RAUSER,
Randal. Encontre Deus na cabana. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009.
Prefácio
Tive
a ousadia de escrever este prefácio, haja vista que o livro não o trouxe. O
autor desta obra literária, no decorrer do livro, faz comentários sobre a
abordagem apresentada por Willian Paul Young, no livro A Cabana. Seus
comentários, ora são interpretados por ele, usando passagens Bíblicas, outros
textos, por sua mera opinião. Logo, o faz como um simples leitor, como eu e
você. Embora possa ter vários cursos e títulos acadêmicos, pode fazer uma
interpretação totalmente equivocada. Nesse contexto, passo a apresentar de
forma sintética, alguns de seus comentários.
Capitulo
1
Segundo
Rausel, uma das maiores controvérsias apresentadas por Young, se dá por trazer
e apresentar Deus como sendo Papai. Uma enorme mulher negra, que dá abraços e
balança os quadris quando houve música. Aumenta a controvérsia, quando
apresenta o Espírito Santo como sendo uma misteriosa mulher asiática de nome
Sarayu. Completando esta revelação desconcertante, Mack, é interrogado por um
outro personagem, também do sexo feminino e misteriosa chamada Sophia, descrita
por Young como sendo a Personificação da Sabedoria de Deus.
Muitas
críticas foram feitas ao livro, principalmente por ceder ao feminismo e
promover um retorno pagão a adoração à deusa. Outras permaneceram atraídas por
esse retrato e achavam atrativo a descrição de Deus como de Mãe. Então, o que
está totalmente correto?
No
meu ponto de vista (Rauser), a descrição não é herética, mas nos coloca no
âmago de algumas questões importantes sobre a maneira pela qual o Deus Transcendente chega ao nosso
pequeno mundo.
. Deus – a maior de todas as
idéias.
A
palavra transcendência se refere ao reconhecimento de que Deus permanece bem
além do nosso entendimento (ou o transcende; muito elevado). No texto de Isaías
66.1: (...): O céu é o meu trono, e a terra, o escabelo dos meus pés. Que casa
me edificareis vós? E que lugar seria o do meu descanso?
Ele
nos recorda que o Deus que é onipresente
(ou seja, presente em toda parte), não está limitado aos prédios que
construímos. Ele transcende tanto a maior catedral quanto a mais humilde igreja
rural. (p.12)
Assim
como não devemos achar que nossas casas físicas de adoração contém a plenitude
de Deus, também jamais devemos achar que nossas “Casas Conceituais”, ou seja,
nosso entendimento teológico de quem é Deus, possa jamais contê-lo.
O
autor faz a seguir, uma abordagem sobre a transcendência de Deus, comparando-a
a idéia da galáxia da Via Láctea. Para isso, ele relembra uma pergunta de sua
filha quando ela tinha 6 anos de idade sobre o tamanho da Via Láctea. Ele
disse: ela fica a 100.000 ano-luz de distância da terra. Ela replicou: É mais
longe do que daqui até o Colorado?
Ele
ficou surpreso com a resposta, pois sabia que ela não tinha idade e nem a
capacidade de entender o que era anos-luz. Entretanto, ela buscou em sua
memória, alguma coisa que fosse familiar a ela, para tentar entender. Nisso
comparou com a distância de sua residência até o Colorado (dois dias de carro).
Por
mais difícil que possa ser conceber a vasta dimensão da Via Láctea, ela é quase
literalmente nada quando comparada à realidade Transcendente de Deus. A Via
Láctea é, apenas um dos mais de 100 bilhões de galáxias do universo conhecido.
(p. 13-14)
Os
teólogos têm tentado espelhar a majestade singular de Deus com o conceito de
infinito, ou seja, a idéia de que Deus é realmente infinito e, portanto, na
verdade transcende tanto nossas casas conceptuais quanto nossas casas físicas,
sejam elas as reflexões de uma criança de seis anos de idade ou do erudito, sistema do maior teólogo. Assim disse Sallie
Mcfague:
“O teólogo deve usar seus modelos com a maior seriedade,
explorando-os em todo o seu potencial interpretativo e, no entanto, ao mesmo
tempo, entender que eles são pouco mais que os balbucios dos bebês”.
Meu acréscimo: A referência
mencionada por Rauser acima, me fez lembrar uma frase emblemática do passado:
"Só sei que nada sei". Assinalada pelo filósofo Grego Sócrates: “Ele, em oposição aos sofistas,
que vendiam seu conhecimento e se assumiam como “sabedores” de todas as coisas,
coloca-se numa posição de “ignorância e de humildade face ao conhecimento”,diante
do saber. Contrariamente aos sofistas, para quem o conhecimento era algo de
pragmático, pois tinha a função de ensinar e fazer com que esse ensino surtisse
efeito ao ser aplicado por quem aprendesse. Para Sócrates o saber era algo que estava fora dele, que ele não
possuía, mas que amava. Sócrates
tendia para o saber, para aquilo que não tinha, era precisamente o que se
chamava um “filósofo”: aquele que ama o saber, que tende para ele, que caminha
em sua direção”. (Holdem).
. O Deus Que se Acomoda.
Os
cristãos permanecem incrivelmente inabaláveis na crença da unicidade de Deus.
Por exemplo, se você vai a igreja em uma manhã de domingo, pode ouvir o pastor
se dirigir à congregação silenciosa com as palavras: “O Senhor está neste
lugar”. E o que isto significa? Que Deus está somente neste lugar? Ele não está
em toda a parte?
Em
outra situação, se pode ouvir um líder religioso orar: “Senhor, venha à nossa
presença”. Venha aqui, como se Ele já não estivesse aqui? E de onde Ele está
vindo? Se uma pessoa não cristã, estivesse visitando a igreja, poderia
facilmente pensar que Deus era uma pessoa que corria o mundo visitando
diferentes congregações.
É ridículo interpretar essa
linguagem de forma literal (ao pé da
letra; rigoroso; claro). Então, que lição poderá extrair disso? Devemos
abandonar totalmente esse tipo de linguagem? O problema dessa resposta é que os cristãos não inventaram esta
maneira humana de falar sobre Deus; pelo contrário, ela lhes foi revelada na Sagrada Escritura.
A Bíblia está repleta
de referências a Deus como se Ele fosse um ser humano. Para entendermos isso, é necessário voltar e refletir
sobre como ela funciona na Sagrada Escritura. Assim, precisamos entender o
conceito de acomodação.
Esta
expressão tem raiz latina que se refere ao processo de uma coisa se ajustar a
outra. Para explicar este conceito, o autor relembra seu tempo de adolescência,
onde seu quarto era uma verdadeira bagunça (tudo jogado ao chão e desarrumado).
A
sua mãe de vez em quando exigia que ele o colocasse em ordem, pegando todos os
itens espalhados e guardá-los no armário. O adolescente Rauser dizia que não
tinha como fazê-lo, pois não caberia no armário que era pequeno. Sua mãe, com
muita rapidez, juntava todos os objetos e mostrava que, apenas dobrando e
empilhando algumas coisas, tudo poderia caber no armário.
O
livro A Cabana nos apresenta um quadro rico da acomodação de Deus. Naquele
final de semana, já há uma acomodação para Mack ter Papai e Sarayu de pé diante
dele, como se fossem seres humanos.
A
acomodação de Jesus foi mais radical, pois ela se iniciou dois mil anos atrás,
quando o Filho de Deus entrou no nosso espaço e no nosso tempo. Naquele final
de semana, Jesus
não está descendo para interagir com Mack como se fosse uma pessoa humana,
porque ele realmente o é! Isso é o que chamo de acomodação profunda.
Papai,
Jesus e Sarayu também se adaptam às limitações de Mack de outras maneiras. Mack
tem o suficiente de um teólogo para saber que a Trindade já sabe tudo. Então
questiona por que deve se dar ao trabalho de conter-lhes sobre sua família?
Sarayu explica: Nós nos limitamos por respeito a você. (...). Ouvimos “como se
fosse pela primeira vez e temos o enorme prazer em conhecê-los através de seus
olhos”.
O
autor usa de uma comparação dos nossos tempos, para apresentar a atitude
adotada pela Trindade. Ele coloca a seguinte situação: O pai indo buscar sua
filha (o) de 5 anos na escola: “Primeiro, ela que lhe contar tudo que
aconteceu. (...). Você sabia que os ursos dormem durante todo o inverno? Isso
se chama hi-ber-na-ção. E assim por diante.
É
claro que o pai sabe disso, mas, mesmo assim, nunca leva o seu conhecimento
para a conversa, por razões óbvias. Ele a encara como uma oportunidade de estar
mais próximo da filha que tanto ama.
Nesta
conversa com Mack o objetivo de Deus era estreitar seu relacionamento. A
acomodação pode surgir de outras maneiras surpreendentes, inclusive através do
estômago! Durante todo o final de
semana, Papai, Jesus e Sarayu partilharam as mais maravilhosas refeições com
Mack.
E
novamente Mack questiona: Se Deus é espírito, Deus não precisa comer? Mais uma
vez, a questão é a comida, mas o relacionamento. Outra vez, Deus está
acomodando Seu ser infinito descendo ao nível de Mack e ingressando na
experiência humana através de um compartilhamento comunal de alimentos.
