Radio do Bloguer do capitão.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

BULLYING: VIOLÊNCIA QUE ULTRAPASSA O AMBIENTE ESCOLAR


Assistindo uma palestra para educadores no município de Cariacica/ES, ministrada pela professora Luiza Mitiko Yushiguro Camacho, foi apresentado o resultado de uma pesquisa realizada sobre violência, com o propósito de comparar o comportamento entre alunos de duas escolas: uma da rede pública e outra da rede privada de ensino. O público alvo tratava-se de alunos da 6ª a 8ª séries do ensino fundamental. Atualmente do 7º ao 8º ano do Ensino Fundamental. As comparações se deram pela forma de agressividade praticada por esse público estudantil. Nesse sentido, apresentaremos algumas variantes da pesquisa:
Na escola da rede particular: foi observada uma violência praticada por grupos de alunos, onde preponderava a violência verbal, ou seja, uma violência sem agressões físicas. Sua ocorrência se dava no ambiente ou espaço interno da escola, constatando-se flagrante discriminação contra os considerados feios, gordos, moradores de bairros pobres, mas, também, contra alunos inteligentes e de boa aparência física ou de melhor condição financeira.
Na escola da rede pública: a violência era praticada por grupos de alunos diferentes, que se destoavam dos demais, como os mais obesos, fortes, bagunceiros, maiores em estatura e mais velhos;  contra os alunos mais jovens, menores, impotentes e mais fracos. Nesse ambiente, segundo a professora, imperava a agressão física. E ocorria de forma explícita e visível, tanto no espaço físico como também no entorno da escola.
Nota-se que em ambas as instituições de ensino, os atos de violência apresentados caracterizam-se e amoldam-se de uma agressividade que cresce vertiginosamente entre os estudantes – o bullying. Termo que surgiu na década de 80 na Noruega, comportando o significado de "valentão", usada para descrever a violência  física e/ou psicológica, realizada de forma intencional, repetida e praticada por um ou mais indivíduos.
O cientista sueco – Dan Olweus trabalhou por muito tempo em Bergen, na Noruega, e definiu o bullying por três atitudes cotidianas e principais:

1ª - o comportamento é agressivo e negativo;
2ª - é realizado repetidas vezes e de forma continua, ou seja, por muito tempo e várias vezes ao dia;
3ª - em regra, decorre de relacionamentos onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas; quer seja por seu porte físico, quer seja por sua popularidade ou pelo fator socioeconômico, entre outros.

O programa televisivo Profissão Repórter, que é exibido pela rede Globo de Televisão, já noticiou alguns casos sobre a matéria em questão. Mas gostaria de registrar o de um jovem de 16 anos, que vinha sofrendo por três anos consecutivos, com o assédio de colegas na escola em que estudava. Não suportando tamanha humilhação e sofrimento, decidiu por fim a agressividade sofrida, interrompendo de forma trágica a trajetória de sua vida, suicidou-se.
Um dos primeiros casos desta violência “escolar” que resultou na morte de várias pessoas, trouxe  a conhecimento do público este novo fenômeno social. Ele ficou conhecido como "o massacre de Columbine High School". Escola famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores dos times de futebol americano, basquete e beisebol. Eric Harris, 18 anos, e Dylan Klebold, 17 anos, eram aparentemente adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta e moravam em casas confortáveis.
Pertenciam a um grupo intitulado de "Máfia da Capa Preta", por usarem constantemente longas capas de cor preta (sobretudo ou casacão de uso masculino). Por esse e outros motivos, eram ridicularizados pelos atletas esportivos. Certo dia entraram na escola secundária com armas de grosso calibre, escondidas por debaixo das capas e começaram a atirar nas vítimas, matando pelo menos 13 pessoas (doze alunos e um professor) e, em seguida se suicidaram.
Segundo registra o site http://www.columbine.hpg.ig.com.br" Os dois jovens eram ótimos alunos e de boa família, mas não eram populares na escola. Preferiam passar boa parte do tempo com  os computadores do que nas quadras de esporte. Solitários, vestiam-se de preto da cabeça aos pés. Por certo, guardaram ressentimentos por muito tempo e, também, fizeram planos para se vingarem.
Algumas formas de agressões, verbais ou físicas, são praticadas intencionalmente e de forma constante, o pior é que, no ambiente escolar, pode durar o ano todo. Entre elas, cita-se por exemplo, apelidos jocosos, espalhar boatos difamatórios, criticar o modo de falar e se vestir ou aspectos socialmente significativos para certas pessoas, tais como: religiosidade, etnia, cultura, orientação sexual, entre outros.
Esses comportamentos podem vir a afetar o estado físico e psicológico da vítima. Segundo leciona Maria Irene Maluf, especialista em psicopedagogia e em educação especial:

A situação é alarmante: hoje, uma das mais constantes queixas que se encontra nas escolas, [...], é a dificuldade de se lidar com esse potencial instintivo que parece ter renascido com toda força no final do século XX. [...], envolvendo uma forma de afirmação de poder através de atitudes onde a agressividade intencional, repetitiva, ultrapassa a brincadeira entre iguais.[...]. Estudos têm mostrado que é necessária uma interação complexa de fatores que elevam o risco [...] de condutas violentas nas crianças e jovens, para que o bullying apareça: ter vivido ou sofrido violência, abuso sexual ou físico, excessiva exposição à violência através de jogos, televisão, uso de drogas, fatores socioeconômicos prejudicados, família desestruturada, problemas psiquiátricos, entre outros”.

Outro caso triste ocorreu com o jovem Jeremy que se matou em 8 de janeiro de 1991, aos 15 anos de idade. O suicidio ocorreu dentro da sala de aula numa escola na cidade de Dallas – Texas, nos Estados Unidos, em frente a 30 colegas e da professora de inglês, como forma de protesto pelos atos de perseguição que sofria constantemente. Esta história inspirou a música Jeremy, interpretada por Eddie Vedder, vocalista da banda estadunidense Pearl Jam.
Parece que esse fenômeno só ocorre nos Estados Unidos, mas não é bem assim!  Em 2011, a Escola Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do estado do Rio de Janeiro,  foi cenário de imagens de horror, quando as salas de aula foi  invadida por um homem armado, resultando na morte de 11 alunos (10 meninas e 1menino)  e aproximadamente 13 pessoas feridas (10 meninas e 3 meninos).  
O atirador, Wellington Meneses, 23 anos, ex-aluno da escola,  entrou na escola Tasso da Silveira, carregando  uma bolsa a tira colo, foi em direção a primeira sala de aula, onde a turma da oitava série estudava, sacou duas armas e começou a atirar nos alunos de maneira indiscriminada.  Depois entrou em outra sala de aula e efetuou vários disparos de arma de fogo. As vítimas tinham idades entre 12 a 15 anos.  
No entanto, os registros desse tipo de violência urbana naquele país é alarmante. Veja outro fato que se deu no pátio duma escola secundária: o aluno do 8º ano - Curtis Taylor, na cidade de Iowa, nos EUA, foi vítima de bullying contínuo por três anos, o que incluía apelidos maldosos, espancamentos no vestiário, tinha a camisa do uniforme suja constantemente e seus pertences eram vandalizados. Tudo isso acabou por levá-lo ao suicídio em 21 de março de 1993.
Portanto, percebe-se que os casos de violência praticadas dentro das escolas, tem sua maior incidencia nos estados americanos, mas, infelizmente, tem se alastrado por outros paises, inclusive em outros continentes. Nesse sentido, certa ocasião, o jornal A Tribuna/ES, trouxe duas matérias acerca de violência contra crianças numa escola na China, protagonizadas por um fazendeiro e um homem desempregado: o primeiro, identificado como Wang Yonglai, entrou numa escola primaria na cidade de Weifang, leste do país. Em seguida, agarrou-se a duas crianças e ateou fogo em seus corpos. Cinco crianças ficaram feridas, mas nenhuma em estado grave. Enquanto que o autor desse ato insano veio a falecer.
