. Isto pode ter origem (gênese) em nossos
“altos padrões de perfeição” (perfeccionismo), sobretudo, quando inflamados
pela nossa religiosidade. (p.137-138).
k) Pouco Apreço Pelas Pessoas: outra marca da religiosidade é o
esfriamento do amor pelas pessoas: “(...) devido a iniquidade do mundo, o amor
de muitos esfriará” (Mateus 24:12). “vindo, porém, este teu filho, que
desperdiçou todos os teus bens (...), mandaste preparar para ele o novilho
cevado”. Pelas entrelinhas, percebe-se o ódio expresso nesta afirmação do filho
mais velho: “(...) este teu filho”.
Na
verdade, ele era seu irmão biológico, mas parece que não o considerava como
tal. Várias são as passagens Bíblicas em que Jesus atuou servindo a muitas
pessoas (curando, conversando e comendo com elas, pregando o Evangelho, entre
outras) e, nessas ocasiões, recebeu grande indignação dos Fariseus, Escribas,
Anciãos, Sacerdotes Religiosos. Ele refutou suas práticas religiosas ao dizer
que: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”
(Marcos 2:27).
Esses
religiosos alteraram esta ordenança, colocando em primeiro lugar às Regras
(tradição) e, depois, as pessoas. O cristianismo também se prática em prédios
(edificações) e templos, mas não se processa neles, pois ele se dá em nosso
relacionamento com Deus (Jesus Cristo) e, desdobra-se em nosso relacionamento
com pessoas, cristãs ou não cristãs.
Há outras manifestações do
espírito de religiosidade nesta área do Amor
e dos Relacionamentos, vejamos algumas
(p.140-141):
. Nas Pregações,
Ensinos e Palavras: satanás pode agir em nossas falas proferidos dos
púlpitos ou nas evangelizações, tornando-as tão agressivas que ao invés de
trazer curas e edificações dos ouvintes, acabam provocando feridas mais
profundas e, o pior, colocam à pessoa do Deus-Pai (ou Jesus Cristo) como sendo
um verdadeiro carrasco.
. Liderança
Preocupada com Números de Membros: a visão da liderança está focada
em aumentar o número de membros, e nem estão preocupados com as pessoas. Depois
que a igreja incha, ou seja, está lotada de membros, torna-se comum ouvirmos a
seguinte fala da liderança (Pastor): “Quem não concordar comigo ou estiver
insatisfeito, pode procurar outra igreja”. Esta fala demonstra verdadeira falta
de amor, pois está agindo contrariamente ao que ensina o Evangelho sobre a
pessoa do “Bom Pastor”. Se uma ovelha de seu rebanho se desgarrar, ele deixa as
noventa e nove no aprisco e vai em busca daquela desgarrada. E quando a
encontra, trata de suas feridas e a leva de volta para junto do rebanho e, às
vezes, realiza uma grande festa por tê-la resgatado (p.142)
. Descartam as
Pessoas Devidas Seus Erros: outra grande evidência da falta de amor
se dá, quando se trata de um membro da igreja que cometeu algum erro (pecado),
principalmente se for um obreiro. Começam a trata-los com a maior frieza possível.
Costuma-se, em alguns casos, o evitarem durante os cultos, ou seja, não se
aproximarem dele (a). Seria como se fossem “Leprosos Morais” (imundos), pois
podem contaminar outros membros da igreja. Larry Crabb comenta
sobre esse comportamento: “A atitude mais comum da maioria das pessoas ao lidar
com um amigo que está sofrendo é afastar-se dele, censurá-lo ou encaminhá-lo
para alguém”. Muitas são as igrejas que adotam tais comportamentos como se
fossem “os justiceiros de Deus”, tornando-se implacáveis com as pessoas que
cometeram erros. Seamands
comenta que: “Tendo pouca graça para dar, essas pessoas não agraciadas
tornam-se ingratas para com os outros”. *O
autor cita uma parábola (ou fábula) sobre uma pessoa que foi atropelada por um
veículo, mas, mesmo estando muito machucado, pede, por favor, para não leva-la
para o Hospital. Transcreverei pequenos trechos para entendermos seu conteúdo:
- Por favor, não me levem para o hospital!
- Você está sangrando e precisa de atendimento
médico! Por que não podemos levá-lo para
o hospital?
- Sou funcionário do Hospital, seria muito
embaraçoso me verem assim, sujo e sangrando (na igreja, em pecado)!
- Vamos chamar uma Ambulância.
- Não, por favor, fiz curso de segurança para os
pedestres, e o instrutor me criticaria por ter sido atropelado (sou obreiro e
professor na igreja).
- Vamos leva-lo para o
Hospital.
- Não tenho cartão do seguro medico.
- Que diferença isso faz!
- Eles não admitem ninguém ser atendido, sem ter a
certeza de que não terão que arcar com as despesas médicas (não admitem
obreiros errarem).
- Eu fui o culpado e me deixei ser atropelado. As
enfermeiras não irão sujar seus uniformes por minha causa. Elas me criticariam.
(...).
Essa história lhe parece
ridícula? Poderia acontecer com qualquer
um de nós, num domingo (...) numa igreja típica. Fiz questão de perguntar a
alguns Cristãos: o que fariam se na noite de sábado fossem atropelados por
algum pecado inaceitável: Vocês iriam ao culto no domingo pela manhã (ou a
noite)? Todos praticamente disseram que
não iriam ao culto. Infelizmente, a resposta só poderia ser contrária, se
lançássemos o “velho fermento da religiosidade” para fora. Por certo, muitos
crentes atropelados por algum pecado,
continuarão seguindo para os bares ou botequins buscando consolo, graça e
perdão.
l) Completa Incompreensão da Graça de Deus: Oswald
Chambers escreveu sobre o assunto ao dizer que: “O que revela
meu crescimento na graça é a maneira como encaro a obediência”. O que ele quis
dizer com isso, é que atualmente encaramos a obediência não como um ato livre
de um filho que ama seu pai, mas sim, como uma imposição de um Senhor sobre seu
escravo (...). É possível obedecermos
com graça ou precisaremos de apelar sempre para a Lei?