.
A Acomodação de Deus na Sagrada Escritura.
Na
maior parte do tempo, Deus não se revela através de aparições diretas.
Entretanto, alguns comentaristas da Sagrada Escritura declaram que os três
visitantes de Abraão em Gênesis 18.1-3, são uma revelação da Trindade.
Depois
apareceu o Senhor a Abraão junto aos carvalhos de Manre, estando ele sentado à
porta da tenda, no maior calor do dia.
Levantando
Abraão os olhos, olhou e eis três homens
de pé em frente dele. Quando os viu, correu da porta da tenda ao seu
encontro, e prostrou-se em terra.
e
disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não
passes de teu servo.
Para começar, Deus é com freqüência
descrito por metáforas e analogias extraídas de nossas experiências com objetos
inanimados. Por exemplo, Ele é comparado
a uma Rocha, um Escudo, uma Trombeta da Salvação e uma Fortaleza (2 Sam. 22.3). Além disso, Ele é comparado aos animais, como a uma águia que cuida dos
filhos (Deut. 32.11-12).
No entanto, minha imagem não
humana preferida está descrita no Salmo 18.8-9; onde Ele é descrito como um
dragão cuspindo fogo, colocando-se sobre eles para trazer a libertação. Em
minha opinião, essa pode ser a mais incrível descrição de Deus na Sagrada
Escritura. Porém, estas imagens podem ser poderosas, mas as mais ricas são
certamente aquelas que descrevem Deus como se fosse uma pessoa humana.
Portanto, percebe-se que a
linguagem humana usada não é literal, mas claramente antropomórfica,
de forma que descreve Deus como se Ele tivesse uma forma humana. Embora Deus
esteja em toda parte, é muito difícil pensar e se relacionar com um Deus que
seja onipresente. Por isso, a Sagrada Escritura o acomoda à nossa experiência
descrevendo-O como se tivesse um corpo físico.
Por exemplo, quando Deus
condena a rebelião de Israel, Ele declara: “Assim, se acenderá a minha ira
naquele dia contra ele, e desampará-lo-ei e esconderei o meu rosto dele para
que seja devorado (...). Esconderei, pois, totalmente o meu rosto naquele dia,
por todo mal que tiver feito, por se haver tomado outros deuses.” (Deut. 31.17-18). Esta é uma maneira poderosa de comunicar sua desaprovação por tal
atitude.
Se Deus conhece todos os
eventos antes que eles ocorram, incluindo cada detalhe da vida de Abraão; então
qual foi o propósito de testá-lo? O propósito era saber o que Abraão aprenderia
sobre sua própria fé e seria fortalecido por ela.
O caso do rei Ezequias é um
excelente paralelo bíblico para a acomodação de Deus a Mack. Deus sabia que o
rei iria suplicar por uma vida mais longa, e, também sabia, que iria lhe
conceder o pedido. Por que Ele não contou logo a Ezequias desde o início, o que
iria acontecer? Para que ele fosse até Deus em oração de uma maneira que o
beneficiasse.
Ele desce ao nosso nível e
interage conosco como se fosse um ser humano, e o faz que possamos nos
relacionar com Ele. Deus também é revelado na Sagrada Escritura com
papeis humanos específicos; por exemplo; é descrito como um oleiro (Isaías
64.8); um Pai (Deuteronômio 32.6); um Guerreiro (Êxodo 15.3); um Rei (Êxodo
15.18); um Marido (Isaías 54.5) e, até mesmo, como um Soldado bêbado
despertando do sono (Salmo 78.6-7).
Como as imagens apresentam
somente personagens masculinos, muitos cristãos têm achado natural pensar em
Deus em termos masculinos. Por isso, não há que se estranhar quando Mack de
depara com a figura da Trindade como sendo duas mulheres (Elousia e Sarayu) e
um homem (Judeu).
.
Quando um ícone se torna um ídolo.
Por
volta do Século XIX, era comum entre as nações, haver grande quantidade de
ícones de madeira pintada com a imagem de Cristo. Os cristãos denunciavam todos
os ícones como conduzindo à adoração de um ídolo. Os usuários desses
ícones pintados, nunca devem confundi-los com a realidade que eles representam.
Como também, não podem confundir os ícones literários da Sagrada Escritura com
descrições literais. Disse certa ocasião João
Calvino:
Por
que mesmo aqueles de escassa
inteligência não entendem que, como fazem comumente as amas com os bebês, Deus
está acostumado de certa forma sussurrar quando fala conosco.
Sendo
assim, Deus se acomoda às nossas limitações descrevendo-se dentro da extensão
da experiência humana, com freqüência falando como se Ele fosse humano. Não é
de se estranhar que Mack tenha feito as seguintes perguntas: Duas mulheres e um
homem? E nenhum deles é branco? Por que ele havia presumido que Deus seria
Branco?
Quando
Deus se mostra a ele nesta forma “não ortodoxa,
Mack começa a perceber como tem sido estreita a sua percepção de Deus. “Todas
as suas concepções visuais de Deus eram muito brancas e muito masculinas”. Deus
aparece para Machenzie como uma negra, para lembrá-lo que Ele é muito maior do
que quaisquer ícones literários da Sagrada Escritura. O que quer que se possa
dizer sobre Ele, qualquer que seja a imagem que se use para pensar N’Ele, Ele
sempre existe além dessas concepções.
. Deus o encontra onde você
estiver.
Pense
na maneira pela qual Jesus procurou comunicar uma idéia realmente grande e
abstrata: o crescimento do povo de Deus. Ele usou algo bem familiar e próximo
do cotidiano dos Judeus Palestinos (moradores da Judéia), fazendo uma
comparação ao grão de mostarda (Lucas
13.8-9). E para nós que nunca vimos uma semente ou planta de mostarda como
ficaria? O mais importante é você fazer uma acomodação em algo mais próximo dos
ouvintes (filha de 6 anos sobre o que seria a Via Láctea), para que a mensagem
seja bem sucedida.
Isto
me faz lembrar a metáfora de Deus como Pai. Todos sabem o que os pais são, e
por isso esta imagem não corre o risco de ser mal sucedida, ou seja, o tiro
sair pela culatra. Essa idéia tem ressoado (retumbar, ecoar) com gerações de
Cristãos baseados na sua experiência com seus próprios pais como protetor,
mentores, amigos e provedores (Luc. 11.11). O problema é que muitas pessoas não tiveram um pai humano amoroso
como Nanete (Nam, esposa de Mack), pois Mack traz péssimas experiências e
recordações da relação com seu pai (alcoólatra e violento). Uma imagem que é
amada por tantos, para outros, pode ser absolutamente repugnante.
O
apóstolo Paulo, depois de sua conversão, não fez nada que não tivesse aprendido
com Jesus, um exemplo da profunda acomodação de Deus às limitações humanas (1 Corín. 9.22). Deus enviou Jesus
como uma expressão do coração de acomodação do Pai (João 3.16). Portanto, não nos surpreende que o mesmo Deus, que
sempre veio ao nosso encontro onde quer que estejamos, venha se encontrar com
Mack em sua prisão. Ele fez mais do que isso, Papai se reuniu com Mack em sua
prisão, esforçando-se para libertá-lo.
. Há Espaço para um Deus Mãe?
Os
evangélicos têm rejeitado as tentativas de descrever Deus com analogias e
metáforas femininas (ou sendo até hostis a elas). Embora não haja dúvida de que
a Bíblia esteja repleta de analogias masculinas, podem-se encontrar algumas
figuras de linguagem femininas. Deus é comparado a uma Mãe (Isaías 66.13). No Novo Testamento, Deus
assume implicitamente um papel feminino nas Parábolas da mulher misturando o
fermento e a farinha (Mat. 13.33)
e das Dracmas Perdidas (Lucas 15.8-9).
O
próprio Jesus compara sua preocupação com Jerusalém, a uma galinha que quer
juntar seus pintinhos debaixo de suas asas (Mat. 23.37). A idéia de Jesus como a Sabedoria divina é notável,
pois o significado da palavra sabedoria, tanto no idioma hebraico quanto no
grego, é feminina: em hebraico é Hokmak, e em grego é Sophia. Se nos tornarmos
demasiadamente comprometidos com uma ou outra imagem de Deus, Ele pode se
tornar um ídolo para uns e num obstáculo para outros.
Capítulo 2 – O Mistério dos Três em
Um.
Ser
teólogo é uma tarefa ingrata. Apolinário, um dos maiores teólogos do Século IV
e defensor convicto da ortodoxia, terminou sua vida estigmatizado como herege.
Dentro do Cristianismo, há poucas palavras com um gume tão afiado quanto é a
heresia. A Cabana tem sido acusada de
sua parcela de heresias. Talvez a mais séria seja uma concepção voltada para o modalismo. Este interpreta que Deus não
é três pessoas distintas, mas sim uma pessoa que atua em três papeis na
história. O modalismo foi denunciado como uma heresia desde o Século III,
portanto, não é surpresa que o livro A Cabana tenha sido acusada deste erro
teológico.