O segundo caso, envolveu um homem de 47 anos, desempregado, que invadiu um jardim de infância, vindo a ferir 28 crianças e três adultos com uma faca. O fato se deu na provincia de Jiangsu, no leste da China. Ressalta-se que esses dois últimos registros, destoam totalmente do cometimento da violência caracterizada como bullying. Para tanto, se somam aos inúmeros casos de violências que estão sendo praticadas no ambiente escolar.
Um dos casos mais recentes, ocorreu no dia 14 de fevereiro deste ano, na escola pública de Parkland, na Flórida (EUA), cidade com aproximadamente 30 mil habitantes. Neste ato, um atirador desferiu vários tiros pouco antes do fim das aulas da tarde de quarta-feira, por volta das 15 horas (horário local).
Ele foi identificado pela imprensa como sendo Nicholas Cruz, 19 anos, aluno da Marjory Stoneman Douglas High School, onde aconteceu toda a tragédia. Em matéria jornalística divulgada, foi confirmada a morte de 17 pessoas: sendo que 12 dentro da escola; 2 outras vítimas no pátio; 1 outra morreu numa rua próxima  a escola e 2 outras morreram  no hospital.          
Pode-se concluir que realmente o bullying tem sua maior incidência no ambiente escolar, mas que também ultrapassa este limite, atingindo inclusive o plano físico e psicológico das vítmas, geralmente crianças e adolescentes. Tanto os autores como as vitimas, podem ser de todas as faixas etárias e classe social. E por falar em autores e vítimas, podemos destacar três tipos de personagens nesta triste historia:
Os Agressores: sentem prazer em humilhar as pessoas e causar-lhes vergonha, principalmente em público. Costumam ser os mais populares - “descolados”, bonitos, magros, boa situação financeira,  extrovertidos, fortes etc.;
As Vítimas: são muito caladas e vergonhosas, não se manifestam às provocações por medo, entre outras coisas. Geralmente são mais antissociais – “caretas”, feios, gordos, pobres, introvertidos, fracos ou com algum  tipo de deficiência, por exemplo, visual (por ter miopia e usar óculos de grau)  etc.  e,
Os Expectadores: podemos dividi-los em duas categorias: 1ª – são aqueles que  ficam “em cima do muro”, ou seja, estão vendo tudo acontecer, mas não dizem nada. Não querem se envolver por medo de ser a próxima vítima e, 2ª – são aqueles que debandam pro lado do mais forte, isto é, atuam como coniventes e até incentivam as provocações e/ou agressões. Tem um ditado popular que diz assim: “Se eu não posso com o inimigo, junto-me a eles”.  
O bullying deixou de ser uma violência restrita apenas às escolas e tem avançado vertiginosamente para outros setores da sociedade, principalmente no ambiente de trabalho, seja em quaisquer áreas profissionais. E não se espantem,  também é praticado em locais ou setores religiosos. Neste caso, o que muda é o ambiente e a idade de seus personagens.
Por certo, quanto ao ambiente escolar, medidas urgentes devem ser implementadas, para que se evitem tragédias como as de Columbine, Realengo,  Parkland e tantas outras registradas em varias partes do mundo. Quando praticada noutros setores sociais, que sejam aplicadas as medidas cabíveis e rígidas a cada caso (Assédio Moral ou Assédio Sexual).  Não se cale, denuncie!


                                            EDUARDO VERONESE DA SILVA
            Evangelista da As. de Deus Nova Vida - Vila Velha/ES
         Licenciatura em Educação Física – UFES
       Bacharel em Direito – FABAVI/ES
           Pós-graduado em Direito Militar – FCB/RJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário