WASHER, Paul. Segurança e Advertências do Evangelho. São Paulo: Fiel, 2015.
Prefácio
Como
é de conhecimento comum, a palavra evangelho vem do vocábulo grego euangélion corretamente traduzido como
“Boas Novas”. Em certo sentido, toda pagina da Escritura contém o evangelho,
mas em outro sentido, evangelho se refere a uma mensagem muito específica – a
salvação realizada para um povo caído mediante a vida, morte, ressurreição e
ascensão de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Conforme o bom prazer do Pai, o
Filho eterno, igual ao Pai, e representação exata da natureza divina,
voluntariamente deixou a glória do céu, foi concebido pelo Espírito Santo no
ventre de uma virgem (Maria), e nasceu Deus-homem; Jesus de Nazaré[1].
Como homem, andou sobre a terra em perfeita obediência à Lei de Deus. Na
plenitude dos tempos, os homens o rejeitaram e crucificaram. Sobre a cruz,
Jesus Cristo carregou o pecado do homem, sofreu a ira de Deus e morreu no lugar
do homem (1 Pedro 2:24; Isaías 53:10).
A sua ressurreição ao terceiro dia,
é a declaração divina de que o Pai aceitou a morte de seu Filho como sacrifício
pelo pecado do homem. Ele pagou a penalidade pela desobediência do homem,
satisfez as exigências da justiça e aplacou a ira de Deus (Lucas 24:6; Romanos 1:4).
Estando
assentado à mão direita do Pai, nos céus, isto é, na presença de Deus, Jesus
representa o seu povo e intercede a seu favor junto a Deus. Todos aqueles que
reconhecem seu estado pessoal de incapacidade e pecado, e se lançam sobre a
pessoa de Cristo, são perdoados
completamente, declarados justos, e reconciliados com Deus[2]. Este
é o evangelho de Deus e de Jesus Cristo, seu Filho.
Um
dos maiores crimes cometidos pela recente geração cristã é a negligência do
evangelho, e é desta negligência que surgem todos os outros males. Porque
muitos dos que proclamam o evangelho são ignorantes (não detém conhecimento)
das suas verdades basilares, que são o cerne do evangelho – a justiça de Deus; a total
depravação do homem; a expiação pelo sangue;
a natureza da verdadeira conversão e a base Bíblica para a segurança da salvação, estão
demasiadamente ausentes dos púlpitos (p.10-11).
Está
havendo um reducionismo evangélico, ensinando que a conversão é mera decisão
humana e pronunciando a segurança da salvação sobre qualquer pessoa que faça a
oração do pecador. Com esta mensagem reduzida, ocorrem resultados drásticos,
tais como:
Primeiro,
maior endurecimento do coração dos não convertidos. Milhões de pessoas não transformadas
pelo verdadeiro evangelho de Jesus Cristo andam pelas ruas e se assentam nos
bancos da igreja, estando convencidos de sua
salvação por terem levantado suas mãos numa campanha evangelística ou por
repetirem uma oração.
Segundo,
esse evangelho deforma a igreja, transformando-a de um corpo espiritual de
cristãos regenerados para um ajuntamento de homens carnais que professam
conhecer a Deus, mas O negam por suas obras e ações (Tito
1:16).
Terceiro, um
evangelho desse tipo reduz o evangelismo e missões a pouco mais que um esforço
humanista, impulsionado por hábeis estratégias de mercado baseados em estudo
cuidadoso das últimas tendências da cultura. Existe hoje maior ênfase em
compreender nossa cultura caída, bem como seus modismos, do que em compreender
e proclamar a única mensagem que tem o poder de salvá-la. Esquecemo-nos de que
o verdadeiro evangelho é e sempre será relevante a cada cultura, porque é a
Palavra eterna de Deus a todo e qualquer homem (p.12).
Quarto,
esse evangelho traz vergonha ao nome de Deus. Por ele, os carnais e não
convertidos entram na comunhão da igreja, e pela quase total negligência da
disciplina Bíblica, é-lhes permitido permanecer sem que sejam corrigidos ou
repreendidos. Isso macula a pureza e reputação da igreja, blasfemando o nome de
Deus entre os incrédulos (Romanos 2:24). Sendo
assim, o nosso Deus não é glorificado, nem a igreja é edificada, o membro não
convertido não é salvo e a igreja tem pouco ou nenhum testemunho ao mundo
descrente.
Como
mordomos de Deus, não nos cabe ficarmos de braços cruzados e nada fazermos,
pois temos o dever de recuperar o único evangelho verdadeiro e proclamá-lo com
ousadia e clareza a todos. Faremos bem em entender as palavras ditas por Charles
Haddon Spurgeon sobre esse assunto:
Nesses dias, sinto-me obrigado a passar
repetidamente pelas verdades elementares do evangelho. Em tempos de paz,
podemos sentir liberdade para fazer excursões aos distritos interessantes da
verdade que estão em campos mais longes; mas agora é necessário que fiquemos em
casa, guardando os corações e lares da igreja ao defender os primeiros
princípios da fé. Nesta era, homens que dizem coisas pervertidas têm surgido na
própria igreja. Pode ser que haja muitos que nos perturbem com suas filosofias
e interpretações novas, pelas quais negam as doutrinas que professam ensinos, e
minam a fé que prometeram guardar. Faz bem que alguns de nós, que conhecemos
aquilo que cremos, e não temos significados secretos para nossas palavras,
firmemos o pé e mantenhamos nossa
posição, proclamando a palavra da vida, e declarando com simplicidade as
verdades fundamentais do evangelho de Jesus Cristo.
É minha esperança que estas palavras
sejam guia para ajuda-lo na redescoberta do evangelho em toda a sua beleza, escândalo e poder salvador.
É minha oração que essa redescoberta possa transformar a sua vida, fortalecer a
sua proclamação e trazer maior glória a Deus.
Seu
Irmão,
Paul David Washer.
Cap.
1 Segurança Bíblica: Falsa Segurança.
Tito
1:16.
Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados
para toda a boa obra.
(...)
Mateus
7:22-23.
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que
praticais a iniquidade.
(...),
chegamos a um lugar crucial no estudo do evangelho e da salvação. Como posso
saber que nasci de novo, que sou verdadeiramente filho de Deus? Como saber que tenho realmente crido para a
vida eterna? A seriedade dessa questão se torna mais aguda, porque a pregação e
o evangelho no século XXI alteraram de maneira radical o conteúdo do evangelho;
a sua chamada e o meio pelo qual as pessoas obtém a segurança da salvação.
O chamado ao evangelho de
arrependimento e fé foi substituído por um chamado para aceitar a Cristo e
repetir a oração do pecador; que frequentemente se encontra no final dos
folhetos e na conclusão de convites públicos cheios de emoção e muitas vezes
manipuladores. (...), essa segurança é garantida por um pastor bem
intencionado, que rapidamente pronuncia a plenos benefícios da salvação sobre qualquer pessoa que tenha
orado pedindo para receber a Cristo, mesmo que seja sem qualquer grau aparente
de sinceridade (p.17-18).
Essas drásticas alterações no
evangelho resultam em multidões de pessoas com pouca evidência da graça
salvadora (...). Elas acreditam que foram salvos; carrega no coração essa
segurança, e têm a afirmação de uma autoridade religiosa. Raras vezes ouviram
uma advertência evangélica para esvaziar confessores de fé, nem foram
admoestados[3] a fazer
um autoexame á luz das Escrituras ou testados á procura de evidências objetivas
de conversão. Não sentem a urgência nem encontram necessidade de tornar verdadeiros
seus chamados à eleição (Mateus 7:13-27; 2 Coríntios
13:5; Tito 1:16; 2 Pedro 1:10).
1.1
Uma Advertência a Pastores: (...), essas opiniões faltosas e perigosas são
resultado de ministros que pregam negligentemente, manuseando o evangelho sem
nenhuma cautela, tratando da alma das pessoas de maneira superficial. O estudo
sério e dedicado da verdade Bíblica, é a única coisa que possui o poder de dar
aos homens uma alta visão de Deus, uma estima certa pelo evangelho e um
saudável temor de descartar a solene responsabilidade imposta sobre os
pastores.
Os homens
que usam do reducionismo do evangelho (acréscimo nosso)
trocaram seus mantos por
metodologias, profecia por
pragmatismo e o poder do Espírito
Santo por estratégias de mercado habilmente maquinadas. Como pastores a quem
muito foi dado e de quem muito será requerido, precisamos guardar, por
intermédio do Espírito Santo, o tesouro que nos foi confiado. Temos que voltar
aos antigos caminhos marcados pela Palavra de Deus (Lucas
12:47-48; 2 Timóteo 2:14; Jeremias 6:16).
Precisamos estar absorvidos pela
Escritura, para que nosso progresso na piedade e nossa utilidade para o
ministério do evangelho sejam evidentes a todos. Temos de cuidar de nós mesmos
e de nosso ensinamento, especialmente ao ensinarmos o evangelho, pois quando o
fazemos, asseguramos tanto nossa própria salvação quanto de nossos ouvintes. O
destino eterno das pessoas e a reputação da igreja dependem de nossa diligência
e fidelidade nessas altas questões (1 Timóteo 4:15-16).
Temos de nos lembrar de que Cristo
tem uma igreja composta por aqueles que foram regenerados pelo poder do
Espírito Santo, que se arrependeram e creram para a salvação e continuam
andando e crescendo na graça. Esta igreja é criação de Deus e uma de suas obras
mais espetaculares. A igreja é um empreendimento importante, e todos nós,
ministros e leigos igualmente, fomos chamados a contribuir para sua edificação,
e não para causar danos insuportáveis. Essa ameaça presente, foi o que motivou
a admoestação do apóstolo Paulo à igreja da cidade de Corinto.
1 Coríntios 3:11-15. Porque ninguém pode pôr outro
fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre
este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira,
feno, palha. A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará,
porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.
Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se
a obra de alguém se queimar; sofrerá detrimento (dano, perda); mas o tal será
salvo, todavia como pelo fogo.
Jesus
Cristo é a pedra fundamental da igreja
(angular ou de esquina), portanto, o seu fundamento é inabalável. Por outro
lado, fomos chamados a contribuir sobre esse fundamento com temor e tremor que
flui de duas fontes: Primeira,
sabemos que nossas contribuições podem fortalecer ou enfraquecer e embelezar ou
estragar a beleza da igreja (Salmo 118:2; Josué 28:16;
Mateus 21:42; Atos 4:11; 1 Pedro 2:6-7).
Segunda,
sabemos que seremos julgados pela qualidade de nosso ministério para com a
igreja. Naquele dia, o valor de nosso labor será revelado pelo fogo. Mesmo que
sejamos salvos pela graça de Deus e pelo sangue do Cordeiro, é possível que
testemunhemos a queima de todos os nossos esforços. Esses e outros aspectos,
deveriam mover o ministro do evangelho a ser cuidadoso em suas atitudes, principalmente
na pregação do evangelho e no cuidado das almas (p.20).
1.2 Os Perigos da Falsa
Segurança: Muitos têm tratado o evangelho de forma relaxada,
generalizando suas verdades essenciais e reduzindo seu conteúdo do mais baixo
denominador comum, a fim de incluir maior número de pessoas que professam, para
que façam parte da comunhão. O glorioso evangelho de nosso Bendito Deus se
tornou um credo raso, composto de algumas leis ou princípios espirituais.
Devido
a um púlpito enfraquecido por ignorância, pragmatismo e temor, a igreja
professante está cheia de pessoas que nunca foram, de verdade, confrontadas com
o evangelho de Jesus Cristo. Nunca ouviram nenhuma advertência do evangelho e
possuem pouco entendimento da segurança Bíblica autentica. Além disso, muitos
evangélicos explicam a falta de santificação dessas pessoas e seu mundanismo
por uma dos mais perigosos termos que já apareceu: o Cristão Carnal.
Essa
doutrina é uma contradição direta dos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos.
Além do mais, isso abre a porta para pessoas carnais e não regeneradas
encontrarem segurança da salvação ou olhar a aparente sinceridade de sua
decisão passada de comunhão, mesmo que seu modo de vida contradiga tal
profissão (p.21-22).
1.3 Salvação de Senhorio:
existe um debate entre os cristãos sobre esse tema. Os proponentes deste ensino
creem que a salvação requer que a pessoa não somente receba a Jesus Cristo como
Salvador, mas também como Senhor. O outro grupo ensina e defende que, para que
a pessoa seja salva, ela precisa apenas receber a Cristo como seu Salvador.
Eles argumentam que exigir a submissão do senhorio de Cristo seria contradizer
a doutrina da salvação somente pela graça e somente mediante a Fé. Eles acrescentam em sua defesa que “Se uma
pessoa tem de se submeter ao senhorio de Cristo para obter a salvação, então
ela deixa de ser baseada na graça, e passa a ser baseada nas obras” (Efésios 2:8; Romanos 11:6).
Defendo que o
chamado à submissão ao senhorio de Jesus seja aspecto inerente e essencial do
chamado do evangelho aos pecadores. Além do mais, defendo que o crescimento
daquele que professa ser cristão é um progresso gradativo na submissão ao
Senhor Jesus Cristo e é evidência da conversão autêntica. Minhas convicções são
fundamentadas sobre as seguintes verdades:
Primeiro, Cristo ensinou a absoluta necessidade de submissão
sincera e prática ao seu senhorio como aspecto essencial da salvação. Ela não
requer somente uma confissão de que Jesus é o senhor. Também requer uma prova
dessa confissão. Na conclusão do Sermão do Monte, Ele severamente advertiu seus
ouvintes que a submissão ao seu senhorio era a grande prova da verdadeira
confissão. Em suas próprias palavras, disse: “Pequena é a porta, estreito o
caminho que conduz a vida, e poucos a encontram, mesmo entre aqueles que
declaram enfaticamente que Jesus é o senhor”.
Mateus 7:13-14,21. Entrai pela porta estreita (larga é a
porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que
entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz
para a vida, e são poucos os que acertam com ela. (...). Nem todo o que diz:
Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu
Pai, que está nos céus.
Cristo não está ensinando
uma salvação baseada em obras, mas uma verdade que percorre toda a Escritura. A
submissão ao senhorio de Deus e de Cristo, ou seja, obediência à vontade de
Deus, é evidência da fé salvadora.
Segundo,
a submissão ao senhorio de Cristo era um aspecto essencial da proclamação
apostólica do evangelho. Ninguém pode negar que os apóstolos solenemente
testificaram a judeus e gregos que Deus fez deste Jesus, a quem o mundo
crucificou Senhor e Cristo. Além do mais, de acordo com a proclamação
apostólica do evangelho, a confissão do senhorio universal de Cristo pela
pessoa é essencial para a salvação (p.22-23).
O apóstolo Paulo ao escreveu sobre o
assunto na Epístola aos Romanos, disse: “Se, com a tua boca confessares Jesus
como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos,
serás salvo”. Esta é uma das mais
importantes declarações confessionais das Escrituras. Estaremos nós, ou mesmo o
apóstolo, apenas chamando os pecadores a uma confissão vazia do senhorio de
Cristo? Eles deverão apenas confessar a Jesus como Senhor sem nenhuma intenção
de submeter-se à sua vontade?
É errado suscitar ou sugerir
(concordar) com essa possibilidade. Além do mais, acabamos de considerar que
qualquer confissão do senhorio de Cristo que não se manifeste em cumprir a
vontade de Deus é vazia, e resulta em ruína eterna (Mateus
7:23).
Terceiro,
as objeções muitas vezes levantadas contra o senhorio na salvação parecem
resultar de um mau entendimento da natureza da salvação, especialmente das
doutrinas de regeneração e perseverança. As Escrituras ensinam que uma submissão
prática e discernível ao senhorio de Jesus[4] é
evidência essencial de salvação e meio de segurança, elas jamais interferem que
a salvação ou a perseverança do Cristão seja resultado de obras. Essa submissão
não causa nem preserva a salvação, mas é o resultado da grande obra de Deus da
salvação do crente (p.24).
Devido à obra regeneradora e
santificadora do Espírito todo cristão autêntico crescerá em submissão ao
senhorio de Jesus Cristo e em conformidade com ele. Isto não quer dizer que
todo cristão cresce no mesmo grau ou compasso, nem requer que um crente mostre
evidência do progresso em qualquer dado momento. A Confissão de Fé de Londres de 1689 e a Confissão de Fé de Westminster concordam no capitulo 13, artigos de
1-3:
Os que são
eficazmente chamados e regenerado, havendo sido criado neles um novo coração e
um novo espírito, são além disso, santificados genuína e pessoalmente, pela virtude da morte e ressurreição de
Cristo, por sua Palavra e seu Espírito neles habitando; o domínio de
todo o corpo do pecado é destruído, e suas diversas concupiscências mais e mais
enfraquecidas e mortificadas, e eles mais e mais vivificados e fortalecidos em
todas as graças salvificas para a prática da genuína santidade, sema a qual
ninguém verá o Senhor.
Esta santificação
permeia o homem todo, ainda que seja imperfeita nesta vida; aí permanece ainda
resíduos de corrupção em cada parte, e daí suscita-se uma guerra contínua e irreconciliável:
a carne digladiando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne. Nesta
guerra, ainda que o restante da corrupção permaneça por algum tempo, contudo,
através de um contínuo suprimento de força por parte do Espírito santificante
de Cristo, a parte regenerada vence, e assim os santos crescem na graça,
aperfeiçoando sua santidade no temor de Deus (p.25).
Como
se não bastassem essas confissões para demonstrar que a fé autêntica e
salvadora é evidenciada pela santificação e produção de fruto (obras), podemos
voltar a Confissão Belga de 1561, em
especial, aos artigos 22 e 24. Neles vemos a concordância entre a doutrina da
salvação somente pela fé, e o claro ensinamento da Escritura de que tal fé
salvadora é evidenciada pelas obras:
Portanto, dizer que
Cristo não é suficiente, mas que também é necessário algo mais é enorme
blasfêmia contra Deus – pois segue que Jesus Cristo seria apenas meio salvador
(...). E poderíamos dizer justamente com Paulo que fomos justificados “somente
pela Fé” e “a parte das obras da lei” (Romanos 3:28);
Cremos que esta
verdadeira fé, produzida no homem por ouvir a Palavra de Deus e pela obra do
Espírito Santo, o regenera e o torna em “nova criatura” (2 Coríntios 5:17), fazendo com que viva em “novidade
de vida” (Romanos 6:4) e livrando-o da
escravidão do pecado (...). Assim, é impossível que esta santa fé seja
infrutífera no ser humano, visto que não falamos de fé vazia, mas daquilo que a
Escritura chama de “fé operando pelo amor” (Gálatas 5:6);
que conduz o homem a fazer por si a obra que Deus ordenou em sua Palavra
(p.26).
A
salvação é só pela graça, só pela fé, no entanto, a natureza da salvação
garante que a fé salvadora terá evidências reais e práticas. Embora todos os
cristãos estejam sujeitos a muitas falhas (cometimento de pecados) e possam
cair diante das menores tentações, a sua determinação de continuar na fé, bem
como sua santificação gradual e progressiva, são grandes evidências de
salvação, e oferecem base sólida para a segurança.
