Pastor Silas Daniel
1. Breve Biografia de Jakob Hermanszoon:
Ele nasceu em 10 de outubro de 1559,
na cidade de Oudewater, na província
de Utrecht, na Holanda. Era filho do
casal Hermand Jacobszoon, um ferreiro
especialista em fabricar armaduras; sua esposa era Engeltje ambos protestantes. Seu pai morreu de forma trágica no
mesmo ano de seu nascimento, deixando sua mãe viúva e com filhos pequenos.
Condoído da situação do pequeno
Jakob, um padre simpático ao protestantismo, chamado de Teodoro Emílio,
sustentou a criança e seus estudos. Porém, quando o garoto completo seus 15
anos, seu benfeitor morreu. Deus, contudo, logo colocou outra pessoa na sua
vida: um homem chamado Rodolfo Sneillus,
que, ao saber da história de Jakob, resolveu adotá-lo e leva-lo para Marburg.
Foi assim que, aos 16 anos, Jakob ingressou na Universidade de Leiden.
No mesmo ano em que ingressara na
Universidade, outra tragédia aconteceu. Em 1575, a sua cidade natal – Oudewater, que á época, estava sob o
domínio espanhol, mas havia se libertado desse domínio e se tornado
protestante, voltaria a ser atacada pelos espanhóis. A invasão foi sangrenta,
passando para a posteridade como o “Massacre
de Oudewater”, no qual a mãe de Jakob, seus irmãos e demais parentes foram
todos mortos. Portanto, somente Jakob sobraria de toda a sua família.
Na cidade de Leiden, o jovem
protestante adotou a forma latinizada de seu nome e, ao invés de Jakob Hermanszoon, passou a se chamar Jacobus Arminius. Concluiu seus estudos
nesta cidade em 1582, mesmo ano em que foi a Genebra para estudar com ninguém
menos do Teodoro Beza, amigo e sucessor do já falecido João Calvino.
Não ficou muito tempo em Genebra,
haja vista as controvérsias decorrentes do seu uso de técnicas ramistas, que
aprendera em Leiden. Estas técnicas foram criadas pelo professor calvinista
francês Pierre de La Ramée
(1515-1572) que eram ensinadas em algumas universidades protestantes.
De Genebra ele seguiu para a
Basileia e de lá para Amsterdã, onde recebeu o convite para pastorear, sendo
ordenado ao pastorado em 1588. Ganhou fama de bom pastor e ensinador. Em 1590,
casou-se com a jovem Lijsbet Reael.
Em 1603, após 15 anos de profundo ministério, Arminius encerra suas atividades como pastor para aceitar o cargo
de professor na Universidade de Leiden.
Foi em Leiden que começou os primeiros e históricos embates teológicos da
vida de Jacob Arminius, e o principal responsável pelos ataques desferidos
contra ele foi o teólogo e professor calvinista radical Fransciscus Gomarus (1563-1641). A principal divergência entre
eles, era em relação aos Decretos de Deus. Para entendermos essa divergência, é
necessário explicar o que vem a ser Calvinismo Infralapsariano e Supralapsariano.
1.1
Calvinismo Infralapsariano: é aquele
que afirma que os decretos divinos de eleição e condenação ocorreram após o
Decreto da Queda.
1.2 Calvinismo Supralapsariano: é aquele que assevera que os decretos divinos de
eleição e condenação, foram determinados por Deus antes mesmo do Decreto da
Queda; isto é, primeiro Deus planejou que alguns se salvariam e outros se
perderiam, para depois determinar do que eles seriam salvos (sic).
Portanto, Gomarus era adepto do Calvinismo radical
Supralapsariano, enquanto que Arminius era absolutamente contra deste
Calvinismo. A divergência entre os dois começou exatamente aí. No entanto, o
debate se intensificou mais quando Arminius acrescentou que a Confissão Belga
(1562) e o Catecismo de Heidelberg (1563),
ambos os documentos calvinistas, precisavam de reformas.
Isto irritou muito a Gomarus que queria uma explicação de
Arminius de quais reformas eles precisariam. Entretanto, Arminius preferiu se
calar por um tempo, para acalmar os ânimos. Vários debates públicos ocorreram
posteriormente entre eles, e a controvérsia ultrapassou a instituição onde
lecionavam e chegou a outras universidades, até que Gomarus e Arminius foram
chamados a comparecer a Suprema Corte de Haia para apresentarem seus
argumentos, que dividiam os acadêmicos protestantes no país.
