Tenho
por costume visitar minha mãe aos domingos. E, neste último, tive o privilégio
de estar com ela na casa de minha irmã, Adê. E o melhor ainda, foi que apareceu
mais dois de meus irmãos, Adonias e Adilson. Enquanto minha irmã preparava o
almoço, ficamos na sala assistindo uma entrevista com Acelino de Freitas – o
Popó, como também, depoimentos de sua mãe e irmãos.
Nós
todos que estávamos na sala, enquanto víamos e ouvíamos esses depoimentos,
fizemos um retorno ao passado. A história de vida deles, em muito se
assemelhava a nossa (igual a de inúmeras pessoas espalhados pelo mundo), por
isso, eles se emocionavam ao falar do sofrimento vivido na infância e
adolescência na Bahia, enquanto nós todos também.
Uma
das falas do Popó que foi muito marcante para mim, foi quando ele disse ter um
“trauma” de ver uma geladeira vazia, somente com água. Noutras palavras,
durante boa parte de sua infância foi a cena mais comum e habitual vivida por
ele e por seus irmãos. Logicamente, amigos e leitores, continua a existir bem próximo de nós, pessoas, e não são poucas, que estão passando neste exato
momento pelo mesmo problema (trauma) vivido por esta família brasileira.
Nosso
desabafo e reflexão, pautar-se-á basicamente numa questão muito simples: o
esporte, a arte, a música, a literatura, o cinema, o teatro, entre outras
coisas, é uma forte ferramenta para a inclusão social. Poderíamos citar inúmeros exemplos para respaldar esta afirmativa. Acredito que todas as pessoas
que estarão lendo este texto, deve conhecer alguém próximo (ou distante) que
passou por este tipo de experiência em sua vida. E hoje desfruta de uma vida
bem mais tranquila e com certa comodidade financeira e social (eu posso me
inserir nesta relação).
Entretanto,
gostaria muito de chamar sua atenção para outra questão que, talvez, não seja
tão simples assim, principalmente para pessoas que tiveram esta terrível
experiência, mas que, desfrutam na atualidade de uma vida totalmente “exagerada”
(mera ostentação). Para melhor entendimento, colecionam em suas garagens uns
simples “carrinhos” como uma lamborguini, uma ferrari, um porsche etc. Além de
outros bens materiais de grande valor monetário. Eles, por certo, se esquecem
de que essas posses não irão descer com eles para a sua sepultura: “E disse: Nú
sai do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá”(cf. Jó 1:21).
Noutras
palavras, outras pessoas irão desfrutar dos bens que vocês “se esforçaram” para
adquirirem: “O fruto da tua terra e todo o teu trabalho, o comerá um povo que
nunca conheceste (não fez nada para adquiri-lo); e tu serás oprimido e
quebrantado todos os dias” (cf. Deuteronômio 28:30-33; Jeremias 8:10). Alguns
ainda defendem que não devemos se “lembrar” de nosso passado. Costumam dizer a
seguinte frase: “o que passou, passou. Agora estamos vivendo outra vida e outro
momento”!
Tenho
um pensamento totalmente contrário a esta fala, pois defendo que é o nosso
passado que poderá ter grande influência em quem “somos” (ou seremos) ou em
quem iremos nos “tornar” no futuro. O Seu ou o Meu sofrimento, não deve ser a
razão única de sua arrogãncia e soberba atual. Ou, ainda, o único motivo de seu
fracasso.
As
ciências humanas afirmam que a Personalidade humana é formada entre 0 e 7 anos
de idade e, que, a formação de nosso Caráter se dá entre os 8 aos 12 anos de
idade. Sendo assim, tudo o que aprendermos no “passado”, isto é, entre esses
anos de nossa vida, levaremos para o “futuro”, sejam ensinamentos bons ou
ruins. Toda esta formação e constituição humana, será basicamente gerada pela
herança genética de nossos pais e, também, pela influência do meio em que
passaremos boa parte de nossa convivencia social.
Ainda
existe uma outra questão que atribuo como sendo mais terrível ainda: pessoas
que passaram por um período de grande miséria e infelicidade em sua infância,
mas a vida lhes proporcionou dar a volta por cima, estando numa vida bem
confortável e regalada na atualidade. No entanto, não querem, não se aproximam
(ou não deixam que se...) e nem pensam
em ajudar seus familiares que continuam em estado de miserabilidade.
1 Timóteo 5:8. Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e
principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel
(grifamos).
Pense
juntamente comigo: se a pessoa não pensa em ajudar os de “sua propria família”,
ela irá mover um dedo para ajudar uma viúva, um órfão ou um necessitado
qualquer (andarilho ou morador de rua etc.)? De maneira alguma. Ela era ou se
tornou num “avarento” de carteirinha. Totalmente mesquinho e voltado com os
olhares para o seu próprio umbigo.