Cap. 2
– Examinar a Si Mesmo.
1 João
5:13. Estas coisas vos escrevi, os que
credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e
para que creiais no nome do Filho de Deus.
(...)
2
Coríntios 13:5.
Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou
não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que fá
estais reprovados.
Consideraremos
agora outra doutrina essencial que se refere ao relacionamento do Cristão com
Deus: a segurança. Qual é a base de segurança do crente de que seus pecados
foram perdoados e de que ele foi reconciliado com Deus?
As
Escrituras estão repletas de advertências graves e solenes contra os que
professam fé em Cristo, mas O negam por suas obras; que enfaticamente declaram
o seu senhorio, no entanto, são rejeitados
no dia do juízo; que creem ser
ovelhas, mas são contados entre os bodes e mandados ao castigo eterno. A
salvação é somente pela graça e somente pela fé, mas como saber se a fé
salvadora requerida é a fé que possuímos? A salvação é dada aos que creem, mas
como saber se realmente cremos? (Mateus 7:21-23; Tito
1:16).
2.1 A Necessidade do Exame de Si Mesmo:
a igreja de Corinto foi singularmente abençoada. Pela própria admissão do
apóstolo Paulo, foram enriquecidos em Cristo em toda palavra e conhecimento, de
forma que não lhes faltavam nenhum dom. Porém, havia entre eles grandes
problemas, entre eles; divisão entre os membros, ciúmes e contendas,
superioridade e orgulho, imoralidade, mundanismo, abuso de liberdade, desordem
nos cultos, e quase negação da doutrina da ressurreição. Sendo assim, o apóstolo
tinha toda a razão de repreendê-los severamente:
1 Coríntios 3:1-3. E eu, irmãos, não vos pude falar como a
espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei,
e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis.
Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e
dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?
Paulo
não escolheu palavras animadoras para repreender a congregação de Corinto, mas
usou de uma linguagem forte, denunciando-os como cristãos infantis (meninos),
ainda incapazes de receber e aproveitar do alimento mais sólido (mais
consistente) ou ensinamento maduro. E pior, ele lhes falou como a homens
carnais ou não regenerados, que não tem o Espírito de Deus e andam como os
gentios (Efésios 4:17-19).
Encontramos
aqui, o “modus operandi” do ministro
fiel, bem instruído, quando confrontado pelos que dizem ter fé e se contradizem
por seu modo de vida. Como não possui a onisciência, ele precisa discernir uma
de duas possibilidades: A primeira é que aqueles
que professam ter fé são imaturos ou crentes desviados que podem ser
restaurados (e o serão) pela Providência
de Deus, auxílio do Espírito e a administração correta da Palavra de Deus:
ensino, repreensão, correção e treinamento. A segunda
possibilidade é que os que professam a fé ainda não são convertidos. Eles têm
forma de piedade, mas negam seu poder; professam fé em Cristo, mas por seu modo
de viver, O negam (2 Timóteo 3:5,16).
Antes
que continuemos, temos de declarar claramente que o cristão autêntico não é
totalmente santificado nesta vida. A carne não será totalmente erradicada até a
sua glorificação final no céu (Gálatas 5:17). Porém,
haverá uma grande diferença entre o cristão sincero, por mais fraco que seja,
que luta contra o pecado e só consegue progresso mínimo de santificação; e o
falso convertido, que diz ter fé em Cristo, mas vive em estado quase constante
de mundanismo, sem ofender sua consciência, sem quebrantamento diante do
pecado, sem confissão de coração. Por causa desses dois tipos de cristãos
(acréscimo nosso), Paulo, no final de sua segunda Epístola, que foi dirigida
aos Corintos, dá a diretiva aos que estavam se desviando: “Examinai-vos a vós
mesmos se realmente estais na fé; (...).”
A
admoestação de Paulo aos que professavam Cristo em Corinto, era de examinar a
si mesmo em busca de evidências da conversão, prova que a obra de Deus na
salvação do cristão não somente resultará na justificação, mas também em uma
santificação real, prática e observável. Deus não somente liberta o crente da
condenação do pecado, mas continua trabalhando nele para livrá-lo do poder do
pecado. Todo cristão se for autêntico e regenerado pelo Espírito Santo,
tornou-se nova criatura, com um novo afeto por Deus e por sua justiça. Além do
mais, o Espírito que regenera o crente agora opera em sua santificação. Esse
cristão tornou-se feitura de Deus. E o Deus que começou nele boa obra a
completará (p.29-30).
Uma
multidão de pessoas que professam ser cristãos, tanto no ocidente e em todo o
mundo, vive em estado quase continuo de mundanismo, carnalidade e
infrutuosidade. No entanto, ficam assentados tranquilamente em Sião, com a
maior segurança da salvação e sem o mínimo temor de que tenham crido em vão.
Para piorar a situação, pastores bem intencionados, que parecem entender pouco
a natureza e o poder da salvação, os afirmam em seu perigoso estado.
Esses
ministros se tornaram como os profetas dos dias de Jeremias “curam
superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz, quando não há paz” (Jeremias 6:14). Deixaremos que eles se assentem tranquilos em Sião enquanto o julgamento
certo e visível da torre de vigília? Não clamaremos a eles:
Efésios 5:14. Desperta, ó tu que dormes, levanta-te
dentre os homens mortos, e Cristo te iluminará.
(...)
2 Coríntios 13:5. Examinai-vos a vós mesmos se realmente
estás na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está
em vós? Se não é que já estais reprovados.
(...)
2 Pedro 1:10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência
cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo
assim, não tropeçareis em tempo algum.
Devemos aprender a consolar e dar
segurança ao mais fraco santo que esteja quebrantado quanto aos seus muitos pecados,
mas precisamos também aprender a admoestar o falso convertido, cuja vida é
estéril, árvore sem frutos, cujo meio acomodado de viver é uma contradição ao
evangelho (p.31-32).
2.2
O Padrão do Atuoexame: as Escrituras ordena a nos examinar para
verificar se estamos na fé, provar-nos para que possamos discernir se somos
realmente cristãos. Qual seria o padrão de autoridade de nos julgar e
ajudar-nos a entender nosso pleito?
O apóstolo Paulo nos instrui sobre o
fato de que não é sábio nos medir por nossos próprios padrões ou nos comparar
com outros de nosso próprio círculo de comunhão (2 Coríntios 10:12). Se usarmos o homem carnal que professa a Cristo como o
padrão, poderemos ser acalantados em falsa segurança. Porém, se nos compararmos
ao cristão mais maduro de nossa comunidade, poderemos nos encontrar falsamente
condenados. Além do mais, embora seja sábio buscar o conselho de outros nesta
questão, não podemos basear nossa segurança de salvação apenas nas suas
opiniões.
Alguns poderão presumir e assegurar-nos
erradamente por sua baixa visão da salvação, e outros poderão nos condenar
erroneamente, ao exigir provas que excedam os ditames da Escritura, colocando
fardos pesados sobre nós, os quais eles mesmos não estão dispostos ou não
conseguem suportar (Jeremias 6:14-15; Mateus 23:4).
Podemos ser gratos porque o padrão
que buscamos não é tão escondido dentro do tecido da Escritura a ponto de ser
mistério insondável, aberto somente para as mentes mais brilhantes. Pelo
contrário, é específico e claramente exposto nas Escrituras. De fato, o padrão
e as provas de autêntica conversão são apresentados de modo claro, conciso e
completo na primeira Epístola do apóstolo João.
1 João 5:13. Estas coisas vos escrevi, os que credes no
nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que
creiais no nome do Filho de Deus.
(...)
João 20:30-31. Jesus, pois, operou também em presença de
seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em meu nome.
João
escreveu seu evangelho para que seus leitores pudessem crer em Jesus Cristo e
receber a vida eterna. Correspondentemente, escreveu sua primeira Epístola para
que aqueles que realmente creram pudessem ter plena segurança de que receberam
a vida eterna. Diversas autoridades sustentam o mesmo entendimento do apostolo
João, entre eles, destaca-se o que disse John R. W. Stott:
Por toda esta epístola, João tem dado a seus
leitores critérios (moral, doutrinário, social) pelos quais possam provar a si
mesmos e aos outros. O seu propósito é estabelecer sua segurança. Juntando o
propósito do Evangelho e da Epístola, o alvo de João tem quatro estágios: que
seus leitores ouçam, e ao ouvir, creiam; e ao crer, vivam; e vivendo, conheçam.
João procurou estabelecer a segurança de salvação, não em pensamentos
desejosos, sentimentos religiosos ou mera confissão de fé, mas na demonstração
ou manifestação das marcas autênticas do Cristianismo na vida deles. Em suma, é
importante que nos lembremos de que João não está apresentando os meios de
conversão, mas o seu resultado. Se nosso modo de vida estiver em grande
contraste a descrição feita por João do verdadeiro cristão, devemos considerar
seriamente uma de duas possibilidades: primeiro, podemos ser genuínos Filhos de Deus, mas
nos desviarmos de sua vontade e temos grande necessidade de arrependimento. Se
realmente nos arrependermos e voltarmos a vontade de Deus como nossa prática de
vida, haverá grande esperança de que realmente cremos e temos vida eterna.
Segundo, é de que nunca conhecemos ao Senhor, e tanto nossa fé quanto nossa
confissão foram falsas desde o começo. Neste caso, temos de buscar o Senhor e
chamá-lo. Se somos realmente arrependidos, podemos buscar com grande confiança,
sabendo que ele não desprezará um espírito quebrantado e contrito, que todo
aquele que vem a ele, com certeza nunca será lançado fora. Quem invocar o nome
do Senhor será salvo, e quem nele crê não será confundido (Romanos 10:11-13;
João 6:37 e Salmos 51-17).
Cap.3 –
Andar na Revelação de Deus.
1 João
1:5-7.
E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não
há nele trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em
trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como ele
na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu
Filho, nos purifica de todo o pecado.
O
grande propósito de João ao escrever sua primeira Epístola visava assegurar
aqueles que creem em Jesus Cristo tenham grande segurança de possuir a vida
eterna (1 João 5:13). A fim de realizar esse
propósito, o apóstolo apresentou várias evidências ou características
essenciais da conversão autêntica, pelas quais podemos examinar nossas vidas e
provar a autenticidade de nossa confissão. Ele declara como sendo a primeira
característica com a seguinte declaração: o Cristão andará na Luz, ou seja, seu
modo de viver será conforme (nos moldes ou em conformidade) aquilo que Deus
revelou sobre a natureza e a vontade divina (p37).
3.1 Deus é Luz: no capitulo 1:5, da
Primeira Epístola de João, ele começa com uma declaração extremamente
importante: “Deus é luz e nele não habita treva alguma”. Habitualmente João usa
as palavras “Luz e Trevas” em seus escritos, e é de vital importância que
descubramos o significado dessas palavras no texto.
A
primeira vista, o contraste que ele faz entre luz e trevas pode nos levar a
pensar que sejam primariamente termos morais: distinção entre o bem e o mal; ou
a grande divisão entre o santo e o profano. Porém, quando ele escreve que Deus
é luz, ele não só denota a pureza moral de Deus, como também indica que Ele se
faz conhecido, isto é, o Deus das Escrituras não está escondido no escuro e,
especialmente, por meio da encarnação e obra redentiva de seu Filho, Jesus
Cristo.
Para
ter esse entendimento, devemos considerar o contexto histórico desta primeira
Carta de João. A igreja ou as igrejas ás quais ele direcionou esta escrita,
tinham caído sob a influencia de um falso ensinamento, o qual, mais tarde
evoluiu para uma das maiores heresias que veio a confrontar a igreja – o
gnosticismo, ou seja, uma mistura de filosofia grega, misticismo judaico e
cristianismo. Era uma religião esotérica*, repleta de mistérios, conhecimento
secreto e um deus escondido, que só poderia ser conhecido pelos iniciados
(linguagem da maçonaria) ou pelos escalões superiores dos superespirituais
(p.38).
Para
combater essa heresia perigosa e destrutiva, João explica que Deus é luz, e fez
conhecida a sua vontade e a si mesmo por meio do testemunho dos apóstolos, que
eram testemunhas oculares da encarnação, por meio de ensinamento do Espírito
Santo, a quem todos receberam. Ele declara que Deus não era possessão exclusiva
de apenas um punhado de superapóstolos autoproclamados, mas Ele revelou a si e
também revelou a sua vontade a todos quantos creram em Cristo e nasceram de
Deus. Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento
para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus
Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna (1
João 1:1-4; 5:20).
Podemos
concluir com confiança o seguinte: a declaração de que “Deus é luz”, não se
refere somente ao seu impecável caráter moral, mas também a seu relacionamento
com todo cristão em Jesus Cristo e a sua revelação a eles. Deus nunca se
escondeu de seu povo, mas graciosa e abundantemente revelou a este povo tanto a
sua natureza quanto a sua vontade (p.38-39).
3.2 O Significado da Comunhão: essa
palavra é derivada do substantivo grego Koinonía, usada comumente para denotar
associação, comunhão ou participação conjunta. Os que se encontram fora da
comunhão com Deus ainda não são convertidos, estão mortos em suas transgressões
e pecados, e estão sob a ira de Deus. Em tempos recentes, o significado dessa
expressão no contexto em exame, tem sido mal interpretado (Efésios 2:1-3; 5:6).
Alguns
crêem e ensinam que João não faz distinção entre os que realmente crêem e
aqueles que ainda não se converteram, mas faz distinção entre cristãos
espirituais que comungam com Deus, e cristãos carnais que estão fora da
comunhão com Ele. Essa interpretação diverge do verdadeiro significado do
texto, como também trai o propósito para o qual João escreveu toda esta
Epístola. Além do mais, o versículo sete ensina que somente quem anda na luz
pode se valer do sangue purificador do Filho de Deus (p.40).
Concluímos,
á luz dessas verdades, que ter comunhão
com Deus é ser possuidor de todos os benefícios e bençãos da obra expiatória de
Cristo. Por outro lado, estar fora desta comunhão com Deus é ainda não ter se
convertido, estar separado de Deus, em perigo de destruição eterna.
3.3 O Cristão anda na Luz: outra
característica a ser evidenciada no/pelo Cristão autêntico é que: ele anda na
luz. A palavra “andar” é traduzida verbo grego Peripatéo, que significa
literalmente andar em volta ou ao redor. Metaforicamente, é usada para denotar
o modo de vida ou a conduta da pessoa. O verbo está no tempo presente,
denotando ser uma ação continua. Sendo assim, o verdadeiro Filho de Deus deve
andar na luz, isto é, estar constante e continuamente na presença de Deus
(acréscimo nosso).
Por
outro lado, o falso convertido anda em trevas. Seu estilo de vida (ou conduta)
reflete uma ignorância (desconhecimento) de Deus autoimposta e sua conduta
demonstra pouca conformidade à natureza de Deus como revelado nas Escrituras.
Temos de tomar cuidado para entender que João não está ensinando que um cristão
pode alcançar algum nível de perfeição sem pecado, (...). Nem está sugerindo
que a vida do cristão será sempre um reflexo perfeito do caráter e da vontade
de Deus (p.39-40).
Ele
está simplesmente declarando que o estilo de vida ou a conduta geral do cristão
autêntico refletirá em conformidade ao que Deus tem revelado sobre si e sobre
sua vontade. Além do mais, embora sua vida seja sacudida por grandes lutas e
marcada por fracassos, haverá diferença marcante entre sua vida e conduta do
descrente (incrédulo ou ímpio). A evidência da salvação é que, sob cuidadoso
exame de nossa vida (autoexame), vemos uma real e crescente conformidade à
natureza e vontade de Deus (p.41).
Quando
estamos falando de autoexame, não nos referimos a um momento no tempo ou a um
único evento, mas a todo o curso de nossa vida, desde o momento que professamos
nossa conversão. Mesmo o cristão mais maduro terá lapsos morais momentâneos e
tempos de poda em que parece haver poucos frutos. Seria muito presunçoso
confirmar nossa salvação com base no cuidadoso exame de uma única boa obra ou
no decurso de apenas um dia, e seria igualmente insensato nos condenar por uma
única caída em pecado.
Temos
de nos perguntar se no decurso de toda nossa vida cristã há evidências de
conformidade cada vez maior com a pessoa e vontade de Deus. Por isso,
precisamos examinar corretamente nossa profissão de fé e considerarmos a
totalidade de nossa vida, desde o momento em que professamos a conversão até o
momento atual.
3.4 Estamos andando na Luz? Depois de
entendermos o significado do texto, precisamos fazer com que a aplicação dessas
verdades ocorra em nós mesmos. Existe distinção detectável entre nossa maneira
de viver e a dos incrédulos? Se um observador imparcial fosse estudar a vida de
cada um de nós em um período de tempo, teria juntado provas suficientes para
argumentar pela validade de nossa fé em um tribunal de justiça ou sua causa
seria jogada fora do tribunal por falta de evidências?
Diz
o texto: “Deus é luz, e não há nele treva alguma” (1
João 1:5). Temos andado em conformidade para haver semelhança a essa
luz? Andamos como filhos da luz, produzindo os frutos advindos dessa luz que
consistem de toda bondade, justiça e verdade? No entanto, se dissermos que
somos verdadeiros cristãos, mas andamos nas trevas, somos mentirosos. Teremos
que reconhecer que entramos pela porta larga e estamos andando pelo caminho
largo que nos leva a destruição (Mateus 7:13).
Se
dissermos que temos comunhão com Deus e andarmos na luz, teremos passado a
primeira prova de João ao caminho de plena segurança da salvação. Colocamos a
primeira pedra no muro de esperança, fundamentado sobre as Escrituras e
revestido contra os dardos da dúvida, inflamados pelo inimigo. Temos de ser
encorajados, mas não presunçosos.
Cap.
4 Confessar Pecado.
1 João
1:8-10.
Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade
em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos,
fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
A
marca do verdadeiro cristão não é a perfeição sem pecado, mas que o pecado
torna-se cada vez mais repugnante para ele, mais antagônico a seus desejos. A
realidade do pecado o conduz ao arrependimento e a confissão. Essa verdade é
sustentada por algumas das maiores declarações nas Escrituras quanto ao crente
e sua atitude diante do pecado: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espirito
quebrantado, coração compungindo e contrito, não o desprezará, ó Deus” (Salmo 51:17).
O
nosso Deus sempre olha para o homem “aflito e abatido de espírito e que treme
da minha palavra” (Isaías 66:2). A grande evidência de que nos tornamos filhos
de Deus é que, ao nos tornarmos cônscios de nosso pecado, respondemos com
humildade, quebrantamento, contrição, lamento e tremor diante da lei que
rejeitamos (p.44-45).
Deus
prova que nossas frequentes lutas contra o pecado não desmerecem a profissão de
fé, e sim a confirmam. Sabemos que o conhecemos não porque não temos pecado,
mas porque nossa atitude para com o pecado foi radicalmente alterada: temos crescente
ódio (ojeriza) pelo pecado, nos quebrantamos diante dele e o confessamos.