Ao final da exposição de cada um, a Suprema Corte, formada por 8
Magistrados, declarou que as diferenças no que concernia á Doutrina da
Predestinação eram pequenas, e por isso, ambos deveriam aprender a conviver com
essas diferenças. Arminius acatou a resolução, mas Gomarus partiu novamente
para o ataque. De tantos que foram os ataques contra ele, Arminius pediu que se
formasse uma assembleia para ouvi-lo. Esta assembleia foi marcada para o dia 30
de outubro de 1608.
Nesta assembleia Arminius apresentou as reformas que ele tinha
em mente ao falar da Confissão Belga e do Catecismo de Heidelbeg. Ele disse acreditar que tanto o Calvinismo
Infralapsariano quanto o Supralapsariano, no fundo, carregavam o mesmo erro, e
expôs sua crença na predestinação a partir da presciência divina, apoiando-se em
Textos Bíblicos.
Contrariado, Gomarus, por sua vez, teve permissão para falar
sobre o pensamento de Arminius, mas somente no dia 12 de dezembro de 1608.
Nesta ocasião, atacou direta e agressivamente a Arminius, não tentou rebater
nenhum dos argumentos que Arminius apresentou fundamentado na Bíblia.
Arminius simplesmente argumentou que os dois textos – a
Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg, não estavam acima da Bíblia e,
como produções meramente humanas, estavam sujeitas a revisões e aperfeiçoamento.
Diante deste debate, momento em que Arminius usou somente o biblicismo para
apresentar sua opinião contrária a Gomarus, acabou com que mesmo alguns
discordantes de Arminius lhe dessem razão.
2. O Que
Apregoa o Arminianismo?
Em linhas
gerais, o que ensinava o Arminianismo ou, na verdade, o que é o Arminianismo?
Ele está pautado em ensinamentos a luz da Bíblia. Quais são estes ensinamentos?
1º - Que
Deus determinou salvar algumas pessoas e condenar as demais: Ele fez isso a
partir de Seu pré-conhecimento sobre a fé ou a incredulidade futuras dessas
pessoas. Ou seja, a eleição ou a condenação divinas não são decisões
arbitrárias de Deus, mas decisões tomadas por Deus desde a eternidade com base
em Sua presciência em relação as escolhas futuras das pessoas.
Romanos 8:29-30. Porque os que
dantes conheceu também, os predestinou,
para serem a conforme a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos.
(...)
1 Pedro 1:2. Eleitos segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e
aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.
*Obs: Os Calvinistas erram ao vincular a
presciência de Deus á causalidade. Ora, o texto Bíblico é bem claro: a
presciência vem antes da predestinação e da eleição. Estas decorrem daquela, e
não o contrário. Um exemplo clássico desse tipo de conhecimento divino é o da
oração de Davi sobre o povo de Queila (1 Samuel 23:1-13).
2º - A Doutrina
da Depravação Total do ser humano. Ensina que o ser humano é tão depravado
espiritualmente que precisa da graça de Deus tanto para ter Fé como para
Praticar boas obras. “Em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de
e por si mesmo, pensar, desejar ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é
necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou
vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito
Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar,
considerar, desejar e executar o que quer que seja verdadeiramente bom”.
(Arminius; FEICS, 2014). O homem não
regenerado é escravo do pecado e incapaz de servir a Deus com suas próprias forças (Romanos 3:10-12; Efésios
2:1-10).
Romanos 3:10-12. Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.
Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se
extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há ninguém que faça o bem,
não há nem um só.
3º - Que a
Graça Divina pode ser resistida. O próprio Arminius disse: “Creio, segundo as
Escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça
que lhes é oferecida”. São vários os Textos Bíblicos que deixam clara a
possibilidade de resistir a graça divina: (Gn 4:6-7; Dt 30:19; Js 24:15; 1 Rs
18:21; Is 1:19-20; Sl 119:30; Mt 23:37; Lc 7:30; At 7:51; 10:43; Jo 1:12; 6:51;
2 Co 6:1; Hb 12:5).
Gênesis 4:6-7. E o Senhor disse a Caim: Porque te iraste? E
porque descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E
se não fizeres bem, o pecado jaz a porta, e sobre ti será o seu desejo, mas
sobre ele deves dominar.
(...)
Salmo 119:30. Escolhi o caminho da
verdade; propus-me seguir os teus juízos.
(...)
2 Coríntios 6:1. E nós, cooperando também com ele, vos exortamos
a que não recebais a graça de Deus em vão.
*Obs.
É equivocado pensar que Deus não é absolutamente soberano se concede ao homem,
através de Sua graça preveniente, o livre-arbítrio, isto é, uma vontade livre
para escolher ou não a salvação. É verdade que ninguém merece a salvação, mas
se Deus resolver salvar uns e condenar outros sem conceder uma possibilidade
real de escolha para Suas criaturas, estará Deus manchando Sua justiça (Isaías
6:3).