Precisamos
considerar se a heresia é uma acusação legítima. A doutrina da Trindade é uma
marca essencial da identidade cristã. Embora eu admita que a referência aos três afirmando a
própria existência seja infeliz. Vou argumentar que esse livro não é
absolutamente herege.
. A Trindade Paradoxal na Sagrada
Escritura.
Um
dos meus problemas com alguns críticos de A Cabana é que eles tem criticado tensões na descrição que o livro faz de
Deus, sem sequer reconhecer tensões similares na descrição que a Bíblia faz de
Deus.
Críticos
do Cristianismo têm acusado a doutrina da trindade como sendo contraditória. Os
Trinitarianos afirmam que há três
pessoas divinas e distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, mas que há
somente um Deus. Joseph Priestley, Unitarista do Século XVIII, se queixou de que esta
afirmação é “certamente uma grande contradição”. Como seria dizer que Pedro,
João e Tiago, possuíam cada um deles uma característica que é requisito para
constituir um homem completo, no todo não são três homens, mas apenas um homem.
Priestley
e outros críticos, afirmam que para os Cristãos reconhecerem três seres
divinos, devem admitir que realmente são Triteístas,
isto é, que acreditam que há três deuses! É apenas o pensamento obstinado e
confuso que lhes permite insistir que são monoteístas. Então, porque a igreja
adotou uma doutrina que parece contraditória? Porque o cristianismo não é como
algumas tradições religiosas (por exemplo, zen-budista), que deliberadamente
abraça paradoxos da Razão como uma maneira de abrir a mente para o esclarecimento
místico.
Pelo
contrário, os cristãos têm em geral encarado muito seriamente a razão,
reconhecendo que uma doutrina aparentemente contraditória não é um assunto
trivial. Vamos considerar algumas evidências Bíblicas para cada referência aos
três, afirmando que a própria existência seja infeliz. Vou argumentar que esse
livro não é absolutamente herege.
1. Existe um
Deus:
Os
cristãos defendem o monoteísmo, pois é o ensinamento consistente da Sagrada
Escritura (Êxodo 3.14; Isaías 44.6). O Pai, o Filho e o Espírito Santo são
Deus. O Novo Testamento consistentemente aplica o título de Pai em alguns de
seus textos (Mateus 6.9; 1 Coríntios 8.6), mas também há evidência da divindade
do Filho e do Espírito Santo? Sim. Jesus é identificado como Deus em poucas passagens
bíblicas do NT, entre elas, João 1.1,18; e na confissão de Tomás no livro de
João 20.28, que declara: “Meu Senhor e meu Deus”.
Outras
passagens se referem à divindade de Cristo como em Romanos 9.5; Colossenses
1.115; 2.9; Hebreus 1.10-12, nas quais o escritor aplica a Jesus a descrição de
Javé no Salmo 102.25-27. Além desses textos, os primeiros cristãos dirigiram
suas orações (Atos 7.59-60; 1
Coríntios 16.22; 2 Coríntios 12.8) e louvores
(Hebreus 13.21; 2 Pedro 3.18) a Jesus.
Os
primeiros cristãos foram direcionados a reconhecer que ele tinha uma divindade
igual à do Pai, ainda que continuassem a manter seu compromisso com o
monoteísmo. Há pouca dúvida de que a Sagrada Escritura retrata o Espírito Santo
como plenamente divino, pois ele é o Espírito de Deus – o Hálito de Deus
(Mateus 3.16) e de Cristo (Romanos 8.9). O maior debate sobre o Espírito Santo
se refere se ele era uma pessoa distinta do Pai e do Filho. Não obstante, a
igreja concluiu que ele não era uma mera descrição antropomórfica do hálito
(sopro) de Deus, mas uma pessoa distinta. O próprio Jesus declarou que ele era
outra pessoa como ele mesmo – o Consolador (João 15.26; 16.13).
2. O Pai, O Filho
e o Espírito Santo São Distintos:
O
Novo Testamento apresenta claramente vários textos que distinguem estas
pessoas, entre eles, destacam-se as passagens do:
- Batismo de Jesus: O Pai brada bem alto do Céu – “Este é meu filho amado em
quem me comprazo”. O filho está
sendo batizado no Rio Jordão (terra) por João Batista e o Espírito Santo desce e repousa sobre ele como se fosse uma pomba. Outras passagens bíblicas encontram-se em
Mateus 28.19-20; 1 Coríntios 12.4-6; 2 Coríntios 13.14; Efésios 2.18; 1 Pedro
1.2-12; Judas 1.20-21 e Apocalipse 1.4-5.
Longe de resolver conceber uma doutrina aparentemente
contraditória, os cristãos foram obrigados a aceitar este conjunto de
afirmações pelas próprias revelações do Novo Testamento. Blaise Pascal
disse: “A razão é o pano final para reconhecer que há uma infinidade de coisas
além dela”.
3. Há algum lugar
em todo o conhecimento humano que esperaríamos encontrar paradoxos (...) na
tentativa de entender Deus?
Pode-se
admitir que A Cabana sai totalmente do caminho do mistério e entra na seara da
heresia modalistica. O problema dessa acusação, baseada em passagens do livro A
Cabana, é que se poderia seletivamente citar trechos da Sagrada Escritura para
apoiar o modalismo.
Por exemplo, a profecia messiânica descrita em Isaías 9.6 descreve a criança
que vai nascer como “Pai Eterno” e como o “Príncipe da Paz”. Isto parece
sugerir que Jesus, o príncipe da paz, é o mesmo individuo que o Pai Eterno, e
isto implica em modalismo. Em João 10.10, Jesus afirma que ele é a unidade com
o Pai, significando que eles são um e a mesma pessoa (João 14.9). Então, se até
mesmo a Sagrada Escritura pode ser seletivamente citada em favor do modalismo,
o que dizer de A Cabana.
No
livro a passagem que retrata este assunto é quando Papai (Negra) diz: “Não
somos três deuses e não estamos falando de um deus com três atitudes, como um
homem que é marido, pai e trabalhador: Sou um só Deus e sou três pessoas, cada
uma das três é total e inteiramente um”. O conselho apresentado e
sugerido no livro A Cabana, é que abracemos mais o mistério do que heresia.
. A Cabana é Simplesmente um Livro
Confuso?
Pode
ser que A Cabana realmente não saiba em que acredita? Eu diria que a tensão
entre o um e o três que existe no livro é um sinal de boa teologia bíblica.
Isto fica mais clara quando retornamos a Sagrada Escritura. Vou te dar três
exemplos:
No Velho Testamento: Pode-se
destacar a passagem que assim refere: “Anjo do Senhor”. Estas e outras vêm
confundindo os interpretes das Escrituras, como por exemplo, Gênesis 16.7-13 e
Êxodo 3.2-6. Quando o Anjo do Senhor aparece, ele é ao mesmo tempo separado de
Deus e identificado com Deus.
Como
referência, vemos o caso em que o Anjo do Senhor impede Abraão de prosseguir
seu sacrifício de Isaac. Quem o chama é o Anjo, mas é o Senhor quem fala
(Gênesis 22.16-17). Nesse caso, como pode ser isso que, quando o Anjo do Senhor
fala, é Deus quem fala? O anjo é realmente Deus ou distinto de Deus? Realmente
o anjo não pode ser ambos? (p.48)
No Novo Testamento: Mistério
semelhante ocorre no Evangelho de João 1.1: “O verbo estava com Deus e o verbo
era Deus”. Aqui o verbo é Jesus. Por isso João parece estar dizendo que o Verbo
é Deus e, ao mesmo tempo, é distinto de Deus. Mas como pode ser isso? É
interessante notar que muitos teólogos do inicio da igreja ligavam as passagens
confusas do Anjo do Senhor com Jesus, argumentando que o Anjo era Jesus antes
da Encarnação. Encontra-se apoio implícito para esta afirmação no fato de que o
Anjo do Senhor não é referido no Novo Testamento, talvez porque esteja agora no
meio de nós como Jesus.
Epístolas Paulinas: Talvez esta é a
passagem de maior dificuldade de entendimento: “Ora, o Senhor é o Espírito; e
onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Mas todos nós, como rosto descoberto, refletindo como um
espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma
imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3.17-18).
O
próprio Paulo distingue claramente Jesus e o Espírito Santo em Romanos 15.30 e
1 Coríntios 6.11. Na verdade, ele faz isso mais tarde em sua própria Carta aos
Coríntios (2 Co 13.14). Nos trechos citados, parece que Paulo identifica Jesus
e o Espírito Santo. Como explicar estas declarações contraditórias?
O
interessante é que as passagens referidas em questão refletem uma tensão muito
parecida com aquela presente no livro A Cabana. Esta é a tensão em afirmar a
identidade de três pessoas distintas em um Deus e, ao mesmo tempo, evitar tanto
o modalismo quanto o triteísmo. Lembre-se de que Papai e Sarayu reivindicam
para si o nome divino do “EU SOU”. Em outras palavras, os padrões de identidade
e distinção de A Cabana remetem a padrões anteriores encontrados na Sagrada
Escritura (p.49-50). Diante da confusão e mistério do
testemunho bíblico, como os Cristãos devem declarar a doutrina da Trindade? Se
estamos preocupados em evitar a heresia, devemos dizer que acreditamos em que?