4.1 A Nova Relação do Crente com o Pecado:
antes da conversão e regeneração, o pecador é amante de si mesmo e dos
prazeres, odeia a Deus e o bem. Jó observou que homens não convertidos têm sede
de iniquidade e a bebem como água (Jó 15:16). A
razão para tal inclinação e comunhão com o mal é clara através de toda a
Escritura, mas particularmente no conselho do profeta Jeremias, que descreve o
coração do homem caído: “enganoso é o coração do homem, mais do que todas as
coisas, e desesperadamente corrupto. Quem o conhecerá” (Jeremias 17:9).
É
este coração caído que nutre e produz no homem natural um grande afeto pelo
pecado e igualmente grande desdém por Deus e sua justiça. No entanto, na
gigantesca obra da conversão, Deus recria o coração conforme a sua imagem, em
verdadeira justiça e santidade. O amor por si mesmo foi substituído pelo amor a
Deus e sua sede de iniquidade substituída por fome e sede de justiça (Efésios
4:24; Mateus 5:6).
O
cristão agora ama ao Deus que outrora odiava, e odeia o eu que antes amava;
agora ele deseja a justiça que antes desprezava e despreza a injustiça que
antes se gabava. A luta do cristão contra o pecado não é porque ela seja menos
poderosa do que tenho descrito, mas porque o novo coração do crente ainda se
opõe a um grande e aparentemente implacável inimigo – a carne.
Das
várias definições dessa expressão “carne”, temos de aceitar que existe algum
remanescente do velho homem que permanece junto do crente, até ser erradicado
na glorificação final. O apóstolo Paulo apresenta a realidade dessa batalha nas
seguintes palavras direcionadas ás igrejas da Galácia: “Porque a carne milita contra
o espírito, e o espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que
não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gálatas 5:17).
Agora
o seu pecado não é mais causa de prazer e jactância, mas de profundo pesar e
confissão. Ele
não é mais “filho do Diabo” ou “filho da Desobediência”, mas sim, Filho de Deus e nova criatura em
Cristo Jesus (João 8:44; 2 Coríntios 5:17; Efésios 2:2;
1 João 3:12). Assim, ele tem de confessar e se livrar do pecado (p.48).
4.2
Verdadeira Confissão: a palavra confessar é traduzida do grego Homologéo,
um composto da palavra Homos que
significa “mesmo”, e Logos que quer
dizer “palavra”, ou seja, significa literalmente “falar a mesma coisa”.
Portanto, confessar é concordar com Deus verbalmente que pecamos e que esse
nosso pecado é hediondo.
Embora
a vida do cristão seja marcada por crescimento em santidade e maior poder sobre
o pecado, ele
nunca será completamente livre de uma influência até ser glorificado no céu.
Mesmo o cristão mais maduro vai pecar, mas quando ele peca, Deus é fiel em
expor o seu pecado e convencê-lo de sua culpa pelo ministério do Espírito Santo
(João 16:8,13; Romanos 8:14). Em resposta, ele
reconhece o seu pecado e a gravidade dele. Então se volta a Deus com o coração
quebrantado e contrito, o confessa e pede o perdão. Um exemplo desse
comportamento foi o do rei Davi (Salmo 51:1-4).
Não
nos foi dito pela fonte mais confiável que temos de um sumo sacerdote que se
compadece de nossas fraquezas; porque ele foi tentado em todas as coisas, a nossa
semelhança, mas sem pecado? O cristão deve odiar o pecado que cometeu e até
desprezar as roupas que vestia no momento de sua falha moral, e as considerar
imundas e contagiosas. O pecado que outrora era refeição deleitosa se tornou em
barril de sujeira, a vida de pecado que era antes fragrante leito (aroma, odor
e fragrância) se tornou em chiqueiro enlameado de estrume (p.49-50).
Nesta
passagem, nota-se que Davi não deu desculpas, mas confessou tudo abertamente
perante todos: “Pequei contra o Senhor (...)”. E no Salmo 51 ele é mais
explicito: “Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre
diante de mim (Salmo 51, 2 Samuel 12:13). No
final, a sua reação demonstra que ele é realmente uma nova criatura, o antigo
se passou e veio o que é novo. Davi não tentou dissipar sua culpa, mas
reconheceu o que Deus disse sobre ele como sendo a verdade. Isto é, concordou
com Deus quanto ao seu pecado e disse a mesma coisa (homologéo). Esta é a marca da
verdadeira confissão.
4.3
O Cristão é Marcado pela Confissão: a medida que o crente cresce em
santidade experimentará mais liberdade do poder do pecado e caminhará em maior
vitória sobre o mesmo. Contudo, ao mesmo tempo, desenvolverá entendimento mais
agudo da santidade de Deus e mais forte sensibilidade ao pecado em sua vida. O
resultado será que a sua vida será marcada por maior profundidade de
quebrantamento e confissão.
Isso
acontece simplesmente porque a santidade de Deus e seu próprio pecado são
realidades maiores para ele. Quando o cristão cresce no conhecimento de Deus, o
seu conhecimento de si mesmo e do seu pecado é também amplificado. Essa relação
compreendida propriamente, resultará em tristeza mais profunda pelo pecado, mas
não em desespero. (...), a coisa mais maravilhosa sobre essa transformação é
que o crente encontra cada vez menos alegria em seu próprio desempenho, e cada
vez maior alegria na obra perfeita e imutável de Cristo. Uma maior consciência de nosso pecado e de nossa incapacidade,
nos conduzirá a voltar os olhos para a perfeita obra de Cristo e nossa
confissão do pecado, resultará em perdão e purificação concedida pelo nosso Pai
Celestial (p.50-51).
4.4 Perfeição Cega: as Escrituras
confirmam que uma das maiores evidências da conversão autêntica é vida marcada
por um reconhecimento do pecado, espirito quebrantado e contrito, confissão
aberta e sincera do pecado perante Deus. Porém, no mesmo grau, umas das maiores
evidências da falsa conversão é a cegueira quanto ao pecado, a dureza do
coração e uma vida sem autentica confissão. Em 1 João
1:8-10, o apostolo chega a três terríveis conclusões a respeito da pessoa
que professa a fé em Cristo, mas vê pouca razão para arrependimento ou
confissão.
Primeiro; tal pessoa estaria enganando
a si mesma. (...). Quanto tempo o ferro quente terá de apoquentar sua
consciência a ponto dela ter coragem de se firmar ao lado de Jesus Cristo,
dizendo desafiadoramente: “ Quem dentre
vós me convence de pecado” (João 8:46; 1 Timóteo 4:2).
É sabido entre pastores que sempre que Deus move expondo o pecado e
quebrantando os corações em uma congregação, são os mais devotos e dedicados os
movidos às lágrimas e a confissão aberta do pecado, enquanto os membros mais
carnais e apáticos da igreja, ficam sentados nos bancos, gelados como pedras.
Não são movidos pelo Espírito de Deus, e até mesmo a contrição e confissão
aberta das melhores pessoas a seu redor, não tem efeito sobre eles. Qual a
razão deste contraste tão grande numa mesma congregação?
A
resposta é bem simples, como também brutal: estamos apenas testemunhando a
pré-estreia do grande dia do juízo, quando os cabritos serão destacados e
separados das ovelhas. As ovelhas são sensíveis a obra de convicção do Espírito
e levadas a confissão, enquanto os bodes são os que não enxergam nenhuma mancha
ou defeito em si, e estão perfeitamente contentes em sua confortável religião.
Segundo; se referem a aqueles que dizem
não ter pecado não têm a verdade. Isso inclui, também os que professam fé em
Cristo, mas estão cegos ou indiferentes quanto ao pecado continuo em sua vida.
A convicção do pecado, a contrição e a confissão estão ausentes de sua rotina
diária. Contradizendo essa vã e perigosa ilusão, João dá a seus leitores uma
dupla advertência dentro do espaço de apenas três versículos: “Se dissermos que
não temos cometido pecado (...), a sua palavra não está em vós”.
Terceiro; João conclui que a pessoa que
diz não ter pecado faz de Deus um mentiroso. A universalidade do pecado é um
dos temas mais proeminentes e consistentes que percorrem a Escritura: “todos
pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23).
Nem mesmo entre os mais piedosos santos do Antigo Testamento ou entre os
Apóstolos temos exemplo de aperfeiçoamento ou qualquer afirmativa documentada
de que entre os filhos de Adão, a não se Cristo, alguém tenha alcançado um
patamar de perfeição, sendo isento de pecado.
O
grande apóstolo Paulo disse aos Coríntios: “Sede meus imitadores, como também
eu sou de Cristo”, mas nunca reivindicou a perfeição, dando o seguinte
testemunho aos Filipenses: “Não que já a tenha alcançado, ou que já seja
perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por
Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não
julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das
coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante de mim. Prossigo
para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:12-14).
Se
cremos que Deus é autor e preservador de todos (e de tudo), conforme as
Escrituras, e que cada palavra procede de sua boca, temos de conceder que uma
pessoa que argumente em defesa da sua própria retidão moral está argumentando
contra Deus. Ele se opõe contra a opinião de Deus e o está declarando enganador
e mentiroso. Esta não é opinião, atitude ou oração de um Filho de Deus (Mateus 4:4; 2 Timóteo 3:16).
4.5 A Confissão é Realidade em Nossa Vida?
(...), a própria natureza da salvação nos assegura que se somos cristãos,
andaremos na luz de Deus e aos poucos cresceremos em conformidade com a sua
natureza e vontade. (...), podemos concluir corretamente que os que professam a
fé somente em Cristo, mas continuam andando de modo contrário á pessoa e
vontade de Deus, são culpados de presunção, possivelmente não convertidos e
correm perigo de eterna destruição.
(...),
a evidência da conversão autêntica não é perfeição isenta de pecado, mas uma
vida marcada por autêntico arrependimento e confissão. Finalmente, quem
professa ter fé em Cristo, mas vive em pecado, com pouco ou nenhum
quebrantamento e disciplina divina, deverá ter grande preocupação. Tendo
aprendido estas importantes verdades, devemos examinar nossa vida e nossa
profissão cristã à luz delas. Reagimos ao pecado com maior senso de repugnância
e desdém? Lutamos contra isso? Será que o peso de nosso pecado, juntamente com
a bondade de Deus, nos conduz ao arrependimento e confissão? Se a nossa
resposta for sim, existe alguma evidência de que Deus fez em nós sua obra
salvadora (p.56).
Cap.
5 Guardar os Mandamentos de Deus.
1 João
2:3-5.
E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. Aquele que
diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não
está a verdade. Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele
verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele.
Aprendemos ou
consideramos até aqui duas grandes evidências da conversão autêntica. Primeiro, que o cristão autêntico aprende a andar na
luz da revelação de Deus e a crescer em conformidade com a natureza e vontade
divina. Segundo, que o cristão refletirá um novo
relacionamento com o pecado. Crescerá sua aversão pelo pecado, e, se pecar, se
arrependerá e o confessará abertamente diante de Deus (e
dos homens, acréscimo nosso). Agora, no capitulo 2 de sua primeira
Epístola, João apresenta uma terceira evidência de conversão autêntica: o crente guarda os mandamentos de Deus.
5.1 Provas de Fé: ele começa esta
terceira evidência com a reafirmação do propósito da Carta: “Ora, sabemos que o
temos conhecido por isto: se guardarmos os seus mandamentos”. João não está
fazendo distinção entre dois tipos de cristãos ou traçando uma linha entre o
espiritual e o carnal dentre o povo de Deus. Ele separa as ovelhas das cabras.
O seu principal propósito é dar aos verdadeiros cristãos uma segurança Bíblica
de salvação e, subsequentemente, ele expõe aqueles que professam ter fé em
Cristo, mas permanecem não convertidos.
Para muitos hoje,
essa declaração é dura e difícil de aceitar. No entanto, João está simplesmente
seguindo o ensino e modelo estabelecido pelo Senhor, conforme está registrado
em Mateus 7:7-19: a prova de uma boa árvore está
nos bons frutos que produz, pois ela é conhecida por seus frutos. A maioria dos
cristãos contemporâneos consideram essa
linguagem julgadora, severa e faltosa de amor.
No evangelicalismo
contemporâneo, a salvação foi reduzida a nada mais que uma decisão humana de
aceitar a Cristo e a vida que segue, depende inteiramente das contínuas
escolhas certas no convertido. (...). Ele pode continuar carnal até o dia em
que entrar na glória e for transformado. Embora haja alguma verdade nisso, como
um todo, esse pensamento deve ser rejeitado como total heresia.
É verdade que o amor
de Deus não coage, nem manipula e é igualmente verdade que o exercício da
vontade humana é um elemento necessário tanto na conversão quanto na
santificação. Porém, essa opinião ignora ou até mesmo nega pelo menos três
importantes doutrinas inseparáveis da salvação. A primeira é a doutrina da regeneração. A pessoa que se arrependeu
do pecado e creu no Senhor Jesus Cristo foi regenerada. Ela se torna nova
criatura, com uma nova natureza e afetos totalmente transformados (mudança de
vida, acréscimo nosso). Embora ainda lute contra
a carne, o mundo e o diabo, e ainda que não seja aperfeiçoada até a sua
glorificação final no céu, ela exibirá as características ou evidências da nova
pessoa em que se tornou (p.58-59).
A segunda e terceira doutrinas são as verdades inseparáveis sobre a
santificação e a providência divina. Se cremos na inspiração da Escritura e na
fidelidade de Deus, então, junto com o apóstolo Paulo temos de estar
persuadidos de que o Deus que começou a boa obra a completará na vida de todo
crente. Pois Deus é quem opera no cristão, tanto no querer quanto no efetuar;
por seu bom prazer (Filipenses 2:13).
O verdadeiro cristão
será ensinado por Deus e guiado por seu Espírito. Se alguém diz ser filho de
Deus pela fé em Cristo, mas vive na carnalidade sem intervenção da parte de
Deus, as Escrituras o condenam como falso convertido e de filho ilegítimo: “É
para disciplina que perseverais (Deus nos trata como filhos); pois que filho há
que o pai não corrige? Mas, se estais em correção, de quem se têm tornado
participantes, logo, sois bastardos e não filhos (Hebreus
12:7-8).
A natureza da
salvação, a força de providência divina e a fidelidade de suas promessas que
perduram e asseguram que o crente cresça, numa direção e exiba as
características da nova vida que está nele. Por isso que Jesus diz: “Pelos seus
frutos os conhecereis” (Mateus 7:16-20).
5.2 Obediência aos Mandamentos de Deus: este é um dos
grandes indicadores da verdadeira conversão e do relacionamento correto com
Deus. Tal verdade é destacada por Tiago:
Tiago 2:17-20. Assim também a fé, se não tiver as obras, é
morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras;
mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas
obras. Tu crês que há um só Deus; fazes bem, também os demônios o creem, e
estremecem. Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
Aqueles que creem na
inerrância e uniformidade da Escritura reconhecem que não há contradição entre
os escritos de Tiago e a doutrina da justificação somente pela fé, como também
ensinou claramente o apóstolo Paulo, inclusive propagado pela Reforma·. Paulo
trata da causa da salvação, enquanto que Tiago está tratando de seu resultado.
Sendo assim, os dois escritores nos dão uma visão compreensiva da obra de Deus
na salvação.
Logo, a salvação é
somente pela fé, e os que creem ou ensinam outra coisa estão sob maldição.
Porém, a salvação mediante a fé resulta em obras, ou seja, obediência a lei. A
pessoa que foi salva pela fé começa a viver uma vida em crescente conformidade
com os mandamentos de Deus, não por alguma força de vontade renovada, mas porque
foi regenerada e é habitada pelo Espirito de Deus (p.60-61).
Tudo isso vem de
Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e quando entendemos
isso corretamente, nos voltamos a Deus em adoração. O apóstolo Paulo sustenta
também esta verdade e a reafirma tanto no livro de Efésios quanto no de Gálatas.
Efésios 2:8-10. Porque pela graça sois salvos, por meio da
fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém
se glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas
obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.
Gálatas 2:16. Sabendo que o homem não é justificado pelas
obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Cristo Jesus,
para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto
pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.
O
apóstolo transmite de forma muito clara essa verdade que atravessa todos os
tempos e é ensinada e defendida na Escritura. Ele declara explicitamente que a
fé é o único meio para a justificação e passa a focar sua atenção às duas
doutrinas que a acompanham: a providência de Deus e a sua obra de santificação
na vida do cristão (p.61).
Por
que tantos púlpitos dos dias modernos estão cegos quanto a esta verdade? O Deus
que é capaz de justificar o maior dos pecadores é também capaz de santifica-lo.
Incontáveis pessoas estão sentadas nos bancos das igrejas a cada domingo,
carnais e não santificados, não porque as promessas de Deus falharam, mas
porque ainda não se converteram. Ela tem forma de piedade, mas negam o poder de
Deus. Identificam-se com Cristo, mas “praticam iniquidades” como se Ele nunca
lhes tivesse dado uma lei a ser obediência. Eles clamam “Senhor, Senhor”, mas
não fazem o que ele manda. Naquele dia final, ouvirão a terrível sentença:
“Apartai-vos de mim, os que praticais iniquidade” (Lucas
6:46; Mateus 7:23; 2 Timóteo 3:5).
Isso
não significa que quem foi genuinamente convertido nunca mais negligenciará à
lei ou se desviará dela em desobediência. Não existe pessoa que não peque e
nenhum de nós está isento da apatia que as vezes sobrevém sobre nossas almas e
cega nossa razão. (...). Porém, significa que aqueles que foram regenerados
pelo Espírito de Deus farão marcante diferença em sua opinião e aplicação da Palavra,
em comparação aos que ainda não foram convertidos e jazem no mundo. É esta a
verdade que João procura colocar diante de nós.
5.3 Uma Confissão Vazia: em seguida,
João volta sua atenção para a exposição daqueles que se identificaram com o
Cristianismo, mas não têm razão para tal confiança. Suas palavras são
inspiradas e seu amor inquestionável. Ele escreve: “Aquele que diz: Eu o
conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a
verdade”. Se achamos que essas palavras de João são duras e severas demais,
devemos reconhecer que sua linguagem é comum no Antigo Testamento. Jesus expôs
os falsos convertidos com linguagem ainda mais forte, registrada em Mateus. O
apóstolo Paulo não fez diferente denunciando-os com a seguinte expressão “abomináveis,
desobedientes e reprovados” (Mateus 7:23; Tito 1:16).
E
Tiago, meio-irmão do Senhor, fez referência quanto ao caráter e as obras como
sendo piores do que as dos demônios (Tiago 2:19).
Há duas razões para tal obstinação em face de pujantes evidências. A primeira está na natureza humana. O
coração não regenerado está cheio de orgulho e toda propensão para o mal.
Porém, ela ama se cobrir de um fino verniz de religião e piedade (vive de
aparência e usa uma máscara, acréscimo nosso). A segunda razão para esse muro
aparentemente impenetrável em volta da ilusão do falso convertido é a pregação
a qual ele tem sido exposto.
Os
que professam ter fé em Cristo, mas não têm nada a ver com seguir seus
mandamentos, deverão se preocupar e muito. Ainda que protestem veementemente
que amam a Deus (mas O negam com suas ações), terão de ser convencidos de que
as Escrituras não reconhecem essa espécie de amor, mas o denunciam como garoa
insignificante.