“Tu
mandaste matar para ele o novilho cevado”. Esse animal que estava sendo cevado,
só era servido num banquete muito especial, isto é, era o melhor que uma
família poderia oferecer ao seu convidado. O filho mais velho não havia
compreendido em nada o ato gracioso da parte de seu pai, pois ele mandou
preparar o melhor. Assim também é o nosso Deus, Ele sempre nos dá o melhor.
Sempre supera as nossas expectativas.
Vale
lembrar que duas coisas podem roubar o melhor que Deus tem preparado para nos
dar (servir): o pecado e a religiosidade. Deus nos ama por que somos seus
filhos, e não pelo que fazemos ou temos feito. Brennan
Menning faz um comentário acerca de nos sentirmos mais seguros
na lei do que na graça: “Nossos olhos não estão fitos em Deus. No fundo somos
pelagianos[7]
praticantes”. (p.149)
Cap.5: As
Trágicas Consequências da Contaminação Religiosa na vida dos Filhos de Deus.
Quanto mais tempo estivermos sob a influência do espírito da
religiosidade, maiores serão os estragos em nossa vida, família e ministério.
Neste capitulo, quero pontuar algumas dessas consequências:
. Cansaço-Estresse-Exaustão: após ensinar
em várias Sinagogas diferentes de Israel, Jesus observou em muitos de seus
ouvintes cansaço e exaustão: “vendo ele as multidões, compadeceu-se delas,
porque estavam aflitos e exaustos, como ovelhas que não tem pastor” (Mateus 9:36). Enfatizo aqui, com base
no verso 35, que a multidão de pessoas aflitas e exaustas não eram ímpios e
incrédulos daquela época, mas membros assíduos e atuantes das Sinagogas
judaicas (p.156).
O que
é uma pessoa cansada, exausto ou mesmo esgotado? O Dr. Herbet
Freurdenberger descreve como sendo: “Alguém que está num estado
de fadiga ou frustração em consequência de sua devoção a uma causa, seu estilo
de vida, seus relacionamentos, coisas que não lhe trouxeram a recompensa
esperada”. Os homens transformaram
(lideranças) nossa relação com Deus, que deveria ser leve e suave, em algo
enfadonho e estressante (Mateus 11:28-30).
Neste texto
“sobrecarregadas” significa colocar uma carga sobre alguém além de suas forças,
ou seja, mais carga do que deveria haver (suportar)”. A religiosidade é esta
sobrecarga (p.157). Essa realidade foi
denunciada por Jesus, quando disse: “Ai de vós também, intérpretes da lei!
Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores as suas forças, mas vós
mesmos nem com um dedo as tocais” (Lucas
11:46).
O
Evangelho contaminado pelo fermento mortífero da religiosidade, ao invés de
trazer saúde, alegria, descanso e satisfação, traz ira, dor, tristeza,
isolamento, cansaço e exaustão. Na declaração de Salomão, registrada em Eclesiastes 7:16, disse que: “Não sejais
demasiadamente justo, nem exageradamente sábio, por que destruirás a ti mesmo”
(p.159).
. Perfeccionismo ou Culpa Crônica: mesmo
pregando e pertencendo (crescendo) numa igreja com sólidas bases Bíblicas, o
sentimento de culpa sempre me importunou (o autor). Era como se cada vez que
dobrasse meus joelhos para orar, uma voz dentro de mim dissesse: “Alcione, você
não é digno, olhe quanto você tem errado!”. O mais interessante, é que hoje
vejo, que esse sentimento de culpa surgiu em minha vida, após minha conversão.
Essa
sensação começou a fazer parte de minha vida diária. Em todos os devocionais,
lá estava eu com essa sensação de indignidade na cabeça. E o pior: era o meu
“cristianismo” que estava fazendo isso! Comecei a me deparar com a realidade de
que não era eu apenas que sofria de culpa na igreja, mas também grande parte
das pessoas com quem me defrontava.
Mark Buback,
pastor batista e veterano no campo da libertação, afirma: “A culpa infundada é
uma das enfermidades que mais comumente atacam os crentes hoje”. David seamands
também fala sobre o perfeccionismo dos cristãos: “Esse é o problema que mais
surge no gabinete pastoral”. Ele pergunta: “O que há de errado em tentar alcançar
de alguma forma um desempenho perfeito? Ele mesmo responde: “O erro básico
dessa tentativa é que já não temos essa opção, pois nós a perdemos e já não
podemos falar de nada que seja verdadeiramente perfeito neste mundo
imperfeito”. Deus deixou em nós o anelo
da perfeição” Se não firmarmos
a nossa vida no que Cristo fez por nós e deixarmos que a graça dele nos
santifique diariamente, estamos destinados a culpa crônica (p.162-167).
.Não Sabe Aceitar o Perdão Divino: o Dr. Gary
Coolins disse: “Converse com pessoas deprimidas solitárias,
lutando com conflitos no casamento, homossexualidade, alcoólatras, sofredores,
enfrentando a meia-idade ou tratando de qualquer outro problema e descobrirá
indivíduos que experimentaram culpa como parte de suas dificuldades”. Jesus não
fazia muitas cerimônias para perdoar alguém? A condição de um coração
quebrantado movia o coração perdoador do Mestre. Vários textos confirma isso:
Paralítico (Lucas 7:20); Mulher Pecadora (Lucas 7:48-50); Mulher Adúltera (João
8:10-12), entre outros.
Não
são poucos os que estão nas igrejas, mas não sabem confessar seus pecados e,
por isso, sentem-se perdoados. Alguém para ser perdoado hoje precisa “ralar”
muito. Reconquistar o respaldo e o perdão da igreja é a parte mais difícil e,
em muitos casos, até impossível. Até antes da conversão anunciamos um Deus de
Amor e Graça que perdoa tudo! Após convertido e batizado, a conversa é outra
(p.169-171). A impressão é que Deus simplesmente foi despido do seu poder para
perdoar e transformar o pecador. Estamos agindo como se o sangue de Jesus já
não fosse tão suficiente para nos redimir de nossos pecados.
