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terça-feira, 25 de abril de 2017

ENCONTRE DEUS NA CABANA

RAUSER, Randal.  Encontre Deus na cabana. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009.

Prefácio

Tive a ousadia de escrever este prefácio, haja vista que o livro não o trouxe. O autor desta obra literária, no decorrer do livro, faz comentários sobre a abordagem apresentada por Willian Paul Young, no livro A Cabana. Seus comentários, ora são interpretados por ele, usando passagens Bíblicas, outros textos, por sua mera opinião. Logo, o faz como um simples leitor, como eu e você. Embora possa ter vários cursos e títulos acadêmicos, pode fazer uma interpretação totalmente equivocada. Nesse contexto, passo a apresentar de forma sintética, alguns de seus comentários.

Capitulo 1

Segundo Rausel, uma das maiores controvérsias apresentadas por Young, se dá por trazer e apresentar Deus como sendo Papai. Uma enorme mulher negra, que dá abraços e balança os quadris quando houve música. Aumenta a controvérsia, quando apresenta o Espírito Santo como sendo uma misteriosa mulher asiática de nome Sarayu. Completando esta revelação desconcertante, Mack, é interrogado por um outro personagem, também do sexo feminino e misteriosa chamada Sophia, descrita por Young como sendo a Personificação da Sabedoria de Deus.
Muitas críticas foram feitas ao livro, principalmente por ceder ao feminismo e promover um retorno pagão a adoração à deusa. Outras permaneceram atraídas por esse retrato e achavam atrativo a descrição de Deus como de Mãe. Então, o que está totalmente correto?
No meu ponto de vista (Rauser), a descrição não é herética, mas nos coloca no âmago de algumas questões importantes sobre a maneira pela qual o Deus Transcendente chega ao nosso pequeno mundo.

. Deus – a maior de todas as idéias.

A palavra transcendência se refere ao reconhecimento de que Deus permanece bem além do nosso entendimento (ou o transcende; muito elevado). No texto de Isaías 66.1: (...): O céu é o meu trono, e a terra, o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis vós? E que lugar seria o do meu descanso?
Ele nos recorda que o Deus que é onipresente (ou seja, presente em toda parte), não está limitado aos prédios que construímos. Ele transcende tanto a maior catedral quanto a mais humilde igreja rural. (p.12)
Assim como não devemos achar que nossas casas físicas de adoração contém a plenitude de Deus, também jamais devemos achar que nossas “Casas Conceituais”, ou seja, nosso entendimento teológico de quem é Deus, possa jamais contê-lo.
O autor faz a seguir, uma abordagem sobre a transcendência de Deus, comparando-a a idéia da galáxia da Via Láctea. Para isso, ele relembra uma pergunta de sua filha quando ela tinha 6 anos de idade sobre o tamanho da Via Láctea. Ele disse: ela fica a 100.000 ano-luz de distância da terra. Ela replicou: É mais longe do que daqui até o Colorado?
Ele ficou surpreso com a resposta, pois sabia que ela não tinha idade e nem a capacidade de entender o que era anos-luz. Entretanto, ela buscou em sua memória, alguma coisa que fosse familiar a ela, para tentar entender. Nisso comparou com a distância de sua residência até o Colorado (dois dias de carro).
Por mais difícil que possa ser conceber a vasta dimensão da Via Láctea, ela é quase literalmente nada quando comparada à realidade Transcendente de Deus. A Via Láctea é, apenas um dos mais de 100 bilhões de galáxias do universo conhecido. (p. 13-14)
Os teólogos têm tentado espelhar a majestade singular de Deus com o conceito de infinito, ou seja, a idéia de que Deus é realmente infinito e, portanto, na verdade transcende tanto nossas casas conceptuais quanto nossas casas físicas, sejam elas as reflexões de uma criança de seis anos de idade ou do erudito, sistema do maior teólogo. Assim disse Sallie Mcfague:

“O teólogo deve usar seus modelos com a maior seriedade, explorando-os em todo o seu potencial interpretativo e, no entanto, ao mesmo tempo, entender que eles são pouco mais que os balbucios dos bebês”.

Meu acréscimo: A referência mencionada por Rauser acima, me fez lembrar uma frase emblemática do passado: "Só sei que nada sei". Assinalada pelo filósofo Grego Sócrates: “Ele, em oposição aos sofistas, que vendiam seu conhecimento e se assumiam como “sabedores” de todas as coisas, coloca-se numa posição de “ignorância e de humildade face ao conhecimento”,diante do saber. Contrariamente aos sofistas, para quem o conhecimento era algo de pragmático, pois tinha a função de ensinar e fazer com que esse ensino surtisse efeito ao ser aplicado por quem aprendesse. Para Sócrates o saber era algo que estava fora dele, que ele não possuía, mas que amava.  Sócrates tendia para o saber, para aquilo que não tinha, era precisamente o que se chamava um “filósofo”: aquele que ama o saber, que tende para ele, que caminha em sua direção”. (Holdem).

. O Deus Que se Acomoda.

Os cristãos permanecem incrivelmente inabaláveis na crença da unicidade de Deus. Por exemplo, se você vai a igreja em uma manhã de domingo, pode ouvir o pastor se dirigir à congregação silenciosa com as palavras: “O Senhor está neste lugar”. E o que isto significa? Que Deus está somente neste lugar? Ele não está em toda a parte?
Em outra situação, se pode ouvir um líder religioso orar: “Senhor, venha à nossa presença”. Venha aqui, como se Ele já não estivesse aqui? E de onde Ele está vindo? Se uma pessoa não cristã, estivesse visitando a igreja, poderia facilmente pensar que Deus era uma pessoa que corria o mundo visitando diferentes congregações.
É ridículo interpretar essa linguagem de forma literal (ao pé da letra; rigoroso; claro). Então, que lição poderá extrair disso? Devemos abandonar totalmente esse tipo de linguagem? O problema dessa resposta é que os cristãos não inventaram esta maneira humana de falar sobre Deus; pelo contrário, ela lhes foi revelada na Sagrada Escritura.
A Bíblia está repleta de referências a Deus como se Ele fosse um ser humano. Para entendermos isso, é necessário voltar e refletir sobre como ela funciona na Sagrada Escritura. Assim, precisamos entender o conceito de acomodação.
Esta expressão tem raiz latina que se refere ao processo de uma coisa se ajustar a outra. Para explicar este conceito, o autor relembra seu tempo de adolescência, onde seu quarto era uma verdadeira bagunça (tudo jogado ao chão e desarrumado).
A sua mãe de vez em quando exigia que ele o colocasse em ordem, pegando todos os itens espalhados e guardá-los no armário. O adolescente Rauser dizia que não tinha como fazê-lo, pois não caberia no armário que era pequeno. Sua mãe, com muita rapidez, juntava todos os objetos e mostrava que, apenas dobrando e empilhando algumas coisas, tudo poderia caber no armário.
O livro A Cabana nos apresenta um quadro rico da acomodação de Deus. Naquele final de semana, já há uma acomodação para Mack ter Papai e Sarayu de pé diante dele, como se fossem seres humanos. 
A acomodação de Jesus foi mais radical, pois ela se iniciou dois mil anos atrás, quando o Filho de Deus entrou no nosso espaço e no nosso tempo. Naquele final de semana, Jesus não está descendo para interagir com Mack como se fosse uma pessoa humana, porque ele realmente o é! Isso é o que chamo de acomodação profunda.
Papai, Jesus e Sarayu também se adaptam às limitações de Mack de outras maneiras. Mack tem o suficiente de um teólogo para saber que a Trindade já sabe tudo. Então questiona por que deve se dar ao trabalho de conter-lhes sobre sua família? Sarayu explica: Nós nos limitamos por respeito a você. (...). Ouvimos “como se fosse pela primeira vez e temos o enorme prazer em conhecê-los através de seus olhos”.
O autor usa de uma comparação dos nossos tempos, para apresentar a atitude adotada pela Trindade. Ele coloca a seguinte situação: O pai indo buscar sua filha (o) de 5 anos na escola: “Primeiro, ela que lhe contar tudo que aconteceu. (...). Você sabia que os ursos dormem durante todo o inverno? Isso se chama hi-ber-na-ção. E assim por diante.
É claro que o pai sabe disso, mas, mesmo assim, nunca leva o seu conhecimento para a conversa, por razões óbvias. Ele a encara como uma oportunidade de estar mais próximo da filha que tanto ama. 
Nesta conversa com Mack o objetivo de Deus era estreitar seu relacionamento. A acomodação pode surgir de outras maneiras surpreendentes, inclusive através do estômago!  Durante todo o final de semana, Papai, Jesus e Sarayu partilharam as mais maravilhosas refeições com Mack.
E novamente Mack questiona: Se Deus é espírito, Deus não precisa comer? Mais uma vez, a questão é a comida, mas o relacionamento. Outra vez, Deus está acomodando Seu ser infinito descendo ao nível de Mack e ingressando na experiência humana através de um compartilhamento comunal de alimentos.
  