No
Quarto Concilio de Latrão, em 1215, a Igreja Católica definiu a Trindade como
sendo uma “realidade suprema, incompreensível e inefável,
que é verdadeiramente o Pai, o Filho e o Espírito Santo; ao mesmo tempo as três
pessoas são consideradas juntas e cada uma delas isoladamente.” Esta definição
é exatamente o que o livro A Cabana diz. Seria
ótimo se muitos críticos do livro, conseguissem articular tão bem este mistério
quanto o livro que eles criticam.
Contemplar
a Trindade pode com certeza ser muito confuso, pois os seguidores de Jesus
tiveram também muita dificuldade, entre eles, Felipe, que pediu a Ele para ver o Pai, mas foi informado que ele
estava vendo o Pai em Jesus (João 14.9). Vemos também ocorrendo entre os primeiros Cristãos, quando foram
advertidos que mentir para o Espírito Santo era mentir para Deus (Atos 5.4). No
livro A Cabana não é diferente, quando Mack ficou muito confuso, principalmente
quando perguntou qual deles era Deus. E os três responderam de forma uníssona:
Eu Sou. Talvez nenhum teólogo tenha retratado tão bem esta desconcertante
experiência do Deus Triuno, como Gregório
Nazianzo, no Século IV:
Assim que eu concebo o Um sou iluminado pelo esplendor dos
Três; assim que eu Os distingo, sou levado de volta ao Um. Quando penso em Um
dos Três, penso n’Ele como o todo, e meus olhos ficam saciados e a maior parte do que estou pensando me escapa. Não
consigo captar a grandeza desse Um e do mesmo modo atribuir uma grandeza maior
ao resto. Quando contemplo os Três juntos, vejo apenas uma tocha, e não consigo
dividir ou medir a luz indivisa.
E,
do mesmo modo, esta é uma realidade sempre presente para Mack em seu
inesquecível final de semana.
. Conhecendo o Mistério de Sarayu:
Fui
criado na Igreja Pentecostal e vivi durante muitos anos dentro de uma tradição
que enfatiza fortemente o Espírito Santo. Entretanto, os cristãos sempre
tiveram dificuldades para pensar no Espírito Santo em termos pessoais. Enquanto
que o Pai e o Filho são sempre retratados através de metáforas concretas e
pessoais, o Espírito Santo não recebeu o mesmo tratamento teológico na Sagrada
Escritura. Pelo contrário, a imagem mais dominante do d’Ele é aquela do vento:
“O vento sopra para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”
(João 3.8).
O
interessante é que o vento sempre está em movimento, mas nem sempre é visto de
forma direta, somente quando ocorre alguns de seus efeitos no mundo
(catástrofes). A Cabana, com o personagem de Sarayu, mostra que o Espírito
Santo é intangível[8] em
relação às pessoas.
Algo
misterioso sobre o Espírito Santo está relacionado ao momento da morte. Os
cientistas do Século XIX tinham um termo para este momento: “chamavam-no de
Força Vital”. Portanto, quando esta força se desprendia, a morte chegava. Até
nossos dias, permanece esse mistério do que exatamente ocorre no momento da
morte.
Do
ponto de vista bíblico, temos uma resposta: Quando o Espírito que dá vida
retira esse fôlego, segue-se a morte (Salmo 104.30; Jó 34.14-15). Logo, o
Espírito Santo está presente em todas as coisas vivas, garantindo a vida a cada
momento. No livro A Cabana, Mack teve um
encontro misterioso com Sarayu – o Espírito Santo. Ela o estava abraçando sem
abraçá-lo, ou até mesmo sem tocá-lo. Ele se sentiu mais leve do que o próprio
ar. Sarayu manifesta a presença criativa e vivificante do Espírito
Santo na Criação com seu papel de guardião dos jardins. Alem do talento
artístico na Criação, ela reflete sua presença na cultura e na arte humana
cantando a bela canção de Missy (p. 99). Tamanha é a descrição do encontro de
alguém com o Espírito Santo que dá vida a todas as coisas e que depois vem
morar dentro daquele (a) que crê.
. Jesus Cristo: Homem e Mediador.
Diferentemente
dos encontros de Mack com Papai (como mulher ou homem) e Sarayu (Espírito
Santo), os com Jesus foram mais concretos e tangíveis. Ele sempre apareceu como
sendo um carpinteiro judeu do Século I, de bom senso, humor e de aparência
comum (Isaías 53.2). Naturalmente, ele se sente mais a vontade estando perto e
com Jesus. O apóstolo Paulo explica que “podemos nos aproximar de Deus com
liberdade e confiança através da fé em Cristo” (Efésios 3.12).
Para
a maioria de nós, a maneira normativa de comungar com Deus é através da oração
e, por isso, precisamos entender a forma apropriada e correta de orar. O
próprio Jesus nos ensinou a orar ao Pai (Mateus 6.9-11); sendo esta também
adotada na igreja inicial (Atos 12.5; Col. 1.3).
Embora
as orações sejam dirigidas ao Pai, não podemos esquecer que Jesus é o mediador
de nossas orações. Entretanto, não devemos orar a Jesus, embora ele seja Deus,
pois poderemos escapar a verdade de que o seu trabalho é mediar nossas orações
ao Pai Celestial. É através de nossa conversa intima com Jesus que somos
levados e apresentados ao Pai.
Capítulo 3 - Deus com ninguém no
comando.
Se
você ao escutar a Palavra de Deus o descreve como sendo o: Soberano, Poderoso,
Absoluto e Imponente. Poderia imaginar que um encontro com Ele, talvez seria
marcado por flashes de luz, ruídos de trovões, ventos uivantes ... (Êx 19.16-19)
O
encontro de Mack com Deus foi bem diferente disto, pois foi caloroso e
convidativo ao som de risos. Moisés advertiu que ninguém poderia olhar a face de
Deus e permanecer vivo (Êxodo 33.20), mas na abordagem apresentada no livro A
Cabana, Mack ficou frente a frente com os Três e não teve nenhum problema. Deus (Mulher) se apresenta como uma divindade
acessível, relaxada e em geral alegre e risonha. Talvez o que choca os leitores
de A Cabana, é que sua descrição foge ao conceito tradicional de um Soberano ou
Monarca que governa uma Criação submissa. O livro busca oferecer um repensar
radical e abrangente destes conceitos.
. Pensando no Deus Risonho.
Além
de surgir como uma mulher negra, outra coisa que surpreende no livro A Cabana,
é o surgimento de um Deus risonho e alegre. Destoando da imagem que O retrata
como sendo zangado, distante e julgador.
Parece
ser inconcebível de que Deus não pudesse se dignar a dar um sorriso. Todas as
evidências sugerem que Jesus era muito inteligente e tinha um excelente senso
de humor! Será que ele não poderia contar uma piada? Se a contasse, não poderia
ser tanto um sinal da sua divindade como de sua humanidade? O psicanalista Jacques Lacan, que não era amigo do cristianismo, costumava se
referir sarcasticamente à divindade da fé religiosa como “o bom e velho Deus”. Será que a igreja
mais ampla e inadvertidamente não tem reforçado essas atitudes desmoralizadoras
quando trata Deus mais como sendo um velho guardião inofensivo do que como o
Senhor da mansão?
Donald McCullough declara:
Visite uma igreja numa manhã de domingo – qualquer uma – e
provavelmente encontrará uma congregação se relacionando confortavelmente com
uma divindade que se ajusta muito bem a posições doutrinárias precisas, ou que
presta um apoio todo-poderoso às cruzadas sociais, ou que se adapta às
experiências espirituais individuais. Mas provavelmente não vai encontrar muito
respeito ou sensação de mistério. As únicas palmas suadas serão aquelas do
pregador, inseguro se o sermão vai agradar; as únicas pernas bambas serão
aquelas do solista prestes a cantar o Ofertório.
Eles
crítica com serenidade os Evangélicos (que enfatizam as posições doutrinárias), os Liberais (que enfatizam as cruzadas sociais) e os Carismáticos (que enfatizam as
experiências espirituais) Pode
ser que no livro A Cabana, de acordo com a descrição que ele faz de Deus, possa
ser interpretada de forma diferente, ou seja, estará na dependência de cada
leitor. Alguns podem se identificar com o personagem Mack que experimentou um
trauma ou abuso em sua infância e, como resultado, começaram a encarar Deus
como sendo cruel, frio e distante. Outros como sua esposa Nanete, o encaram
como sendo o Pai amoroso, guardião e protetor.
Outros
leitores que nunca se importaram com seus próprios pecados, talvez nem se
importaram com a descrição apresentada no livro, para eles isso é indiferente
(Êxodo 20.20). Para essas pessoas, a descrição de uma imagem alegre de Deus
pode finalmente servir para reforçar perigosas idéias preconcebidas.
. Rejeitando a Hierarquia em Deus
... e Além.