Erwin Lutzer: “O maior erro que um crente pode cometer quando está
querendo viver para Cristo, não é pecar. Nosso grande equivoco é não entender
os recursos que Deus nos oferece diante do pecado, da derrota e do erro”.
. Vida Solitária: Sempre que vamos a nossa congregação (igreja), o
nosso pensamento é que vamos lá para louvar, cultuar, ouvir a pregação, no
final batermos um bom papo e, finalmente, voltarmos para casa. Larry Crabb acredita
que “ir a igreja pode ter muito mais que um objetivo litúrgico e cultural.
Segundo ele, (...), deveríamos ter como alvo maior termos comunhão, ou melhor,
conexão com as pessoas”. A palavra fariseu pode ser traduzida por “separado”.
De fato, eles acabaram também se separando das pessoas de modo geral.
Precisamos entender que essa “cisão” (separação) precisa acontecer em relação
ao pecado, e não às pessoas. A igreja primitiva não era um bando de gente
separada e isolada, ao contrário, eles influíam (inspiravam) positivamente na
vida das pessoas (Atos 2:47).
“Alegrei-me
quando me disseram, vamos à casa do
Senhor” (Salmo 122:1). Nos primeiros 300 anos da Era Cristã, a igreja se reunia
nas casas. O cristianismo, até então, era a única religião “sem templos”. Após
Constantino, a igreja cristã adotou a mesma tradição das demais religiões de se
reunir em templos (p.176). Nós precisamos entender que a igreja não é
simplesmente ir ao prédio ou a edificação, mas ir se reunir e se associar
à pessoas que ali se congregam: “Deus
não habita em templos feitos por mãos humanas” (Atos 7:48).
Em
suma, nós estamos isolados em nossas próprias igrejas. Essa é uma solidão muito
estranha, pois é experimentada no meio de uma multidão. Reafirmo o que disse:
“O espírito da religiosidade não gosta de gente! Aliás, em nosso meio, quanto
mais cheio do Espírito alguém supostamente está, mais isolado ela se torna”. É
comum na igreja você ter muitos irmãos, mas quase nenhum amigo. Assim disse um
jovem convertido recentemente: “Pastor, desculpe-me que vou falar, mas no mundo
eu tinha muitos amigos; depois que me converti, ganhei muitos irmãos, mas
sinceramente não tenho mais amigos”. Jesus atraía às pessoas, mas os fariseus
as repeliam (João 11:11; 15:15). Paulo tinha amigos como Timóteo, Epafrodito,
entre outros. O próprio Davi, tinha o grande amigo Jonatas, filho de Saul
(p.178-179).
. Divisão: as divergências de ideias e
pensamentos nos separam! E mais, nos tornam indiferentes uns com os outros.
Jesus nos ensinou que “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e
toda cidade ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá” (Mateus 12:25).
Enquanto permanecermos divididos, a terrível consequência é que não avançaremos
na conquista e na expansão do evangelho sobre esta terra. Na igreja de Corinto
também imperavam as divisões: “Eu sou de Paulo, e eu de Cefas, e eu de Cristo”
(1 Coríntios 1:12-13). Por acaso Cristo está dividido? Não estou questionando
aqui, sobre o método de trabalho adotado pela igreja para seu crescimento. Não,
não é isso. O grave problema ocorre quando começamos a pensar que esse método é
maior, mais espiritual e mais santo que todos os demais métodos.
Quando
idolatramos nosso método ou doutrina, o resultado natural será que odiaremos ou
trataremos com a mais profunda indiferença e poderemos excluir (ou afastar) de
nosso meio, qualquer pessoa (ou denominação) que pense diferente. Em toda
igreja onde predomina a divisão, o fermento mortífero da religiosidade está
presente (Fp 3:15-16).
. Perversão Sexual: Em Filipenses 2:20-23, o apóstolo Paulo usa as
expressões “rigor ascético” e “sensualidade”, afirmando haver uma relação estreita
entre elas. Ele faz relação do legalismo, ao qual podem ser conduzidos pelo
espírito da religiosidade (não proves isto; não toques naquilo etc.), mostrando
como esse legalismo pode desembocar nalguma perversão de ordem sexual. Quando
um cristão sincero está debaixo de “rigor ascético” (legalismo?), ou seja,
rigoroso consigo mesmo, tenderá ao pecado da sensualidade, pois ele age como
uma “válvula de escape” que aliviará as pressões a que ele mesmo está
submetido; isto é, tudo aquilo sobre o qual faz dura criticas ou tem uma
postura radical que acaba por atrai-lo; e ele passa a ter uma vida dupla:
legalista por um lado, pervertido por outro. Não foi à toa que Jesus chamou
muitos de legalistas daquela época de “sepulcro caiados”, pois eles limpavam o exterior dos copos e
pratos, mas por dentro estavam cheios de rapina e intemperança (Mateus 23:25).
Larry Crabb: “Muitos hábitos que não conseguimos superar nada
mais são que tentativas de aliviar a tensão gerada pela insatisfação de nosso
profundo anseio de gozar bons relacionamentos. (...). Quem não usufrui de
intimidades legítimas acabará indo para o campo das intimidades ilegítimas,
fato que ocasionará o envolvimento nas mais diferentes perversões sexuais”
(p.95).
. Esfriamento do Amor: o nosso cristianismo se preocupou tanto com as
“regras de conduta” que pecamos desobedecendo ao principal dos mandamentos, o
amor. No livro de João, Jesus Cristo diz
várias vezes sobre a importância do amor: João 13:35; 14:15; 15:10-12,17),
entre outras passagens. O amor, segundo Jesus, deveria ser a principal das
evidências na vida de um discípulo dele. O apóstolo Paulo afirma que entre a
Fé, a Esperança e o Amor. Dentre estes, o principal é o Amor (1 Co 13:13).