. A Acomodação de Deus na Sagrada Escritura.

Na maior parte do tempo, Deus não se revela através de aparições diretas. Entretanto, alguns comentaristas da Sagrada Escritura declaram que os três visitantes de Abraão em Gênesis 18.1-3, são uma revelação da Trindade.

Depois apareceu o Senhor a Abraão junto aos carvalhos de Manre, estando ele sentado à porta da tenda, no maior calor do dia.
Levantando Abraão os olhos, olhou e eis três homens de pé em frente dele. Quando os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se em terra.
e disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo. 

Para começar, Deus é com freqüência descrito por metáforas e analogias extraídas de nossas experiências com objetos inanimados. Por exemplo, Ele é comparado a uma Rocha, um Escudo, uma Trombeta da Salvação e uma Fortaleza (2 Sam. 22.3). Além disso, Ele é comparado aos animais, como a uma águia que cuida dos filhos (Deut. 32.11-12).
No entanto, minha imagem não humana preferida está descrita no Salmo 18.8-9; onde Ele é descrito como um dragão cuspindo fogo, colocando-se sobre eles para trazer a libertação. Em minha opinião, essa pode ser a mais incrível descrição de Deus na Sagrada Escritura. Porém, estas imagens podem ser poderosas, mas as mais ricas são certamente aquelas que descrevem Deus como se fosse uma pessoa humana. 
Portanto, percebe-se que a linguagem humana usada não é literal, mas claramente antropomórfica, de forma que descreve Deus como se Ele tivesse uma forma humana. Embora Deus esteja em toda parte, é muito difícil pensar e se relacionar com um Deus que seja onipresente. Por isso, a Sagrada Escritura o acomoda à nossa experiência descrevendo-O como se tivesse um corpo físico.
Por exemplo, quando Deus condena a rebelião de Israel, Ele declara: “Assim, se acenderá a minha ira naquele dia contra ele, e desampará-lo-ei e esconderei o meu rosto dele para que seja devorado (...). Esconderei, pois, totalmente o meu rosto naquele dia, por todo mal que tiver feito, por se haver tomado outros deuses.” (Deut. 31.17-18). Esta é uma maneira poderosa de comunicar sua desaprovação por tal atitude.
Se Deus conhece todos os eventos antes que eles ocorram, incluindo cada detalhe da vida de Abraão; então qual foi o propósito de testá-lo? O propósito era saber o que Abraão aprenderia sobre sua própria fé e seria fortalecido por ela.
O caso do rei Ezequias é um excelente paralelo bíblico para a acomodação de Deus a Mack. Deus sabia que o rei iria suplicar por uma vida mais longa, e, também sabia, que iria lhe conceder o pedido. Por que Ele não contou logo a Ezequias desde o início, o que iria acontecer? Para que ele fosse até Deus em oração de uma maneira que o beneficiasse.
Ele desce ao nosso nível e interage conosco como se fosse um ser humano, e o faz que possamos nos relacionar com Ele. Deus também é revelado na Sagrada Escritura com papeis humanos específicos; por exemplo; é descrito como um oleiro (Isaías 64.8); um Pai (Deuteronômio 32.6); um Guerreiro (Êxodo 15.3); um Rei (Êxodo 15.18); um Marido (Isaías 54.5) e, até mesmo, como um Soldado bêbado despertando do sono (Salmo 78.6-7).
Como as imagens apresentam somente personagens masculinos, muitos cristãos têm achado natural pensar em Deus em termos masculinos. Por isso, não há que se estranhar quando Mack de depara com a figura da Trindade como sendo duas mulheres (Elousia e Sarayu) e um homem (Judeu).

. Quando um ícone se torna um ídolo.

Por volta do Século XIX, era comum entre as nações, haver grande quantidade de ícones de madeira pintada com a imagem de Cristo. Os cristãos denunciavam todos os ícones como conduzindo à adoração de um ídolo. Os usuários desses ícones pintados, nunca devem confundi-los com a realidade que eles representam. Como também, não podem confundir os ícones literários da Sagrada Escritura com descrições literais. Disse certa ocasião João Calvino:

Por que mesmo aqueles de escassa inteligência não entendem que, como fazem comumente as amas com os bebês, Deus está acostumado de certa forma sussurrar quando fala conosco.

Sendo assim, Deus se acomoda às nossas limitações descrevendo-se dentro da extensão da experiência humana, com freqüência falando como se Ele fosse humano. Não é de se estranhar que Mack tenha feito as seguintes perguntas: Duas mulheres e um homem? E nenhum deles é branco? Por que ele havia presumido que Deus seria Branco?
Quando Deus se mostra a ele nesta forma “não ortodoxa, Mack começa a perceber como tem sido estreita a sua percepção de Deus. “Todas as suas concepções visuais de Deus eram muito brancas e muito masculinas”. Deus aparece para Machenzie como uma negra, para lembrá-lo que Ele é muito maior do que quaisquer ícones literários da Sagrada Escritura. O que quer que se possa dizer sobre Ele, qualquer que seja a imagem que se use para pensar N’Ele, Ele sempre existe além dessas concepções.

. Deus o encontra onde você estiver.

Pense na maneira pela qual Jesus procurou comunicar uma idéia realmente grande e abstrata: o crescimento do povo de Deus. Ele usou algo bem familiar e próximo do cotidiano dos Judeus Palestinos (moradores da Judéia), fazendo uma comparação ao grão de mostarda (Lucas 13.8-9). E para nós que nunca vimos uma semente ou planta de mostarda como ficaria? O mais importante é você fazer uma acomodação em algo mais próximo dos ouvintes (filha de 6 anos sobre o que seria a Via Láctea), para que a mensagem seja bem sucedida.
Isto me faz lembrar a metáfora de Deus como Pai. Todos sabem o que os pais são, e por isso esta imagem não corre o risco de ser mal sucedida, ou seja, o tiro sair pela culatra. Essa idéia tem ressoado (retumbar, ecoar) com gerações de Cristãos baseados na sua experiência com seus próprios pais como protetor, mentores, amigos e provedores (Luc. 11.11). O problema é que muitas pessoas não tiveram um pai humano amoroso como Nanete (Nam, esposa de Mack), pois Mack traz péssimas experiências e recordações da relação com seu pai (alcoólatra e violento). Uma imagem que é amada por tantos, para outros, pode ser absolutamente repugnante.
O apóstolo Paulo, depois de sua conversão, não fez nada que não tivesse aprendido com Jesus, um exemplo da profunda acomodação de Deus às limitações humanas (1 Corín. 9.22). Deus enviou Jesus como uma expressão do coração de acomodação do Pai (João 3.16). Portanto, não nos surpreende que o mesmo Deus, que sempre veio ao nosso encontro onde quer que estejamos, venha se encontrar com Mack em sua prisão. Ele fez mais do que isso, Papai se reuniu com Mack em sua prisão, esforçando-se para libertá-lo.

. Há Espaço para um Deus Mãe?

Os evangélicos têm rejeitado as tentativas de descrever Deus com analogias e metáforas femininas (ou sendo até hostis a elas). Embora não haja dúvida de que a Bíblia esteja repleta de analogias masculinas, podem-se encontrar algumas figuras de linguagem femininas. Deus é comparado a uma Mãe (Isaías 66.13). No Novo Testamento, Deus assume implicitamente um papel feminino nas Parábolas da mulher misturando o fermento e a farinha (Mat. 13.33) e das Dracmas Perdidas (Lucas 15.8-9).
O próprio Jesus compara sua preocupação com Jerusalém, a uma galinha que quer juntar seus pintinhos debaixo de suas asas (Mat. 23.37). A idéia de Jesus como a Sabedoria divina é notável, pois o significado da palavra sabedoria, tanto no idioma hebraico quanto no grego, é feminina: em hebraico é Hokmak, e em grego é Sophia. Se nos tornarmos demasiadamente comprometidos com uma ou outra imagem de Deus, Ele pode se tornar um ídolo para uns e num obstáculo para outros.

Capítulo 2 – O Mistério dos Três em Um.

Ser teólogo é uma tarefa ingrata. Apolinário, um dos maiores teólogos do Século IV e defensor convicto da ortodoxia, terminou sua vida estigmatizado como herege. Dentro do Cristianismo, há poucas palavras com um gume tão afiado quanto é a heresia.  A Cabana tem sido acusada de sua parcela de heresias. Talvez a mais séria seja uma concepção voltada para o modalismo. Este interpreta que Deus não é três pessoas distintas, mas sim uma pessoa que atua em três papeis na história. O modalismo foi denunciado como uma heresia desde o Século III, portanto, não é surpresa que o livro A Cabana tenha sido acusada deste erro teológico.
Precisamos considerar se a heresia é uma acusação legítima. A doutrina da Trindade é uma marca essencial da identidade cristã. Embora eu admita que a referência aos três afirmando a própria existência seja infeliz. Vou argumentar que esse livro não é absolutamente herege.

