Assistindo uma palestra para
educadores no município de Cariacica/ES, ministrada pela professora Luiza
Mitiko Yushiguro Camacho, foi apresentado o resultado de uma pesquisa realizada
sobre violência, com o propósito de comparar o comportamento entre alunos de
duas escolas: uma da rede pública e outra da rede privada de ensino. O público
alvo tratava-se de alunos da 6ª a 8ª séries do ensino fundamental. Atualmente
do 7º ao 8º ano do Ensino Fundamental. As comparações se deram pela forma de
agressividade praticada por esse público estudantil. Nesse sentido, apresentaremos
algumas variantes da pesquisa:
Na escola da rede particular: foi observada uma violência
praticada por grupos de alunos, onde preponderava a violência verbal, ou seja,
uma violência sem agressões físicas. Sua ocorrência se dava no ambiente ou
espaço interno da escola, constatando-se flagrante discriminação contra os
considerados feios, gordos, moradores de bairros pobres, mas, também, contra
alunos inteligentes e de boa aparência física ou de melhor condição financeira.
Na escola da rede
pública: a violência
era praticada por grupos de alunos diferentes, que se destoavam dos demais,
como os mais obesos, fortes, bagunceiros, maiores em estatura e mais velhos; contra os alunos mais jovens, menores, impotentes
e mais fracos. Nesse ambiente, segundo a professora, imperava a agressão
física. E ocorria de forma explícita e visível, tanto no espaço físico como
também no entorno da escola.
Nota-se que em ambas as instituições
de ensino, os atos de violência apresentados caracterizam-se e amoldam-se de
uma agressividade que cresce vertiginosamente entre os estudantes – o bullying.
Termo que surgiu na década de 80 na Noruega, comportando o significado de
"valentão", usada para descrever a violência física e/ou psicológica, realizada de forma
intencional, repetida e praticada por um ou mais indivíduos.
O cientista sueco – Dan Olweus
trabalhou por muito tempo em Bergen, na Noruega, e definiu o bullying por três
atitudes cotidianas e principais:
1ª - o comportamento é agressivo e
negativo;
2ª - é realizado repetidas vezes e de
forma continua, ou seja, por muito tempo e várias vezes ao dia;
3ª - em regra, decorre de
relacionamentos onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas;
quer seja por seu porte físico, quer seja por sua popularidade ou pelo fator
socioeconômico, entre outros.
O programa televisivo Profissão
Repórter, que é exibido pela rede Globo de Televisão, já noticiou alguns casos
sobre a matéria em questão. Mas gostaria de registrar o de um jovem de 16 anos,
que vinha sofrendo por três anos consecutivos, com o assédio de colegas na
escola em que estudava. Não suportando tamanha humilhação e sofrimento, decidiu
por fim a agressividade sofrida, interrompendo de forma trágica a trajetória de
sua vida, suicidou-se.
Um dos primeiros casos desta violência
“escolar” que resultou na morte de várias pessoas, trouxe a conhecimento do público este novo fenômeno
social. Ele ficou conhecido como "o massacre de Columbine High
School". Escola famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores dos
times de futebol americano, basquete e beisebol. Eric Harris, 18 anos, e Dylan
Klebold, 17 anos, eram aparentemente adolescentes típicos de um subúrbio
americano de classe média alta e moravam em casas confortáveis.
Pertenciam a um grupo intitulado de
"Máfia da Capa Preta", por usarem constantemente longas capas de cor
preta (sobretudo ou casacão de uso masculino). Por esse e outros motivos, eram
ridicularizados pelos atletas esportivos. Certo dia entraram na escola
secundária com armas de grosso calibre, escondidas por debaixo das capas e
começaram a atirar nas vítimas, matando pelo menos 13 pessoas (doze alunos e um
professor) e, em seguida se suicidaram.
Segundo registra o site http://www.columbine.hpg.ig.com.br" Os dois jovens eram ótimos
alunos e de boa família, mas não eram populares na escola. Preferiam passar boa
parte do tempo com os computadores do
que nas quadras de esporte. Solitários, vestiam-se de preto da cabeça aos pés.