5.4 Nossa Segurança e os Mandamentos
de Deus: 1 João 2:3
tem sido a voz clara do apóstolo nos mostrando o terceiro teste de fé colocado
diante de vós: “Ora, sabemos que o conhecemos por isto: Se guardarmos os seus
mandamentos”. Em suma, podemos afirmar algumas coisas quanto à pessoa realmente
convertida. Primeiro, temos de
confirmar a sua fraqueza. Até o santo mais maduro terá de lutar constantemente
contra as distrações deste mundo e a apatia do coração em relação à Palavra de
Deus.
Segundo, apesar das reais fraquezas do
verdadeiro crente, haverá notáveis diferenças ente seu relacionamento com os
mandamentos de Deus e os dos não convertidos. O cristão crescerá em seu prazer
aos mandamentos de Deus e fará progresso na obediência aplicadas dela. Embora
haja tempo de poda e disciplina divina, haverá também vitória e frutificação. Terceiro, aumentará o lamento do
cristão sobre a desobediência e crescerá o seu desejo de obedecer. Ao crescer
no entendimento da dignidade de Deus e seu apreço pela Palavra de Deus, o
crente sofrerá grande pesar por qualquer forma de desobediência em sua vida.
Mas
tal pesar não o levará ao desespero, porque sua peregrinação terrestre revela a
fidelidade de Deus e ele sabe que o coração quebrantado e contrito Deus “não
desprezará” (Salmo 51:17). Se você puder
identificar as coisas que João apresentadas quanto ao novo e singular
relacionamento do cristão com relação aos mandamentos do Senhor, então você
terá maior razão para ter segurança de salvação. Se, porém, foi exposto seu
relacionamento distante ou não existente com os mandamentos de Deus, você tem
razão de grande preocupação. Precisa clamar a Deus e examinar a sua vida à luz
de sua Palavra (Romanos 10:13).
Cap.
6 Imitar a Cristo.
1
João 2:5-6. Mas qualquer que
guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto
conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está nele, também deve andar como
ele andou.
Acabamos
de considerar o que é possivelmente a maior evidência da conversão autêntica:
obediência constante aos mandamentos de Deus. Como sabemos que conhecemos a
Deus num relacionamento de salvação? A resposta é muito poderosa tanto quanto
concisa: andarmos
como Cristo andou! Afinal de
contas, quem ousaria imaginar, quanto mais declarar, que vive uma vida cristã
igual a de Cristo quando ele andou aqui na terra?
6.1 A Vida que Jesus Viveu: as
Escrituras começam afirmando que o Filho de Deus veio ao mundo em semelhança de
carne humana. O que significa dizer que, realmente e verdadeiramente ele
assumiu a natureza humana, imaculada e sem pecado; contudo sujeito as mesmas
limitações, fragilidades, aflições e angústia da humanidade caída (Romanos
8:3).
William Hendriksen escreveu sobre o tema
explicando desta forma: Ela assumiu essa natureza humana, não conforme ela veio
originalmente da mão do Criador, mas enfraquecida pelo pecado, embora ele mesmo
tenha permanecido sem pecar. (...), foi enviado a semelhança da carne humana e
tomou sobre si uma natureza exposta a todas as terríveis consequências da nossa
condição caída. O grande diferencial entre Cristo e os mais piedosos santos que
andaram neste planeta é que (...), Cristo jamais teve um momento em sua vida
que não amasse o Senhor seu Deus de todo coração, alma, mente e força. Cada
feito realizado por ele teve o propósito de glorificar somente a Deus como motivação
perfeita. Quer comesse, bebesse ou fizesse a tarefa mais servil, ele as fazia
sempre para a glória de Deus (Hebreus 7:26; Marcos
12:30; 1 Coríntios 10:31).
Quem dentre nós
poderia ficar diante de seus mais ardentes oponentes fazendo o desafio: “Quem
dentre vós me convence do pecado?” Quem entre vós teria ousadia de se colocar
diante das autoridades religiosas de nossos tempos e declarar: “Eu faço sempre
o que lhe agrada (a Deus)”. O Novo Testamento dá testemunho não somente da vida
de Cristo sem pecado, como também da sua
justiça positiva. Ele pregou aos pobres, proclamou liberdade aos cativos,
recuperou a visão dos cegos e libertou os oprimidos. Não foi sem razão que as
pessoas se maravilhavam completamente com ele e deram testemunho dizendo: “Tudo
ele tem feito esplendidamente bem”. (João 8:29,46;
Lucas 4:18; Marcos 7:37).
6.2 Como Podemos Comparar? Poderíamos comparar a justiça ou sensatez da
exigência feita por João ao escrever: “Aquele que diz que permanece nele, deve
também andar como ele andou”. Por que este apóstolo amado colocaria sobre nós
um fardo tão pesado que nem ele nem os outros apóstolos pudessem suportar?
Seria mais fácil cumprir as penosas exigências dos Fariseus ou mesmo satisfazer
as valentes demandas da própria lei do que imitar a vida perfeita de nosso
Senhor (p.70-72).
Porém, antes de nos
entregar ao desespero ou a perdição eterna, temos que recordar o contexto em
que João escrevia esta Carta. Ele não está exigindo que se atinja um nível
impossível de perfeição, mas nos encoraja a examinar a inclinação de nossas
vidas. Estamos ainda andando com o curso deste mundo ou mediante a obra
santificadora do Espírito, estamos aprendendo a andar como Cristo andou? Existe
alguma evidência observável e prática de que buscamos imitar a Cristo? Nossa
conduta diária manifesta mais de Cristo e menos do mundo? Ansiamos para ser
como Cristo? (Efésios 2:13; Hebreus 2:11-12).
De acordo com as
Escrituras, Cristo não é só nosso profeta,
sacerdote e rei, como também nosso irmão
mais velho (uma referência feita anteriormente pelo autor), e o caminho em
que andou oferece tanto a direção quanto o modelo para nossa vida. O apóstolo Paulo escreve que “fomos predestinados
a ser conforme a imagem de Cristo”, para que ele fosse o “primogênito entre
muitos irmãos”. O apóstolo Pedro encoraja
os crentes no meio de seus sofrimentos, dizendo-lhes que Cristo deixou um
exemplo a ser seguido em seus passos. Finalmente, o autor da Carta aos Hebreus
nos admoesta:
Hebreus 12:1-2. Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados
de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado
que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está
proposta. Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que
lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se a
destra do trono de Deus.
Não
é estranho, à luz dos textos acima, que João tenha dito para “andarmos conforme
Cristo andou”, como prova de conversão autêntica. Afinal, o que é o discípulo
senão aquele que procura se tornar como seu mestre em todas as coisas? Na
maioria dos casos, a continuação desse relacionamento de Mestre e Discípulo
ocorre quando este se torna como seu mestre e se põe de pé diante dele como
sendo igual.
Porém,
no Cristianismo, esse relacionamento nunca termina, pois jamais estaremos no
mesmo nível de nosso Mestre. Somos sempre seus estudantes. Por esta razão Jesus
acautelou seus discípulos: “Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um
só é nosso mestre, e vós todos sois irmãos”.
O Cristão mais parecido ou mais maduro em relação a Cristo, ainda estará
aprendendo a andar como ele andou. O santo mais santificado sempre verá como a
si mesmo, como sendo o irmão mais novo que tenta, mas jamais conseguirá
completamente caminhar nos passos do seu irmão maior (mais velho). Sendo assim, o cristão mais maduro é
consciente de que sempre haverá grande caminho a percorrer antes de obter o
prêmio, isto é, a glorificação final no céu (p.73-74).
O
apóstolo Paulo expôs esta verdade com clareza surpreendente em sua Carta às
igrejas de Filipos. Ele nunca
reivindicou a perfeição e nunca fingiu que andava sempre como Cristo andou.
Porém, demonstrou em sua vida uma real e observável paixão de ser como Cristo
“avançando e prosseguindo” para o alvo, ao ponto de poder dizer aos irmãos que
estavam com ele: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (Filipenses 3:12-14; 1 Coríntios 11:1).
6.3 Examinar Nossa Caminhada: estamos
andando conforme a sua luz; andamos conforme ele andou? Nosso modo de viver
reflete verdadeira paixão por ser como Cristo? Devemos simplesmente continuar a
provar nossa confissão com a nossa conduta, crescendo em conformidade ao padrão
que Cristo nos deixou. Cada dia que perseveramos servirá para fortalecer a segurança
que possuímos.
Porém, (...). Se
admirarmos o que o mundo admira e procuramos imitar o seu modo, devemos
questionar a autenticidade de nossa profissão. As Escrituras não oferecem uma
fórmula ou programa de passo a passo que conserte nossa estropiada segurança.
Pelo contrário, ela nos admoesta (adverte ou avisa) a buscar o Senhor em sua
Palavra e em Oração até que ele nos dê a paz.
Todas as nossas confissões de fé e os sentimentos subjetivos de
segurança só serão válidos no grau em que foram provados por evidências
práticas e observáveis de vida transforma e transformadora.
Cap.
7 Amar os Cristãos.
1 João
2:7-11.
Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o
princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio
ouvistes. Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em
vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz ilumina. Aquele que
diz que está na luz, e odeia a seu irmão, até agora está em trevas. Aquele que
ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo. Mas aquele que odeia a
seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir;
porque as trevas lhe cegaram os olhos.
O
amor pelo povo de Deus é tema repetido muitas vezes, tanto no Antigo Testamento
quanto no Novo Testamento. Assim, não é surpresa que João apresente esse amor
como sendo prova da verdadeira conversão. Quem demonstra amor real e duradouro
por seu irmão em Cristo e pela Igreja coletivamente dá poderosa evidência de
conversão.
7.1 Um Antigo Mandamento. (...): o mandamento de Deus de amor nosso irmão tem
sido tema central da sua vontade manifestada desde o início da revelação
divina. Uma vez que “Deus é amor” e que amou seu povo desde o começo, não é
surpresa que desde o princípio tenha ordenado que eles amassem uns aos outros.
Esse mandamento não é algo que surgiu com a escrita do Novo Testamento, mas
estava implícito em todas as narrativas mais antigas do Antigo Testamento e
claramente revelada na Lei Mosaica, como pode ser demonstrado pela ordem
registrada no livro de Levítico 19:18: “Não te
vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. John Gil
escreve:
[Amar era] Uma parte
da eterna lei da verdade, fundada sobre a inalterável natureza e eterna vontade
de Deus, que é, ele mesmo, o amor, e requer isso de todas as suas criaturas. [o
amor] Estava escrito no coração de Adão no estado da inocência, e era um ramo
da imagem divina impressa sobre ele; e [o amor] foi entregue na Lei de Moisés,
porque amar a Deus e aos Homens é o resumo e a substância dessa lei.
De
acordo com a lei, os Israelitas tinham de amar uns aos outros não se vingando
nem guardando rancor; matando, roubando, cometendo adultério, dando falso
testemunho ou fazendo qualquer outra coisa que impedisse o bem-estar do seu
irmão. Aprendemos que o amor ao próximo é um mandamento antigo e que Deus
sempre foi amor (...). A verdadeira piedade sempre se manifestou em amor a Deus
e por seu povo escolhido (Êxodo 20:13-16; Levitico
19:18).
7.2 Um Novo Mandamento. (...)? Já
provamos que o amor é atributo de um Deus eterno e imutável, mandamento que
prevalece e percorre todo o curso do Antigo Testamento. Como pode o mandamento
ser antigo e ao mesmo tempo novo? João não se contradiz no mesmo versículo, mas
utiliza essas declarações aparentemente contraditórias, para fazer uma
belíssima apresentação da revelação maior da glória de Deus na nova aliança
(Novo Testamento).
Deus sempre revelou seu amor aos homens desde
o princípio. (...). De modo semelhante, podemos dizer que o amor ordenado,
exposto e demonstrado no ensino de Cristo e sua vida sacrificial ultrapassa em
muito as exigências do Antigo Testamento, de tal maneira que parece totalmente
novo.
O
seu amor agora define qual profundidade, altura, largura e comprimento em que o
povo de Deus deverá amar uns aos outros. Assim, Jesus ensinou aos discípulos:
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu os amei,
que também vos ameis uns aos outros”. Na Antiga Aliança, o Israelita
demonstrava amor obedecendo a leis que os protegiam, participando de numerosos
atos positivos de caridade e bondade[5].
O
tipo de amor produzido pela conversão autêntica não fica restrito aos
sentimentos e palavras, mas se manifesta em ações práticas, isto é, tem de
haver ação. Esse tipo de amor tem de começar em meio aos relacionamentos
individuais dentro da igreja local e operado (praticado) para fora dela, junto
à comunidade dos que creem.
7.3 Evidência da Conversão. João assevera
claramente que uma das maiores evidências de que alguém tenha se convertido (se
não a maior), é o amor por seu irmão em Cristo e pela Igreja como um todo. Digo
mais, esse amor deve também ir em
direção a aqueles que estão distantes de Cristo (não O conhecem ainda ou estão
desviados do seu caminho), para que possam ser alcançados e, a eles, ser
oportunizado a salvação eterna (acréscimo nosso).
João não procura
impressionar seus leitores com a estética de sua prosa, mas espera ajuda-los a
obter uma só esperança de salvação, determinando se eles possuem alguma das
evidências ou virtudes que acompanham o verdadeiro Filho de Deus. (...), a obra
regeneradora do Espirito Santo, que produz em nós tanto o arrependimento quanto
a fé que salva, também criará em nós um novo e cada vez maior amor pelo povo de
Deus. E, ainda diz que: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do
diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que
não ama a seu irmão” (João 13:35; 1 João 3:10).
O ensinamento
inspirado por João, o apóstolo, é este: “Quem não ama os irmãos é filho do
diabo, não conhece a Deus, não ama a Deus e habita a morte”. Ele não convida
para um debate sobre a questão, nem está disposto a discutir possíveis exceções.
Ele é bem taxativo: aquele que não ama os irmãos, não conhece a Deus! (p.
79-82).
7:4 A Impossibilidade de Amar. Um dos maiores
testes de conversão autêntica é o amor sincero e afetivo por aqueles que
pertencem a Cristo e são chamados pelo seu nome. Esse amor não é poético ou
teórico, mas real e prático. É um amor que morre para si mesmo e, se
necessário, arrisca tudo por amor do Nome e por aqueles que são por ele
chamados. Tal amor é evidência da regeneração e verdadeira conversão, porque é
absolutamente impossível à parte dela.
Desde o primeiro ato
de desobediência e a resultante maldição, tem havido grande e permanente
inimizade entre a semente da serpente (os filhos da desobediência) e a semente
da mulher (os Filhos de Deus). Embora a guerra tenha culminado na vitória do
Messias no Calvário, mas a batalha continua entre seu povo e o mundo até a
consumação final. A hostilidade do mundo caído contra os filhos de Deus é uma
verdade inegável da Escritura e da história. Por esta razão, João exorta seus leitores
a não se surpreenderem com o ódio que o mundo tem para com eles. Jesus deu este
mesmo aviso a seus discípulos no discurso do Cenáculo na noite antes de sua
Crucificação (Gálatas 4:22-23; 1 João 3:13; João
15:18-19).
Quando vemos nas
Escrituras a hostilidade do homem caído contra o povo de Deus, podemos entender
mais claramente por que o amor pelos irmãos é uma prova tão importante da
conversão. O homem natural (caído, corrompido) não consegue amar a Deus ou o
seu povo. Quando alguém que antes desprezava o povo de Deus de repente se
encontra partilhando dos mesmos desejos que eles e ansiando por ter comunhão
com eles, é um grande indicador de que algo maravilhoso aconteceu. Essa mudança
é inexplicável a não ser pela obra do
Espírito Santo da regeneração (p.84-87). Não sabemos que somos Filhos de Deus
porque nosso amor é perfeito, mas porque está sendo aperfeiçoado pela obra
permanente de Deus em nós (1 João 2:8; Efésios 4:13).
7.5 A Prova do
Amor.
Agora, precisamos examinar nossa vida à luz dessas verdades. Para nos auxiliar
em ver onde estamos nesta questão de suma importância, as perguntas a seguir,
podem nos ajudar. Primeiro, de quem é a companhia em que você tem maior prazer? (...). Ou
prefere a companhia do mundo e raramente fala sobre a pessoa e as coisas de
Deus? Quando foi a última vez em que esteve com outros crentes com a única
intenção de estar com eles e exaltar a Cristo? Devemos atentar de como
responderemos a essas perguntas, reconhecendo que muito do que chamamos de
comunhão cristã, tem pouco a ver com Cristo?
Segundo, você se identifica publicamente com Cristo
e seu povo? Você consegue se identificar com Moisés, que “recusou ser chamado
filho ou filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a
usufruir prazeres transitórios do pecado” (1 Coríntios
4:9-13; Hebreus 11:24-25). Terceiro, embora tenha consciência das muitas
fraquezas e falhas morais da igreja, você tem o compromisso de promover sua
melhora? Ou se alinha com o diabo e ao mundo nas acusações contra ela? Em
contraste, o verdadeiro cristão responde as falhas de seus irmãos com um amor
que cobre uma multidão de pecados, e se entrega a sua restauração e
aperfeiçoamento (1 Pedro 4:8). Quarto, você é membro atuante e contribuinte de
uma congregação local e visível de cristãos? Você está morrendo para o seu eu e
entregando sua vida em serviço ao próximo cristão? Em termos simples, o que
você faz para edificar o povo de Deus e promover a causa de Cristo entre eles?
(p.89)
Uma das evidências de
que somos membros do corpo é que somos úteis para ele. Amor sem obras, como fé
sem obras, é morto. Faríamos bem em lembrar que as ovelhas e os bodes eram
divididos pelo que faziam ou não faziam para o povo de Deus. Concluindo, amar
não é somente uma boa coisa entre muitas, mas a mais excelente, maior ainda que
a fé e a esperança. Esta virtude tem de ser encontrada em nós e manifestada em
nossas vidas (obras), antes de ousarmos assegurar ao nosso coração que o temos
conhecido (Tiago 2:17; Romanos 3:12; Oséias 3:1-3; 1
Coríntios 13:13; 1 João 3:14).
Cap.
8 Rejeitar o Mundo.
1 João
2:15-17.
Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai
não está nele. Porque tudo que o que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, do mundo. E o mundo
passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece
para sempre.
Nos
capítulos anteriores, consideramos diversas evidências de vida cristã: andar de
conformidade a revelação de Deus; confessar o pecado; guardar os mandamentos;
imitar a Cristo e amar nossos irmãos. Neste capítulo, acrescentamos mais uma
marca à luta: a perseverança do crente e sua crescente rejeição ao mundo.
8.1
(...) O Que é Mundo e no que consiste o mundo? Esta expressão
“mundo” é traduzida da palavra grega Kósmos. (...), ela pode referir-se ao universo
físico ou a seus habitantes humanos. Porém, neste contexto e em muitos outros,
a palavra cosmos carrega uma distinta conotação negativa. Ela se refere a tudo
no âmbito de nossa existência humana que é contrário ao conhecimento de Deus,
que está em oposição a vontade d’Ele e é hostil para com a Sua pessoa.
Consistem em ideais, aspirações, filosofia, atitude e conduta da grande massa
da humanidade caída. (...), o mundo nada mais é do que a soma de três elementos
básicos ou vis: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida.