Quando
Deus chega próximo a Jó em seu tamanho sofrimento, Ele supera todos os seus
“amigos”, oferecendo-lhe
não um abraço paternal, mas uma explosão feroz de soberania divina,
começando com essas penetrantes palavras: “Onde estavas tu, quando eu fundava a
terra? Faze-mo saber, se tens inteligência? (Jó 38.4)
A
Cabana encoraja um quadro de Deus se submetendo a nós! Imagens D’Ele rindo,
brincando e até errando ao cozinhar, servem para desconstruir a imagem sublime
(elevada) da divindade que os cristãos absorveram na escola dominical. O livro
pretende claramente levar o leitor a repensar (e rejeitar) as estruturas
autoritárias, onde quer que se encontrem. A ideia é que se Deus chega a nós não
como um juiz autoritário, mas como um servo humilde, devemos adotar a atitude
de submissão do servo um em relação ao outro.
Ao
contrário da suposição arraigada de que Deus Pai está no comando da Trindade, o
livro vislumbra como uma comunidade de submissão mútua. Em A Cabana, as três
pessoas divinas interagem livremente uma com a outra, como antigos amigos
íntimos.
Mack
pergunta: Vocês não tem uma cadeia de comando? Quando Jesus responde: Isso
parece medonho! No mínimo opressivo, acrescentou Papai. E Papai explica: Não
existe conceito de autoridade superior entre nós, mas apenas de unidade.
Estamos num circulo de relacionamentos e não numa cadeia de comando. Disse Jesus: Papai é tão submetido a mim quanto eu sou a ele, ou Sarayu a mim,
ou Papai a ela. Submissão não tem nada a
ver com autoridade e não é obediência. Tem a ver com relacionamento de Amor e
Respeito.
Será
que as mãos que criaram todas as coisas, realmente se submetem a ser amarradas
por rebeldes humanos? Por mais incrível que seja esta submissão, precisamos
enfatizar que Cristo não foi encarnado
apenas de sua divindade, como se tivesse desistido de sua divindade para se tornar
humano.
Mas
esta tendência de desenvolver hierarquias de autoridade e submissão tende a
marginalizar o apelo radical à submissão mútua.
Veja o exemplo do casamento; o apóstolo Paulo ordena ao marido e a mulher que
se submetam um ao outro (Ef. 5.22). Quando insistimos em ter alguém no
comando, continuamos a perpetuar hierarquias que marginalizam o apelo à
submissão mútua.
Precisamos
reconhecer que a vida cristã não significa seguir regras, ao contrário, deve
estar sempre centralizada num relacionamento com Jesus. Após a morte do
Apóstolo João, Inácio de Antioquia
deu instrução à igreja para “seguir o bispo como Jesus seguiu ao Pai”. A partir
deste início humilde, a igreja continuou a desenvolver complexas instituições
de autoridade e submissão, culminando em abusos de autoridade coercivos e
opressivos que frustraram a intenção de Deus para a Igreja.
Um
dos escândalos desenfreados cometidos pela igreja, refere-se ao abuso sexual do
clero católico[9]. Esta
estrutura (autoritária e submissa) tem proporcionado aos padres abusivos um
total domínio sobre os membros mais vulneráveis da igreja.
A
Cabana defende a tese de que todas essas estruturas de autoridade e submissão
devem ser reconsideradas. A mensagem descrita no livro é clara: Para
reconhecermos a natureza da igreja, não devemos olhar para suas estruturas
externas e nem burocráticas, mas para as pessoas.
De
acordo com Jesus, a igreja consiste em “relacionamentos e em simplesmente
compartilhar a vida. Disse Jesus: “Não gosto muito de religiões, nem de
política e de economia”, de uma forma sarcástica. È a trindade de terrores
criada pelo ser humano que assola a terra.
. Repensando a Hierarquia no Mundo.
Inácio de Antioquia: Como alguém se torna igual a Cristo? Numa versão geral:
como alguém se torna uma boa pessoa? Essa pergunta tem preocupado há séculos os
pensadores. Como se alguém pudesse ser ético simplesmente seguindo certas
regras. Uma abordagem da ética ou da santificação meramente baseada em regras é
reducionista e legalista.
Será
que por isso podemos concluir que as regras e a priorização das regras não têm
lugar na vida do discipulado? Quando indagaram Jesus sobre as prioridades da
vida, ele identificou duas: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (Mat 22.37-40), e Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a
lei e os profetas baseiam-se nestes dois mandamentos..
E
qual a visão de A Cabana sobre a Igreja organizada? Parece que não é tão
revolucionária; na verdade, parece incrivelmente com um típico “Protestantismo
da Baixa Igreja”. Encontramos aqui tanto criticas violentas quanto soluções
explicitamente simplistas. É correto dizer que a igreja é “uma pessoa em um relacionamento especial com Deus, com o
Próximo e com o Mundo”.
Nossas
indagações continuam quando passamos a considerar a hierarquia no Estado
secular. Afinal, Paulo parece afirmar que o Estado é um poder comandado por
Deus: “Que todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há
autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele
instituídas.” (Rom. 13.1).
Em
termos práticos, como A Cabana propõe que vivamos neste mundo? O livro deixa
aberta a possibilidade de participarmos destas estruturas falidas. Como diz
Papai: “Nós trabalhamos dentro dos seus sistemas, ao mesmo tempo em que
procuramos libertá-los deles”. Os cristãos devem participar das
estruturas de poder falidas com a intenção e o objetivo de redimi-las a ponto
de a hierarquia de poder não mais
existir.
. O Filho Será Submetido a Ele.
Na
verdade, seria possível derivar uma base na Sagrada Escritura para a hierarquia
dentro da Trindade se iniciando com Filipenses 2. Neste ponto, precisamos
manter em mente a importância para os teólogos do que eu chamo de princípio de
que “Deus é como se revela”.
Assim,
pode-se concluir legitimamente que Deus consiste de uma hierarquia que segue
ascendentemente do Espírito Santo para o Filho e, finalmente, do Filho para o
Pai. Quando Jesus foi chamado de “Bom” professor, ele replicou: “Ninguém é bom,
senão um, que é Deus” (Lucas 18.19). Ele também expressou que: “o Pai é maior
do que eu” (João 14.28) e declarou, com respeito ao seu retorno que somente “o
Pai sabe o dia e a hora” (Mateus 24.36).
O
perigo é que esta interpretação possa levar a dizer que o Filho é menos que o
Pai! Quando o texto de Filipenses diz que ele se esvaziou de sua
condição divina, muitos têm interpretado que ele se tornou menos que o Pai.
Filipenses
2.6-7: que, sendo em forma de Deus, não
teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a
forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens.
Desse
modo, vindo ao mundo para servir a humanidade, o Filho e o Espírito Santo
estavam expressando tanto quanto o Pai a glória de Deus. Eles, o Filho e o Espírito Santo, se
submeteram ao Pai, mas não estavam apenas descendo da glória da divindade, mas
sim, expressando a própria natureza de Deus.
Em
Romanos 11.36, o apóstolo Paulo diz: “Deus Pai, por ele e para ele são todas as
coisas’. Ao olharmos outros textos, como em Colossenses 1.20 e Filipenses 2.11,
Paulo fala: “e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de
Deus Pai”. Essas três passagens parecem apontar para a autoridade e prioridade
do Pai na eternidade. Se a Trindade é uma comunidade perfeita de três
pessoas, qual o sentido dos apelos à autoridade do Pai sobre o Filho e o
Espírito Santo?
Capítulo 4 – O Maior Problema do
Universo:
Sophia
perguntas para Machenzie: “Não é esta sua reclamação? O fato de Deus ter
fracassado tanto com você e com Missy? Deus deixou aquela alma deturpada
arrancar de seus braços amorosos a Missy? E ele com toda a certeza deve ser
responsabilizado pela morte de uma criancinha inocente nas mãos de um maníaco sádico!
. Como Deus poderia gostar especialmente
de Missy?
Deus
não só previu, mas também planejou e supervisionou cada um desses horrores? Se
Deus gosta especialmente de todo mundo, por que o mundo não reflete esse fato?
Então, por que algumas pessoas são submetidas a incríveis agonias, enquanto
outras desfrutam de todos os prazeres que esse mundo pode oferecer?
Mas
se as bênçãos e os sofrimentos providenciais não refletem nosso merecimento,
Deus é tão arbitrariamente cruel quanto o sociopata mafioso que pode matar friamente e depois brincar com seu filho antes do
jantar? Ao invés de pensar num Deus como
sendo um micro-administrador que pensa em cada detalhe, seria melhor pensar
n’Ele como sendo um presidente de empresa que dirige uma das 500 grandes
companhias citadas pela revista Fortune?
Em
Efésios 1.11, Paulo diz: “nele, digo, em quem também fomos feitos herança,
havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz
todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. Segundo
tradição cristã, é correto dizer que Deus previu tudo e controla todo o
movimento da história cósmica (do planeta). Nada é tão magnificente (grande ou
imenso) ou minúsculo para escapar do meticuloso controle providencial de Deus.
Se
Deus é todo amor, ele não teria desejado que Missy fosse morta por um assassino
serial. Se Ele é todo poderoso, poderia ter evitado que Missy fosse morta por
ele. Afinal, “haveria alguma coisa difícil ao Senhor” (Genesis 18.14) e “Acaso, seria qualquer coisa maravilhosa demais
para mim? (Jeremias 32.27).