Temo que não sejamos
conhecidos pelo amor, principalmente pelo mundo. Somos conhecidos por “não
fumarmos ou Bebemos”, por “não adulterarmos ou roubarmos” etc. O mundo não nos conhecem como pessoas que
amam. A marca central dos meus discípulos será o amor. Somos conhecidos e
respeitados pela nossa conduta ética, mas não pelo amor (p.199).
Um bom exemplo para ser
inserido aqui, é a Parábola do Bom Samaritano. Em síntese, o sacerdote (Pastor)
que voltava de Jerusalém (do culto de adoração), viu o homem ferido e quase
morto ao cão e desviou-se dele: “passou de largo”. O mesmo sucedeu ao levita que tinha a
responsabilidade de levar o povo em adoração ao trono de Deus (Ministro de
Louvor). No entanto, veio um samaritano, ou seja, um ímpio ou incrédulo, que
teve compaixão daquele homem e tratou
suas feridas, colocou-o sobre sua cavalgura e o levou até uma hospedaria,
pagando sua estada. O tratamento dispensado pelo samaritano ao homem ferido,
foi totalmente diferente dos “oficiais religiosos”. Com base nesta Parábola do
Filho Pródigo, podemos afirmar que o espírito de religiosidade esfria o nosso
coração em relação às pessoas.
Cap. 6: O
Processo de Restauração e Cura da Contaminação Religiosa:
.
Trago aqui neste capítulo
minhas reflexões e também fruto de minha experiência por ter sido contaminado.
Tenho aprendido que a cura da religiosidade é complexa, demorada e exigirá uma
profunda mudança de nossa mentalidade, entre outros.
Lucas 15:31-32.
Parábola do Filho Pródigo
(...)
Replicou-lhe o pai: Meu filho,
tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;
Era justo, porém, regozijarmo-nos e
alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido,
e foi achado.
. Restaure a Mentalidade de Filho de Deus: o filho mais velho, embora
fosse filho, sentiu-se como escravo: “há tantos anos que te sirvo”, mas o pai,
quando se dirigiu a ele, disse: “Meu filho (v.31)”. O pai o via como seu filho,
mas ele não se sentia como tal, e sim como um escravo. Fica a questão: Será que
perdemos esse santo orgulho em relação a Deus? Ser servo (escravo) fala de
nossa função, mas ser filho, fala de nossa identidade. Não podemos é assumir a identidade de servos
e nos esquecer de que somos filhos. Em Jesus, somos resgatados para nossa
identidade original de filhos de Deus (João 1:12; Lucas 3:38).
Os fariseus valorizavam mais
os títulos e amavam ser chamados de “mestres” ou “pais”. Você sabe que em
nossos dias há uma desenfreada concorrência por títulos. Muitos em nosso meio
almejam o titulo de pastor. Alguns até são consagrados ao ministério sem o
mínimo preparo, num completo ato de irresponsabilidade, o qual Deus cobrará no
futuro. O espírito de religiosidade ama os títulos, porque, no fundo, quer nos
distanciar do maior dos títulos: Sermos Filhos de Deus (Romanos 8:15-17;
Gálatas 4:6-7).
. Deixe a Graça te Santificar e não a Lei: na carta aos Gálatas
5:1-26, o apóstolo Paulo adverte os cristãos que um dia, nasceram de novo, alegraram-se com a
graça, mas que retrocederam a lei. E
observe o mais grave nas afirmações do apóstolo: “De Cristo vos desligastes,
vós que procurais justificar-vos na lei; da graça descaístes”. Não podemos ser
inocentes. Precisamos contextualizar aos nossos dias o que Paulo está dizendo.
Não temos que nos circuncidar como nos tempos do apóstolo. (...), afastar-se da
mulher em período menstrual, não tocar em defunto para não ser contaminado etc.
Nos dias atuais, nós criamos uma série de outras leis (rituais, regras e
normas), e é por elas que tentamos buscar uma justificação perante Deus, ou
seja, através de nosso desempenho. Quero dizer elas podem até ser válidas, mas
a nossa motivação é decaída (p.209).
De acordo com a Escritura
Sagrada, há duas formas de nos santificar e nos achegar mais e mais a Deus:
pela lei e pela graça. Não se esqueça de que a lei teve como propósito mostrar
ao homem o que é o pecado (Romanos 7:7,12).
Quero traçar um paralelo entre o viver pela lei e o viver pela graça:
a) A Graça foca
no relacionamento com Deus como fonte de santidade e não o esforço humano: Aquele que quer viver pela lei precisará depender mais
de suas forças para se santificar: “Aperfeiçoando na carne”, significa dizer:
“Nada mais do que tentar se justificar por esforços humanos” (Gálatas 3:3).
Paulo, quando se refere das virtudes de caráter que são operados pelo Espírito
Santo, ele usa as palavras “obra” ou “fruto” (grego Karpos). O interessante é
que um fruto nós não podemos fazer, fabricá-lo e nem depende de nossos
esforços. O fruto é do Espirito, e não de nós mesmos (Gálatas 5:22-23).
b) A Graça respeita
o nosso conhecimento e não é imediatista:
A lei é imediatista, sendo preciso pagar logo pelo erro (pecado). Assim foi com
a mulher pega em adultério: “Nós precisamos resolver isso logo; se errou ela
precisa morrer!” Antes de a pessoa se converter, falamos do amor de Deus, da
graça do criador, que Jesus as ama como elas são, pois Deus é quem vai tratar e
cuidar delas”. No entanto, assim que se batizam, é como se disséssemos á ela:
“Olha, agora que você já se batizou, que é membro da igreja, a conversa é
outra. Você precisa deixar isso ou
aquilo e cumprir esse quesito (...)”. O que começou no espírito torna-se “aperfeiçoando-se
na carne”.
Jesus
demorou três anos (e meio) para transformar seus discípulos em grandes
potências, por que nós queremos fazer tudo da noite para o dia? (...), quando
nos fazemos diferente de Jesus e queremos mudar as pessoas da noite para o dia
e impor nossa vontade pessoal, não deixando que elas, em sua comunhão com Deus,
cresçam e amadureçam, nós podemos acabar por desviá-las da graça de Deus
(Filipenses 2:12-13).
c) A Graça trata
o Interior e só assim alcança o exterior: a lei tinha como propósito
mostrar ao homem o que era o pecado, mas Deus ainda não habitava em seu
coração, por meio de seu Espírito. Sendo assim, a lei tentou modificar (tratar)
o homem exteriormente. Quando veio Jesus Cristo inaugurou-se o período da
graça, com o objetivo de modificar (tratar) o interior do homem (p.215-216).
Antes, as pessoas não matavam fisicamente, não roubavam, não adulteravam, mas
nutriam ódio pelos outros, estavam cheios e podres de pecados em suas mentes e
corações. Com isso, Jesus queria tratar do interior do homem, enquanto que seu
exterior seria apenas o reflexo da alma já purificada.
Os
fariseus, movidos pela religiosidade, prezavam muito por um exterior impecável,
isto é, o que eles faziam nada mais era do que viver de aparência, pois seu
interior estava corrompido (uma bagunça). Olha o que Jesus disse: “Assim são
vocês: Por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de
hipocrisia e maldade”. Ele condenou uma vida apenas de aparência (Mateus
23:28).
Quando a nossa santificação
preza apenas pelo exterior (não faço isso, também não sou a favor disso etc.),
mas nosso interior está completamente corroído, entristecemos em muito a graça
de Deus. Por isso digo (o autor): “Por favor, líderes, não queira nunca mudar
uma pessoa de “fora para dentro”, impondo com veemência normas e regras, esse é
o processo usado pelos fariseus”. Ele pode funcionar provisoriamente, mais
adiante vai fracassar.
Larry Crabb escreveu
que: “(...), só o Espírito pode fazer isso. E ele é o único responsável por
levar as pessoas ao deserto, ou por aprofundar as trevas que os cercam, ou por
colocar dificuldades inexplicáveis no seu caminho ou por convencê-los do dano
que o seu egoísmo provocará”. E acrescenta que: “Ele, ás vezes, nos usa como
instrumentos para gerar essas coisas, mas a responsabilidade de criar a dor
redentora cabe a mãos mais ternas do que as nossas”. Deus começa a mudança
primeira por dentro. Esse papel é de Deus, não é do homem. Veja que magnifica
passagem Paulo escreve aos filipenses:
“Assim, pois, amados meu, como sempre obedecestes, não só na minha
presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa
salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:12-13).
d) A Graça
nos leva a agradar a Deus como Prioridade e não aos homens: Paulo escreve aos Gálatas sobre este assunto, haja
vista que eles estavam sendo seduzidos pelo espírito de religiosidade, e diz:
“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de
Cristo para outro evangelho” (Gálatas 1:6). O
apóstolo chama o evangelho contaminado pelo espirito da religiosidade de “outro
evangelho”. O problema observado por ele, é que, embora tivessem aceitado a
Cristo, estavam sendo ministrados por homens que queriam que guardassem os
rituais da lei.
Estavam
misturando graça (Cristo morreu para
nos salvar) com a lei (mas também preciso guardar a lei para ser salvo). Agindo
assim, eles estavam invalidando o que Cristo fez por eles (Gálatas 5:2-4). Com
isso, muitos retrocederam, pois estavam preocupados em agradar aos homens, e
não a Deus. Paulo os exorta sobre isto (Gálatas 1:10). As nossas tradições religiosas podem ser tão
poderosas que a própria Bíblia (Escritura Sagrada) fica de lado. Se repararem
bem, há, muitas vezes, normas em nossas igrejas que podem chegar ao ponto de
invalidar princípios da Palavra de Deus (p.219).
Temos
que estar atentos para não voltarmos para a escravidão (Gálatas 2:4; 5:1; 2
Coríntios 11:20). Infelizmente, em nossos dias há muitos líderes dominadores e
tiranos, como esses descritos pelo apóstolo Paulo. Esses lideres dominadores
estão em disputa constante com Deus, pois seus objetivos é de levar seus
liderados (ovelhas) a dependerem mais deles do que do próprio Deus. Gary Greenwald comenta sobre o tema, em seu
livro “Desmascarando as Seduções”, ao dizer que: “Eu tenho visto muitos
pastores inseguros que controlam suas igrejas com falsas profecias, ameaçando
as pessoas dizendo que, se elas saírem da igreja, perderão a salvação (...). Quando
um líder controla sua congregação por meio do medo e intimidação, isso é
feitiçaria. (...). Mas essas mesmas pessoas que se intitulam de
“superespirituais”, tentam controlar a outras. Elas lutam para ter o controle e
querem que os outros sempre a considerem como gigantes espirituais” (p.221).
A
lição é que um líder contaminado e escravizador pode aleijar o potencial de
muitos liderados, transformando-os em verdadeiros escravos que “comem migalhas debaixo de sua mesa” (Juizes 1:7). A
nossa função como Pastor (o autor) é a de servir ao rebanho. No fundo, nós e o
rebanho, somos ovelhas de um só Pastor – Jesus Cristo!
e) A Graça
nos leva a Obedecer por Amor e não por Medo: após a queda do homem, o medo foi um dos primeiros sentimentos que
penetrou em seu coração. É claro que, inicialmente, não havia medo na relação
desse homem com o seu Criador (Gênesis 3:8-10). Com o cometimento do pecado por
esse homem, surgiu o medo como um dos obstáculos dessa relação com Deus. A
partir dai, o homem passou a ter medo de Deus. Quem obedece a Deus movido pela
lei (Medo), acaba por aperfeiçoar-se no temor. Assim a pessoa o obedece porque
tem medo d’Ele e das consequências de sua desobediência.
De
forma contrária, a pessoa que está sendo aperfeiçoada pelo Espírito (Amor),
obedece a Deus porque o ama profundamente. Viver a Palavra de Deus passa a ser
um estilo de vida prazeroso e contagiante. Nós mesmos, como líderes (o autor),
estimulamos a obediência baseada no medo, e não no amor. O problema é que em
muitas de nossas igrejas fazemos isso para ter um resultado mais eficaz (e mais
rápido), para os nossos fins ministeriais. Questionamos a obediência “em amor”,
por acha-la menos eficaz (é um processo mais demorado) e talvez até pouco
espiritual, pois queremos que as coisas aconteçam mais rapidamente (p.225).
O
medo nos impede de amar a Deus e aos nossos irmãos. Ele produz tormento e
escravidão, enquanto que o amor nos liberta (Marcos 12:30-31). O mandamento de
Jesus não é: “Temerás o Senhor (...), mas sim, Amarás a Deus”.
f) A Graça
liberta e não Escraviza: o
cristianismo é devoção a uma só pessoa – Jesus Cristo. Quando somos
contaminados pela religiosidade, nosso foco muda. De filhos de Deus nos
tornamos servos das normas e regras. Os fariseus tinham 612 regulamentações detalhadas
para sua vida diária. É como se quiséssemos transformar a vida com Deus numa
ciência exata. No entanto, isso nunca trará paz verdadeira, pois sempre haverá
alguma nova regra ou mais e mais regras.
Jesus
revolucionou com seus ensinos ao nos instruir que a vida com Deus baseia-se no
relacionamento, e não apenas em guardar uma serie de leis e normas. É evidente
que quem vive sua vida com Deus, viverá no mais alto padrão ético e moral, pois
Deus é santo e requer de cada um de seus seguidores santidade (1 Pedro 1:16).
Arrependa-se e volte ao Primeiro Amor
Em Apocalipse 2:1-7, João faz referencias as igrejas da Ásia, mas
gostaria de traçar alguns pontos sobre a Igreja de Éfeso. Jesus reconhece algumas marcas que se
destacavam nesta igreja da Ásia, aos quais querem coloca-las em relevo. A
primeira é o seu intenso trabalho e que era operante. Outra marca em destaque
desta igreja era a perseverança. Tenho aprendido (o autor) que a perseverança é
um dos principais segredos da maturidade, é um dos seus ingredientes
fundamentais.
Outra
marca era seu alto padrão ético e moral. Eles procuravam não brincar com as
coisas de Deus. Éfeso tinha essa capacidade de enfrentar vitoriosamente as
crises pelas quais passava ou viesse a passar, sem deixar-se enfraquecer. É de
admirar que uma igreja com tantas virtudes como esta: trabalho árduo,
perseverança, alto padrão ético e a capacidade de administrar as crises pôde
ter se desviado do primeiro amor! É possível ter todas estas qualidades
(quesitos) e, ainda assim, não amar a Deus como se fazia no inicio da Fé? Sim, é possível (...).
O
fato é que a religiosidade na vida de um cristão, faz com que ele também sirva
a Deus, persevere, seja separado do pecado, administre crises, mas tudo isso
não é mais carregado de amor. Virou uma rotina, um ritual. Transformou-se o
Cristianismo num conjunto de normas e regras vazias (Romanos 6:4). O termo
religião tem como significado “re-ligar”. No entanto, a religiosidade faz
justamente o contrário: ela nos desliga de Cristo! Precisamos nos arrepender e
pedir (clamar) pela misericórdia de Deus (p.235-237).
Deus
disse a igreja: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta a
prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu
candeeiro (castiçal), caso não te arrependas” (Apocalipse 2:5). Deus como
conhece o nosso coração, não quer que seu povo o sirva sem um amor profundo.
Ele sabe de todas as coisas e quando estamos longe d’Dele. Não adianta guardar
uma série de “normas cristãs” (eu não bebo, nem fumo, não minto, oro, jejuo,
dou dizimo etc.), mas seu coração está totalmente vazio (ou cheio de maldades, grifo nosso).
O
autor faz uma analogia ao casamento: “Isso equivale ao marido fiel à esposa,
trabalha honestamente para sustentar a casa, sabe administrar as crises do
casamento, é perseverante, convive diariamente com sua esposa e filhos, mas seu
coração não arde mais de amor por ela”. O primeiro amor foi embora. Tudo agora
caiu na rotina e nos “deveres diários”. O apóstolo Paulo advertiu quanto a isso,
ao dizer que: “Assim também andemos em novidade de vida” (Romanos 6:4). O que
implica em renovar diariamente e sempre esse primeiro amor por Cristo (e nossa esposa, grifo nosso).
O
apóstolo Paulo também exorta os Corintos: “Lançai fora o velho fermento, para
que sejais nova massa, como sois de fato sem fermento” (1 Coríntios 5:7). Se
quisermos libertação da religiosidade (rotina e ritual vazio), é necessário
derrubar as fortalezas da religiosidade e refazer os nossos conceitos
(paradigmas) sobre o evangelho que temos vivido. O que significa dizer “lançar
fora o velho fermento”. Desconfie e questione o “evangelho” que você está
vivendo e se ele não tem lhe trazido a “vida em abundância” que Jesus prometeu
(p.242).
Lembre-se:
Se, apesar de ser filho de Deus, mas
você tem estado triste, ansioso, culpado, esgotado, muito cansado, irado
consigo mesmo e com Deus, solitário, com altíssimos padrões de exigência (para
si e com os outros) e profundamente incrédulo sobre o amor e a bondade de Deus,
é possível que você tenha sido contaminado por esse fermento mortífero. Se isso
está acontecendo com você, não será um processo tão simples e rápido de se
desfazer dele.
Se
fomos criados por pais legalistas (doutrinados na igreja), por certo, recebemos
muitos falsos conceitos sobre o amor de Deus, por isso, precisamos rever muitos
de nossos conceitos. Os nossos pais são a principal fonte de como vemos a nós
mesmos e de como veremos a Deus. As primeiras sensações de Deus são adquiridas
através deles. Sendo assim, quando temos pais legalistas e que condicionam
sempre o seu amor a nós pelo nosso desempenho, entramos em crise em nossa
identidade. Somos levados a achar que somos amados não pelo que somos, mas pelo
que fazemos (p.243).
David Seamands comenta sobre isso, ao dizer
que: “O principal fator que faz que uma criança se sinta rejeitada é o
conhecimento emocional de que não foi amada nem querida por ser quem era”. O grave problema desse pensamento é que isso
pode nos conduzir a desenvolver um falso “eu”. Tudo porque não queremos ser
rejeitados. Precisamos entender que, embora Deus não aprove certo tipo de
comportamento, o seu amor por nós nunca está condicionado a ele.
Perdoe os que o Contaminaram
Segundo escreveu Ernani
Maldonado “todos nós temos fantasmas interiores”. E eles estão em toda parte,
mas acham-se (também) dentro de nós. São aquelas pessoas que, além de terem sua
existência própria, existem também dentro de nós, como personagens
determinantes de uma série de reações que temos. Nós somos os que as transformamos
em fantasmas, mas grande parte delas está viva.
Ele acrescenta sobre o
assunto: “esse é o caso de alguém que, tendo uma ligação afetiva conosco, nos
desprezou, ou nos dominou, ou nos traiu, ou nos humilhou, ou não acreditou em
nós, ou coisa parecida”. Algumas dessas
pessoas estão como que “duplicadas” em nosso interior. Maldonado explica ainda que o que mantém cada
um desses fantasmas vivos em nosso interior é o sentimento de vingança
(p.245-246).
Quando alimentamos esse
sentimento, não é mais Cristo que guia nossos atos e decisões, mas são esses
“fantasmas interiores”, alimentados pelo nosso ódio, que governam nossos atos e
projetos de vida. Um pastor que me chamou para ir a sua igreja compartilhou
comigo que saiu de sua antiga denominação machucado e, a partir daí, teve como
propósito erguer outra igreja para provar aqueles lideres que ele era capaz
(pode-se chamar isso de “motivação corrompida”).
Rapidamente esse pastor chegou a um esgotamento
emocional. Aqui pode estar a raiz do espirito da religiosidade. Portanto, isso
também pode acontecer conosco. Podemos sair com esse sentimento de querer
provar para as pessoas que podemos vencer e, assim, aumentarmos ainda mais o
jugo sobre os nossos ombros. Precisamos perdoar pessoas que nos feriram com sua
religiosidade. Precisamos, com a graça de Deus, soltar essas pessoas “da
prisão” do nosso coração.
Caso não venhamos a perdoá-los, passamos também a
reproduzir o comportamento daqueles que nos machucaram. Ou seja, a vítima de um
abuso torna-se também em um abusador. Compartilhei no inicio desse livro, que
me tornei num pregador tirano e um líder legalista, é claro que passei também
por sucessivos abusos que reproduzi com toda naturalidade, sem me aperceber do
prejuízo causado às pessoas. É uma coisa quase que inconsciente. Hoje, graças a
Deus, tenho mais luz acerca de minhas atitudes.
Para concluir, posso dizer
que uma das formas mais poderosas de romper o ciclo do abuso é através do
perdão. Não precisamos machucar as pessoas, porque um dia também fomos
machucados. Enfim, eu diria que o processo de cura irá avançar ou não, segundo
a nossa capacidade de perdoar os que nos feriram e abusaram de nós
.Restaure os
Relacionamentos Profundos
Já vimos que a
superficialidade nos relacionamentos é uma das características marcantes da
religiosidade e, nesse aspecto, comenta Rick Warren
que “a superficialidade é a morte da comunhão” (Livro: Uma Vida com
Propósitos). Os fariseus eram figuras isoladas e de poucos relacionamentos.
Eles sempre questionavam a conduta social e ética de Jesus ao perguntar: “Come
ele se assenta e come com pecadores?” (Lucas 15:1-2).
Larry Crabb, em seu livro Conexão, apresenta alguns conceitos
interessantes, entre eles, ele afirma que “o mal que há dentro de nós não é
mais forte que a força divina que pode nos transformar”. Os pais podem
influenciar os filhos, o marido a esposa etc. (o pastor
as ovelhas, o patrão os empregados, o professor os alunos, acréscimo nosso).
Se analisarmos os nossos
traumas emocionais, veremos que sempre por trás deles há pessoas. O que estou
dizendo é que não existem traumas emocionais dissociados de gente. (...). O
mais interessante é que quanto mais machucados estivermos em nossa alma, mais
distantes e superficiais serão as nossas relações (sociais etc.). Resumindo: os
traumas fazem de nós pessoas desconectadas uns dos outros, quer tenhamos ciência
disso, quer não (p.259).
A medida que conhecemos mais
a Deus, vamos sendo conduzidos para nos conhecermos e também ao nosso próximo,
nos reconectando com nós mesmos (isto é, enfrentamos os nossos dilemas
interiores e verdades, até então, desconhecidas para nós) e também com outras
pessoas através dos relacionamentos profundos. Em suma, tudo isso até aqui
escrito para nos ensinar que uma das ferramentas fundamentais para nos limpar
da religiosidade são os relacionamentos profundos.
Com base em tudo que já foi
dito, gostaria de propor duas atitudes. Em primeiro
lugar, podemos compartilhar nossa dor com um amigo ou com um ajudador
espiritual. No livro de Tiago temos uma poderosa mensagem sobre esta confissão:
Tiago
5:14-16. Está alguém entre vós
doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite
em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará;
e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas
uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um
justo pode muito em seus efeitos.
De
modo geral, a palavra hamartia (pecado) tem como sentido e significado de “errar
o alvo”, ou seja, pecar contra Deus equivale a errar um alvo; acredito que o
alvo da sua vontade perfeita. Quando Tiago pergunta se alguém está doente na
igreja e orienta que os presbíteros orem por essa pessoa, ele afirma que a
oração da fé poderá curar essa pessoa. E, ainda, acrescenta: “E, se houver
cometido pecados (hamartia),
ser-lhe-ão perdoados”.
Muitos
psicólogos e psiquiatras que eu conheço (o autor) me disseram se “a metade dos
pacientes que eu atendo no consultório, tivessem amizades profundas, não
precisariam de acompanhamento psicológico (ou psiquiátrico)”.
Em segundo lugar, se você quer caminhar
livre da religiosidade e ter uma postura de vida que rechace completamente esse
espírito, além de confessar sua dor e desilusões para alguém, aprofunde os seus
relacionamentos com os verdadeiros amigos. É imprescindível termos pessoas com
quem possamos falar abertamente do que cremos, dos nossos sentimentos mais
privativos e também detalharmos situações que tem ocorrido em nossa vida, sem
qualquer omissão.
Conclusão
Na parábola do filho pródigo, quando esse rapaz voltou para sua casa,
contrariando o seu próprio pensamento religioso (“já não sou digno de ser
chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores”), o pai já estava
esperando ansioso por sua volta. (...). Não tenho dúvidas de que o amor do pai
por esse filho era o mesmo estivesse ele em casa ou naquela terra distante e
perdido.
O
amor incondicional dos pais deveria preparar os filhos para um relacionamento
profundo e amoroso com Deus. Entretanto, quando os pais ensinam (expressando
com palavras ou não) eu os seus filhos serão amados, queridos e até recompensados
tendo em vista o comportamento deles, isso os faz entrar numa grande crise
interior e estrutural. A grave consequência da mentalidade religiosa nos filhos
de Deus contaminados é que eles elegerão o medo e a culpa como sentimentos
motivadores no seu relacionamento com Deus.
O dr.
Fábio Damasceno disse certa vez numa conversa: “Graça sem a cruz, é perversão,
é liberalismo”. (...). Se a graça sem cruz é sinônimo de perversão, o contrário
também é verdade: “a cruz sem graça é sinônimo de escravidão, legalismo e morte
espiritual”. Mediante tal constatação, podemos afirmar: “é impossível amar a
Deus e não estar vivendo uma vida de santificação diária”. Se alguém diz que
ama a Deus, mas vive uma vida profana e hipócrita, ainda não descobriu também o
que é amar a Deus. Finalizo este livro lembrando-me de uma frase que muito me
impactou: “graça é Deus se relacionando com pessoas pecadoras”. Apesar de
salvos, somos ainda pessoas que erram muito. No entanto, o mistério que nos
assombra e ao mesmo tempo nos encoraja é que ele nos escolheu e nos amou “sendo
nós ainda pecadores” (Romanos 5:8).
[1]
Ortodoxia. Interpretação,
doutrina ou sistema teológico implantado como único e verdadeiro pela Igreja.
2. Dogmatismo religioso.
[2]
Sinagogas. Local de
culto da religião judaica. Possui como o seu objeto central a Arca da Torá. O
serviço religioso da sinagoga, quando se forma um quórum, é feito todos os
dias, sendo que alguns envolvem leituras da Torá, cujos rolos são retirados da
Arca (heikhal) e transportados até o púlpito (Tebá).
[3]
Ortopraxia. É a
ênfase na conduta, tanto ética quanto litúrgica, em oposição à fé ou a graça.
2. Pode ser entendida como um conjunto de técnicas e credos que faz parte de
uma determinada tradição, que são passados para seus estudantes e mantidos sem
alterações.
[4]
Sinédrio. Na
Palestina, sob o domínio romano, era a assembleia judia de anciãos da classe
dominante com diversas funções: políticas, religiosas, legislativas,
jurisdicionais e educacionais. 2. Suprema corte judia legislativa e judicial de
Jerusalém, composta de 71 membros.
[5] Colocíntida. É o nome de um
fruto venenoso nascido numa trepadeira que na cidade de Gilgal, em Israel,
crescia em parra brava. O fruto desse vegetal é amargo e venenoso, é encontrado
em lugares arenosos perto do Mar Mediterrâneo e do Mar Morto.
[6] Triunfalista.
Que exibe confiança absoluta ou excessiva no sucesso. 2. Atitude de segurança
ou de superioridade em relação as demais pessoas.
[7]
Pelagianos. Seguidores
de Pelágio (400 d.C). Eles colocavam o livre-arbítrio humano acima da
iniciativa de Deus e ensinava que cada cristão deveria conquistar a salvação
pela conduta meritória voluntária.
O conteúdo deste livro é muito interessante, pois apresenta uma realidade nua e crua, de como estão as igrejas evangélicas no Brasil. Mostra um raio-x autêntico de como a maioria dos líderes (Pastores) conduzem e administram seus liderados (ovelhas).
ResponderExcluirPrecisamos aumentar nossos períodos de oração para que Deus possa abrir a mente e o coração desses "Falsos Profetas".
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmém! Estou tendo o privilégio de ler este artigo,e está sendo de muita importância para minha vida espiritual, que Deus nos dê discernimento e limpe nosso olhar a ponto de não perdermos o principal, o amor um para com o outro, que a frieza e dureza que a religiosidade produz nos corações não chegue em nosso meio e que possamos ser mais sensíveis e misericordiosos uns para com os outros! Obrigada por compartilhar algo tão relevante para os dias de hoje.
ResponderExcluirAmém! Estou tendo o privilégio de ler este artigo,e está sendo de muita importância para minha vida espiritual, que Deus nos dê discernimento e limpe nosso olhar a ponto de não perdermos o principal, o amor um para com o outro, que a frieza e dureza que a religiosidade produz nos corações não chegue em nosso meio e que possamos ser mais sensíveis e misericordiosos uns para com os outros! Obrigada por compartilhar algo tão relevante para os dias de hoje.
ResponderExcluirObrigado Amiga e Irmã Amada.
ResponderExcluirObrigado Amiga e Irmã Amada.
ResponderExcluir