8.2 A Concupiscência da Carne. Esta
palavra origina-se do grego Epithumía, que denota desejo,
anseio, paixão ou almejo (desenfreado, sem equilíbrio,
acréscimo nosso). Ela não é necessariamente negativa, mas pode assumir
essa conotação dependendo do contexto em que é empregada[6].
De forma positiva, podemos observar seu uso em alguns textos. Jesus desejava
ardentemente comer a Páscoa com seus discípulos. O apóstolo Paulo tinha imenso
desejo de ver o rosto dos Tessalonicenses, entre outros. No entanto, quando nos
referimos ao seu uso no Novo Testamento, ela é mais frequentemente empregada
para denotar cobiça ou forte desejo que se encontra fora do âmbito da vontade
de Deus, tanto na direção quanto em relação a sua intensidade (Romanos 11:12; Lucas 22:15; 1 Tessalonicenses 2:17).
O
apóstolo Paulo usou essa palavra
para descrever o pecado de cobiçar ou ansiar por aquilo que é contrário a
vontade de Deus. Pedro a utilizou para descrever os desejos corruptos de homens
carnais, que desprezavam a autoridade e viviam em oposição a Deus. A palavra
“carne” vem do vocábulo hebraico “Basar” e da palavra grega “Sarx”
(p.92).
Dependendo do contexto
ela tem diversos significados. Primeiro, pode denotar o corpo físico comum de um
homem; sua carne, sangue e ossos. Segundo, pode se referir ao homem como criatura
fraca e temporal, especialmente em comparação com Deus, que é eterno e
onipotente Espírito. Terceiro, pode denotar a condição decaída do homem ou a
depravação moral de sua natureza no seu estado não regenerado (Romanos 7:7-8; 2 Pedro 2:18; 2 Coríntios 10:3; Gálatas 2:20;
Filipenses 1:22).
Neste contexto, é a
terceira significação que está sendo dada por João. O homem, apogeu da glória
de Deus, foi feito a sua imagem e para sua glória. Quer coma, beba ou faça
qualquer tarefa, da mais nobre a mais humilde, tem de realiza-la para a glória
de Deus. (...), as Escrituras testificam que ela pecou e está destituída dessa
glória – o homem se deslocou e se deformou. De acordo com as Escrituras, o
homem natural vive na cobiça da carne e cede (se entrega) a seus desejos. Ele é
filho da ira por natureza (Romanos 3:23; 1 Coríntios
10:31; Efésios 2:3).
A pessoa que continua
escravizada e impelida pelos desejos pecaminosos da carne ainda não conhece a
Deus, apesar de sua profissão de fé e reivindicação de possuir a identidade de
Cristo. Porém, a pessoa que crucificou a carne com suas paixões e desejos, e
que anda na liberdade do Espírito de Deus, tem grande razão pela esperança de
que se tornou Filho de Deus (Gálatas 5:16,24-25).
8.3 Concupiscência dos Olhos. Grande parte dos
comentaristas, tanto os antigos quanto os contemporâneos, concorda que esta
frase se refere aos desejos pecaminosos ativados e alimentados por aquilo que
vemos. É por meio dos olhos que somos levados a cobiçar as coisas que o amor e
a justiça de Deus condenam ou proíbem. Foi assim lá no Éden; Eva
viu que a árvore proibida era “agradável” aos olhos (p.94).
Acâ viu e cobiçou uma “bela capa, moedas de prata e barras de
ouro” entre os despojos proibidos. O rei Davi viu a beleza de “Bateseba” do
telhado de seu palácio, desviando-se da lei e a tomou por mulher (Gênesis 3:6; Josué 7:20-21; 2 Samuel 11:2-5).
Ao considerarmos
esses textos, podemos achar que o pecado dessas pessoas estivesse em seus atos,
mas, na verdade, eles pecaram muito antes de cometê-los. O próprio Jesus
advertiu-nos sobre isso ao dizer que “aquele que olhar para uma mulher com
intenção impura no coração, já adulterou com ela”. Jó sabia da grande seriedade
e gravidade desse pecado e, por esta razão, declarou “tenho feito uma aliança
com meus olhos de não olhar para uma virgem”, isto é, jovem mulher (Mateus 5:27-28; Jó 31:1).
Todas as Escrituras
testificam o que Charles Haddon Spurgeon explicou
com toda clareza:
“Aquilo que fascina o
olho é muito apto a obter admissão no coração, assim como a maça de Eva agradou
primeiramente a sua visão e então prevaleceu sobre sua mente e mão”.
No
Sermão do Monte, Jesus extraiu da Literatura Judaica se referindo ao olho como
sendo a “lâmpada do corpo”. A ideia é que o foco do olho da pessoa revela o
conteúdo e a condição do seu coração. A pessoa que resolveu desviar seus olhos
do mal e enfocar (fixar) o reino dos céus demonstra que seu coração se tornou
reto por meio do evangelho e da obra regeneradora do Espírito Santo. Em
contrapartida, aquele que não consegue enxergar a beleza ou o benefício do
reino, mas firma seus olhos sobre as coisas deste mundo, demonstra que seu
coração permanece não regenerado e que o evangelho pouco fez bem a ele (p.96).
Precisamos
estar atentos, haja vista que vivemos momentos e circunstâncias de uma cultura
totalmente hipnotizada por coisas malignas e os marqueteiros de “plantão”,
sabem muito bem que com um único efeito visual conseguirão despertar nossos
corações ao desejo e anseio por coisas que outrora não conhecíamos ou nem
desejávamos. O diabo sabe desde o começo que a maior e mais larga avenida que
leva ao coração são os olhos. Se o coração for verdadeiramente regenerado, você
é uma nova criatura, com novos afetos (e atitudes) que dirigirão seus olhos
para longe da atração mundana até aquilo que é celestial.
8.4 A Soberba da Vida. Estra frase é
traduzida do grego “Alazonéia tou bíou”. A palavra alzonéia é corretamente traduzida como sendo “orgulho soberbo”. Ela
se refere a um orgulho vazio, presunçoso e insolente, que conduz a um
palavreado de jactância. Ela é empregada na forte advertência de Tiago aos ricos
que se gabavam de grandes planos e empreendimentos á parte de Deus, sem
considerar a sua providência ou a sua própria mortalidade (Tiago 4:13-16).
Quanto
a outra expressão “Bíou”, o Novo Testamento usa duas palavras da língua grega para
representar seu significado como sendo “vida”. A mais comum é Zoé que se refere ao princípio ou essência da
vida. Entretanto, a outra palavra é Bio,s de
onde se origina a palavra Biografia. Ela tende a se referir ao período ou
decurso de vida da pessoa ou aquilo pelo qual a vida da pessoa é sustentada:
recursos, riqueza, propriedades ou sustento.
Juntando
o que sabemos sobre essas duas expressões e seu uso no Novo Testamento,
concluímos que a frase traduzida é “Soberba da Vida”, referindo-se ao orgulho
ou arrogância de pessoas que não só se gabam (vangloriam-se) do que conseguiram
ou possuem como também os atribuem à sua própria sabedoria e poder (esforços).
A mesma atitude floresce facilmente entre aqueles que confessam depender de
Deus e até mesmo daqueles que dão graças a Ele.
Existe
um ateísmo prático na igreja que é muito mais mortal do que seu irmão mais
velho e mais abertamente desafiador. Veste roupa do cristianismo e pode até
mesmo confessar a Jesus com Senhor, mas raramente consulta Sua vontade em nível
prático. Pode pedir a Deus que se junte a ele num propósito, que já foi
determinado um plano totalmente designado (p.99).
A
soberba da vida é a epítome[7] da
adoração de si mesmo e os que cedem a isso se tornam patéticos, tanto quanto os
antigos Caldeus (Babilônicos) que ajuntavam os peixes em suas redes para então
oferecer sacrifícios a eles. Tais pessoas não conseguem enxergar que Deus é que
dá vida a todas as pessoas, respiração e todas as coisas para que possam
busca-lo e encontra-lo (Habacuque 1:15-16; Atos 17:25-27;
Salmo 39:5; Isaías 2:22; Tiago 4:14).
8.5 Nossa Relação com o Mundo. À luz do que
aprendemos como pessoas que professam ser cristãos, temos de nos perguntar onde
estamos em relação ao mundo? Ela é uma das grandes provas de nossa salvação.
João nos adverte que o amor ao mundo e o amor a Deus são diametralmente
opostos: “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”. Tiago é mais
ousado ao declarar que: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é
inimiga de Deus”? (1 João 2:15; Tiago 4:4).
Segundo
as Escrituras, amar o mundo e amar a Deus ao mesmo tempo é uma impossibilidade
lógica, porque os dois são totalmente incompatíveis e opostos entre si. Isso
não quer dizer que os cristãos não tenham problemas ou dificuldades com o
mundo, nem que sejam por ele seduzidos. Ele terá grandes lutas com o mundo em
todas as suas variadas manifestações, mas o odiará.
A
pessoa que professa ter fé em Cristo e se encontra crescendo em seu desdém pelo
mundo, vivendo em oposição a ele, progredindo na sua vitória sobre o mundo, tem
grande causa de segurança, não importa quantas vezes tenha caído. Assim
permanece a pergunta: onde estamos em relação ao mundo?
8:6 Uma Palavra para os Pastores. Nos dias de João, o
mundo tinha seu ápice no Império Romano, com sua avareza, sensualidade e fome
de poder. No apocalipse ele é visto como “Babilônia, a Grande, a Mãe das
Meretrizes e das Abominações da Terra”. Como a babilônia da antiguidade, o
mundo de hoje estende seu copo dourado para todos beberem: “um cálice transbordante
de abominações e com as imundícias da sua prostituição” (Apocalipse 14:8; 17:4-5). N
Também
como a babilônia, o mundo hodierno está armado de falsos profetas enviados aos
quatro cantos do globo para desviar a humanidade. (...). Não ligam para os absolutos
morais que podem impedir a liberdade do individuo em sua busca de auto
expressão. Estão sempre do lado de seus ouvintes como seus corretores,
procurando os interesses, dizendo-lhes o que precisam e tornando isso
disponível a determinado preço. Não é difícil discernir por que eles têm tantos
seguidores (p.102).
O mundanismo não requer grande explicação, mas o que está
longe de entendimento é a ousada presença do mundo na igreja. (...). Por que e como isso
tem acontecido em tantas igrejas? Primeiro,
temos de concluir que grande e inquietante número deles (membros, pastores
etc.) não são regenerados, e assim, estão cortados de Cristo. Suas flagrantes e
impensadas violações da doutrina e da ética são tão grotescas que certamente
não são convertidos. Segundo, temos
de conceder que alguns que são realmente convertidos não foram chamados.
Terceiro, temos de entender que alguns homens
realmente são cristãos e chamados ao ministério evangélico, mas foram enredados
pela religião do dia; falta-lhes o “ferro que afia o ferro” da verdadeira
comunhão com outros homens de Deus, mas não sabem como encontrar o caminho de
volta (Provérbios 27:17).
Quarto, muitos pastores têm se envolvido na
tendência de “fazer” a igreja de acordo com os caprichos da cultura ou a suposta
efetividade do pragmatismo. Muitos assumiram os maneirismos de apresentadores
de show , coaching de vida,
psicanalista ou especialista de marketing. Não podemos esquecer que os pastores
são principalmente estudantes e mestres das Escrituras; cuidadores do rebanho e
ardentes intercessores diante de Deus. (...). Deverão se conformar a rigorosos
padrões da Escritura quanto ao caráter, ética e dever (1
Timóteo 3:1-7; Tito 1:7-9).
Quinto e último, devemos reconhecer que somos
covardes – medo de rejeição que flui do ídolo da autopreservação. Temos
desenvolvido uma visão distorcida e conveniente do amor que jamais perturba a
ninguém. (...). É um amor que deixa as pessoas andarem rumo ao inferno sem
adverti-las, em vez de confrontá-las em seus pecados, ferindo sua frágil
autoestima ou tornando-as inimigas ao dizer-lhes a verdade (Gálatas 4:6).
Isso não é amor, mas
a antítese do amor. Se nunca repreendemos as ovelhas para ganhar injustamente
seu desfavor, não é porque os amamos, mas porque queremos que elas gostem de
nós. (...). Esquecemo-nos da advertência do Senhor que disse: “Ai de vós,
quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos
profetas” (Lucas 6:26).
Cap.
9 Permanecer na Igreja.
1 João
2:18-19.
Filhinhos, já é
a última hora[8];
e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos tem
surgido, pelo que conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio,
entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam
permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que
nenhum deles é dos nossos.
Neste
texto, o apóstolo João faz referência a um grupo de pessoas que se apostataram
da fé. Eles haviam rejeitado a doutrina apostólica sobre a pessoa e as obras de
Cristo abandonaram a igreja e se tornaram falsos profetas. João, inclusive,
chega a referir-se a eles como anticristos. Esse titulo infame “anticristo”, é
a junção das palavras grega Christós (Cristo) e a preposição “anti” que
literalmente significa “contra” ou “em lugar de”.
No singular, o anticristo se refere ao
grande inimigo do Messias, que um dia tentará usurpar (arrancar ou tirar a
força) seu lugar lutando contra Jesus Cristo. No plural, ele se refere a
qualquer número de pessoas de todas as eras da igreja, que negam as doutrinas
apostólicas fundamentais sobre a pessoa e a obra de Cristo, colocando-se fora
da igreja e do cristianismo histórico e que buscam desviar outras pessoas do
mesmo modo (2 Tessalonicenses 2:3-4).
Em
sua Epístola, João descreve estas pessoas como sendo mentirosas e enganadoras,
pois negam o Pai e o Filho, rejeitando a encarnação e recusando a reconhecer
que Jesus é o Cristo divino. Em nossos dias, o mundo está repleto de
anticristos que se opõem a Cristo diretamente ou então propagam uma religião
que diminui a supremacia de Sua pessoa ou a natureza essencial de sua obra. A
própria Escritura revela que “os que não são por Cristo estão contra ele” (Lucas 11:23; 1 João 2:22-23; 2 João 1:7).
9:1 Segurança e Apostasia: (...), espero apresentar
algumas importantes verdades quanto à natureza da conversão e demonstrar como
elas se aplicam ao cristão. Para começar, é necessário entender que eu afirmo a doutrina histórica da
perseverança dos santos (o autor), conforme atestavam os Reformadores, os
Puritanos, os Presbiterianos tradicionais e os Batistas Reformados[9].
A
doutrina acima referida, afirma que aqueles que foram verdadeiramente regeneradas
pelo Espírito Santo, feitos novas criaturas em Cristo, guardados pelo poder de
Deus, nunca permanecerão caídos na apostasia e destruição eterna. A razão para
tal confiança não é fundamentada sobre a força de vontade do cristão, mas
somente sobre a fidelidade e o poder de Deus. O mesmo Deus que salva o seu
povo, também os guarda por seu poder.
O
Deus que justifica o crente com certeza o santificará e, no final dos tempos, o
levará a glorificação (nos céus). Como escreveu o apostolo Paulo em uma de suas
Cartas: “Estamos confiantes de que aquele que começou boa obra em nós a
aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6).
Em
qualquer discussão sobre a perseverança do crente; quatro coisas devem ser consideradas:
primeiro, temos de compreender algo
sobre a natureza de salvação. A superficialidade de grande parte da pregação
contemporânea nos leva a crer que a obra da salvação seja primariamente uma
decisão da vontade humana. Deus revela o evangelho ao homem e então espera sua
resposta (ou seja, sua decisão). O homem recebe a salvação por sua decisão de
seguir a Cristo e continua nessa salvação pelo mesmo ato de vontade.
O
problema desse ponto de vista é que trata somente da vontade do homem e não
considera a operação de Deus sobre a sua natureza. A Escritura ensina que a
pessoa que crê para a salvação é nascida de Deus[10].
Além do mais, afirma que nesse novo nascimento “não nasceram do sangue, nem da
vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Portanto, a salvação
não envolve apenas um ato de vontade humana, mas a transformação de uma
natureza radicalmente depravada para uma nova criação (João
1:13; 2 Coríntios 5:17).
Segundo, temos de compreender algo da
obra contínua da providência divina na vida dos verdadeiramente convertidos.
Deus não apenas incita a pessoa a crer
para então deixa-la fazer aquilo que ela quer fazer. As Escrituras nos
ensinam que o Deus que justifica, é também quem santifica. Esta verdade é
demonstrada de modo supremo na Epístola de Paulo endereçada à Igreja de Éfeso.
A pessoa que foi justificada pela graça mediante a fé torna-se feitura de Deus.
Ela foi recriada em Cristo Jesus para realizar o bem que foi preparado para ela
antes da fundação do mundo, segundo os eternos conselhos de Deus.
O
apóstolo Paulo também escreveu aos cristãos de Filipos, afirmando que Deus não
os salvou para então deixa-los a sós, sem rumo, mas está trabalhando neles
“tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua boa vontade”. Esta declaração
prova que Deus não apenas tornou o crente em nova criatura, com novo afeto a
influir sobre sua vontade, como também opera sobre a vontade do cristão para
que ele viva e trabalhe de acordo com a boa vontade de Deus.
Terceiro, (...). Embora a obra de Deus
de salvação seja para o homem, o bem estar do homem não é seu alvo principal ou
bem maior. O fim de todas as coisas é a glória de Deus mediante a revelação de
seu caráter e poder. Noutras palavras, Deus faz tudo que faz a fim de que sua
grandeza e glória sejam reveladas às suas criaturas. Este é o propósito de
todas as obras de Deus, mas especialmente de sua maior obra: a salvação do
homem por meio de Jesus Cristo. Será que Deus deixaria que fracassasse a maior
demonstração de seu caráter e poder? Para
sua glória, Deus não permitirá que a salvação falhe, nem mesmo para o mais
fraco que crê. Porém, ele “fará com que a força do meu Senhor se engrandeça como
tens falado”. Tomará seu povo do mundo e os conduzirá para si mesmo. Purificará
de toda sua imundícia e ídolos e lhes dará um novo coração em que escreverá
suas leis. Porá neles o seu Espírito e fará com que andem em seus estatutos (Números 14:17; Jeremias 31:33; 32:38-41; Ezequiel 36:22-27).
Portanto,
a salvação não fracassará, pois não foi projetada para provar ou revelar nossa
fidelidade e poder, mas sim o poder e a fidelidade de Deus. Quarto, precisamos entender que a
doutrina da preservação dos santos (salvos), tem sido grosseiramente
obscurecida e exposta de maneira errônea por muitos dos que dizem crer nela. A
doutrina histórica da perseverança dos salvos afirma a segurança eterna do
filho de Deus. Porém, isso não é
licença para o pecado, nem sustenta que pessoas ímpias e carnais serão salvas.
Pelo contrário, sem vacilar, mantém as verdades Bíblicas de que somente os que
perseverarem até o fim serão salvos, e que sem a santificação que conduz a
santidade, ninguém verá o Senhor (Mateus 24:13; Marcos
13:13; Hebreus 12:14).