A
tentativa de explicar como a Bondade e o Amor de Deus podem ser conciliados com
o problema do mal é chamada de Teodicéia.
Isto é, segundo definição cunhada por John Milton; ela procura justificar os caminhos de Deus até chegar ao homem.
Então, ela procura explicar como a existência do mal é compatível com a
natureza perfeita de Deus.
. Repensando o Amor de Deus.
Nosso
primeiro passo será considerar a possibilidade de que Deus não é todo Amor.
Isso pode surpreender muitos cristãos, mas é a posição de uma importante
tradição teológica chamada Calvinismo. Para ser mais específico, os seguidores
de João Calvino, acreditam que Deus é perfeito em seu Amor, mas opta (escolhe) por não demonstrar este Amor a todas as suas
criaturas (que loucura!). Os calvinistas
acreditam que Deus controla perfeitamente todos os acontecimentos, incluindo as
escolhas humanas livres.
Outros
Cristãos discordam totalmente e, em vez disso, acham que Deus possa saber
antecipadamente o que vamos fazer, porém Ele não pode nos obrigar a fazê-lo se
é que somos realmente livres (Livre Arbítrio). Adão e Eva pecaram por que Deus
lhes deu o livre arbítrio para pecar. Todos que pecam, o fazem porque Deus
formou seu caráter para fazê-lo. Por isso, a razão de existir o mal no mundo é
muito simples: embora perfeitamente amoroso, Deus quer que haja algum mal! (será?). Para explicar isso, os calvinistas negam o que
muitos cristãos assumem: que Deus ama
igualmente todas as suas criaturas. Contrariando essa afirmação Calvinista,
de que Deus só ama algumas criaturas e odeia outras. Eu acredito que Deus ama
todas as pessoas (1 Tim.2.4; 2 Pe 3.9).
1 Timóteo 2.3,4: Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso
Salvador, que quer que todos se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
2 Pedro 3.9: O Senhor não retarda a sua promessa,ainda que alguns a
tem por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se
percam, senão que todos venham a arrepender-se.
Deus
consegue manifestar sua misericórdia e seu amor aquelas criaturas a quem Ele
decretou que escolhessem o bem. Ao mesmo tempo, manifesta sua ira e justiça
aquelas criaturas a quem decretou que escolhessem o mal.
Romanos
9.22,23: E que direis Deus, querendo
mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência
os vasos da ira, preparados para a perdição.
O
livro A Cabana também defende e acredita nisso, pois Papai é categórico ao
afirmar que gosta especialmente de todas as criaturas. Quando Mack chega à
cabana, parece defender uma visão Calvinista, pois assume que Deus escolhe
salvar alguns e a condenar outros. Sophia, outra personagem do livro A Cabana que, segundo o autor (Young), representa a Personalidade de
Deus, entra determinada a mudar a opinião de Mack em relação a Deus
(Papai): Para isso, pede-lhe que escolha qual dos seus filhos serão condenados
a passar a eternidade no inferno? Machenzie fica horrorizado diante dessa
situação. Então Sophia replica: Só estou lhe pedindo para fazer uma coisa que você acredita que Deus faz!
. Repensando o Poder de Deus:
Mesmo
que nos recusemos a aceitar qualquer limitação no Amor de Deus, por sua Criação,
mesmo assim, podemos resolver o problema do mal, aceitando um limite para o seu
poder. Em outras palavras, Deus não consegue evitar ou eliminar todo o mal.
Como disse o rabino Haroldo Kushner: Deus não quer que você fique doente ou
aleijado. Ele não queria que você tivesse este problema, e não quer que você
continue a enfrentá-lo, mas Ele não consegue fazê-lo desaparecer. Isso é algo
difícil demais, até mesmo para Deus”.
Não me contive neste ponto, colocando em realce,
entre as várias passagens encontradas na Sagrada Escritura esse registrado em Lucas 1.37: “porque para Deus nada é impossível”.
Essa
concepção de Kushner, sobre Deus como sendo limitado ou está impotente, nunca atraíram os
Evangélicos. Entretanto, uma visão modificada dessa limitação atraiu o
interesse de alguns deles. Essa visão ficou conhecida como “Teísmo Aberto”. Ela
induz que Deus queria criaturas livres para povoar seu mundo. Só que estas
criaturas só poderiam ser livres se Deus não soubesse o que elas vão fazer.
Para
entender, veja a ilustração: Se Deus soubesse antecipadamente que eu iria comer
um prato de macarrão no almoço de amanhã, então poderia parecer que eu não
poderia comer nenhuma outra comida. Portanto, se Deus sabe que vou comê-lo,
então devo comê-lo. No entanto, se Ele quer que eu seja livre em minhas
escolhas, então Ele não pode saber o que eu vou escolher, ou seja, Ele teria
que esperar até o outro dia para saber qual vai ser minha escolha de comida.
Os
defensores do Teísmo Aberto, afirmam que Deus não consegue impedir todo o mal e
que há muitos eventos horríveis que simplesmente não tem explicação, ou seja,
há acontecimentos que Deus não sabia que aconteceriam, e que não queria que
acontecessem, mas acontecem.
Este
pode ter sido o caso de Missy, não havia razão para que isso tivesse
acontecido, Deus não o previu e quando aconteceu foi surpreendido igualmente a
Mack. A Cabana (...) porque a Sagrada Escritura afirma repetidas vezes que Deus
conhece antecipadamente todos os acontecimentos, inclusive as ações humanas
(Isaias 46.10; Lucas 22.34,60; Atos 4.28; 1 Pedro 1.1,2).
O
próprio Calvino disse: “Percebo que os homens têm um costume muito ruim, pois,
quando deveria dizer: “Deus quis assim, diz-se que: o destino quis assim”.
Entretanto, o teísmo aberto não absolve Deus da responsabilidade na morte de
Missy. Mesmo que Deus não soubesse exatamente o movimento seguinte do
assassino, mas ele conhecia certamente as suas intenções. Afinal, já tinha
visto fazer isso antes! Podemos dizer que Deus não viu que isto estava
acontecendo ou permitiu que acontecesse sem nenhuma razão?
. Deus em Busca dos Bens Maiores:
Porque
será que Deus permite que o mal aconteça? Podemos nos reportar aos pais, que
submetem seus filhos (crianças) a dor e sofrimento (como tomar uma injeção,
arrancar um dente etc.), haja vista que seu propósito é maior e elas ainda não
conseguem entender. Será que Deus também teria razões suficientes para
justificar males incríveis como a morte de Missy? Se assim for, essa idéia é
conhecida como uma Teodicéia dos Bens
Maiores, onde a ideia básica é que Deus determina que coisas ruins ou males
ocorram porque pretende extrair deles bem maior.
Deus
poderia ter criado criaturas que não escolhessem o mal. Ao invés disso, criou
criaturas com o potencial para o mal, reconhecendo que, por fim, o bem das criaturas livres iria compensar em muito
a dissonância limitada. No livro A
Cabana, a idéia de livre arbítrio é um bem maior e central na teodiceia. Em
outras palavras, para o amor ter significado, ele requer liberdade. Mais uma
vez, Papai adverte Mack: “Se fosse simples assim anular todas as escolhas de
independência, o mundo que você conhece deixaria de existir e o Amor não teria
significado”. O amor não tem significado se for forçado e determinado. Ele só é
importante se for escolhido livremente. Os bens para os quais Deus permite o
mal também se estendem aos processos pelos quais as pessoas vêm a fazer
melhores escolhas, e isto nos leva a idéia de desenvolvimento moral ou
construção da alma. Um
programa de exercícios físicos rigorosos vai desenvolver muita dor física,
assim também ocorre com o processo de construção da alma. Para uma pessoa se
tornar á imagem de Cristo, vai envolver um sofrimento físico e emocional. Para
desenvolver um caráter moral mais sólido, vai ser preciso ela experimentar
alguma frustração, desapontamento, perigo e escassez de recursos. Só então se
aprende a ser paciente, corajoso e generoso.
Por
isso, Deus nos permite experimentar o sofrimento e o mal para estimular nosso
desenvolvimento moral (Prov. 3.11,12; Heb.12.5,6), para que possamos
penetrar no círculo divino do amor. Com isso, não só Deus está respeitando a
vontade humana, mas está atraindo estas criaturas livres para a maturidade
através do processo ocasionalmente doloroso da construção da alma.
. Somos Meios para os fins de Deus?
Segundo
a teodiceia dos bens maiores, Deus permite que tudo de ruim aconteça em prol de
um bem maior. Embora ela possa ser plausível como uma explicação geral para o
mal, cria diretamente um problema quando procuramos aplicá-la a casos
específicos, como o assassinato de Missy. É como se Deus olhasse para baixo
para considerar se ela deveria viver ou morrer.
Na
ética, há uma teoria como esta chamada de utilitarismo.
O cerne desta teoria é que a ação ética correta, em qualquer circunstância, é a
que produz a maior quantidade de bem total. Toda ação deve ser julgada pelo bem
total que ela produz, e se o estupro e o assassinato de uma criança produzem
mais bem, este é o curso da ação correta.