. A Trindade Paradoxal na Sagrada Escritura.

Um dos meus problemas com alguns críticos de A Cabana é que eles tem criticado tensões na descrição que o livro faz de Deus, sem sequer reconhecer tensões similares na descrição que a Bíblia faz de Deus.
Críticos do Cristianismo têm acusado a doutrina da trindade como sendo contraditória. Os Trinitarianos afirmam que há três pessoas divinas e distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, mas que há somente um Deus. Joseph Priestley, Unitarista do Século XVIII, se queixou de que esta afirmação é “certamente uma grande contradição”. Como seria dizer que Pedro, João e Tiago, possuíam cada um deles uma característica que é requisito para constituir um homem completo, no todo não são três homens, mas apenas um homem. 
Priestley e outros críticos, afirmam que para os Cristãos reconhecerem três seres divinos, devem admitir que realmente são Triteístas, isto é, que acreditam que há três deuses! É apenas o pensamento obstinado e confuso que lhes permite insistir que são monoteístas. Então, porque a igreja adotou uma doutrina que parece contraditória? Porque o cristianismo não é como algumas tradições religiosas (por exemplo, zen-budista), que deliberadamente abraça paradoxos da Razão como uma maneira de abrir a mente para o esclarecimento místico.
Pelo contrário, os cristãos têm em geral encarado muito seriamente a razão, reconhecendo que uma doutrina aparentemente contraditória não é um assunto trivial. Vamos considerar algumas evidências Bíblicas para cada referência aos três, afirmando que a própria existência seja infeliz. Vou argumentar que esse livro não é absolutamente herege.

1.   Existe um Deus:

Os cristãos defendem o monoteísmo, pois é o ensinamento consistente da Sagrada Escritura (Êxodo 3.14; Isaías 44.6). O Pai, o Filho e o Espírito Santo são Deus. O Novo Testamento consistentemente aplica o título de Pai em alguns de seus textos (Mateus 6.9; 1 Coríntios 8.6), mas também há evidência da divindade do Filho e do Espírito Santo? Sim. Jesus é identificado como Deus em poucas passagens bíblicas do NT, entre elas, João 1.1,18; e na confissão de Tomás no livro de João 20.28, que declara: “Meu Senhor e meu Deus”. 
Outras passagens se referem à divindade de Cristo como em Romanos 9.5; Colossenses 1.115; 2.9; Hebreus 1.10-12, nas quais o escritor aplica a Jesus a descrição de Javé no Salmo 102.25-27. Além desses textos, os primeiros cristãos dirigiram suas orações (Atos 7.59-60; 1 Coríntios 16.22; 2 Coríntios 12.8) e louvores (Hebreus 13.21; 2 Pedro 3.18) a Jesus.
Os primeiros cristãos foram direcionados a reconhecer que ele tinha uma divindade igual à do Pai, ainda que continuassem a manter seu compromisso com o monoteísmo. Há pouca dúvida de que a Sagrada Escritura retrata o Espírito Santo como plenamente divino, pois ele é o Espírito de Deus – o Hálito de Deus (Mateus 3.16) e de Cristo (Romanos 8.9). O maior debate sobre o Espírito Santo se refere se ele era uma pessoa distinta do Pai e do Filho. Não obstante, a igreja concluiu que ele não era uma mera descrição antropomórfica do hálito (sopro) de Deus, mas uma pessoa distinta. O próprio Jesus declarou que ele era outra pessoa como ele mesmo – o Consolador (João 15.26; 16.13).

2.   O Pai, O Filho e o Espírito Santo São Distintos:

O Novo Testamento apresenta claramente vários textos que distinguem estas pessoas, entre eles, destacam-se as passagens do:

- Batismo de Jesus: O Pai brada bem alto do Céu – “Este é meu filho amado em quem me comprazo”. O filho está sendo batizado no Rio Jordão (terra) por João Batista e o Espírito Santo desce e repousa sobre ele como se fosse uma pomba.  Outras passagens bíblicas encontram-se em Mateus 28.19-20; 1 Coríntios 12.4-6; 2 Coríntios 13.14; Efésios 2.18; 1 Pedro 1.2-12; Judas 1.20-21 e Apocalipse 1.4-5.
Longe de resolver conceber uma doutrina aparentemente contraditória, os cristãos foram obrigados a aceitar este conjunto de afirmações pelas próprias revelações do Novo Testamento. Blaise Pascal disse: “A razão é o pano final para reconhecer que há uma infinidade de coisas além dela”.

3.   Há algum lugar em todo o conhecimento humano que esperaríamos encontrar paradoxos (...) na tentativa de entender Deus?
  
Pode-se admitir que A Cabana sai totalmente do caminho do mistério e entra na seara da heresia modalistica. O problema dessa acusação, baseada em passagens do livro A Cabana, é que se poderia seletivamente citar trechos da Sagrada Escritura para apoiar o modalismo. Por exemplo, a profecia messiânica descrita em Isaías 9.6 descreve a criança que vai nascer como “Pai Eterno” e como o “Príncipe da Paz”. Isto parece sugerir que Jesus, o príncipe da paz, é o mesmo individuo que o Pai Eterno, e isto implica em modalismo. Em João 10.10, Jesus afirma que ele é a unidade com o Pai, significando que eles são um e a mesma pessoa (João 14.9). Então, se até mesmo a Sagrada Escritura pode ser seletivamente citada em favor do modalismo, o que dizer de A Cabana.
No livro a passagem que retrata este assunto é quando Papai (Negra) diz: “Não somos três deuses e não estamos falando de um deus com três atitudes, como um homem que é marido, pai e trabalhador: Sou um só Deus e sou três pessoas, cada uma das três é total e inteiramente um”. O conselho apresentado e sugerido no livro A Cabana, é que abracemos mais o mistério do que heresia.

. A Cabana é Simplesmente um Livro Confuso?

Pode ser que A Cabana realmente não saiba em que acredita? Eu diria que a tensão entre o um e o três que existe no livro é um sinal de boa teologia bíblica. Isto fica mais clara quando retornamos a Sagrada Escritura. Vou te dar três exemplos:

No Velho Testamento: Pode-se destacar a passagem que assim refere: “Anjo do Senhor”. Estas e outras vêm confundindo os interpretes das Escrituras, como por exemplo, Gênesis 16.7-13 e Êxodo 3.2-6. Quando o Anjo do Senhor aparece, ele é ao mesmo tempo separado de Deus e identificado com Deus.
Como referência, vemos o caso em que o Anjo do Senhor impede Abraão de prosseguir seu sacrifício de Isaac. Quem o chama é o Anjo, mas é o Senhor quem fala (Gênesis 22.16-17). Nesse caso, como pode ser isso que, quando o Anjo do Senhor fala, é Deus quem fala? O anjo é realmente Deus ou distinto de Deus? Realmente o anjo não pode ser ambos? (p.48)
No Novo Testamento: Mistério semelhante ocorre no Evangelho de João 1.1: “O verbo estava com Deus e o verbo era Deus”. Aqui o verbo é Jesus. Por isso João parece estar dizendo que o Verbo é Deus e, ao mesmo tempo, é distinto de Deus. Mas como pode ser isso? É interessante notar que muitos teólogos do inicio da igreja ligavam as passagens confusas do Anjo do Senhor com Jesus, argumentando que o Anjo era Jesus antes da Encarnação. Encontra-se apoio implícito para esta afirmação no fato de que o Anjo do Senhor não é referido no Novo Testamento, talvez porque esteja agora no meio de nós como Jesus.
Epístolas Paulinas: Talvez esta é a passagem de maior dificuldade de entendimento: “Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Mas todos nós,  como rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3.17-18).
O próprio Paulo distingue claramente Jesus e o Espírito Santo em Romanos 15.30 e 1 Coríntios 6.11. Na verdade, ele faz isso mais tarde em sua própria Carta aos Coríntios (2 Co 13.14). Nos trechos citados, parece que Paulo identifica Jesus e o Espírito Santo. Como explicar estas declarações contraditórias?
O interessante é que as passagens referidas em questão refletem uma tensão muito parecida com aquela presente no livro A Cabana. Esta é a tensão em afirmar a identidade de três pessoas distintas em um Deus e, ao mesmo tempo, evitar tanto o modalismo quanto o triteísmo. Lembre-se de que Papai e Sarayu reivindicam para si o nome divino do “EU SOU”. Em outras palavras, os padrões de identidade e distinção de A Cabana remetem a padrões anteriores encontrados na Sagrada Escritura (p.49-50). Diante da confusão e mistério do testemunho bíblico, como os Cristãos devem declarar a doutrina da Trindade? Se estamos preocupados em evitar a heresia, devemos dizer que acreditamos em que?
No Quarto Concilio de Latrão, em 1215, a Igreja Católica definiu a Trindade como sendo uma “realidade suprema, incompreensível e inefável, que é verdadeiramente o Pai, o Filho e o Espírito Santo; ao mesmo tempo as três pessoas são consideradas juntas e cada uma delas isoladamente.” Esta definição é exatamente o que o livro A Cabana diz. Seria ótimo se muitos críticos do livro, conseguissem articular tão bem este mistério quanto o livro que eles criticam.
Contemplar a Trindade pode com certeza ser muito confuso, pois os seguidores de Jesus tiveram também muita dificuldade, entre eles, Felipe, que pediu a Ele para ver o Pai, mas foi informado que ele estava vendo o Pai em Jesus (João 14.9). Vemos também ocorrendo entre os primeiros Cristãos, quando foram advertidos que mentir para o Espírito Santo era mentir para Deus (Atos 5.4). No livro A Cabana não é diferente, quando Mack ficou muito confuso, principalmente quando perguntou qual deles era Deus. E os três responderam de forma uníssona: Eu Sou. Talvez nenhum teólogo tenha retratado tão bem esta desconcertante experiência do Deus Triuno, como Gregório Nazianzo, no Século IV: 