Por certo, guardaram ressentimentos por muito tempo e, também, fizeram planos
para se vingarem.
Algumas formas de agressões, verbais
ou físicas, são praticadas intencionalmente e de forma constante, o pior é que,
no ambiente escolar, pode durar o ano todo. Entre elas, cita-se por exemplo, apelidos
jocosos, espalhar boatos difamatórios, criticar o modo de falar e se vestir ou
aspectos socialmente significativos para certas pessoas, tais como: religiosidade,
etnia, cultura, orientação sexual, entre outros. Esses comportamentos podem vir
a afetar o estado físico e psicológico da vítima. Segundo leciona Maria Irene
Maluf, especialista em psicopedagogia e em educação especial:
A
situação é alarmante: hoje, uma das mais constantes queixas que se encontra nas
escolas, [...], é a dificuldade de se lidar com esse potencial instintivo que
parece ter renascido com toda força no final do século XX. [...], envolvendo
uma forma de afirmação de poder através de atitudes onde a agressividade
intencional, repetitiva, ultrapassa a brincadeira entre iguais.[...]. Estudos
têm mostrado que é necessária uma interação complexa de fatores que elevam o
risco [...] de condutas violentas nas crianças e jovens, para que o bullying
apareça: ter vivido ou sofrido violência, abuso sexual ou físico, excessiva
exposição à violência através de jogos, televisão, uso de drogas, fatores
socioeconômicos prejudicados, família desestruturada, problemas psiquiátricos,
entre outros”.
Outro caso triste ocorreu com o jovem
Jeremy que se matou em 8 de janeiro de 1991, aos 15 anos de idade. O suicidio
ocorreu dentro da sala de aula numa escola na cidade de Dallas – Texas, nos
Estados Unidos, em frente a 30 colegas e da professora de inglês, como forma de
protesto pelos atos de perseguição que sofria constantemente. Esta história
inspirou a música Jeremy, interpretada por Eddie Vedder, vocalista da banda
estadunidense Pearl Jam.
Parece que esse fenômeno só ocorre nos
Estados Unidos, mas não é bem assim! Em
2011, a Escola Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do estado do Rio de
Janeiro, foi cenário de imagens de
horror, quando as salas de aula foi invadida por um homem armado, resultando na
morte de 11 alunos (10 meninas e 1menino)
e aproximadamente 13 pessoas feridas (10 meninas e 3 meninos).
O atirador, Wellington Meneses, 23
anos, ex-aluno da escola, entrou na
escola Tasso da Silveira, carregando uma
bolsa a tira colo, foi em direção a primeira sala de aula, onde a turma da
oitava série estudava, sacou duas armas e começou a atirar nos alunos de
maneira indiscriminada. Depois entrou em
outra sala de aula e efetuou vários disparos de arma de fogo. As vítimas tinham
idades entre 12 a 15 anos.
No entanto, os registros desse tipo de
violência urbana naquele país é alarmante. Veja outro fato que se deu no pátio
duma escola secundária: o aluno do 8º ano - Curtis Taylor, na cidade de Iowa,
nos EUA, foi vítima de bullying contínuo por três anos, o que incluía apelidos
maldosos, espancamentos no vestiário, tinha a camisa do uniforme suja constantemente
e seus pertences eram vandalizados. Tudo isso acabou por levá-lo ao suicídio em
21 de março de 1993.
Portanto, percebe-se que os casos de
violência praticadas dentro das escolas, tem sua maior incidencia nos estados
americanos, mas, infelizmente, tem se alastrado por outros paises, inclusive em
outros continentes. Nesse sentido, certa ocasião, o jornal A Tribuna/ES, trouxe
duas matérias acerca de violência contra crianças numa escola na China,
protagonizadas por um fazendeiro e um homem desempregado: o primeiro,
identificado como Wang Yonglai, entrou numa escola primaria na cidade de
Weifang, leste do país. Em seguida, agarrou-se a duas crianças e ateou fogo em
seus corpos. Cinco crianças ficaram feridas, mas nenhuma em estado grave.
Enquanto que o autor desse ato insano veio a falecer.