Como
disse Mack: “Desse jeito parece que os fins justificam os meios, que para obter
o que querem, vocês são capazes de qualquer coisa, mesmo que isso custe a vida
de bilhões de pessoas”. E num dado momento, ele pergunta a Papai se ele
planejou a morte de Missy em prol do crescimento espiritual. Papai responde com
uma repreensão: “Não é assim que eu faço as coisas Mack”. Então Sophia sai em
defesa de Papai ao dizer que: ”Ela não planejou que Missy fosse morta, pois
Papai não precisa do mal para realizar seus bons propósitos”.
. A Acusação do Ateísta de
Protesto:
Assim
como Deus permite que o sofrimento da ostra crie uma bela pérola, também
permite o sofrimento da criação para atingir bens maiores. O livro A Cabana se
recusa a todo o momento a fazer qualquer idéia de que Deus permitiu o
sofrimento e a morte de Missy para atingir bens maiores.
No
livro, o personagem Jesus descreve para Mack que em nenhum momento deixou Missy
sozinha: “Missy conheceu minha paz, e você ficaria orgulhoso porque ela foi
muito corajosa”. O problema era que ele não estava descrevendo a coragem de uma
criança que enfrentou uma injeção ou a extração de um dente, mas suportou violência
cruel cometida pelo sociopata, culminando em suja morte. A pergunta é: como
Jesus e Sarayu ficaram passivos enquanto ele a seviciava?
Uma
cena dolorosamente evidente é apresentada no documentário do filme: “Livrai-nos
do Mal (Deliver Us From Evil)”. Ele
narra o escândalo de abuso sexual da Igreja Católica, concentrado nos crimes do
Padre Olvier O’Grady. Ele molestou
dezenas de crianças por décadas (algumas com apenas nove meses de idade).
Destaca-se do filme, a destruição da família de Ann Jyono, que O’Grady começou
a estuprá-la quando tinha 5 anos de idade. Fazia isso com muita freqüência e
dentro da casa de seus pais. Esse abuso durou 7 anos. Hoje, seu pai, Bob Jyono,
é um ex-católico devoto, vomita as palavras: “Eu consertei minha mente. Deus não
existe. Não acredito em Deus, certo? Todas estas regras são criadas pelo homem,
sabe?
Será
que conseguimos encontrar uma palavra de conforto para ele, sabendo que Jesus e
Sarayu estavam com Ann durante estes sete anos de estupro? Ele está convencido
de que não pode haver explicação vinda de um Deus amoroso, tendo rejeitado sua
crença religiosa. Nesse caso, configura-se o Ateísmo de Protesto, embora seus seguidores possam acreditar que
não existe Deus, sua visão é distinta, porque ele resolve que, mesmo que
houvesse um Deus, ele não o reconheceria como uma forma de protesto moral ante
ao sofrimento.
Vi
um exemplo vivo de ateísmo de protesto, quando um destacado médico canadense Henry Morgentaler, debatia com William
Lane Craig sobre a existência de Deus. Em meio a perguntas e respostas, um
jovem fez a seguinte afirmativa a Morgentaler: “Você se inclinaria diante de
Deus se fosse comprovada sua existência? Ele que sobreviveu a um campo de
concentração alemão, respondeu com
desdém: “Eu não me inclinaria a ninguém, nem mesmo a Deus”.
Para
um ateísta de protesto, nenhum bem possível pode justificar as lágrimas
derramadas por uma criança espancada, estuprada ou trancada numa latrina e,
ainda, sendo obrigada a comer de suas próprias fezes, ou ainda, de ser morta
violentamente (Missy). Toda a justificativa de remir esses males em prol de
algum bem maior só aumenta o insulto final.
. Por que Deus fica calado?
Será
que realmente é preferível um mundo onde o mal acontece sem nenhum propósito? A
explicação que a teodiceia dos bens maiores dá para o mal, não oferece uma
resposta certa, mas em contraste com o ateísmo, oferece uma esperança. Então,
por que Deus não esclarece melhor suas razões para permitir males específicos? Uma
das razões apresentadas pela teodicéia dos bens maiores aplicadas a casos
específicos, é que esse conhecimento não nos seria particularmente útil. Deus
sabe que, com freqüência, não nos seria de nenhum proveito ter os detalhes de
por que nós sofremos.
Eu
sugeriria uma segunda razão para Deus se recusar a explicar por que Missy teve
que morrer. Para alcançarmos essa compreensão, precisamos entender totalmente a
história de vida de cada um. Ás vezes, os teólogos têm-se referido ao pecado de
Adão e Eva como uma “Felix Culpa”, ou como um “Pecado Feliz”, mas a questão não
é que o pecado tenha sido uma coisa boa,
mas sim que, através deste terrível evento, Deus proporcionou algo
maravilhoso com a vida e a morte de seu Filho. Talvez possamos então começar a
perceber que Deus facilmente vai redimir cada evento terrível com um quadro
emergente de beleza em que não haverá mais luto, choro ou sofrimento.
(Apocalipse 21.4).
. Cap. 5 – Encontrando Esperança no
Sofrimento de Deus.
Será
possível que o Senhor Soberano do universo esteja presente enquanto uma criança
está enfrentando a mais terrível morte?
Deus não apresenta razões claras e específicas de por que permitiu que
seu povo experimentasse um sofrimento incrível, mas promete que estará presente
junto com ele em meio ao seu sofrimento.
. Jesus Sofreu Conosco.
A
lenda da princesa pertencente a tribo indiana – Mulmonah, narrada no livro A
Cabana, descreve que sua tribo foi atingida por uma doença grave e estava
causando muitas mortes, principalmente dos homens. Seu pai, disse-lhe que essa
doença só iria ser dissipada se a filha virgem dum chefe se dispusesse
voluntariamente a renunciar sua própria vida e morrer, atirando-se de um alto
penhasco.
Esta
fábula, retrata a doutrina cristã central que nos apresenta simultaneamente o
mistério de Deus ao submeter seu próprio Filho a uma morte sacrificial pela
humanidade. A mais gloriosa verdade é que Ele fez isso para que pudéssemos nos
tornar seus filhos. Que tipo de esperança é encontrado na Cruz? Há a esperança
da solidariedade encontrada no conhecimento de que Deus se identifica conosco
no nosso sofrimento. Para ter uma idéia, no ano de 177 d.C.; teve início uma
cruel perseguição em Lyon (hoje, sul da França), em que cristãos foram
submetidos a mais cruel das torturas (...). Além disso, a igreja perdeu seu
amado Bispo – Potino, após ter sido submetido a um brutal espancamento. O que
teria significado a Cruz para os Santos sofredores de Lyon?
A
resposta veio com Irineu, um dos maiores teólogos da Igreja inicial e indicado
para substituí-lo. Devido a sua experiência com o sofrimento, Ele entendeu a
importância de afirmar que Cristo está solidário conosco. Ele sabia que, pelo
fato de Cristo ter sofrido conosco, podemos encarar nossos sofrimentos como
meio de identificação com Nosso Senhor.
1 Pedro 4.13,14. Mas regozijai-vos
por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação
da sua glória vos regozijeis e exulteis. Se pelo nome de Cristo sois
vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da
glória, o Espírito de Deus.
.
Jesus, o Grande Médico (...) e muito Mais.
Um
paciente procura um médico não apenas para aquele que ele possa expressar
empatia,
mas para que ele possa lhe trazer a cura. E nós buscamos um Deus que nos dê não
apenas suas lágrimas, mas uma mão firme que secará nossas lágrimas. Diante do
pedido, de Sophia, Mack em total desespero, a implora: “Eu não posso ir ao
lugar deles?” (de seus filhos).
Moisés
implorou a Deus para que perdoasse os Israelitas, caso contrário, poderia
riscar o seu nome do Livro da
Vida (Êxodo 32.32). O apóstolo Paulo ficou muito angustiado com a questão dos
Israelitas e expressou sua própria disposição de ser condenado, se esta fosse a
única forma de Israel ser salva (Romanos 9.3).
. O Deus Irado.
Um
ponto fraco que marcou a história da Igreja, pode-se dizer sem medo de
errarmos, foram as Cruzadas. Os cruzados, no primeiro saque de Jerusalém, em
1099, escreveram orgulhosos para casa dizendo que o sangue dos infiéis muçulmanos
corria pelas ruas, cobrindo seus tornozelos (Deuteronômio 20.16-17).
Mesmo
que acertássemos que Jesus estabeleceu uma nova ética para a Igreja - a Guerra
Santa,
foi uma parte familiar da história de Israel. Mas a realidade é que o amável
Jesus oferece uma trégua limitada de violência divina. O livro do Apocalipse
apresenta julgamentos violentos que superam muito as atrocidades das batalhas
mais violentas da história militar (Ap. 14.19-20).
Mack
levantou uma questão em A Cabana: “Se Papai é realmente alegre, calmo e
submisso, por que na Sagrada Escritura apresenta-se como perigosamente
violento”? Isto é verdade? Papai
responde: “Não sou quem você pensa Mackenzie. Não preciso castigar as
pessoas por seu pecado. O pecado é o seu próprio castigo, pois devora a pessoa
por dentro. Meu objetivo não é castigar, mas sim, sinto alegria em curar as
pessoas”. Em vez disso, Deus simplesmente deixa os seres humanos rebeldes
entregues aos seus próprios desejos pecadores para serem punidos pelas
conseqüências de suas próprias escolhas.