O
evangelicalismo contemporâneo tem sido afetado totalmente por um ensino de que
“uma vez salvo é salvo para sempre”
que argumenta a possibilidade de salvação sem santificação. No nome de defender
as doutrinas da sola gratia (somente a graça) e sola fide (somente a fé), muitas pessoas
evangélicas de liderança da igreja argumentam apaixonadamente pela salvação de
uma pessoa que uma vez professou crer em Cristo, mas agora O nega ou continua
professando ter fé em Cristo, mas permanece carnal, mundano e apático em relação a Deus.
Aqueles
que assim professam e defendem, demonstram total ignorância da natureza da fé,
do poder da regeneração e da divina
promessa de uma obra contínua da providência. (...). As Escrituras nos dão a
promessa de que se com nossa boca confessarmos que Jesus é o Senhor, e se
crermos em nosso coração que Deus o ressuscitou da morte, seremos salvos. Não
podemos esquecer de que a salvação é vista em três tempos e que Deus é o
autor e aperfeiçoador de cada um: 1º - Ele nos salvou da condenação do pecado e
da morte pela justificação; 2º - atualmente
Ele está nos salvando do poder do pecado pela santificação progressiva e; 3º - e Nos salvará dos efeitos e da
presença do pecado pela nossa futura glorificação
nos céus.
Romanos 8:28-31. E sabemos que todas as coisas contribuem
juntamente para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados
segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que
chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também
glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra
nós?
Portanto,
como assevera o apóstolo Paulo, descrito no texto acima, esta não é apenas uma
possibilidade esperançosa na vida do cristão, mas de absoluta certeza.
9:2
Exame Pessoal. Cristãos autênticos não caem. Porém, muitos que confessam
e que se identificam com a igreja não são crentes autênticos. Acabam se
desviando da igreja Bíblica e demonstram sua verdadeira condição. Nesta
questão, a igreja tem falhado com a maioria de seus congregados. Quando a
Palavra de Deus não é exposta de modo a afetar a consciência e quando a igreja
é organizada para satisfazer os desejos carnais do mundo, então os não
convertidos não são compelidos a sair, mas permanecem confortavelmente na
igreja enquanto continuam rumo ao inferno. Este é o triste estado do que
acontece na chamada igreja evangélica.
Se
for haver mudança, ela tem de começar com um reavivamento entre a liderança, ou
seja, os pastores do povo de Deus. Estes, precisam pregar todo o Evangelho da Palavra de Deus à consciência de
seus ouvintes. Tem que tornar conhecido o evangelho em toda sua escandalosa
glória, expondo a santidade de Deus, a depravação do home, apontando para a
cruz do Calvário e ordenando aos homens em todo lugar que se arrependam e
creiam no evangelho.
Precisam
instar o povo de Deus a buscar uma vida de santidade, desdém (ojeriza) pelo
mundo, desinteresse por si mesmo, serviço sacrificial tendo sempre em vista a
eternidade. É necessário despertar do sono os não convertidos entre nós. Certos
de que alguns acordarão com ódio do pregador (pastor) e sua mensagem, mas
outros despertarão quebrantados ante o pecado e tendo fé para a vida eterna.
Cap.
10 Confessar Cristo.
1 João
2:22-24. Quem
é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo,
o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, este não tem o Pai;
aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai. Permaneça em vós o que
ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o principio
ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai.
(...)
1 João
4:1-3. Amados,
não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de
Deus, porque muitos falsos profetas tem saído pelo mundo afora. Nisto
conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo
veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede
de Deus; pelo contrário, este é o espirito do anticristo, a respeito do qual
tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.
O
propósito da primeira Epístola de João é auxiliar os crentes a adquirir uma
segurança Bíblica com respeito a seu relacionamento com Deus por meio de Cristo
e seu estado eterno. Porém, falsos mestres haviam entrado na congregação e
estavam criando dúvidas quanto a algumas verdades fundamentais do Cristianismo.
Dos
textos em destaque acima, colocaremos em relevo alguns desses erros que estavam
sendo propagados por esses falsos mestres: primeiro,
eles negavam que Jesus fosse o Cristo; segundo,
negavam também que Jesus Cristo tinha vindo em carne; e, terceiro, negavam que Jesus Cristo
fosse o Filho de Deus.
Das
três negações acima, dentre outras evidências descritas nesta Carta, parece que
esses homens eram agnósticos[11] ou
pelo menos seus ensinamentos representavam os estágios iniciais da religião
(seita) que acabou sendo conhecida como gnosticismo. As duas expressões são
derivadas da palavra grega “gnoses”, que significa conhecimento.
Os
gnósticos alegavam possuir um conhecimento especial que se originava fora das
Escrituras, era contrário a ela. Seu ensinamento
central era que o espírito era bom e a matéria era má (carne,
corpo). Desse dualismo nada Bíblico,
resultaram diversos erros fatais, tornando o gnosticismo uma das mais perigosas
heresias que a igreja primitiva confrontava. Na filosofia, o dualismo se refere
a qualquer sistema de pensamento que considere a realidade em termos de dois
princípios independentes – material ou imaterial, ou matéria e espírito.
Segundo eles, primeiro, o corpo humano era material e, portanto, mau. Em contraste,
Deus era puro espírito e, portanto, bom. Segundo,
para ser salvo a pessoa tinha de fugir do corpo, não pela fé em Cristo, mas por
especial revelação que somente os gnósticos conheciam.
Terceiro, com o corpo era mau, alguns
gnósticos afirmavam que ele deveria ser privado por meio de um estilo de vida
ascético[12]. Porém,
outros afirmavam que o corpo não era importante e, portanto, podiam ceder sem
restrições a qualquer forma de imoralidade. Muitas dessas e outras heresias são
tratadas por João na sua primeira Epístola, assim como faz também o apóstolo
Paulo no Livro de Colossenses. Neste caso, duas heresias são de interesse
especial em nosso estudo; são elas: o Docetismo[13] e o Cerintianismo.
O
Cerintianismo recebeu esse nome, devido
o seu proeminente porta voz se chamar – Cerinto. Ele ensinava que o espírito do
divino Cristo desceu do céu sobre o homem Jesus de Nazaré no momento de seu
batismo e que Cristo abandonou a Jesus e ascendeu aos céus antes de morrer no
Calvário. Em suma, o ensino gnóstico negava a encarnação do eterno Filho de
Deus e dizia que o homem Jesus e o Cristo, eram dois entes separados; negando
assim que Jesus fosse o Cristo, Filho de Deus.
A
explicação contemporânea de tudo isso que aprendemos é simplesmente esta: uma
pessoa não é cristã a não ser que creia e confesse que Jesus de Nazaré é o
eterno Filho de Deus. Que ele deixou de lado sua glória celestial e foi
concebido pelo Espírito Santo no ventre de uma virgem; que nasceu em Belém como
Deus encarnado. Que é plenamente Deus e plenamente homem. Que era o Cristo
predito pela lei e pelos profetas, e que ele é o Salvador do mundo. Portanto,
qualquer desvio dessas verdades essenciais quanto a pessoa de Jesus Cristo,
desqualifica qualquer confissão Cristã (de fé) assim chamada, não obstante, sua
aparente sinceridade e zelo por boas obras.
10:1 O Que Você Pensa de Cristo? (...), o cristianismo
trata da pessoa e obra de Jesus Cristo. Se a igreja evangélica estivesse mais
saudável ou pelo menos mais focada nas Escrituras, essa declaração não seria
necessária. Porém, é necessária e deverá ser o tema constante de toda pessoa da
igreja que deseja reforma e reavivamento.
O
cristianismo em sua forma mais verdadeira e mais primitiva é uma religião
fundamentada e enfocada em Cristo: “Porque ninguém pode lançar outro
fundamento, além do que já foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios
3:11). Nada em todas as nossas confissões, identificações ou obras terá algum
valor ou utilidade se primeiramente nós não tivermos uma opinião correta a
respeito de Cristo.
Dois
aspectos da pessoa de Cristo são apresentados nas Escrituras com tamanha
clareza que negá-las seria negar as Escrituras e tornar-se anticristo. A
primeira é que (...). O redentor tinha de ser homem, pois foi o homem que
transgrediu a lei e, por isso, teria de morrer. O redentor tinha de vir de
nossa estirpe – carne da nossa carne e osso de nossos ossos. Para que Cristo
fosse nosso “parente remidor”, tinha de ser da nossa espécie (Hebreus 10:4;
Levítico 25:25; Rute 2:1, 20).
Nesse
sentido, citaremos três razões para a necessidade de ter de ser Cristo: Primeira, somente Deus é salvador e ele
não compartilha e nem divide este título com mais ninguém. Deus reivindicou a
redenção como sendo prerrogativa da divindade ao declarar por intermédio do profeta
Isaías: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador” (Isaías 43:11).
Segunda, a magnitude da obra da redenção exigia a
divindade. A
criação do nada[14]
requereria gênio e poder muito além de tudo que pudéssemos imaginar. Contudo,
era algo pequeno se comparado à nossa redenção. Não foi necessário nenhum
esforço ou sacrifício da parte de Deus para criar um mundo do nada. Ele
descansou no sétimo dia, não para se recuperar, mas para ter prazer em algo
obtido – um novo mundo bom e belo tirado do nada por meio de uma só palavra.
Terceira, nossa total depravação exigia que nosso
redentor fosse Deus. Isso prova que necessitamos mais que remédio humano ou
guia moral. Precisamos de Deus! Qualquer
pessoa que pense que para ser salvo por alguém menor do que Deus, não tem
entendimento da profundidade de sua própria depravação e quebra da lei. Se
fizermos uma avaliação honesta de nós mesmos – nossos pensamentos mais íntimos,
escondido, palavras proferidas em segredo, seriamos humilhados e envergonhados
conformem convém. (...).
Se apenas parássemos
de ignorar ou de fazer revisões históricas para considerar os pecados de nossos
pais, descobriríamos que propagamos os seus pecados de forma modificada e mais
sofisticada. (...). Precisamos de Deus contra o qual pecamos para pagar o preço
por nossa redenção. O Deus que nos criou tem de ser o Deus que nos recria.
10:2 Quem Você Diz Que Ele é? Esta pergunta, em determinado momento de seu
ministério terreno, ele a fez aos seus discípulos: “Quem diz o povo ser o Filho
do Homem?” O apóstolo Pedro respondeu: “Tu és o Cristo! o Filho do Deus vivo”
(Mateus 16:13-17).
Tal verdade,
combinada ao que juntamos de 1 João 4, nos instrui que se cremos que o homem
Jesus seja qualquer coisa menor que Cristo e Deus encarnado, não somos
cristãos. A igreja verdadeira está repleta de toda espécie de crente: maduros e
imaturos; acadêmicos e trabalhadores mais simples; mestres e estudantes.
Admite-se que alguns são mais cultos que outros quanto ás grandes verdades da
pessoa de Cristo e mais hábeis na exposição das mesmas.
No entanto, mesmo o
mais destreinado entre o povo de Deus crê na verdade de que Jesus é a única
pessoa da história, o Filho eterno de Deus, que se fez carne e habitou entre
nós (João 1:14; Hebreus 2:14). A marca distintiva de qualquer religião fora
do Cristianismo e de toda seita que diz se identificar com o cristianismo, é a
negação sobre alguma coisa a respeito da pessoa de Cristo. (...). Mesmo aqueles
crentes que se encontram nos lugares mais remotos do mundo têm um entendimento
primitivo, mas certo de que Cristo é ambos: Deus e Homem.
Embora eles possam
não saber explicar como essas duas naturezas existam numa só pessoa, sem
confundir nem diminuir qualquer das duas, sabem que Jesus é divino e humano no
senso mais completo dos termos e recusam a ter comunhão com os que ensinam de
outra maneira. Há pouca evidência de que uma pessoa tenha sido ensinada por
Deus se ela pensa de Cristo de maneira contrária as Escrituras.
Há pouca evidência de
que uma pessoa sido regenerada pelo Espírito Santo se as grandes verdades a
respeito de Cristo não inspiram mais amor, reverência e devoção prática. (...),
a regeneração sempre conduzirá ao pensamento correto a respeito de Cristo e
correspondente afeto por ele.
Cap. 11
Purificar a Si Mesmo.
1 João
3:1-3.
Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos
de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos
conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de
Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele
se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.
E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é
puro.
Neste
texto, João volta a atenção para a grande importância da pureza moral na vida
cristã. Suas palavras, cuidadosamente elaboradas, demonstram que a pureza não é
apenas uma opção para o cristão, mais uma das maiores evidências da conversão.
Sabemos que realmente fixamos nossa esperança para a salvação sobre Cristo, se
nossas vidas forem marcadas por uma busca por santidade pessoal – se procuramos
nos purificar como ele é puro.
Este
texto enfatiza, entre outras coisas, sobre os falsos mestres que se infiltraram
na igreja e acreditavam que o corpo físico era mau e de pouca consequência nas
questões religiosas. Assim, eles se entregavam aos desejos carnais e ensinavam
outros a fazerem o mesmo sem reservas. A vida deles era marcada pelo amor pelo
mundo “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da
vida” (1 João 2:15-16).
Em
nome da graça, as pessoas ignoram, reinterpretam ou negam de cara os mandados
Bíblicos quanto á santidade. Os que lutam por maior santidade ou pureza pessoal
mais refinada, frequentemente são rotulados de
fanáticos, legalistas, superespirituais ou mais-santo que Deus. Embora a
pureza pessoal nunca seja completa deste lado da glória, e embora este não seja
um meio parar obter uma boa situação diante de Deus, ela é grande evidência de
que a pessoa conhece a Deus pela obra regeneradora do Espírito Santo e fé em
Cristo. Os que foram salvos pela graça mediante a fé se tornaram feitura de
Deus. Essa feitura é manifesta na conformidade do crente ao caráter de Deus, do
qual a marca mais distintiva é a santidade: “(...): Sede santos, porque eu sou
santo” (1 Pedro 1:16; 1 João 3:3).
(...)
ou instruídos na verdade de que uma das grandes marcas de conversão é um anseio
por pureza pessoal, que conduz a uma busca autêntica e repetitiva por ela.
Inconscientes de que “sem a santidade, ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14).
11:1
Visão Cristã da Pureza. “(...). E a si mesmo se purifica todo os que
nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (verso 3). As expressões “puro”
e “purifica” derivam da mesma raiz grega. O adjetivo puro é traduzido da
palavra grega Hagnos, denotando que a pessoa
ou coisa seja pura, santa, casta ou inocente. Já o verbo purificar é traduzido
da palavra grega Hagnizo, com o significado de
tornar puro, purificar ou limpar.
O
Novo Testamento usa essa palavra com referencia a purificação cerimonial. Ela também denota uma limpeza interna e
pessoal. Tiago escreve aos cristãos espalhados da igreja primitiva, conclamando
que os pecadores limpem suas mãos e purifiquem seus corações para que se
acheguem a Deus (João 11:55; Atos 21:24,26;Tiago 4:8).
No
texto em apreço, o apóstolo João descreve o crente autêntico como quem purifica
a si mesmo, assim como Cristo é puro. O verbo que ele emprega está no presente,
indicando uma ação contínua. Daqui aprendemos que o avanço do cristão em pureza
pessoal não é necessariamente o resultado de alguma experiência momentânea, mas
um processo que continua desde o momento da conversão até a glorificação final
no céu. É por isso que os teólogos e expositores muitas vezes se referem ao
crescimento do crente na pureza como santificação progressiva. (...), esse
crescimento em santidade do crente é, sobretudo, resultado da obra da
providência progressiva de Deus e a luta dia a dia do crente em busca de maior
pureza mediante a Palavra de Deus,
oração e reprovação do mundo por Deus.
Purificação
ou santificação é um trabalho sinergético, ou seja, ocorre uma interação ou
cooperação entre dois ou mais agentes para produzir um efeito conjunto. Neste
caso, Deus e o Cristo participam ativamente para alcançar o alvo desejado: a
conformidade do crente à imagem de Cristo. A iniciativa e participação de Deus
garantem ao cristão avanço em santidade. Ao mesmo tempo, as Escrituras
reconhecem que a santificação do crente depende também de sua participação
pessoal.
Por
esse motivo, Deus opera purificando o cristão (homem pecador) de toda sua
imundice e idolatria, mas o crente também é conclamado a purificar a si mesmo
como Cristo é puro e limpar-se de toda imundice da carne e do espírito,
aperfeiçoando sua santidade no temor de Deus (Ezequiel
36:25; 2 Coríntios 7:1).
11:2
O Meio Cristão para a Pureza. Como Deus opera em nós, temos a segurança de
que nossa luta não será em vão. Não temos desculpas para a passividade, mas
toda razão para uma busca zelosa por pureza.
Gostaria
de mencionar nesta parte, quatro dos meios
mais proeminentes de Deus para o crente se purificar. Primeiro, a pureza começa com a
separação do pecado. É impossível a purificação se primeiro não tivermos nos
afastado daquilo que nos contamina. Pouco adianta nos esfregar com sabão se
primeiro não sairmos do chuveiro da imundícia. Por esta razão, o apóstolo Paulo
exortou os crentes de Corintos: “(...), retirai-vos do meio deles, separai-vos,
diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras, e eu vos recebei” (2 Coríntios 6:17).
Segundo, Deus nos deu as Escrituras
como disciplina fundamental para uma vida de piedade. De acordo com o salmista,
o jovem guarde puro o seu caminho somente ao atender a Palavra de Deus,
guardando-a em seu coração, para não pecar contra Deus (Salmo 119:9,11). O apóstolo Pedro no contexto da sua exortação
quanto a santidade, encoraja os crentes a desejar o leite puro da Palavra, para
que por ele crescessem quanto a salvação (1 Pedro 2:2).
Terceiro, um meio poderoso, mas muito
negligenciado, de purificação é a disciplina da oração. O Senhor nos ordenou a
orar para que fossemos levados a tentação, mas libertos do mal. No jardim do
Getsêmani, na noite em que foi traído, Jesus deu uma ordem similar a seu
círculo mais intimo de discípulos: “Orai, para que não entreis em tentação” (Mateus 6:13; Lucas 22:40). Em sua Carta a igreja de
Éfeso, Paulo, após tratar da questão da batalha espiritual, exorta os crentes a
orar em todo o tempo, com toda oração e se manterem alertas (vigilantes), com
toda perseverança e pedidos por todos os santos (Efésios
6:18).
Quarto, as Escrituras ensinam que o
crente cresce em pureza e santidade no grau em que obtém vislumbres cada vez
maiores de Cristo e de seu Evangelho. (...). Nada purifica mais do que conhecer
uma pessoa realmente piedosa ou como Cristo. Quanto mais tempo passamos na
presença de uma pessoa assim, e quanto mais intima nossa comunhão, maior o
efeito exercido sobre nossa vida.
Por
esta razão, o apóstolo Paulo escreve: “E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de
glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Coríntios 3:18).
11:3
Pureza como Evidência de Conversão. O final do texto de João é poderoso e
carregado de verdade: “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta
esperança, assim como ele é puro”. A primeira coisa que devemos destacar deste
versículo é a referência dada a expressão “todo”, como incluindo todos que
acreditam verdadeiramente no Senhor Jesus Cristo para a salvação. O propósito
do autor é claro: Todo verdadeiro cristão será marcado por um esforço pessoal e
prático por santidade.