O segundo caso, envolveu um homem de
47 anos, desempregado, que invadiu um jardim de infância, vindo a ferir 28
crianças e três adultos com uma faca. O fato se deu na provincia de Jiangsu, no
leste da China. Ressalta-se que esses dois últimos registros, destoam
totalmente do cometimento da violência caracterizada como bullying. Para tanto,
se somam aos inúmeros casos de violências que estão sendo praticadas no
ambiente escolar.
Um dos casos mais recentes, ocorreu no
dia 14 de fevereiro deste ano, na escola pública de Parkland, na Flórida (EUA),
cidade com aproximadamente 30 mil habitantes. Neste ato, um atirador desferiu
vários tiros pouco antes do fim das aulas da tarde de quarta-feira, por volta
das 15 horas (horário local).
Ele foi identificado pela imprensa
como sendo Nicholas Cruz, 19 anos, aluno da Marjory
Stoneman Douglas High School, onde aconteceu toda a tragédia. Em matéria
jornalística divulgada, foi confirmada a morte de 17 pessoas: sendo que 12
dentro da escola; 2 outras vítimas no pátio; 1 outra morreu numa rua próxima a escola e 2 outras morreram no hospital.
Pode-se concluir que realmente o
bullying tem sua maior incidência no ambiente escolar, mas que também ultrapassa
este limite, atingindo inclusive o plano físico e psicológico das vítmas,
geralmente crianças e adolescentes. Tanto os autores como as vitimas, podem ser
de todas as faixas etárias e classe social. E por falar em autores e vítimas,
podemos destacar três tipos de personagens nesta triste historia:
Os Agressores: sentem prazer em humilhar as pessoas
e causar-lhes vergonha, principalmente em público. Costumam ser os mais
populares - “descolados”, bonitos, magros, boa situação financeira, extrovertidos, fortes etc.;
As Vítimas: são muito caladas e vergonhosas, não
se manifestam às provocações por medo, entre outras coisas. Geralmente são mais
antissociais – “caretas”, feios, gordos, pobres, introvertidos, fracos ou com
algum tipo de deficiência, por exemplo, visual
(por ter miopia e usar óculos de grau) etc. e,
Os Expectadores: podemos dividi-los em duas
categorias: 1ª – são aqueles que ficam
“em cima do muro”, ou seja, estão vendo tudo acontecer, mas não dizem nada. Não
querem se envolver por medo de ser a próxima vítima e, 2ª – são aqueles que
debandam pro lado do mais forte, isto é, atuam como coniventes e até incentivam
as provocações e/ou agressões. Tem um ditado popular que diz assim: “Se eu não
posso com o inimigo, junto-me a eles”.
O bullying deixou de ser uma violência
restrita apenas às escolas e tem avançado vertiginosamente para outros setores da
sociedade, principalmente no ambiente de trabalho, seja em quaisquer áreas profissionais.
E não se espantem, também é praticado em
locais ou setores religiosos. Neste caso, o que muda é o ambiente e a idade de
seus personagens.
Por certo, quanto ao ambiente escolar,
medidas urgentes devem ser implementadas, para que se evitem tragédias como as de
Columbine, Realengo, Parkland e tantas outras registradas em varias
partes do mundo. Quando praticada noutros setores sociais, que sejam aplicadas
as medidas cabíveis e rígidas a cada caso (Assédio Moral ou Assédio Sexual). Não se cale, denuncie!
EDUARDO VERONESE DA SILVA
Licenciatura Plena em Educação Física – UFES.
Bacharel
em Direito – FABAVI/ES.
Pós-graduado
em Direito Militar – FCB/RJ
Resolvi reeditar este texto, devido ao tema estar novamente em debate e discussão devido a sua gravidade. Neste Domingo (03/11/19), foi uma das matérias do Fantástico. Ontem (04/11/19), também o mesmo tema foi apresentado na novela As Aventuras de Poliana, do SBT. Não tive tempo de fazer atualizações, pois já faz algum tempo que o escrevi. Acrediito que mesmo assim, será de grande importância para ampliarmos nosso conhecimento e debates.
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