Seja
o que for que possamos concluir sobre Deus, a Sagrada Escritura certamente
parece ensinar que Ele exercerá um julgamento feroz e irado contra aqueles que
não estão em Cristo (Romanos 8.1). Ao que parece, a ira de Deus não é tão facilmente
evitada.
. Jesus nos Salvou da Ira de Deus?
Além
de todos os problemas que os seres humanos enfrentam, nos deparamos agora com o
fato mais perturbador: Estamos sob a Ira Sagrada de Deus! Se aqueles que não
estão em Cristo enfrentam a ira de Deus, então isto sugere algo realmente
impressionante sobre a remissão: Que em sua morte expiatória na Cruz, Jesus
Cristo absorveu a ira de Deus que deveria ser para nós. Será que esta seria a
explicação (...) do mistério da remissão? (sinônimo de perdão). Duas palavras
gregas trazem esta evidência: uma é Hilasterion = Sacrifício da Remissão, a outra, Hilasmos
= Sacrifício Remissivo.
1
João 2.2; 4.10-11: E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. (...). Nisto está o amor:
não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou
seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos
amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros.
O
significado dessas duas palavras inclui o conceito de que na apresentação do
Sacrifício, a ira de Deus é satisfeita, ou seja, que Ele é aplacado (= Está
Satisfeito). Esta imagem de remissão
sugere que Deus está ultrajado com nossos pecados, mas com a morte de Cristo,
sua ira contra nós foi satisfeita (aplacada).
No
entanto, o Pai que agiu com amor para nos reconciliar com Ele (2 Coríntios
5.19), através da morte de seu único Filho (João 3.16), simboliza
verdadeiramente o significado da remissão. Logo, a remissão é um ato de amor do
Pai. Como disse Calvino: “Pois só depois que nos reconciliou com Ele através do
sangue de seu Filho, Ele começou a nos amar”.
Na
verdade, ele já nos amava antes de o mundo ser criado. No livro A Cabana, em
lugar do Pai experimentando a ira do Filho, ela descreve o Pai sofrendo com o
Filho! Esta afirmação apresentada no livro tem sido muito rebatida pelos
críticos. Entretanto, o argumento do texto não é que o Pai era o Filho na cruz,
mas que o Pai sofreu com o Filho na cruz.
As passagens Bíblicas destacadas anteriormente têm sido muito criticadas
e acusadas como sendo de verdadeiro modalismo,
isto é, na afirmação de que o Pai traz as marcas da crucificação do Filho.
. Representando os Limites da
Salvação.
A questão
dos limites da salvação vem sendo debatida há muito tempo pelos Cristãos.
Considere a conversa entre Jesus e Mack: Jesus – “Os que me amam estão em todos
os sistemas que existem. São Budistas ou Mórmons, Batistas ou Muçulmanos”. Mack
– “ Isso significa que todas as estradas
levam a você?” – De jeito nenhum. “Significa que eu viajarei por qualquer
estado ou lugar para encontrar com vocês”.
Alguns críticos acusam o livro de Pluralismo,
isto é, a visão de que há muitas maneiras de ser salvo e Jesus é apenas uma
delas.
A grande questão é: Como a salvação vem através de Cristo? Uma das formas de
se obter a salvação é ter que conhecer Jesus e fazer a oração do pecador
(arrependido) para sermos salvos. Esta concepção recebe o nome de Exclusivismo, segundo a qual, uma
pessoa precisa ouvir o Evangelho para ser Salva por Ele (Romanos 10.8-15).
O
exclusivismo foi a posição predominantemente na história da Igreja, mas sempre
houve uma minoria que divergia e, neste caso, receberam o nome de Inclusivistas que, segundo seus
seguidores, uma pessoa pode ser salva por Cristo, sem ter ouvido o nome de
Cristo (seu Evangelho). Uma ambigüidade acompanha a conversa entre eles: “Os
que me amam estão em todos os sistemas (...)”.
Observe a ambigüidade, Jesus não disse que eles foram salvos como
Budista ou Mórmons e Muçulmanos. Em outras palavras, isto pode não expressar
nada além da intenção de Deus de ter discípulos de todas as nações (Mateus
28.19).
. Cap. 6 – Sobre a Própria Idéia de
Salvar a Criação.
Segundo
a visão Pessimista, a Criação está condenada apenas a destruição. Nesse meio
tempo, estamos paralisados aqui esperando pela conclusão de uma operação de
resgate cósmico. Esta nação popular, acredita que Jesus foi para a morada de
seu Pai para preparar um lugar para nós na grande mansão Celeste (João 14.2-3).
Então,
quando chegar o momento certo, Jesus voltará para a Igreja e “seremos
arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para estarmos com o Senhor” (1
Tessalonicenses 4.17). Enquanto os remidos assistem duma certa distância
segura, desenvolve-se uma grande sinfonia de destruição (2 Pedro 3.10-13).Surpreende
alguém que Jesus sinta certo sentimento de posse em relação a sua Criação? Como
disse certa vez Abraham Kuyper: “Não há um centímetro quadrado de toda a
criação pelo qual Jesus Cristo não tenha gritado: Isto é Meu! Isto pertence a
Mim!”
. Redimindo A Cabana.
O
livro não diz respeito apenas à jornada introspectiva de um indivíduo
(Mac), mesmo que o ambiente que o cerca (A Cabana) represente a vida
interior de Mack, mas também, constituem um vislumbre muito público da cura que
Deus está proporcionando a toda a criação. Quando Mack retorna aquele local,
ele tem a maior surpresa ao contemplar A Cabana de horrores, pois ela tem sido
“substituído” por um chalé sólido e lindamente construído com troncos
descascados à mão, cada um deles trabalhado para um encaixe perfeito.
Entretanto,
quando ele a examina por dentro, principalmente a sala onde Missy foi
brutalmente morta, sua suspeita se confirma: é a mesma cabana! ele reflete
sobre isso depois do seu retorno: “Era mais como se estivesse de volta ao mundo
irreal”.
. Redescobrindo a Esperança do
Mundo.
(...),
mas será que há razão para pensar que Deus realmente não pretende curar toda a
Criação? O problema começa com o fato de que funerais cristãos raramente se
referem a esperança da ressurreição, optando em disso, por falar quase
exclusivamente sobre a alma estando com Jesus. De onde veio esta idéia?
Registra a Sagrada Escritura que os nossos corpos mortais ressurgirão como
corpos espirituais (1 Coríntios 15.42-44; Isaías 26.19; Daniel 12.2).
Duas
coisas são claras: Primeiro, o corpo de Jesus que foi crucificado na
Sexta-feira, foi o mesmo que ressuscitou no sábado. Esta identidade foi
confirmada quando Jesus convidou Tomé a examinar suas mãos (João 20.27).
Segundo, seu corpo foi físico para que pudesse ser tocado pelas pessoas e até
mesmo comer peixe diante deles (Lucas 24.39). Da mesma maneira, nossos corpos
glorificados também serão físicos. E onde esses corpos físicos (pessoas) vão
passar a eternidade?
Certamente
não será num céu etéreo, de onde cairiam através das nuvens! Como diz Papai:
“Bem, Mack, nosso destino final não é a imagem de céu que você tem na cabeça.
(...), de portões adornados e rãs de ouro. O céu é uma nova purificação do
universo, de modo que vai se parecer bastante com isso aqui”. (p. 164). A
Cabana nos atrai para além do nosso sofrimento e do nosso pecado para
contemplar o lugar de nossa salvação dentro de um universo que Deus também
deseja salvar (Colossenses 1.19-20).
. Posfácio – A Chegada do Seu
Reino.
É
possível extrair teologia de um romance? Parece ser possível. Na verdade,
nossas conversas em seis capítulos demonstraram que A Cabana está repleta de
questões e conceitos teológicos fascinantes. È claro que a descrição de Deus no
romance não é perfeita. Eu desafiaria a critica a acender uma vela na escuridão
oferecendo sua própria descrição narrativa da realidade da Santíssima Trindade.
Talvez a lição final do livro seja que devemos continuar descontentes com este
mundo, não porque estamos destinados a deixá-lo, mas porque ansiamos experimentar
o toque de cura final de Deus quando seu Reino assumir o Poder.
Modalismo – as pessoas ao invés de
acreditar que Deus é três pessoas, eles passam a acreditar que Deus é uma
pessoa que desempenha três papéis: às vezes Ele age como Pai, outras vezes age como Filho e, por fim, age como o Espírito Santo.Desde o Século III, esta concepção tem sido
considerada uma Heresia pela Igreja Católica. Quanto ao assunto da Trindade,
permanecemos parados no mesmo lugar em
que estávamos a quarenta anos atrás: “Poucos Pastores sabem pregar a Trindade, poucos
freqüentadores da igreja sabem como rezar para a Trindade, e quase ninguém sabe
o significa viver a Trindade”.
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