Um
ranking de três tipos de indivíduos que estão dentro da comunidade evangélica
tem existido por muito tempo: o descrente, o cristão carnal e o cristão espiritual. Conquanto seja verdade que os cristãos ainda lutem
contra o pecado, e até mesmo o mais forte entre os santos tenha de batalhar
contra a ameaça sempre presente da apatia, não existe base para o que hoje se
chama popularmente de cristão carnal.
Não
existe cristão que vive em contínuo estado de carnalidade, não existe cristão
em que Deus não esteja operando efetivamente. As Escrituras testificam que Deus
está operando na vida de todo crente sem exceção, tanto o querer quanto o
efetuar (realizar), para seu bom prazer. O Deus que comandou os homens para que
criassem seus filhos no temor e na admoestação do Senhor, poderia ter
abandonado seus próprios filhos num estado de negligência? Requereria ele presbíteros que governassem bem as
próprias casas enquanto a sua casa está em desordem? (Filipenses
2:13; Salmos 115:3; 135:6; Efésios 1:11).
Deus
é implacável no cuidado e disciplina de seus filhos. O fato de que muitas
pessoas dentro da comunidade evangélica se degeneram não é uma negação das
promessas de Deus, mas prova da ilegitimidade deles. O fato aterrador é que
simplesmente não são seus filhos. Se o fossem, Hebreus nos diz, Deus os castigaria
e eles permaneceriam (Hebreus 12:6-8). Portanto,
o crente que verdadeiramente fixou sua esperança sobre Cristo para a salvação
se purifica, assim como Cristo é puro e, aquele que adotou o Cristão como
filho, toma grande cuidado para conformá-lo à sua vontade.
11:4
Encorajamento para os Cristãos. Não foram chamados para embarcar
sozinhos numa jornada com fim incerto. Embora João nos fale que não sabemos ao
certo como seremos quando a obra de Deus estiver completa em nós, sabemos que
seremos como ele. O final do crente é tão ilustre que temos de dizer que nem
olhos viram nem ouvidos ouviram, nem entrou no coração do mais entendido entre
os homens tudo que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 João 3:2; 1 Coríntios 2:9).
A
grande esperança firmada sobre o decreto divino e confirmada pelo sangue do
Calvário, enche o crente com “alegria indizível e cheia de glória” e o conduz a
pureza, ao desejo de “Ser Santo, porque eu sou santo” (1
Pedro 1:7-8,16).
Cap. 12
Praticar a Justiça.
1 João
2:28-29.
Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar,
tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda. Se
sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça
é nascido dele.
(...)
1 João
3:4-10.
Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a
transgressão da lei. Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados,
e nele não existe pecado. Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo
aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu. Filhinhos, não vos deixeis
enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é
justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive
pecando desde o principio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para
destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na
prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não
pode viver pecando, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de
Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de
Deus, nem aquele que não ama a seu irmão.
Nas duas passagens acima, aprendemos
que a marca do verdadeiro cristão será em conformidade com Cristo quanto a
prática da justiça. As semelhanças entre as duas provas são visíveis – o crente
purifica a si mesmo, assim como Cristo é puro. O cristão pratica a justiça,
assim como Cristo é justo. Embora distinções possam e devam ser feitas entre
santidade e justiça, uma não existe sem a outra dentro de uma mesma pessoa. Uma
pessoa marcada por uma será igualmente marcada pela outra (1 João 2:29; 3:8).
(...)
a verdadeira santidade ou pureza moral não é validada por um sentimento ou por
algum estado de êxtase espiritual, mas pela prática da justiça. A palavra
justiça é uma tradução da palavra grega Dikaiosúne
e denota o estado de alguma coisa ou de alguém que está certo diante de Deus,
ou aprovado por Deus. Quando o termo é usado com respeito a justiça pessoal do
crente, se refere a usa conformidade com a natureza e vontade de Deus; como é
revelada em toda a Escritura e, acima de tudo, na pessoa de Jesus Cristo. João
estima a Cristo como padrão máximo de pureza e justiça. Esta é uma verdade
poderosa e transformadora, que permite que a moralidade e a ética do cristão
sejam verdadeiramente centrados em Cristo.
A
palavra “prática” vem do verbo grego Poiéo,
que quer dizer fazer, causar, realizar, desempenhar, manter ou trabalhar. Esta
palavra grega denota atividade e que a justiça sobre a qual João escreve é
ativa, prática e observável. Não é a justiça daqueles que meramente são
ouvintes da palavra, mas sim daqueles que realmente a praticam (ou cumprem).
Também não é uma justiça apenas mística ou daqueles que excedem no conhecimento,
mas falham na ação. Pelo contrário, é a justiça da simples obediência,
observável em conformidade a lei de Deus e imitação de Cristo.
12:1
Uma Advertência muito necessária. (...) a obediência prática e
discernível é uma prova da conversão. Já encontramos essa verdade por duas
vezes: 1 João
1:5-7; aprendemos que o cristão autêntico anda na luz – seu estilo
de vida condiz com a revelação que Deus faz de sua pessoa e vontade. Em 1 João 2:3-5;
descobrimos que aqueles que são realmente convertidos guardam os mandamentos de
Deus.
Agora
em 1 João 2:29, é-nos dito que todo aquele que
pratica a justiça, conforma sua vida e obras ao padrão da lei de Deus, e é
verdadeiramente nascido de Deus. Esses textos se destacam com muitos outros por
todo o Novo Testamento demonstrando que a salvação pela graça mediante a fé é
evidenciada pelas obras (Tiago 2:14-26); que a
justificação é provada pela santificação, que a justiça posicional é validada
pela justiça pessoal; que a confissão feita de Cristo como Senhor é testada
pela obediência prática, e que, se alguém estiver em Cristo é nova criatura,
para quem as coisas antigas já passaram e todas as coisas se fizeram novas.
A
igreja cristã caminha numa estrada estreita, com ciladas mortais de ambos os
lados. De um lado está o legalismo –
uma religião de regras e recompensas, de exaltação do desempenho do homem e,
consequentemente, de diminuição da pessoa e obra de Cristo. O homem triunfa e
Deus se torna devedor, obrigado a recompensá-lo por sua piedade e nobres
realizações. Do outro lado do caminho perigosamente estreito do cristianismo
está a cilada do antinomianismo – doutrina
que defende de que a graça livra o cristão das restrições morais da lei,
resultando na prática, sem censura, da imoralidade.
Embora
seja tão mortífero como o legalismo, está mais destacada no cristianismo
contemporâneo e, portanto, merece nossa atenção com maiores detalhes. O
antinomianismo transforma a graça de Deus em licenciosidade[15] e
se gaba de um lema terrível: “Permaneceremos no pecado, para que seja a graça
mais abundante” (Romanos 3:8; 6:1). Na sua mais
extrema forma é facilmente reconhecida e rejeitada, mas quando se apresenta
camuflada pela capa da “Mente Aberta”, compaixão e caridade cristã, se torna
enganosa e mortal.
Temos
que reconhecer que vivemos numa era de relativismo, onde os absolutos morais
são negados. Este mal penetrou na igreja e o resultado são devastadores.
Vivemos numa era de humanismo e individualismo, em que o homem é o centro e fim
de todas as coisas, e o individuo solitário exige autonomia irrestrita de
expressão, sema a mínima censura. Sendo que não há mais um padrão divino a ser
conhecido e obedecido, ficam apenas as opiniões das pessoas. Vivemos ainda, em
meio de um romantismo distorcido, onde a piedade foi redefinida como a mente
aberta a tudo, e a tolerância é a suprema manifestação do amor. Senso assim,
qualquer forma de repreensão é considerada o maior ato de imoralidade.
Se
as pessoas, a luz das Escrituras, se encontram apáticas quanto a justiça,
praticante do pecado, sem remorso ou melhoria, sem lei, imorais e mundanos,
deverão ser admoestados de que essas são marcas dos não convertidos. Deverão
ser conclamados a “Buscar o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto
está perto” (Isaías 55:6).
12:2
Discernir Tendências da Família. De acordo com João – e Cristo, o
mundo se divide entre o Cristão, cujo parentesco espiritual vem de Deus
por meio de Cristo, e o Incrédulo, que é identificado com o diabo por meio de Adão e sua própria desobediência.
Começamos a entender porque João termina esta seção da primeira Carta, com a
afirmação de que existem diferenças discerníveis entre o crente e o incrédulo;
que a confissão de fé da pessoa pode e deverá ser testada; que a segurança da
salvação não é apenas baseada naquilo que a pessoa diz e sente, mas nas
evidências práticas de uma vida transformada e transformadora.
Neste
versículo, ele afirma que as diferenças entre eles são “manifestas” ou obvias.
A palavra é traduzida do adjetivo grego Phanerós,
que significa aparente, manifesto, evidente, claramente reconhecido ou
conhecido. (...), João resume essas evidências com surpreendente clareza: “O
incrédulo pratica o pecado e não pratica a justiça e o crente pratica a justiça
e não vive na prática do pecado” (João 3:7-10).
De acordo com João, o descrente é destacado por duas realidades ominosas[16]:
o que faz e o que não faz.
Embora
tais características sejam mencionadas separadamente, elas basicamente se
referem a mesma coisa: desobediência, errar o alvo da vontade de Deus (pecar)
ou desviar-se do seu padrão. Não podemos nos enganar, pensando que apatia
diante da piedade e negligência da lei de Deus sejam crimes menores do que
rebeldia aberta. De acordo com 1 João 3:4, todo
pecado é ilegalidade, é um ato de traição para com Deus e declaração de guerra
contra o seu trono.
Os
que se identificam com Cristo, mas exibem contínuo desinteresse por sua Palavra
estão em perigo tão grande quanto aqueles que vivem desafiando a Deus
abertamente, sacudindo o punho cerrado na cara do Senhor. No Sermão do Monte,
Cristo faz severa admoestação contra aqueles que professavam ser seus
discípulos: “Eu lhes disse explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de
mim, os que praticais a iniquidade” (Mateus 7:23).
Cristo
emprega a mesma palavra usada por João – iniquidade. Como João, ele está
dizendo que aqueles que chamam ao Senhor, mas continuam vivendo uma lei para si
mesmo serão condenados no dia do juízo. O apóstolo Paulo confirma esta verdade
em sua Carta a Tito: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos
os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas,
vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”.
Dentro
da comunidade evangélica, poucos parecem ainda ordenar suas vidas de modo com
os ditames da Escritura, e qualquer menção da moralidade certa e
especificamente definida pelas Escrituras e imediatamente rotulada de
legalista. Igualmente ao incrédulo, o Cristão autêntico também se distingue por
duas realidades: o que faz e o que não faz. Porém, é aqui que as semelhanças
entre eles terminam, e é aqui onde começa o grande contraste, pois o cristão
pratica a justiça que é desprezada pelo descrente, e despreza o pecado que o incrédulo continua
praticando (ou tanto ama).
Para
João, a razão desse grande contraste no comportamento está muito clara:
“aqueles que foram genuinamente convertidos não podem se entregar a pratica
habitual do pecado, porque nasceram de Deus e a semente divina habita nela”. A referência de João a divina semente e ao
novo nascimento tem a intenção de enfatizar que a conversão é obra sobrenatural
de Deus, e que o cristão é uma nova criatura, com nova natureza refeita a
semelhança de Deus, em justiça e santidade.
Como escreve o apóstolo Paulo, o cristão tornou-se participante da
natureza divina e objeto do poder divino, resultado tanto na vida quanto na
piedade (1 João 3:9; 2 Coríntios 5:17; Efésios 4:24; 2
Pedro 1:3-4).
Não
significa que um crente não tenha pecado e que seja imune a tentação, ou ainda,
que esteja livre das lutas contra a carne. Mas sim que, a pessoa regenerada
pelo Espírito de Deus não pode viver na prática habitual do pecado, assim como
um peixe não pode viver muito tempo fora da água; não podemos e nem devemos
viver enganados, pois João nos diz de forma muito simples: “Aquele que pratica
a justiça é justo, assim como ele é justo; aquele que pratica o pecado procede
do diabo, porque o diabo vive pecando desde o principio” (1 João 3:7,10).
Cap.
13 Vencer o Mundo.
1 João
5:4-5. Porque
todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o
mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o
Filho de Deus.
(...)
1 João
4:4-6. Filhinhos,
vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que
está em vós do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do
mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus, aquele que conhece a Deus nos
ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o
espírito da verdade e o espírito do erro.
O
crente não é vitorioso por sua força de vontade ou devoção pessoal, mas por
aquilo que foi feito por Cristo na cruz, que está sendo realizado nele pelo
Espírito e pelas fiéis obras da providência de Deus Pai. Pela obra regeneradora
do Espírito Santo, nascemos de novo e somos fortalecidos para andar em novidade
de vida, de forma que é quebrado o poder do pecado. E, agora, “(...), nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos
8:1).
No
ensino do Novo Testamento o filho de Deus enfrenta muitas lutas por dentro e
por fora. Às vezes é vencido e fica até
mesmo atordoado. Porém, (...). Ainda que caia sete vezes, ele se levanta cada
vez. Embora ande por muitos vales
escuros, a sua peregrinação o leva a alturas cada vez maiores. Embora passe por
derrotas, o cristão não é derrotado no final. Essa é a natureza da salvação,
pois o Deus que começou a boa obra há de completa-la.
(...), aprendemos que uma das grandes marcas
da verdadeira conversão é que o mundo não vence o cristão a ponto de ele negar
a Cristo e voltar para o mundo. Sabemos que conhecemos a Deus e somos realmente
nascidos de novo porque, através de inúmeras batalhas que rugem por dentro e
por fora e frequentes falhas e quedas, Deus nos sustém e continua a trabalhar
em nós para nosso bem e sua glória.
13:1 O Mundo versus o Cristão. O mundo
representa tudo que é hostil a Deus e se firma em oposição ao Cristão, que
procura andar pelo caminho estreito, conforme os mandamentos de Cristo. Como
cristãos, jamais devemos nos surpreender ou abalar pela hostilidade do mundo
para conosco, nem pela extensão em que ele procura impedir nosso progresso em
Cristo. Paulo escreveu sobre esse assunto: “Todos quantos querem viver
piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2 Timóteo 3:12).
O
crente e o mundo são diferentes e opostos, assim como a justiça e aa impiedade,
o dia e a noite, Cristo e Belial, o Deus vivo e os ídolos mudos. Como a batalha
contra o mundo nunca será resolvida, o cristão tem de esperar em Deus, olhar
para Cristo e lutar o bom combate da fé. Nunca uma batalha foi travada sobre
esta terra que exigisse mais força e perseverança do que a guerra diária contra
o Cristão.
(...). Estamos por
trás das linhas inimigas num mundo hostil, que se opõe a nossa doutrina e
moral. Somos criticados severamente por nosso fanatismo religioso e encorajados
a considerar os benefícios de transigência (tolerância). Somos tragados por
vozes que nos tentam a negar nosso Senhor, abandonar nosso chamado e voltar á
cidade de destruição (2 Coríntios 6:14-16).
13:2 A Certeza da
Vitória.
(...), temos de nos perguntar como podemos ter algum grau de esperança de que o
cristão vencerá e não cairá. A resposta é simples: nossa esperança não está
firmada sobre nossa própria força moral, devoção religiosa ou piedade pessoal,
mas sobre a grandeza de nosso Salvador e na natureza da salvação que é nossa.
Em 1 João 5:4-5, a vitória certa do
cristão é atribuída a três importantes realidades: 1ª – Ele vence pelo novo
nascimento; 2ª – Pela fé na pessoa e obra de Cristo e, 3ª – Pela grandeza
daquele que nele habita. Noutras palavras, nossa vitória é certa porque é a
vitória d’Ele, realizada na força de Deus, feita por seu prazer e para sua
glória.
O cristão é chamado a
contender, manter firmeza e lutar com a maior diligência e zelo. No entanto,
quando a poeira tiver parada e todo inimigo estiver vencido, o cristão admitirá
que a batalha, bem como a vitória, foi do Senhor (Romanos 8:37; 15:30; Lucas
13:24; 1 Coríntios 15:2; 1 Tessalonicenses 5:21; Hebreus 3:6; Efésios 6:12; 1
Timóteo 1:18).
De acordo com João, a
primeira realidade que assegura a vitória do cristão é o novo nascimento:
“Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que
vence o mundo: a nossa fé”. A doutrina da regeneração é a magnifica obra de
Deus pela qual um ser humano radicalmente depravado, que é hostil para com Deus
e não consegue submeter-se a sua vontade, é transformado em nova criatura que o
ama e se deleita em fazer a sua vontade e que busca a sua glória.
Para ser convertida,
uma pessoa tem de possuir pelo menos algum conhecimento sobre a severidade do
padrão de justiça de Deus e sobre sua falha em se conformar a este padrão. Uma
pessoa não é justificada pela força combinada de fé mais obras, mas somente
pela graça mediante a fé, somente. As obras do cristão não complementam nem
acrescentam a obra perfeita de Cristo, mas fluem dela. Aqueles que foram
justificados pela fé foram também regenerados pelo Espírito; foram feitos novas
criaturas, com novos afetos, firmados sobre fazer a vontade de Deus (1 João
5:4; Romanos 5:1; 8:1).
13:3 A Questão da Vitória. O cristão vence o
mundo em virtude do novo nascimento, pela fé na pessoa e obra de Cristo e pela
grandeza daquele que habita nele. Precisamos estar certos de que tenhamos noção
correta quanto ao meio pelo qual o cristão vence o mundo: Primeiro, não quer dizer que ele vencerá a carne de uma vez para
sempre e nunca mais será perturbado por ela. A luta contra a carne ás vezes
será gigantesca até na vida do crente mais maduro e santificado. Segundo, não significa que o verdadeiro
crente vencerá o pecado nesta vida e conseguirá andar em curso ininterrupto de
perfeição, sem pecar.
Tiago,
conhecido ente os apóstolos por sua piedade, inclui a si mesmo quando escreve:
“Porque todos pecamos em muitas coisas”. E o apóstolo João é ainda mais severo: “Se dissermos que não temos pecado
nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (Tiago 3:2; 1
João 1:8). A vida cristã vitoriosa é encontrada em perseverança e paciência.
Vencer significa que, apesar de nossas falhas, continuamos em frente. Nossa
jornada poderá ser uma série constante de dois passos a frente e um passo
atrás, mas continuamos crendo, nos arrependendo e seguindo. Não podemos negar a
Cristo, assim como não podemos negar
nossa própria realidade.
Estamos completamente
convencidos de nossa incapacidade e temos de nos agarrar a Cristo, como o homem
que está se afogando se agarra a uma corda de segurança ou um alpinista prestes
a cair, se agarra a seus pítons (estaca que se fixa na rocha para sustentar o
alpinista) e corda. Vencer significa que continuamos com Cristo, perseverando
na fé até o final (Gálatas 5:17; Mateus 24:13; Lucas 16:16; João 6:68).
Cap. 14
Crer em Jesus.
1 João
5:9-12. Se
recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o
testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou. Quem crê no Filho de
Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso o fez,
porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu. E o testemunho é
este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o
filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.