Fico
muito feliz quando vejo atitudes contrárias a esta. Uma pessoa afamada
socialmente e de grandes posses na atualidade, que não possui nenhum grau de
parentesco com as pessoas, mas que brotou em seu coração o desejo de ajudar uma
instituição filantrópica que cuida de crianças e/ou de idosos, ou uma família
ou uma comunidade periférica, e assim por diante. Atitude que demonstra, ao meu
ver, dois sentimentos ou virtudes louváveis: gratidão e compaixão. Gratidão por
tudo que Deus lhe tem proporcionado viver. E compaixão ao ver pessoas iguais (seres
humanos), passando por tamanho sofrimento e necessidade.
No
Brasil, e em boa parte do mundo, muitas coisas fogem da “realidade social”.
Para algumas coisas adotam-se muito rigor, como por exemplo, ao “proletariado”[1]
é estipulado um teto salarial mínimo, que não dá nem para sobreviver
dignamente:
Art. 7º São direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem á melhoria de sua
condição social:
(...).
IV – Salário mínimo,
fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades
vitais básicas e ás de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes
periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo (grifamos), sendo vidada
sua vinculação para qualquer fim;
Poderíamos
sublinhar todo este inciso IV, do Caput deste artigo Constitucional. Tenho grande
tristeza ao ler e escrever acerca deste artigo de nossa Carta Magna, pois ele
nunca teve a plena eficácia em sua aplicação. O valor estipulado para este
salário mínimo, não tem como alcançar e atender todas as necessidades vitais
básicas do pobre trabalhador assalariado, conforme apresentado no texto
Constitucional.
Além
disso, todos os anos assistimos uma disputa acirrada entre os parlamentares, para
se chegar ao acordo sobre o percentual de aumento salarial, para ser dado aos bravos
trabalhadores brasileiros. Entretanto, quanto o aumento trata-se da classe
“burguesa” brasileira (Desembargadores, Procuradores
e Juízes federais, Ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal
de Justiça, Senadores, Deputados federais, Governadores, entre outros cargos
Públicos e Políticos em geral, etc.), resolve-se rapidamente a aprovação dum percentual
bem elevado para a categoria.
Você
poderia dizer: mas existe vedação na Constituição Federal que proíbe o
recebimento salarial excessivo, pelas pessoas que ocupam certos cargos, funções
e empregos públicos da Administração Direta, Autárquica ou Fundacional. Como também, das pessoas que ocupam cargos do
Poder Legislativo e do Poder Judiciário Brasileiro (cf. Art.. 37, incisos XI a
XV, CRFB).
Realmente
existe, entretanto, quero te lembrar acerca desses funcionários, de que eles
possuem direitos a vantagens e benefícios que acabam elevando exorbitantemente
seus vencimentos; tais como: verbas para o pagamento de aluguel, gasolina,
viagens, contas de telefone, para seus assessores, auxílio paletó,entre outras. Pesquisa feita recentemente, assegurou que
cada um dos 513 deputados brasileiros e dos 81 senadores custam mais de $ 7
milhões por ano, isto é, seis vezes mais que um parlamentar francês, por
exemplo. É o parlamento mais caro do mundo, perdendo apenas para os Estados
Unidos.
Outras
categorias profissionais também são beneficiadas com este “mal” costume
brasileiro, por exemplo, os atletas profissionais, principalmente os jogadores
de futebol, com salários tão aviltantes. Poder-se-ia perguntar: não poderia
existir um “teto” salarial mínimo também para todas as demais categorias profissionais?
Acredito que sim.
Nosso
desabafo tem como objetivo, trazer a memória de cada leitor, inclusive daqueles
que se enquadram na posição de “bem-afortunado”, para fazer uma reflexão sobre a sua vida e, quem sabe, mudar de
atitude e começar a pensar também nos outros, em vez de apenas em si mesmo. Muitas
e muitas pessoas, estão vivendo em estado de pobreza e miserabilidade no Brasil (e no
mundo). E a partir de então, tomar a
inciativa de ajudar alguém ou uma entidade que cuida de pessoas em estado de extrema
pobreza. Com isso, poderão estar
contribuindo para mudar um pouco o destino de tantas e tantas pessoas. Gesto
este, revestido de verdadeira gratidão e
duma sincera compaixão pelo próximo. Seria mais ou menos assim: “ajudar alguém,
sem saber a quem e, muito menos, sem esperar receber algo em troca”.
Precisamos tentar cumprir os dois maiores e
melhores Mandamentos ordenados por Jesus Cristo: “Amar a Deus acima de todas as
coisas, e amar o próximo como a ti mesmo” (cf. Mateus 22:37-39). Precisamos voltar a ter sensibilidade quando
vemos uma pessoa ás margens da sociedade (de nossas ruas) mal vestida e faminta, implorando, mesmo sem dizer uma única
palavra, para que demos-lhe um pouco de atenção e de cuidados. Se realmente
proclamamos por mudanças sociais, elas devem começar conosco. Pensemos mais
sobre isto! Depois, que possamos colocar
numa prática diária em nossas vidas.
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