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segunda-feira, 13 de abril de 2015

EM DEFESA DO ARMINIANISMO

Pastor Silas Daniel



1. Breve Biografia de  Jakob Hermanszoon:

            Ele nasceu em 10 de outubro de 1559, na cidade de Oudewater, na província de Utrecht, na Holanda. Era filho do casal Hermand Jacobszoon, um ferreiro especialista em fabricar armaduras; sua esposa era Engeltje ambos protestantes. Seu pai morreu de forma trágica no mesmo ano de seu nascimento, deixando sua mãe viúva e com filhos pequenos.
            Condoído da situação do pequeno Jakob, um padre simpático ao protestantismo, chamado de Teodoro Emílio, sustentou a criança e seus estudos. Porém, quando o garoto completo seus 15 anos, seu benfeitor morreu. Deus, contudo, logo colocou outra pessoa na sua vida: um homem chamado Rodolfo Sneillus, que, ao saber da história de Jakob, resolveu adotá-lo e leva-lo para Marburg. Foi assim que, aos 16 anos, Jakob ingressou na Universidade de Leiden.
            No mesmo ano em que ingressara na Universidade, outra tragédia aconteceu. Em 1575, a sua cidade natal – Oudewater, que á época, estava sob o domínio espanhol, mas havia se libertado desse domínio e se tornado protestante, voltaria a ser atacada pelos espanhóis. A invasão foi sangrenta, passando para a posteridade como o “Massacre de Oudewater”, no qual a mãe de Jakob, seus irmãos e demais parentes foram todos mortos. Portanto, somente Jakob sobraria de toda a sua família.
            Na cidade de Leiden, o jovem protestante adotou a forma latinizada de seu nome e, ao invés de Jakob Hermanszoon, passou a se chamar Jacobus Arminius. Concluiu seus estudos nesta cidade em 1582, mesmo ano em que foi a Genebra para estudar com ninguém menos do Teodoro Beza, amigo e sucessor do já falecido João Calvino.
            Não ficou muito tempo em Genebra, haja vista as controvérsias decorrentes do seu uso de técnicas ramistas, que aprendera em Leiden. Estas técnicas foram criadas pelo professor calvinista francês Pierre de La Ramée (1515-1572) que eram ensinadas em algumas universidades protestantes.
            De Genebra ele seguiu para a Basileia e de lá para Amsterdã, onde recebeu o convite para pastorear, sendo ordenado ao pastorado em 1588. Ganhou fama de bom pastor e ensinador. Em 1590, casou-se com a jovem Lijsbet Reael. Em 1603, após 15 anos de profundo ministério, Arminius encerra suas atividades como pastor para aceitar o cargo de professor na Universidade de Leiden.
            Foi em Leiden que começou os  primeiros e históricos embates teológicos da vida de Jacob Arminius, e o principal responsável pelos ataques desferidos contra ele foi o teólogo e professor calvinista radical Fransciscus Gomarus (1563-1641). A principal divergência entre eles, era em relação aos Decretos de Deus. Para entendermos essa divergência, é necessário explicar o que vem a ser Calvinismo Infralapsariano e Supralapsariano.

1.1 Calvinismo Infralapsariano: é aquele que afirma que os decretos divinos de eleição e condenação ocorreram após o Decreto da Queda.

1.2  Calvinismo Supralapsariano: é aquele que assevera que os decretos divinos de eleição e condenação, foram determinados por Deus antes mesmo do Decreto da Queda; isto é, primeiro Deus planejou que alguns se salvariam e outros se perderiam, para depois determinar do que eles seriam salvos (sic).

Portanto, Gomarus era adepto do Calvinismo radical Supralapsariano, enquanto que Arminius era absolutamente contra deste Calvinismo. A divergência entre os dois começou exatamente aí. No entanto, o debate se intensificou mais quando Arminius acrescentou que a Confissão Belga (1562) e o Catecismo de Heidelberg (1563), ambos os documentos calvinistas, precisavam de reformas.
Isto irritou muito a Gomarus que queria uma explicação de Arminius de quais reformas eles precisariam. Entretanto, Arminius preferiu se calar por um tempo, para acalmar os ânimos. Vários debates públicos ocorreram posteriormente entre eles, e a controvérsia ultrapassou a instituição onde lecionavam e chegou a outras universidades, até que Gomarus e Arminius foram chamados a comparecer a Suprema Corte de Haia para apresentarem seus argumentos, que dividiam os acadêmicos protestantes no país. 
Ao final da exposição de cada um, a Suprema Corte, formada por 8 Magistrados, declarou que as diferenças no que concernia á Doutrina da Predestinação eram pequenas, e por isso, ambos deveriam aprender a conviver com essas diferenças. Arminius acatou a resolução, mas Gomarus partiu novamente para o ataque. De tantos que foram os ataques contra ele, Arminius pediu que se formasse uma assembleia para ouvi-lo. Esta assembleia foi marcada para o dia 30 de outubro de 1608.
Nesta assembleia Arminius apresentou as reformas que ele tinha em mente ao falar da Confissão Belga e do Catecismo de Heidelbeg. Ele disse acreditar que tanto o Calvinismo Infralapsariano quanto o Supralapsariano, no fundo, carregavam o mesmo erro, e expôs sua crença na predestinação a partir da presciência divina, apoiando-se em Textos Bíblicos.
Contrariado, Gomarus, por sua vez, teve permissão para falar sobre o pensamento de Arminius, mas somente no dia 12 de dezembro de 1608. Nesta ocasião, atacou direta e agressivamente a Arminius, não tentou rebater nenhum dos argumentos que Arminius apresentou fundamentado na Bíblia.
Arminius simplesmente argumentou que os dois textos – a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg, não estavam acima da Bíblia e, como produções meramente humanas, estavam sujeitas a revisões e aperfeiçoamento. Diante deste debate, momento em que Arminius usou somente o biblicismo para apresentar sua opinião contrária a Gomarus, acabou com que mesmo alguns discordantes de Arminius lhe dessem razão.

2. O Que Apregoa o Arminianismo?

Em linhas gerais, o que ensinava o Arminianismo ou, na verdade, o que é o Arminianismo? Ele está pautado em ensinamentos a luz da Bíblia. Quais são estes ensinamentos?

1º - Que Deus determinou salvar algumas pessoas e condenar as demais: Ele fez isso a partir de Seu pré-conhecimento sobre a fé ou a incredulidade futuras dessas pessoas. Ou seja, a eleição ou a condenação divinas não são decisões arbitrárias de Deus, mas decisões tomadas por Deus desde a eternidade com base em Sua presciência em relação as escolhas futuras das pessoas.

            Romanos 8:29-30. Porque os que dantes  conheceu também, os predestinou, para serem a conforme a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
            (...)
            1 Pedro 1:2. Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.

*Obs:  Os Calvinistas erram ao vincular a presciência de Deus á causalidade. Ora, o texto Bíblico é bem claro: a presciência vem antes da predestinação e da eleição. Estas decorrem daquela, e não o contrário. Um exemplo clássico desse tipo de conhecimento divino é o da oração de Davi sobre o povo de Queila (1 Samuel 23:1-13).

2º - A Doutrina da Depravação Total do ser humano. Ensina que o ser humano é tão depravado espiritualmente que precisa da graça de Deus tanto para ter Fé como para Praticar boas obras. “Em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar e executar o que quer que seja verdadeiramente bom”. (Arminius; FEICS, 2014).  O homem não regenerado é escravo do pecado e incapaz de servir a Deus com suas  próprias forças (Romanos 3:10-12; Efésios 2:1-10).

Romanos 3:10-12. Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há ninguém que faça o bem, não há nem um só.

3º - Que a Graça Divina pode ser resistida. O próprio Arminius disse: “Creio, segundo as Escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que lhes é oferecida”. São vários os Textos Bíblicos que deixam clara a possibilidade de resistir a graça divina: (Gn 4:6-7; Dt 30:19; Js 24:15; 1 Rs 18:21; Is 1:19-20; Sl 119:30; Mt 23:37; Lc 7:30; At 7:51; 10:43; Jo 1:12; 6:51; 2 Co 6:1; Hb 12:5).

Gênesis 4:6-7. E o Senhor disse a Caim: Porque te iraste? E porque descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz a porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.
            (...)
           Salmo 119:30. Escolhi o caminho da verdade; propus-me seguir os teus juízos.
            (...)
2 Coríntios 6:1. E nós, cooperando também com ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão.

*Obs. É equivocado pensar que Deus não é absolutamente soberano se concede ao homem, através de Sua graça preveniente, o livre-arbítrio, isto é, uma vontade livre para escolher ou não a salvação. É verdade que ninguém merece a salvação, mas se Deus resolver salvar uns e condenar outros sem conceder uma possibilidade real de escolha para Suas criaturas, estará Deus manchando Sua justiça (Isaías 6:3).

4º - Que Cristo morreu por todos. Os Arminianos entendem e sustentam que realmente Cristo morreu por todos, mas Sua obra salvífica só é levada a efeito naqueles que se arrependerem e creem.

João 1:12; 6:51. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome. (...). Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.
            (...)
Hebreus 2:9. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.

*Obs. Dito em outras palavras, a Expiação de Cristo é suficiente, mas só se torna eficiente na vida daqueles que sinceramente se arrependerem de seus pecados e aceitam Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas. Portanto, trata-se de uma Expiação Universal Qualificada. Sendo assim, a expiação de Cristo foi realizada em prol de toda a humanidade, mas só os que a aceitam usufruem de sua eficácia.

5 – Que o Ser Humano pode cair da graça. Sobre este ponto, o próprio Arminius preferiu deixar em aberto essa questão, isso porque há muitos textos Bíblicos que enfatizam a perseverança dos santos (o que defendem os Calvinistas) e há muitos outros que sugerem a possibilidade de cair da graça, ou seja, de eventualmente se perder a salvação (o que defendem os Arminianos).

Armínius escreveu: “Nunca ensinei que um verdadeiro crente pode, total ou finalmente, cair da fé e perecer. Porém, não vou esconder que há passagens das Escrituras que me parecem ensinar isso” (Arminius Works, volume 1, p.131).

Textos sugeridos para consulta: Mt 24:12-13; Lc 9:62; 17:32; Jo 15:6; Rm 11:17-21; 1 Co 9:27; 15:1-2; 2 Co 11:3-4; Gl 5:4; 1 Tm 1:19; 4:1; 2 Tm 2:10,12; Hb 3:6,12,14; 2 Pe 2:20-22; Ap 3:5.

            Mateus 24:12. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.
            (...)
1 Coríntios 9:27. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.
(...)
Gálatas 5:4. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.
(...)
Apocalipse 3:5. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.

*Obs. O fato de sabermos que temos segurança em Cristo não deve nos levar a relaxar em nossa vida espiritual, pois tal atitude pode, se não tomarmos cuidado, nos levar, mais à frente, a perecermos espiritualmente.

C. Spurgeon certa ocasião, comentando 1 Timóteo 2:3-6, que afirma que Deus deseja “que todos os homens sejam salvos” e Cristo se entregou “por todos”, escreveu: “E então? Tentaremos colocar um outro sentido no texto do que já tem? Penso que não. Entretanto, os Calvinistas mais velhos lidaram com esse texto “todos os homens”, e diziam eles que o texto quer dizer “alguns homens”, como se o Espírito Santo não pudesse ter falado “alguns homens” se quisesse ter falado isso.
            Enfim, não devemos tratar nossos amigos Calvinista como “hereges perniciosos”, o que nunca foram, mas também devemos nos conscientizar que o Arminianismo é, sem dúvida alguma, a melhor explicação, à Luz da Bíblia, para a mecânica da Salvação. Tanto um quanto o outro honram a Deus, sendo que o Arminianismo o faz de uma forma muito mais coerente à Luz do Texto Sagrado, sem forçar alguma aparente contradição (...). Ensinemos, pois, o Arminianismo.


Autor do Artigo: Pastor Silas Daniel. Membro da Assembleia de Deus em Augusto Vasconcelos, Rio de Janeiro (RJ);
Extraído da Revista: Obreiro Aprovado. Em Defesa do Arminianismo. Edição Nº 68, Ano 36, CPAD, 2014.



           

            

Um comentário:

  1. Irmãos, a Paz de Cristo.
    Achei importante transcrever resumidamente o artigo escrito pelo Pastor e Jornalista Silas Daniel, pois dias antes, havia inserido no blogger, as diferenças básicas das doutrinas Calvinistas e Arminianistas. Portanto, se você quiser se aprofundar mais sobre o assunto, adquira a revista, mas, caso não queira, a síntese transcrita aqui está em sua forma original, somente escrevi textualmente algumas passagens Bíblicas que o autor apenas faz referências, entendendo que assim ficará mais claro o entendimento da matéria.

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