4º - Que
Cristo morreu por todos. Os Arminianos
entendem e sustentam que realmente Cristo morreu por todos, mas Sua obra
salvífica só é levada a efeito naqueles que se arrependerem e creem.
João 1:12; 6:51. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome. (...). Eu sou
o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e
o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.
(...)
Hebreus 2:9. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele
Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da
morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.
*Obs.
Dito em outras palavras, a Expiação de Cristo é suficiente, mas só se torna
eficiente na vida daqueles que sinceramente se arrependerem de seus pecados e
aceitam Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas.
Portanto, trata-se de uma Expiação Universal Qualificada. Sendo assim, a
expiação de Cristo foi realizada em prol de toda a humanidade, mas só os que a
aceitam usufruem de sua eficácia.
5 – Que o
Ser Humano pode cair da graça. Sobre este ponto, o próprio Arminius preferiu
deixar em aberto essa questão, isso porque há muitos textos Bíblicos que
enfatizam a perseverança dos santos (o que defendem os Calvinistas) e há muitos
outros que sugerem a possibilidade de cair da graça, ou seja, de eventualmente
se perder a salvação (o que defendem os Arminianos).
Armínius escreveu: “Nunca ensinei que um verdadeiro crente pode, total ou
finalmente, cair da fé e perecer. Porém, não vou esconder que há passagens das
Escrituras que me parecem ensinar isso” (Arminius Works, volume 1, p.131).
Textos
sugeridos para consulta: Mt 24:12-13; Lc 9:62; 17:32; Jo 15:6; Rm 11:17-21; 1
Co 9:27; 15:1-2; 2 Co 11:3-4; Gl 5:4; 1 Tm 1:19; 4:1; 2 Tm 2:10,12; Hb
3:6,12,14; 2 Pe 2:20-22; Ap 3:5.
Mateus 24:12. E, por se multiplicar
a iniquidade, o amor de muitos esfriará.
(...)
1 Coríntios 9:27. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à
servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a
ficar reprovado.
(...)
Gálatas 5:4. Separados estais de Cristo, vós os que vos
justificais pela lei; da graça tendes caído.
(...)
Apocalipse 3:5. O que vencer será vestido de vestes brancas, e
de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu
nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
*Obs.
O fato de sabermos que temos segurança em Cristo não deve nos levar a relaxar
em nossa vida espiritual, pois tal atitude pode, se não tomarmos cuidado, nos
levar, mais à frente, a perecermos espiritualmente.
C. Spurgeon certa ocasião, comentando 1 Timóteo 2:3-6, que afirma que Deus
deseja “que todos os homens sejam salvos” e Cristo se entregou “por todos”,
escreveu: “E então? Tentaremos colocar um outro sentido no texto do que já tem?
Penso que não. Entretanto, os Calvinistas mais velhos lidaram com esse texto
“todos os homens”, e diziam eles que o texto quer dizer “alguns homens”, como
se o Espírito Santo não pudesse ter falado “alguns homens” se quisesse ter
falado isso.
Enfim, não devemos tratar nossos amigos
Calvinista como “hereges perniciosos”, o que nunca foram, mas também devemos
nos conscientizar que o Arminianismo é, sem dúvida alguma, a melhor explicação,
à Luz da Bíblia, para a mecânica da Salvação. Tanto um quanto o outro honram a
Deus, sendo que o Arminianismo o faz de uma forma muito mais coerente à Luz do
Texto Sagrado, sem forçar alguma aparente contradição (...). Ensinemos, pois, o
Arminianismo.
Autor do
Artigo: Pastor Silas Daniel. Membro da Assembleia de Deus em Augusto
Vasconcelos, Rio de Janeiro (RJ);
Extraído
da Revista: Obreiro Aprovado. Em Defesa do Arminianismo. Edição Nº 68, Ano 36,
CPAD, 2014.
Irmãos, a Paz de Cristo.
ResponderExcluirAchei importante transcrever resumidamente o artigo escrito pelo Pastor e Jornalista Silas Daniel, pois dias antes, havia inserido no blogger, as diferenças básicas das doutrinas Calvinistas e Arminianistas. Portanto, se você quiser se aprofundar mais sobre o assunto, adquira a revista, mas, caso não queira, a síntese transcrita aqui está em sua forma original, somente escrevi textualmente algumas passagens Bíblicas que o autor apenas faz referências, entendendo que assim ficará mais claro o entendimento da matéria.