Assim que eu concebo o Um sou iluminado pelo esplendor dos Três; assim que eu Os distingo, sou levado de volta ao Um. Quando penso em Um dos Três, penso n’Ele como o todo, e meus olhos ficam saciados e a maior  parte do que estou pensando me escapa. Não consigo captar a grandeza desse Um e do mesmo modo atribuir uma grandeza maior ao resto. Quando contemplo os Três juntos, vejo apenas uma tocha, e não consigo dividir ou medir a luz indivisa.

E, do mesmo modo, esta é uma realidade sempre presente para Mack em seu inesquecível final de semana.

. Conhecendo o Mistério de Sarayu:

Fui criado na Igreja Pentecostal e vivi durante muitos anos dentro de uma tradição que enfatiza fortemente o Espírito Santo. Entretanto, os cristãos sempre tiveram dificuldades para pensar no Espírito Santo em termos pessoais. Enquanto que o Pai e o Filho são sempre retratados através de metáforas concretas e pessoais, o Espírito Santo não recebeu o mesmo tratamento teológico na Sagrada Escritura. Pelo contrário, a imagem mais dominante do d’Ele é aquela do vento: “O vento sopra para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (João 3.8).
O interessante é que o vento sempre está em movimento, mas nem sempre é visto de forma direta, somente quando ocorre alguns de seus efeitos no mundo (catástrofes). A Cabana, com o personagem de Sarayu, mostra que o Espírito Santo é intangível[8] em relação às pessoas.
Algo misterioso sobre o Espírito Santo está relacionado ao momento da morte. Os cientistas do Século XIX tinham um termo para este momento: “chamavam-no de Força Vital”. Portanto, quando esta força se desprendia, a morte chegava. Até nossos dias, permanece esse mistério do que exatamente ocorre no momento da morte.
Do ponto de vista bíblico, temos uma resposta: Quando o Espírito que dá vida retira esse fôlego, segue-se a morte (Salmo 104.30; Jó 34.14-15). Logo, o Espírito Santo está presente em todas as coisas vivas, garantindo a vida a cada momento.  No livro A Cabana, Mack teve um encontro misterioso com Sarayu – o Espírito Santo. Ela o estava abraçando sem abraçá-lo, ou até mesmo sem tocá-lo. Ele se sentiu mais leve do que o próprio ar.  Sarayu manifesta a presença criativa e vivificante do Espírito Santo na Criação com seu papel de guardião dos jardins. Alem do talento artístico na Criação, ela reflete sua presença na cultura e na arte humana cantando a bela canção de Missy (p. 99). Tamanha é a descrição do encontro de alguém com o Espírito Santo que dá vida a todas as coisas e que depois vem morar dentro daquele (a) que crê.

. Jesus Cristo: Homem e Mediador.

Diferentemente dos encontros de Mack com Papai (como mulher ou homem) e Sarayu (Espírito Santo), os com Jesus foram mais concretos e tangíveis. Ele sempre apareceu como sendo um carpinteiro judeu do Século I, de bom senso, humor e de aparência comum (Isaías 53.2). Naturalmente, ele se sente mais a vontade estando perto e com Jesus. O apóstolo Paulo explica que “podemos nos aproximar de Deus com liberdade e confiança através da fé em Cristo” (Efésios 3.12).
Para a maioria de nós, a maneira normativa de comungar com Deus é através da oração e, por isso, precisamos entender a forma apropriada e correta de orar. O próprio Jesus nos ensinou a orar ao Pai (Mateus 6.9-11); sendo esta também adotada na igreja inicial (Atos 12.5; Col. 1.3).
Embora as orações sejam dirigidas ao Pai, não podemos esquecer que Jesus é o mediador de nossas orações. Entretanto, não devemos orar a Jesus, embora ele seja Deus, pois poderemos escapar a verdade de que o seu trabalho é mediar nossas orações ao Pai Celestial. É através de nossa conversa intima com Jesus que somos levados e apresentados ao Pai. 

Capítulo 3 - Deus com ninguém no comando.

Se você ao escutar a Palavra de Deus o descreve como sendo o: Soberano, Poderoso, Absoluto e Imponente. Poderia imaginar que um encontro com Ele, talvez seria marcado por flashes de luz, ruídos de trovões, ventos uivantes ... (Êx  19.16-19)
O encontro de Mack com Deus foi bem diferente disto, pois foi caloroso e convidativo ao som de risos. Moisés advertiu que ninguém poderia olhar a face de Deus e permanecer vivo (Êxodo 33.20), mas na abordagem apresentada no livro A Cabana, Mack ficou frente a frente com os Três e não teve nenhum problema.  Deus (Mulher) se apresenta como uma divindade acessível, relaxada e em geral alegre e risonha. Talvez o que choca os leitores de A Cabana, é que sua descrição foge ao conceito tradicional de um Soberano ou Monarca que governa uma Criação submissa. O livro busca oferecer um repensar radical e abrangente destes conceitos.

. Pensando no Deus Risonho.

Além de surgir como uma mulher negra, outra coisa que surpreende no livro A Cabana, é o surgimento de um Deus risonho e alegre. Destoando da imagem que O retrata como sendo zangado, distante e julgador.
Parece ser inconcebível de que Deus não pudesse se dignar a dar um sorriso. Todas as evidências sugerem que Jesus era muito inteligente e tinha um excelente senso de humor! Será que ele não poderia contar uma piada? Se a contasse, não poderia ser tanto um sinal da sua divindade como de sua humanidade?  O psicanalista Jacques Lacan, que não era amigo do cristianismo, costumava se referir sarcasticamente à divindade da fé religiosa como “o bom e velho Deus”. Será que a igreja mais ampla e inadvertidamente não tem reforçado essas atitudes desmoralizadoras quando trata Deus mais como sendo um velho guardião inofensivo do que como o Senhor da mansão?

Donald McCullough declara: 

Visite uma igreja numa manhã de domingo – qualquer uma – e provavelmente encontrará uma congregação se relacionando confortavelmente com uma divindade que se ajusta muito bem a posições doutrinárias precisas, ou que presta um apoio todo-poderoso às cruzadas sociais, ou que se adapta às experiências espirituais individuais. Mas provavelmente não vai encontrar muito respeito ou sensação de mistério. As únicas palmas suadas serão aquelas do pregador, inseguro se o sermão vai agradar; as únicas pernas bambas serão aquelas do solista prestes a cantar o Ofertório.

Eles crítica com serenidade os Evangélicos (que enfatizam as posições doutrinárias), os Liberais (que enfatizam as cruzadas sociais) e os Carismáticos (que enfatizam as experiências espirituais) Pode ser que no livro A Cabana, de acordo com a descrição que ele faz de Deus, possa ser interpretada de forma diferente, ou seja, estará na dependência de cada leitor. Alguns podem se identificar com o personagem Mack que experimentou um trauma ou abuso em sua infância e, como resultado, começaram a encarar Deus como sendo cruel, frio e distante. Outros como sua esposa Nanete, o encaram como sendo o Pai amoroso, guardião e protetor.
Outros leitores que nunca se importaram com seus próprios pecados, talvez nem se importaram com a descrição apresentada no livro, para eles isso é indiferente (Êxodo 20.20). Para essas pessoas, a descrição de uma imagem alegre de Deus pode finalmente servir para reforçar perigosas idéias preconcebidas.

. Rejeitando a Hierarquia em Deus ... e Além.

Quando Deus chega próximo a Jó em seu tamanho sofrimento, Ele supera todos os seus “amigos”, oferecendo-lhe não um abraço paternal, mas uma explosão feroz de soberania divina, começando com essas penetrantes palavras: “Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência? (Jó 38.4)
A Cabana encoraja um quadro de Deus se submetendo a nós! Imagens D’Ele rindo, brincando e até errando ao cozinhar, servem para desconstruir a imagem sublime (elevada) da divindade que os cristãos absorveram na escola dominical. O livro pretende claramente levar o leitor a repensar (e rejeitar) as estruturas autoritárias, onde quer que se encontrem. A ideia é que se Deus chega a nós não como um juiz autoritário, mas como um servo humilde, devemos adotar a atitude de submissão do servo um em relação ao outro. 
Ao contrário da suposição arraigada de que Deus Pai está no comando da Trindade, o livro vislumbra como uma comunidade de submissão mútua. Em A Cabana, as três pessoas divinas interagem livremente uma com a outra, como antigos amigos íntimos.
Mack pergunta: Vocês não tem uma cadeia de comando? Quando Jesus responde: Isso parece medonho! No mínimo opressivo, acrescentou Papai. E Papai explica: Não existe conceito de autoridade superior entre nós, mas apenas de unidade. Estamos num circulo de relacionamentos e não numa cadeia de comando. Disse Jesus: Papai é tão submetido a mim quanto eu sou a ele, ou Sarayu a mim, ou Papai a ela.  Submissão não tem nada a ver com autoridade e não é obediência. Tem a ver com relacionamento de Amor e Respeito.
Será que as mãos que criaram todas as coisas, realmente se submetem a ser amarradas por rebeldes humanos? Por mais incrível que seja esta submissão, precisamos enfatizar que Cristo não foi encarnado apenas de sua divindade, como se tivesse desistido de sua divindade para se tornar humano.
Mas esta tendência de desenvolver hierarquias de autoridade e submissão tende a marginalizar o apelo radical à submissão mútua. Veja o exemplo do casamento; o apóstolo Paulo ordena ao marido e a mulher que se submetam um ao outro (Ef. 5.22). Quando insistimos em ter alguém no comando, continuamos a perpetuar hierarquias que marginalizam o apelo à submissão mútua.
Precisamos reconhecer que a vida cristã não significa seguir regras, ao contrário, deve estar sempre centralizada num relacionamento com Jesus. Após a morte do Apóstolo João, Inácio de Antioquia deu instrução à igreja para “seguir o bispo como Jesus seguiu ao Pai”. A partir deste início humilde, a igreja continuou a desenvolver complexas instituições de autoridade e submissão, culminando em abusos de autoridade coercivos e opressivos que frustraram a intenção de Deus para a Igreja.
Um dos escândalos desenfreados cometidos pela igreja, refere-se ao abuso sexual do clero católico[9]. Esta estrutura (autoritária e submissa) tem proporcionado aos padres abusivos um total domínio sobre os membros mais vulneráveis da igreja.
A Cabana defende a tese de que todas essas estruturas de autoridade e submissão devem ser reconsideradas. A mensagem descrita no livro é clara: Para reconhecermos a natureza da igreja, não devemos olhar para suas estruturas externas e nem burocráticas, mas para as pessoas.
De acordo com Jesus, a igreja consiste em “relacionamentos e em simplesmente compartilhar a vida. Disse Jesus: “Não gosto muito de religiões, nem de política e de economia”, de uma forma sarcástica. È a trindade de terrores criada pelo ser humano que assola a terra.

. Repensando a Hierarquia no Mundo. 

Inácio de Antioquia: Como alguém se torna igual a Cristo? Numa versão geral: como alguém se torna uma boa pessoa? Essa pergunta tem preocupado há séculos os pensadores. Como se alguém pudesse ser ético simplesmente seguindo certas regras. Uma abordagem da ética ou da santificação meramente baseada em regras é reducionista e legalista.
Será que por isso podemos concluir que as regras e a priorização das regras não têm lugar na vida do discipulado? Quando indagaram Jesus sobre as prioridades da vida, ele identificou duas: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (Mat 22.37-40), e Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas baseiam-se nestes dois mandamentos..
E qual a visão de A Cabana sobre a Igreja organizada? Parece que não é tão revolucionária; na verdade, parece incrivelmente com um típico “Protestantismo da Baixa Igreja”. Encontramos aqui tanto criticas violentas quanto soluções explicitamente simplistas. É correto dizer que a igreja éuma pessoa em um relacionamento especial com Deus, com o Próximo e com o Mundo”.
Nossas indagações continuam quando passamos a considerar a hierarquia no Estado secular. Afinal, Paulo parece afirmar que o Estado é um poder comandado por Deus: “Que todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas.” (Rom. 13.1).
Em termos práticos, como A Cabana propõe que vivamos neste mundo? O livro deixa aberta a possibilidade de participarmos destas estruturas falidas. Como diz Papai: “Nós trabalhamos dentro dos seus sistemas, ao mesmo tempo em que procuramos libertá-los deles”. Os cristãos devem participar das estruturas de poder falidas com a intenção e o objetivo de redimi-las a ponto de a  hierarquia de poder não mais existir.

. O Filho Será Submetido a Ele.

Na verdade, seria possível derivar uma base na Sagrada Escritura para a hierarquia dentro da Trindade se iniciando com Filipenses 2. Neste ponto, precisamos manter em mente a importância para os teólogos do que eu chamo de princípio de que “Deus é como se revela”. 
Assim, pode-se concluir legitimamente que Deus consiste de uma hierarquia que segue ascendentemente do Espírito Santo para o Filho e, finalmente, do Filho para o Pai. Quando Jesus foi chamado de “Bom” professor, ele replicou: “Ninguém é bom, senão um, que é Deus” (Lucas 18.19). Ele também expressou que: “o Pai é maior do que eu” (João 14.28) e declarou, com respeito ao seu retorno que somente “o Pai sabe o dia e a hora” (Mateus 24.36).
O perigo é que esta interpretação possa levar a dizer que o Filho é menos que o Pai! Quando o texto de Filipenses diz que ele se esvaziou de sua condição divina, muitos têm interpretado que ele se tornou menos que o Pai.

Filipenses 2.6-7: que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens.

Desse modo, vindo ao mundo para servir a humanidade, o Filho e o Espírito Santo estavam expressando tanto quanto o Pai a glória de Deus.  Eles, o Filho e o Espírito Santo, se submeteram ao Pai, mas não estavam apenas descendo da glória da divindade, mas sim, expressando a própria natureza de Deus.
Em Romanos 11.36, o apóstolo Paulo diz: “Deus Pai, por ele e para ele são todas as coisas’. Ao olharmos outros textos, como em Colossenses 1.20 e Filipenses 2.11, Paulo fala: “e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. Essas três passagens parecem apontar para a autoridade e prioridade do Pai na eternidade. Se a Trindade é uma comunidade perfeita de três pessoas, qual o sentido dos apelos à autoridade do Pai sobre o Filho e o Espírito Santo?

Capítulo 4 – O Maior Problema do Universo:

Sophia perguntas para Machenzie: “Não é esta sua reclamação? O fato de Deus ter fracassado tanto com você e com Missy? Deus deixou aquela alma deturpada arrancar de seus braços amorosos a Missy? E ele com toda a certeza deve ser responsabilizado pela morte de uma criancinha inocente nas mãos de um maníaco sádico

. Como Deus poderia gostar especialmente de Missy?

Deus não só previu, mas também planejou e supervisionou cada um desses horrores? Se Deus gosta especialmente de todo mundo, por que o mundo não reflete esse fato? Então, por que algumas pessoas são submetidas a incríveis agonias, enquanto outras desfrutam de todos os prazeres que esse mundo pode oferecer? 
Mas se as bênçãos e os sofrimentos providenciais não refletem nosso merecimento, Deus é tão arbitrariamente cruel quanto o sociopata mafioso que pode matar friamente e depois brincar com seu filho antes do jantar?  Ao invés de pensar num Deus como sendo um micro-administrador que pensa em cada detalhe, seria melhor pensar n’Ele como sendo um presidente de empresa que dirige uma das 500 grandes companhias citadas pela revista Fortune?
Em Efésios 1.11, Paulo diz: “nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. Segundo tradição cristã, é correto dizer que Deus previu tudo e controla todo o movimento da história cósmica (do planeta). Nada é tão magnificente (grande ou imenso) ou minúsculo para escapar do meticuloso controle providencial de Deus.
Se Deus é todo amor, ele não teria desejado que Missy fosse morta por um assassino serial. Se Ele é todo poderoso, poderia ter evitado que Missy fosse morta por ele. Afinal, “haveria alguma coisa difícil ao Senhor” (Genesis 18.14) e “Acaso, seria qualquer coisa maravilhosa demais para mim? (Jeremias 32.27).
A tentativa de explicar como a Bondade e o Amor de Deus podem ser conciliados com o problema do mal é chamada de Teodicéia. Isto é, segundo definição cunhada por John Milton; ela procura justificar os caminhos de Deus até chegar ao homem. Então, ela procura explicar como a existência do mal é compatível com a natureza perfeita de Deus.

. Repensando o Amor de Deus.

Nosso primeiro passo será considerar a possibilidade de que Deus não é todo Amor. Isso pode surpreender muitos cristãos, mas é a posição de uma importante tradição teológica chamada Calvinismo. Para ser mais específico, os seguidores de João Calvino, acreditam que Deus é perfeito em seu Amor, mas opta (escolhe) por não demonstrar este Amor a todas as suas criaturas (que loucura!). Os calvinistas acreditam que Deus controla perfeitamente todos os acontecimentos, incluindo as escolhas humanas livres.
Outros Cristãos discordam totalmente e, em vez disso, acham que Deus possa saber antecipadamente o que vamos fazer, porém Ele não pode nos obrigar a fazê-lo se é que somos realmente livres (Livre Arbítrio). Adão e Eva pecaram por que Deus lhes deu o livre arbítrio para pecar. Todos que pecam, o fazem porque Deus formou seu caráter para fazê-lo. Por isso, a razão de existir o mal no mundo é muito simples: embora perfeitamente amoroso, Deus quer que haja algum mal! (será?). Para explicar isso, os calvinistas negam o que muitos cristãos assumem: que Deus ama igualmente todas as suas criaturas. Contrariando essa afirmação Calvinista, de que Deus só ama algumas criaturas e odeia outras. Eu acredito que Deus ama todas as pessoas (1 Tim.2.4; 2 Pe 3.9).

1 Timóteo 2.3,4: Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
2 Pedro 3.9: O Senhor não retarda a sua promessa,ainda que alguns a tem por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.

Deus consegue manifestar sua misericórdia e seu amor aquelas criaturas a quem Ele decretou que escolhessem o bem. Ao mesmo tempo, manifesta sua ira e justiça aquelas criaturas a quem decretou que escolhessem o mal.

Romanos 9.22,23: E que direis Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição.

O livro A Cabana também defende e acredita nisso, pois Papai é categórico ao afirmar que gosta especialmente de todas as criaturas. Quando Mack chega à cabana, parece defender uma visão Calvinista, pois assume que Deus escolhe salvar alguns e a condenar outros. Sophia, outra personagem do livro A Cabana que, segundo o autor (Young), representa a Personalidade de Deus, entra determinada a mudar a opinião de Mack em relação a Deus (Papai): Para isso, pede-lhe que escolha qual dos seus filhos serão condenados a passar a eternidade no inferno? Machenzie fica horrorizado diante dessa situação. Então Sophia replica: Só estou lhe pedindo para fazer uma  coisa que você acredita que Deus faz! 

. Repensando o Poder de Deus:

Mesmo que nos recusemos a aceitar qualquer limitação no Amor de Deus, por sua Criação, mesmo assim, podemos resolver o problema do mal, aceitando um limite para o seu poder. Em outras palavras, Deus não consegue evitar ou eliminar todo o mal. Como disse o rabino Haroldo Kushner: Deus não quer que você fique doente ou aleijado. Ele não queria que você tivesse este problema, e não quer que você continue a enfrentá-lo, mas Ele não consegue fazê-lo desaparecer. Isso é algo difícil demais, até mesmo para Deus”.

Não me contive neste ponto, colocando em realce, entre as várias passagens encontradas na Sagrada Escritura esse registrado em Lucas 1.37: “porque para Deus nada é impossível”.

Essa concepção de Kushner, sobre Deus como sendo limitado ou está impotente, nunca atraíram os Evangélicos. Entretanto, uma visão modificada dessa limitação atraiu o interesse de alguns deles. Essa visão ficou conhecida como “Teísmo Aberto”. Ela induz que Deus queria criaturas livres para povoar seu mundo. Só que estas criaturas só poderiam ser livres se Deus não soubesse o que elas vão fazer.
Para entender, veja a ilustração: Se Deus soubesse antecipadamente que eu iria comer um prato de macarrão no almoço de amanhã, então poderia parecer que eu não poderia comer nenhuma outra comida. Portanto, se Deus sabe que vou comê-lo, então devo comê-lo. No entanto, se Ele quer que eu seja livre em minhas escolhas, então Ele não pode saber o que eu vou escolher, ou seja, Ele teria que esperar até o outro dia para saber qual vai ser minha escolha de comida.
Os defensores do Teísmo Aberto, afirmam que Deus não consegue impedir todo o mal e que há muitos eventos horríveis que simplesmente não tem explicação, ou seja, há acontecimentos que Deus não sabia que aconteceriam, e que não queria que acontecessem, mas acontecem.
Este pode ter sido o caso de Missy, não havia razão para que isso tivesse acontecido, Deus não o previu e quando aconteceu foi surpreendido igualmente a Mack. A Cabana (...) porque a Sagrada Escritura afirma repetidas vezes que Deus conhece antecipadamente todos os acontecimentos, inclusive as ações humanas (Isaias 46.10; Lucas 22.34,60; Atos 4.28; 1 Pedro 1.1,2).
O próprio Calvino disse: “Percebo que os homens têm um costume muito ruim, pois, quando deveria dizer: “Deus quis assim, diz-se que: o destino quis assim”. Entretanto, o teísmo aberto não absolve Deus da responsabilidade na morte de Missy. Mesmo que Deus não soubesse exatamente o movimento seguinte do assassino, mas ele conhecia certamente as suas intenções. Afinal, já tinha visto fazer isso antes! Podemos dizer que Deus não viu que isto estava acontecendo ou permitiu que acontecesse sem nenhuma razão? 

. Deus em Busca dos Bens Maiores:

Porque será que Deus permite que o mal aconteça? Podemos nos reportar aos pais, que submetem seus filhos (crianças) a dor e sofrimento (como tomar uma injeção, arrancar um dente etc.), haja vista que seu propósito é maior e elas ainda não conseguem entender. Será que Deus também teria razões suficientes para justificar males incríveis como a morte de Missy? Se assim for, essa idéia é conhecida como uma Teodicéia dos Bens Maiores, onde a ideia básica é que Deus determina que coisas ruins ou males ocorram porque pretende extrair deles bem maior.
Deus poderia ter criado criaturas que não escolhessem o mal. Ao invés disso, criou criaturas com o potencial para o mal, reconhecendo que, por fim, o bem  das criaturas livres iria compensar em muito a dissonância limitada. No  livro A Cabana, a idéia de livre arbítrio é um bem maior e central na teodiceia. Em outras palavras, para o amor ter significado, ele requer liberdade. Mais uma vez, Papai adverte Mack: “Se fosse simples assim anular todas as escolhas de independência, o mundo que você conhece deixaria de existir e o Amor não teria significado”. O amor não tem significado se for forçado e determinado. Ele só é importante se for escolhido livremente. Os bens para os quais Deus permite o mal também se estendem aos processos pelos quais as pessoas vêm a fazer melhores escolhas, e isto nos leva a idéia de desenvolvimento moral ou construção da alma. Um programa de exercícios físicos rigorosos vai desenvolver muita dor física, assim também ocorre com o processo de construção da alma. Para uma pessoa se tornar á imagem de Cristo, vai envolver um sofrimento físico e emocional. Para desenvolver um caráter moral mais sólido, vai ser preciso ela experimentar alguma frustração, desapontamento, perigo e escassez de recursos. Só então se aprende a ser paciente, corajoso e generoso. 
Por isso, Deus nos permite experimentar o sofrimento e o mal para estimular nosso desenvolvimento moral (Prov. 3.11,12; Heb.12.5,6), para que possamos penetrar no círculo divino do amor. Com isso, não só Deus está respeitando a vontade humana, mas está atraindo estas criaturas livres para a maturidade através do processo ocasionalmente doloroso da construção da alma.

. Somos Meios para os fins de Deus?

Segundo a teodiceia dos bens maiores, Deus permite que tudo de ruim aconteça em prol de um bem maior. Embora ela possa ser plausível como uma explicação geral para o mal, cria diretamente um problema quando procuramos aplicá-la a casos específicos, como o assassinato de Missy. É como se Deus olhasse para baixo para considerar se ela deveria viver ou morrer.
Na ética, há uma teoria como esta chamada de utilitarismo. O cerne desta teoria é que a ação ética correta, em qualquer circunstância, é a que produz a maior quantidade de bem total. Toda ação deve ser julgada pelo bem total que ela produz, e se o estupro e o assassinato de uma criança produzem mais bem, este é o curso da ação correta.
Como disse Mack: “Desse jeito parece que os fins justificam os meios, que para obter o que querem, vocês são capazes de qualquer coisa, mesmo que isso custe a vida de bilhões de pessoas”. E num dado momento, ele pergunta a Papai se ele planejou a morte de Missy em prol do crescimento espiritual. Papai responde com uma repreensão: “Não é assim que eu faço as coisas Mack”. Então Sophia sai em defesa de Papai ao dizer que: ”Ela não planejou que Missy fosse morta, pois Papai não precisa do mal para realizar seus bons propósitos”.

. A Acusação do Ateísta de Protesto:

Assim como Deus permite que o sofrimento da ostra crie uma bela pérola, também permite o sofrimento da criação para atingir bens maiores. O livro A Cabana se recusa a todo o momento a fazer qualquer idéia de que Deus permitiu o sofrimento e a morte de Missy para atingir bens maiores.
No livro, o personagem Jesus descreve para Mack que em nenhum momento deixou Missy sozinha: “Missy conheceu minha paz, e você ficaria orgulhoso porque ela foi muito corajosa”. O problema era que ele não estava descrevendo a coragem de uma criança que enfrentou uma injeção ou a extração de um dente, mas suportou violência cruel cometida pelo sociopata, culminando em suja morte. A pergunta é: como Jesus e Sarayu ficaram passivos enquanto ele a seviciava?
Uma cena dolorosamente evidente é apresentada no documentário do filme: “Livrai-nos do Mal (Deliver Us From Evil)”. Ele narra o escândalo de abuso sexual da Igreja Católica, concentrado nos crimes do Padre Olvier O’Grady. Ele molestou dezenas de crianças por décadas (algumas com apenas nove meses de idade). Destaca-se do filme, a destruição da família de Ann Jyono, que O’Grady começou a estuprá-la quando tinha 5 anos de idade. Fazia isso com muita freqüência e dentro da casa de seus pais. Esse abuso durou 7 anos. Hoje, seu pai, Bob Jyono, é um ex-católico devoto, vomita as palavras: “Eu consertei minha mente. Deus não existe. Não acredito em Deus, certo? Todas estas regras são criadas pelo homem, sabe?
Será que conseguimos encontrar uma palavra de conforto para ele, sabendo que Jesus e Sarayu estavam com Ann durante estes sete anos de estupro? Ele está convencido de que não pode haver explicação vinda de um Deus amoroso, tendo rejeitado sua crença religiosa. Nesse caso, configura-se o Ateísmo de Protesto, embora seus seguidores possam acreditar que não existe Deus, sua visão é distinta, porque ele resolve que, mesmo que houvesse um Deus, ele não o reconheceria como uma forma de protesto moral ante ao sofrimento. 
Vi um exemplo vivo de ateísmo de protesto, quando um destacado médico canadense Henry Morgentaler, debatia com William Lane Craig sobre a existência de Deus. Em meio a perguntas e respostas, um jovem fez a seguinte afirmativa a Morgentaler: “Você se inclinaria diante de Deus se fosse comprovada sua existência? Ele que sobreviveu a um campo de concentração alemão,  respondeu com desdém: “Eu não me inclinaria a ninguém, nem mesmo a Deus”.
Para um ateísta de protesto, nenhum bem possível pode justificar as lágrimas derramadas por uma criança espancada, estuprada ou trancada numa latrina e, ainda, sendo obrigada a comer de suas próprias fezes, ou ainda, de ser morta violentamente (Missy). Toda a justificativa de remir esses males em prol de algum bem maior só aumenta o insulto final.

. Por que Deus fica calado?

Será que realmente é preferível um mundo onde o mal acontece sem nenhum propósito? A explicação que a teodiceia dos bens maiores dá para o mal, não oferece uma resposta certa, mas em contraste com o ateísmo, oferece uma esperança. Então, por que Deus não esclarece melhor suas razões para permitir males específicos? Uma das razões apresentadas pela teodicéia dos bens maiores aplicadas a casos específicos, é que esse conhecimento não nos seria particularmente útil. Deus sabe que, com freqüência, não nos seria de nenhum proveito ter os detalhes de por que nós sofremos. 
Eu sugeriria uma segunda razão para Deus se recusar a explicar por que Missy teve que morrer. Para alcançarmos essa compreensão, precisamos entender totalmente a história de vida de cada um. Ás vezes, os teólogos têm-se referido ao pecado de Adão e Eva como uma “Felix Culpa”, ou como um “Pecado Feliz”, mas a questão não é que o pecado tenha sido uma coisa boa,  mas sim que, através deste terrível evento, Deus proporcionou algo maravilhoso com a vida e a morte de seu Filho. Talvez possamos então começar a perceber que Deus facilmente vai redimir cada evento terrível com um quadro emergente de beleza em que não haverá mais luto, choro ou sofrimento. (Apocalipse 21.4).

. Cap. 5 – Encontrando Esperança no Sofrimento de Deus.

Será possível que o Senhor Soberano do universo esteja presente enquanto uma criança está enfrentando a mais terrível morte?  Deus não apresenta razões claras e específicas de por que permitiu que seu povo experimentasse um sofrimento incrível, mas promete que estará presente junto com ele em meio ao seu sofrimento. 

. Jesus Sofreu Conosco.

A lenda da princesa pertencente a tribo indiana – Mulmonah, narrada no livro A Cabana, descreve que sua tribo foi atingida por uma doença grave e estava causando muitas mortes, principalmente dos homens. Seu pai, disse-lhe que essa doença só iria ser dissipada se a filha virgem dum chefe se dispusesse voluntariamente a renunciar sua própria vida e morrer, atirando-se de um alto penhasco.
Esta fábula, retrata a doutrina cristã central que nos apresenta simultaneamente o mistério de Deus ao submeter seu próprio Filho a uma morte sacrificial pela humanidade. A mais gloriosa verdade é que Ele fez isso para que pudéssemos nos tornar seus filhos. Que tipo de esperança é encontrado na Cruz? Há a esperança da solidariedade encontrada no conhecimento de que Deus se identifica conosco no nosso sofrimento. Para ter uma idéia, no ano de 177 d.C.; teve início uma cruel perseguição em Lyon (hoje, sul da França), em que cristãos foram submetidos a mais cruel das torturas (...). Além disso, a igreja perdeu seu amado Bispo – Potino, após ter sido submetido a um brutal espancamento. O que teria significado a Cruz para os Santos sofredores de Lyon?
A resposta veio com Irineu, um dos maiores teólogos da Igreja inicial e indicado para substituí-lo. Devido a sua experiência com o sofrimento, Ele entendeu a importância de afirmar que Cristo está solidário conosco. Ele sabia que, pelo fato de Cristo ter sofrido conosco, podemos encarar nossos sofrimentos como meio de identificação com Nosso Senhor.

1 Pedro 4.13,14. Mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus.

 . Jesus, o Grande Médico (...) e muito Mais.

Um paciente procura um médico não apenas para aquele que ele possa expressar empatia, mas para que ele possa lhe trazer a cura. E nós buscamos um Deus que nos dê não apenas suas lágrimas, mas uma mão firme que secará nossas lágrimas. Diante do pedido, de Sophia, Mack em total desespero, a implora: “Eu não posso ir ao lugar deles?” (de seus filhos).
Moisés implorou a Deus para que perdoasse os Israelitas, caso contrário, poderia riscar o seu nome do Livro da Vida (Êxodo 32.32). O apóstolo Paulo ficou muito angustiado com a questão dos Israelitas e expressou sua própria disposição de ser condenado, se esta fosse a única forma de Israel ser salva (Romanos 9.3).

. O Deus Irado.

Um ponto fraco que marcou a história da Igreja, pode-se dizer sem medo de errarmos, foram as Cruzadas. Os cruzados, no primeiro saque de Jerusalém, em 1099, escreveram orgulhosos para casa dizendo que o sangue dos infiéis muçulmanos corria pelas ruas, cobrindo seus tornozelos (Deuteronômio 20.16-17).
Mesmo que acertássemos que Jesus estabeleceu uma nova ética para a Igreja - a Guerra Santa, foi uma parte familiar da história de Israel. Mas a realidade é que o amável Jesus oferece uma trégua limitada de violência divina. O livro do Apocalipse apresenta julgamentos violentos que superam muito as atrocidades das batalhas mais violentas da história militar (Ap. 14.19-20).
Mack levantou uma questão em A Cabana: “Se Papai é realmente alegre, calmo e submisso, por que na Sagrada Escritura apresenta-se como perigosamente violento”? Isto é verdade? Papai responde: “Não sou quem você pensa Mackenzie. Não preciso castigar as pessoas por seu pecado. O pecado é o seu próprio castigo, pois devora a pessoa por dentro. Meu objetivo não é castigar, mas sim, sinto alegria em curar as pessoas”. Em vez disso, Deus simplesmente deixa os seres humanos rebeldes entregues aos seus próprios desejos pecadores para serem punidos pelas conseqüências de suas próprias escolhas. 
Seja o que for que possamos concluir sobre Deus, a Sagrada Escritura certamente parece ensinar que Ele exercerá um julgamento feroz e irado contra aqueles que não estão em Cristo (Romanos 8.1). Ao que parece, a ira de Deus não é tão facilmente evitada.

. Jesus nos Salvou da Ira de Deus?

Além de todos os problemas que os seres humanos enfrentam, nos deparamos agora com o fato mais perturbador: Estamos sob a Ira Sagrada de Deus! Se aqueles que não estão em Cristo enfrentam a ira de Deus, então isto sugere algo realmente impressionante sobre a remissão: Que em sua morte expiatória na Cruz, Jesus Cristo absorveu a ira de Deus que deveria ser para nós. Será que esta seria a explicação (...) do mistério da remissão? (sinônimo de perdão). Duas palavras gregas trazem esta evidência: uma é Hilasterion =  Sacrifício da Remissão, a outra, Hilasmos = Sacrifício Remissivo.
 
1 João 2.2; 4.10-11: E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. (...). Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros.   

O significado dessas duas palavras inclui o conceito de que na apresentação do Sacrifício, a ira de Deus é satisfeita, ou seja, que Ele é aplacado (= Está Satisfeito).  Esta imagem de remissão sugere que Deus está ultrajado com nossos pecados, mas com a morte de Cristo, sua ira contra nós foi satisfeita (aplacada).
No entanto, o Pai que agiu com amor para nos reconciliar com Ele (2 Coríntios 5.19), através da morte de seu único Filho (João 3.16), simboliza verdadeiramente o significado da remissão. Logo, a remissão é um ato de amor do Pai. Como disse Calvino: “Pois só depois que nos reconciliou com Ele através do sangue de seu Filho, Ele começou a nos amar”.
Na verdade, ele já nos amava antes de o mundo ser criado. No livro A Cabana, em lugar do Pai experimentando a ira do Filho, ela descreve o Pai sofrendo com o Filho! Esta afirmação apresentada no livro tem sido muito rebatida pelos críticos. Entretanto, o argumento do texto não é que o Pai era o Filho na cruz, mas que o Pai sofreu com o Filho na cruz.  As passagens Bíblicas destacadas anteriormente têm sido muito criticadas e acusadas como sendo de verdadeiro modalismo, isto é, na afirmação de que o Pai traz as marcas da crucificação do Filho.

. Representando os Limites da Salvação.

A questão dos limites da salvação vem sendo debatida há muito tempo pelos Cristãos. Considere a conversa entre Jesus e Mack: Jesus – “Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São Budistas ou Mórmons, Batistas ou Muçulmanos”. Mack  – “ Isso significa que todas as estradas levam a você?” – De jeito nenhum. “Significa que eu viajarei por qualquer estado ou lugar para encontrar com vocês”.  Alguns críticos acusam o livro de Pluralismo, isto é, a visão de que há muitas maneiras de ser salvo e Jesus é apenas uma delas.
A grande questão é: Como a salvação vem através de Cristo? Uma das formas de se obter a salvação é ter que conhecer Jesus e fazer a oração do pecador (arrependido) para sermos salvos. Esta concepção recebe o nome de Exclusivismo, segundo a qual, uma pessoa precisa ouvir o Evangelho para ser Salva por Ele (Romanos 10.8-15).
O exclusivismo foi a posição predominantemente na história da Igreja, mas sempre houve uma minoria que divergia e, neste caso, receberam o nome de Inclusivistas que, segundo seus seguidores, uma pessoa pode ser salva por Cristo, sem ter ouvido o nome de Cristo (seu Evangelho). Uma ambigüidade acompanha a conversa entre eles: “Os que me amam estão em todos os sistemas (...)”.  Observe a ambigüidade, Jesus não disse que eles foram salvos como Budista ou Mórmons e Muçulmanos. Em outras palavras, isto pode não expressar nada além da intenção de Deus de ter discípulos de todas as nações (Mateus 28.19).

. Cap. 6 – Sobre a Própria Idéia de Salvar a Criação.

Segundo a visão Pessimista, a Criação está condenada apenas a destruição. Nesse meio tempo, estamos paralisados aqui esperando pela conclusão de uma operação de resgate cósmico. Esta nação popular, acredita que Jesus foi para a morada de seu Pai para preparar um lugar para nós na grande mansão Celeste (João 14.2-3).
Então, quando chegar o momento certo, Jesus voltará para a Igreja e “seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para estarmos com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4.17). Enquanto os remidos assistem duma certa distância segura, desenvolve-se uma grande sinfonia de destruição (2 Pedro 3.10-13).Surpreende alguém que Jesus sinta certo sentimento de posse em relação a sua Criação? Como disse certa vez Abraham Kuyper: “Não há um centímetro quadrado de toda a criação pelo qual Jesus Cristo não tenha gritado: Isto é Meu! Isto pertence a Mim!” 

. Redimindo A Cabana.

O livro não diz respeito apenas à jornada introspectiva de um indivíduo (Mac), mesmo que o ambiente que o cerca (A Cabana) represente a vida interior de Mack, mas também, constituem um vislumbre muito público da cura que Deus está proporcionando a toda a criação. Quando Mack retorna aquele local, ele tem a maior surpresa ao contemplar A Cabana de horrores, pois ela tem sido “substituído” por um chalé sólido e lindamente construído com troncos descascados à mão, cada um deles trabalhado para um encaixe perfeito.
Entretanto, quando ele a examina por dentro, principalmente a sala onde Missy foi brutalmente morta, sua suspeita se confirma: é a mesma cabana! ele reflete sobre isso depois do seu retorno: “Era mais como se estivesse de volta ao mundo irreal”.

. Redescobrindo a Esperança do Mundo.

(...), mas será que há razão para pensar que Deus realmente não pretende curar toda a Criação? O problema começa com o fato de que funerais cristãos raramente se referem a esperança da ressurreição, optando em disso, por falar quase exclusivamente sobre a alma estando com Jesus. De onde veio esta idéia? Registra a Sagrada Escritura que os nossos corpos mortais ressurgirão como corpos espirituais (1 Coríntios 15.42-44; Isaías 26.19; Daniel 12.2).
Duas coisas são claras: Primeiro, o corpo de Jesus que foi crucificado na Sexta-feira, foi o mesmo que ressuscitou no sábado. Esta identidade foi confirmada quando Jesus convidou Tomé a examinar suas mãos (João 20.27). Segundo, seu corpo foi físico para que pudesse ser tocado pelas pessoas e até mesmo comer peixe diante deles (Lucas 24.39). Da mesma maneira, nossos corpos glorificados também serão físicos. E onde esses corpos físicos (pessoas) vão passar a eternidade?
Certamente não será num céu etéreo, de onde cairiam através das nuvens! Como diz Papai: “Bem, Mack, nosso destino final não é a imagem de céu que você tem na cabeça. (...), de portões adornados e rãs de ouro. O céu é uma nova purificação do universo, de modo que vai se parecer bastante com isso aqui”. (p. 164). A Cabana nos atrai para além do nosso sofrimento e do nosso pecado para contemplar o lugar de nossa salvação dentro de um universo que Deus também deseja salvar (Colossenses 1.19-20).

. Posfácio – A Chegada do Seu Reino.

É possível extrair teologia de um romance? Parece ser possível. Na verdade, nossas conversas em seis capítulos demonstraram que A Cabana está repleta de questões e conceitos teológicos fascinantes. È claro que a descrição de Deus no romance não é perfeita. Eu desafiaria a critica a acender uma vela na escuridão oferecendo sua própria descrição narrativa da realidade da Santíssima Trindade. Talvez a lição final do livro seja que devemos continuar descontentes com este mundo, não porque estamos destinados a deixá-lo, mas porque ansiamos experimentar o toque de cura final de Deus quando seu Reino assumir o Poder.

Modalismo – as pessoas ao invés de acreditar que Deus é três pessoas, eles passam a acreditar que Deus é uma pessoa que desempenha três papéis: às vezes Ele age como Pai, outras vezes age como Filho e, por fim, age como o Espírito Santo.Desde o Século III, esta concepção tem sido considerada uma Heresia pela Igreja Católica. Quanto ao assunto da Trindade, permanecemos parados no  mesmo lugar em que estávamos a quarenta anos atrás: “Poucos Pastores sabem pregar a Trindade, poucos freqüentadores da igreja sabem como rezar para a Trindade, e quase ninguém sabe o significa viver a Trindade”.




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