De
acordo com João, sabemos que nos tornamos filhos de Deus porque cremos nas
coisas que Deus revelou sobre Jesus Cristo de Nazaré, seu filho. Tomando a
palavra do apóstolo Paulo, somos marcados como cristãos porque nos gloriamos
somente em Cristo e não depositamos nossa esperança na carne (Filipenses 3:3).
14:1 Depreciação e Mau Direcionamento da Fé.
Antes de entrar no texto da Carta de João, temos de confrontar duas opiniões
populares mas errôneas sobre a fé salvadora: a primeira tem a ver com a natureza da fé e nossa apreciação da
mesma. Em grande parte do evangelismo dos dias atuais, a fé salvadora foi
reduzida a nada mais que uma concordância mental, muitas vezes superficial, com
alguns princípios ou leis espirituais.
Na mente de muitos, a
fé se tornou apenas uma decisão da nossa vontade de aceitar a Cristo, através
de uma oração decorada. Assim, a fé salvadora não é vista como toda uma vida
olhando para Cristo ou como confiança perseverante nas promessas de Deus, mas
como uma decisão feita uma vez e depois esquecida.
A segunda opinião errada quanto a fé tem a ver com sua
direção ou fim principal. O evangelicalismo contemporâneo está cheio de igrejas
da fé, movimentos de fé, conferências e livros a respeito da fé. Porém, essa
intensa preocupação trata principalmente com a espécie de fé que obtém bênçãos
temporais da parte de Deus e demonstra pouco interesse na espécie de fé que
conduz a justificação eterna.
O apóstolo Pedro foi
rápido em nos lembrar que o alvo de nossa fé é a salvação de nossas almas, não
qualquer lucro temporal: “ O fim (resultado, efeito) da vossa fé – a salvação
da vossa alma”. Portanto, o Télos do grego, ou seja, a grande finalidade de
nossa fé, olha para além duma vida mortal e diz respeito ao resgate da
condenação eterna de nossa alma, visando um relacionamento restaurado com Deus
e a esperança futura de glória.
14:2 A Natureza da Fé. Muitos evangélicos dizem possuir uma
fé que salva, mas essa fé tem pouquíssimo impacto real sobre sua vida no dia a
dia. Este mal
nos leva a fazer algumas perguntas importantes: o que significa crer
no testemunho de Deus quanto a seu Filho? O que significa ter fé? O autor do
livro de Hebreus nos diz: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a
convicção de fatos que se não veem” (Hebreus 11:1).
De acordo com o autor, a fé é a convicção que a pessoa possui quanto
a realidade de algo por que espera, ainda que não tenha sido vista ou
realizada. Esta
definição nos leva a outras perguntas: uma pessoa pode ter segurança
daquilo que espera e pode ser convencida daquilo que ainda não viu, somente
porque Deus lhe deus testemunho disso?
A vida de Noé
ilustra claramente esta verdade, e o escritor de Hebreus cita com respeito a
ele: “Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda
não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de usa
casa (família), pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que
vem da fé” (Hebreus 11:17).
A vida de Abraão apresenta-nos outra ilustração de fé. Ele
estava plenamente convencido que teria um filho através de sua esposa Sara,
muito embora, ela estivesse com a idade muito avançada. Sua maior segurança não
era fundamentada sobre qualquer outra coisa visível, pois ambos estavam muito
além da idade de ter filhos. Ele esperava contra a esperança e não vacilou em
incredulidade, mas estava certo de que um filho ainda seria concedido,
simplesmente em razão do testemunho de Deus quanto a essa questão. Sua esperança fundamentava-se sobre o fato de que aquilo que
Deus promete, ele tem o poder de realizar.
14:3 O Testemunho de Deus. Em 1 João 5:9-12, é
apresentado como tema principal o testemunho de Deus quanto a seu Filho, Jesus
Cristo. A palavra testemunho é traduzida do idioma grego Marturía,
e é usada 113 vezes no Novo Testamento. Destas, 64 estão no livro de João. No
evangelho de João, o testemunho sobre Jesus é dado por João Batista, o apostolo
João, Deus-Pai e o Espírito Santo, as Escrituras, as Obras de Jesus e o próprio
Jesus (João 1:6-8).
Na Primeira Epístola
de João, o testemunho é dado pelo próprio João, o Espírito, a água e o sangue
e, finalmente, por Deus Pai. No evangelho de João, o propósito era que todos
cressem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e que crendo, fossem salvos.
Enquanto que na Primeira Epístola, o propósito do testemunho era confirmar a
verdade a respeito de Jesus Cristo e seu Evangelho, dando segurança aos
cristãos verdadeiros que haviam sido abalados na fé por falso mestres!
Neste mundo, todos
somos conclamados a confiar em muitas espécies de testemunho (...), acreditamos
nas pessoas, apesar de tudo que sabemos sobre elas, especialmente a tendência
que possuem de distorcer a verdade. Portanto, se acreditamos em homens
propensos a mentir, não deveríamos crer no Deus da verdade, de quem as
Escrituras testificam, que não pode mentir? (Salmo 31:5; Isaías 65:16; Tito
1:2).
Crer no menor (dos
homens) e desacreditar no testemunho do maior (Deus) não é apenas irracional,
como também revela uma desconfiança no caráter de Deus. Mesmo no contexto de
relações meramente humanas, duvidar da palavra de alguém é tido como denegrir o
seu caráter. se isso é verdade em relação aos homens, ainda mais em relação a
Deus, cujo caráter está tão intimamente ligado a sua Palavra (Salmo 138:2).
Nas palavras de João neste texto: “Aquele que não dá
crédito a Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca
do seu Filho”. A incredulidade nunca é desculpada nem considerada de pouco
caso; pelo contrário, é resultado da obstinada negação dos fatos pelos pecados,
simplesmente porque se recusa a submeter-se a justiça de Deus (1 João 5:10).
14:4 O Significado
da Vida Eterna.
João nos diz agora sobre a natureza exata do testemunho de Deus sobre seu
Filho: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está
no seu filho”. Para entender este texto plenamente,
temos de
responder duas perguntas importantes: o que é vida eterna? Qual o
significado e implicações da frase “em seu Filho”? Existe muita confusão em relação a vida
eterna, principalmente em relação ao
tempo como também de sua natureza.
1ª - Quanto ao tempo, muitos parecem ver
a vida eterna exclusivamente como uma esperança futura, considerando-a sinônima
à glorificação ou a vida futura no céu. Tal entendimento contraria o ensino das
Escrituras de que a vida eterna começa no momento da regeneração e continua por
toda a eternidade (João 3:36). O verbo tem é traduzido do tempo presente no
grego, demonstrando que a vida eterna é uma realidade presente para os que
realmente creem.
Em 1 João 5:11, João declarou: “Deus nos deu a vida
eterna”. A expressão “nos deu” (ou tem-nos dado) é traduzida do tempo Aoristo[17]
do grego, demonstrando que a vida eterna já foi dada aos que creram no Filho. Disto
concluímos que, embora a vida eterna seja uma esperança futura, é também, uma
realidade presente. Começa no primeiro momento de fé em Cristo, e nunca acabará
pelas incontáveis eras da eternidade.
2ª – Quanto a natureza, ela se refere a
qualidade de vida, ou seja, embora a vida eterna nunca acabe, a grande ênfase
está sobre a nova espécie de vida que o cristão recebeu de Cristo (tem-nos
dado). No discurso no Cenáculo, o Senhor Jesus Cristo descreve a vida eterna da
seguinte maneira: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. Neste texto, Jesus não está
considerando a vida eterna como uma quantia de tempo, mas como uma qualidade de
vida em comunhão com Deus e com seu Filho.
A palavra “conhecer”
é traduzida do verbo grego ginósko,
sendo frequentemente usado para transmitir a ideia hebraica de conhecimento
dentro do contexto de um relacionamento pessoal. Muitas vezes, nas Escrituras,
ela é usada para descrever a “intimidade pessoal e até física (sexual)” entre
um homem e uma mulher. Neste texto de João, é empregada para descrever a vida
eterna como sendo “uma vida de intima comunhão com Deus”.
João confirma esse
entendimento do texto através de seus comentários finais de sua Primeira
Epístola: “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado
entendimento para reconhecermos o verdadeiro, e estarmos no verdadeiro, em seu
Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 João 5:20).
A ordem lógica é como se segue: mediante a pregação
do evangelho e a obra regeneradora e iluminadora do Espírito que habita em nós,
Deus dá vida, entendimento e coração disposto a seu povo. O resultado é que
entram em nova vida de fé, comunhão, louvor e serviço a Deus. Isto é vida eterna – não apenas um
alongamento de dias ou esperança futura no céu, mas uma nova vida em Cristo
Jesus.
14:5 Vida no Filho.
Passamos
agora a inexorável verdade de que esta vida está “em seu Filho”. Essas três
palavras são traduzidas da frase grega “en to huio”
e revelam uma das mais belas verdades de toda Escritura. No grego, a preposição
ajuda a entender que o substantivo está num caso que indica a esfera em que se
encontra a vida eterna. Ela se encontra exclusivamente no Filho! Isto é a prova
de que Jesus não
é meramente tudo de que necessitamos, mas também é tudo que temos!
Sem ele não temos
parte com Deus. Nele, possuímos toda benção de Deus ao homem. Fora dele nada temos e nada somos.
Somente Cristo é o fundamento sobre o qual se constrói qualquer coisa que possa
ser edificada. Ente as verdades maiores, mais fundamentais do cristianismo
encontramos esta: “a vida eterna e todas as demais bênçãos espirituais estão
exclusivamente no Filho”. Jesus testificou de si mesmo: “Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (1 João 3:11; João 14:6).
A verdade de que a
vida eterna está exclusivamente no Filho não pode ser descartada. De fato, o
cristianismo é encontrado em seu estado mais puro quando reconhece que, sem o
Filho, somos “separados da comunidade de Israel e estranhos as alianças da
promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”.
No Filho, somos abençoados com toda benção
espiritual. No Filho, fomos
escolhidos antes da fundação do mundo. No
Filho, Deus concede livremente sua graça sobre nós. No Filho, temos a redenção e o perdão das transgressões. No Filho, Deus tornou conhecido a nós
os mistérios da sua vontade. No Filho,
Deus uniu todas as coisas no céu e na terra. No Filho, fomos selados pelo Espírito Santo da promessa. Por esta razão é que João conclui com uma das
mais poderosas declarações das Escrituras com respeito á singularidade, supremacia
centralidade de Cristo na salvação: “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele
que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (Atos 4:12; 1 Timóteo 2:5; Efésios
2:12; 1 João 5:12).
14:6 O Testemunho Interno. De acordo com o
apóstolo João, o testemunho de Deus é este: “Deus nos deu a vida eterna, e esta
vida está em seu Filho”. Além do mais, ele declara que todos aqueles que
realmente creem no Filho tem em si mesmo esse testemunho. Esta verdade é muito
mais difícil de interpretar do que poderíamos achar. Mesmo entre estudiosos
dentro da tradição conservadora e reformada, vários pontos de vista têm sido
expostos:
A
primeira marca de que fomos verdadeiramente convertidos é que aceitamos o
testemunho de Deus, que foi primeiramente comunicado através de testemunhas
oculares como os apóstolos, e desde então, tem sido transmitido a cada
sucessiva geração pela fiel pregação do evangelho.
A segunda marca de que somos verdadeiramente cristãos está
no testemunho interno do Espírito que
habita em nós. Do evangelho de João, aprendemos que o Espírito Santo foi
enviado para testificar de Cristo, habitar o crente e conduzi-lo a toda
verdade. Sabemos que somos filhos de Deus e temos um relacionamento constante
com Cristo pelo Espírito, que ele nos deu. O Espírito de Deus testifica a
encarnação e obra expiatória de Cristo e confirma sua realidade dentro de nosso
coração (João 14:6; 15:26; 1 João 3:24; 4:2,13).
O Espírito Santo
remove o temor escravizador da condenação e o substitui por forte segurança de
filiação por meio do qual clamamos “Aba, Pai”. Finalmente, o Espírito Santo dá
testemunho de que somos filhos de Deus mediante seu trabalho continuo de
santificação, conformando-nos á imagem de Cristo e produzindo a vida frutífera
de Cristo em nós (Romanos 8:16; Gálatas 5:22-23).
A terceira marca de que verdadeiramente cremos para a
salvação é o testemunho de realidade da vida eterna em nosso interior. Sabemos
que cremos para a salvação porque estamos em comunhão real, vital e permanente
com o único Deus verdadeiro e Jesus Cristo a quem ele enviou: “esta é a vida
eterna! Isto é verdade em nós” (João
17:3; 1 João 5:20).
Portanto, amados irmãos e leitores,
poderíamos resumir o ensino contido nesta primeira parte, da seguinte forma:
Prova 1: Sabemos que somos
cristãos porque andamos na luz. Nosso estilo de vida está aos poucos se
conformando ao que Deus nos revelou sobre sua natureza e vontade (1 João
1:4-7);
Prova 2: Sabemos que somos
cristãos porque nossa vida é marcada por sensibilidade ao pecado,
arrependimento e confissão (1 João 1:8-10);
Prova 3: Sabemos que somos
cristãos porque guardamos os mandamentos de Deus. Desejamos conhecer a vontade
de Deus, nos esforçamos por obedecê-la e lamentamos quando somos desobedientes
(1 João 2:3-4);
Prova 4: Sabemos que somos
cristãos porque andamos conforme Cristo andou. Desejamos imitar a Cristo e
crescer em conformidade a ele (1 João 2:5-6);
Prova 5: Sabemos que somos
cristãos porque amamos os outros cristãos, desejamos comunhão com eles e procuramos servi-los em atos e em
verdade (1 João 2:7-11);
Prova 6: Sabemos que somos
cristãos porque temos desdém cada vez maior pelo mundo e sujeitamos tudo que
contradiz e se opõe a natureza e vontade de Deus (1 João 2:15-17);
Prova 7: Sabemos que somos
cristãos porque continuamos nas doutrinas históricas e práticas da fé cristã,
permanecendo dentro da comunhão com outros que fazem o mesmo (1 João 2:18-19);
Prova 8: Sabemos que somos
cristãos porque professamos que Cristo é Deus e O consideramos em mais alta
estima (1 João 2:22-24; 4:1-3);
Prova 9: Sabemos que somos
cristãos porque nossa vida é marcada por anseio e busca prática de santidade
pessoal (1 João 3:1-3);
Prova
10:
Sabemos que somos cristãos porque praticamos a justiça. Fazemos as coisas que
se conformam ao padrão da justiça de Deus (1 João 2:28-29);
Prova
11:
Sabemos que somos cristãos porque vencemos o mundo. Embora muitas vezes sejamos
pressionados e cansados, vamos em frente pela fé. Continuamos seguindo a Cristo
e não voltamos para trás (1 João 4:4-6; 5:4-5);
Prova
12:
Sabemos que somos cristãos porque cremos naquilo que Deus revelou sobre seu
Filho, Jesus Cristo. Temos a vida eterna somente n’Ele (1 João 5:9-12).
Se
temos essas qualidades e admitimos que elas estão aumentando em nós, temos a
evidência de que conhecemos a Deus e produzimos o fruto de um Filho de Deus.
Porém, se tais qualidades estão ausentes em nossa vida, devemos nos preocupar
grandemente por nossas almas.
Temos
de ser diligentes em buscar a Deus com respeito a nossa salvação. Temos de
examinar-nos novamente para ver se estamos na fé. Sermos diligentes para tornar
seguro nosso chamado a nossa eleição (2 Coríntios 13:5; 2 Pedro 1:8-11).
[1] Textos:
Atos 2:23; Hebreus 1:3; Filipenses 2:6-7; Lucas 1:35.
[2] Textos:
Marcos 1:15; Romanos 10:9; Filipenses 3:3.
[3] Admoestar.
Censurar; 2. Repreender; 3. Advertir ou avisar alguém de forma branda sobre
alguma coisa.
[4] A submissão ao senhorio de Jesus é
sinônimo de produzir fruto (Mateus 7:6,26), obediência à vontade de Jesus
(Mateus 7:21) e obras (Tiago 2:14-26).
[5] Os Israelitas demonstravam caridade
ao deixar uma parte da colheita no campo (Levítico 19:9-10); emprestando sem
usura (juros excessivos – Êxodo 22:25); abrindo a mão aos pobres (Deuteronômio
15:7); defendendo os órfãos e intercedendo a favor das viúvas (Isaías 1:17).
[6] Como por exemplo, quando o desejo é
dirigido a algo que é proibido ou, ainda, mesmo sendo permissível, se sua
intensidade for igual ou maior do que o desejo da pessoa para com Deus.
[7] Epítome.
O que resume, simboliza ou serve de modelo ideal de. 2. Resumo de teoria,
ciência, doutrina etc.
[8] A expressão “já é a última hora” é sinônima de os
“últimos dias”, referindo-se à época entre a ressurreição e exaltação de Cristo
e sua segunda vinda (Atos 2:17; 2 Timóteo 3:1; Tiago 5:3).
[9] Sobre esta Doutrina, sugiro que o
leitor vá ao Capítulo 17 das Confissões de
Fé de Westminster e de Londres de 1689, onde está exposta de maneira
extensa sobre a mesma.
[10] A expressão “é
nascida de Deus” é a tradução do verbo gegénnetai do grego, que
está no tempo perfeito e voz passiva. Sua tradução correta “[Todos que creem
que Jesus é o Cristo nasceram de Deus]”. Portanto, a obra da regeneração
logicamente precede a fé e é causa e fundamento da mesma.
[11] Agnósticos. É aquele que
considera os fenômenos sobrenaturais inacessíveis à compreensão humana. A
palavra deriva do termo grego “agnostos” que significa
“desconhecido", "não cognoscível”.
2. Eles consideram inútil discutir temas metafísicos, pois são realidades
não atingíveis através do conhecimento. (...), a razão humana não possui
capacidade de fundamentar racionalmente a existência de Deus.
[12] Ascético. Que ou aquele que se volta para a vida
espiritual, mística; contemplativo. 2. Doutrina filosófica que defende a
abstenção dos prazeres físicos e psicológicos, acreditando ser o caminho para
atingir a perfeição e equilíbrio moral e espiritual.
[13]
Docetismo. A palavra
é derivada do vergo “Dokéo” que significa “parecer ou ter
aparência”. Os gnósticos acreditavam na maldade inerente do corpo material, por
isso era necessário que negassem a encarnação e ensinassem que o Cristo divino
“parecia ou tinha aparência” de possuir um corpo.
[14] As Escrituras ensinam que Deus criou
o mundo do nada (Hebreus 11:3). Ele não emprestou a matéria de alguma outra
fonte para formar o mundo. Pelo contrário, ele falou e a matéria passou a
existir.
[15]
Licenciosidade. É
traduzida da palavra grega asélgeia,
que denota a luxúria desenfreada, excesso, libertinagem, sensualidade,
impudência e insolência.
[16] Ominosa.
Que pode expressar ou trazer mau agouro; 2. Que tende a ser detestável ou
execrável. 3. Que incita ódio.
[17]
Aoristo. Forma
aspectual (pontual) e temporal do verbo grego antigo, que expressava a ação
pura, sem determinação quanto à duração do processo ou ação ou ao seu
acabamento.
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