Os registros históricos acerca do surgimento
da humanidade na terra, dão-nos informações de que, simultaneamente a sua criação
ou logo após, foram criadas as árvores e vegetações de todas as espécies que
conhecemos na atualidade. E, juntamente com elas, podemos afirmar que também surgiram
as “drogas” que faziam (e fazem) parte natural de suas constituições orgânicas:”
E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera
que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra. E
assim foi” (cf. Gênesis 1:11). Durante um bom tempo, após o
Criacionismo de Deus, multiplicou-se em muito o número de seres humanos
espalhados por todo o canto desta terra. Num dado momento, intencionalmente ou
não, este mesmo homem que fora criado por Jeová, descobriu uma das ricas propriedades
dessas “ervas” e plantas nativas; e o seu nome, o patriarca Noé!
Gênesis 6:1;9:.20-22. E aconteceu que, como os homens começaram a
multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, (...). E começou
Noé a ser lavrador da terra e plantou uma vinha (várias videiras plantadas num
mesmo terreno). E bebeu do vinho (produto líquido extraído da uva) e
embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda. E viu Cam (ou Cão), o pai de
Canaã, a nudez de seu pai e fê-lo saber a ambos seus irmãos, fora.
A partir desta e doutras descobertas
acerca da propriedade das plantas, inúmeras pessoas vêm sofrendo com as
consequências produzidas pelo uso abusivo e desenfreado de suas substâncias químicas
e nocivas à saúde física e mental do homem. Elas são atualmente conhecidas mundialmente
como substâncias psicoativas ou psicotrópicas (SPA), sendo classificadas pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) em duas categorias: ás de ordem legal ou
lícitas, como o álcool etílico, tabaco (e variedades) e certos medicamentos; e
ás tipificadas como ilegais ou ilícitas, como a maconha, a cocaína, o crack e
tantas outras. Neste artigo, falaremos um pouco sobre
algumas delas, sem nos aprofundarmos muito, tendo em vista que é por meio do uso
abusivo e o consumo desenfreado, que podemos passar de mero usuário experimental
ou recreativo, progredindo para o usuário disfuncional ou problema, até (são muitos
os casos) assumirmos a posição complicada e perigosa, classificada pela ciência
como dependentes químicos ou toxicômanos.
Vale acentuar que este processo não ocorre
linearmente com todas as pessoas. No entanto, o percurso que temos observado em
sua grande maioria é este. Nada impede que um indivíduo experimente uma substância
química (legal ou ilegal), mas não sinta prazer ou contentamento com a mesma. E
por isso, não venha a usá-la mais! Na verdade, de repente ele se arriscou em
usá-la por mera “curiosidade” ou pela pressão do grupo social a qual pertence
ou tem vontade de fazer parte (necessidade básica do Pertencimento). Entretanto, essa mesma pessoa pode
experimentar outro tipo de SPA, gostar muito e passar a usá-la outras vezes. E,
sempre que a substância estiver acessível e o local for aprazível para o
consumo, ele não vai pensar duas vezes. E a partir daí, pode adquirir o hábito
de usá-la com certa frequência e regularidade. Deste seu novo relacionamento
com a droga, o usuário pode acabar perdendo o controle sobre seu uso (quando inicia/quando
deve parar). E devido a este descontrole, pode fazer sua utilização de forma excessiva,
inclusive com doses exageradas, correndo o risco de ter uma “overdose”.
E isso é o que testemunhamos diariamente
em nossa sociedade. Pessoas que usavam uma substância química “socialmente”
(álcool/cigarro etc.), mas que, de um momento para outro, acabaram migrando da
posição de “usuário” para tornar-se num toxicômano (adicto/dependente). Diferentemente
do que muitas pessoas pensam, a dependência química é considerada uma doença
crônica, progressiva e, além disso, incurável. Porém, ela pode ser tratada. Geralmente, o indivíduo que começa a ter
envolvimento com essas substâncias, quer seja lícita ou ilícita, começa a apresentar
mudanças comportamentais repentinas e bem perceptíveis aos olhos humanos. Um dos
primeiros sinalizadores para a suspeita dos pais e responsáveis, prende-se a
observar (e monitorar) se está ocorrendo alguma mudança neles que, seja distinta
daquelas tidas como habituais. Não se pode precisar que todas
as pessoas, principalmente os adolescentes, irão percorrer este caminho até
ingressar na dependência química, como dissemos anteriormente. Alguns podem
pular “degraus” e ir mais rápido para este triste caminho. Outros, podem
experimentar por mera curiosidade, mas nunca mais voltar a usá-las. Para nós, pais e responsáveis
por crianças e adolescentes, existe um Decálogo de Alerta Comportamental, elaborado
pelo Dr. Osvaldo Moraes Andrade, psiquiatra, que pode nos ajudar a observar e
acompanhar os nossos filhos (e jovens) e, quem sabe, alertá-los antes que entrem
neste caminho perigoso. E, quase que sem volta!
Decálogo de Alerta Comportamental
1. Mudança brusca em sua conduta diária. 2. Insônia rebelde. 3. Irritabilidade. 4. Inquietação Motora: não
tem paciência e não quer estar com a família. 5. Depressão: sem uma
causa aparente. 6. Queda ou Desinteresse
Estudantil: evasão, notas baixas e abandono. 7. Isolamento: dos amigos de infância e de familiares. 8. Mudança de hábitos (novos): surgimento de objetos estranhos,
comprimidos etc. 9. Desaparecimentos de coisas e objetos de valor, insistência em pedir
dinheiro e, 10. Más companhias: pessoas
desconhecidas de sua família (amigos que usam drogas).
Pode até ser que não venhamos a evitar
que eles ingressem neste quadro clinico, mas se torna muito importante, sob
nossa ótica, saber deste detalhes para, pelo menos, saber o momento e a hora de
se fazer uma intervenção precoce, ou seja, logo que notar os primeiros
sinalizadores que indicam o possível envolvimento com substâncias
entorpecentes. Como costumo dizer: “Se soubermos toda
a verdade sobre determinado assunto, temos mais possibilidades de conversar com
eles sobre esta conduta pessoal (e social) e, quem sabe, levá-los a evitar ao ingresso
deste comportamento, fazendo com que sejam libertos”.
1. A Dependência
Química:
Vimos na abordagem introdutória, um
dos caminhos mais comuns e percorridos por muitas pessoas, antes de se tornarem
em dependentes químicos. E por falar nisso, o que vem a ser a Dependência
Química? Ela é conhecida vulgarmente na sociedade em geral, como sendo um “vício”.
Termo este, que não é mais usado pelos profissionais da área médica, pois soa
com tom pejorativo. Alguns especialistas afirmam ser ela “um transtorno de
ordem mental, relacionado ao uso abusivo de certas substâncias químicas”. Outra significação dada, desta vez,
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), diz que: “é o estado de adaptação do
organismo, que se manifesta pelo aparecimento de profundas modificações físicas
(e/ou mentais), quando se interrompe a administração da droga ou do medicamento”. Uma definição desta patologia que
muito nos agrada, diz bem assim: “a dependência química é um conjunto de
fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de uma droga
ou de uma classe de substâncias psicoativas, começa a alcançar uma prioridade
maior na vida de determinado indivíduo”.
Vale lembrar duas coisas importantes sobre
este relacionamento entre o “Usuário” e a “Substância Química” por ele usada: a
primeira prende-se ao fato, de que ninguém se torna num dependente químico, de uma
noite para o dia. Normalmente decorre um período de tempo, entre o uso inicial (experimental
ou recreativo), para que possa resultar no quadro clinico classificado como dependente
químico. E nem sempre o usuário vai se tornar
num adicto, toxicômano ou dependente de droga. Mas, não podemos nos esquecer de
uma coisa: “TODO dependente químico, um dia foi ou esteve na posição de USUÁRIO!”
Quanto a segunda, ela volta-se para o tipo de substância química que está sendo
usada por este indivíduo que, até então, ainda figura como sendo usuário. Aliado
a isso, outros aspectos são de fundamental importância, tais como:
. A
dosagem que é usada;
. Quantas
vezes a SPA é usada (por dia/semana);
. A forma
que se dá esse uso: é fumada, inalada, intravenosa ou adesiva (colada na pele);
. A sensibilidade
e personalidade de cada usuário;
. O
local e ambiente em que é usada a droga etc.;
. A
expectativa sobre os efeitos que são esperados pelo usuário;
. A
associação durante o uso com outras SPA, o uso “cruzado”.
Cada tipo de SPA possui um
teor de toxidade próprio, umas mais e outras menos. Vale lembrar que a
utilização em sua forma “cruzada”, faz com que ocorra a potencialização destas
substâncias, por exemplo, a maconha com o crack, que é conhecida como “Fristo”.
Qual o propósito de se fazer esta mistura na hora do uso? Turbinar ou Potencializar
os efeitos dessas drogas. Com isso, tanto a maconha como o
crack elevam seu teor de toxidade, podendo trazer maiores sensações e por mais
tempo, e que são desejadas por seus usuários. Aqueles que procedem assim,
podem estar num alto nível de dependência, beirando-se (se já não estiverem) ao
estado de insanidade (demência). Outra coisa importante e grave acerca deste
uso cruzado, volta-se para a questão de ser usada substâncias com atuações totalmente
opostas no organismo de seus usuários: por exemplo, o álcool com a cocaína. A
primeira substância química, é um depressor das funções Cerebrais (desacelera e
retarda); enquanto que a segunda, faz parte das substâncias estimulantes das
funções cerebrais (estimula e acelera). Portanto, durante o seu uso ou logo
após, seu usuário pode vir a ter um AVC - Acidente Vascular Cerebral (AVE/Encefálico)
ou uma complicação de ordem Cardiorrespiratória, entre tantas outras.
1.1 – Algumas SPA e os possíveis Efeitos aos Usuários:
Como dissemos anteriormente,
não iremos nos aprofundar muito acerca dessas SPA, mas, entendemos que não
tem como se falar da Dependência Química, sem tecer alguns comentários sobre alguns
personagens principais, que levam as pessoas a ingressarem nesta estrada sinuosa
da vida. Por isso, destacamos abaixo, algumas substâncias químicas com suas
peculiaridades:
. Álcool Etílico: também conhecido como
Etanol. Embora ele se apresente com muitas variedades, mas o mais comum
utilizado em bebidas alcoólicas é o Álcool Etil. No Brasil é popularmente chamado
de “cana”, “cachaça ou mé etc.”. Ele pode ser apresentado em sua forma fermentada
(cerveja, chope, vinho etc.) ou destilada (conhaque, vodca, uísque etc.). As
duas formas de apresentação atuam no SNC de seus usuários e costumam promover
mudanças social, familiar, comportamental e mental. A sua forma fermentada,
costuma apresentar um teor alcoólico que varia basicamente entre os 4% e 12%
(por cento). Enquanto que o produto oferecido em sua forma destilada varia entre
os 30% e 50%. (por cento). Os efeitos mais comuns são: fala pastosa (embolada),
perda do equilíbrio, tristeza, lentidão, mal-estar, sonolência, indisposição
etc. Lembrando que os efeitos podem se apresentar de forma distintas de pessoa
para pessoa.
. Tabaco: são vários os produtos
extraídos ou derivados desta substância, os mais comuns são: os cigarros industrializados
(e ilegais doutro País), charutos, fumo de rolo (o rapé/mascar), entre outros. Sua
fabricação industrial agrega vários e perigosos produtos tóxicos e muito nocivos
à saúde de seus usuários. Segundo os especialistas no assunto, são muitos os produtos
usados em sua fabricação, mas iremos destacar apenas três: a cafeína, a
nicotina e o alcatrão (contém monóxido de carbono), todas as três tem a
capacidade de levar o usuário ao quadro de dependência química. É bem provável,
que você conheça alguém que não consegue ficar sem tomar um cafezinho, de
tantas em tantas horas. E, se ficar, provavelmente virá em seguida uma dorzinha
de cabeça. Lembrando que as “drogas” que
mais matam no mundo, pelo seu uso e consumo são e continuam sendo o Álcool e o Tabaco.
Uma pesquisa feita a nível mundial, apresentou como resultado de que o uso e
abuso do cigarro, mata por ano, em média 5 milhões de pessoas no mundo. Este número
ultrapassa em muito, o número de todas as mortes produzidas por todas as
guerras mundiais. Vale sempre lembrar, que essas
duas substâncias; o Álcool e o Cigarro (e seus derivados), são classificadas
como Legais e, também conhecidas como “Drogas Sociais”. Isto porque são encontradas
em qualquer lugar da sociedade e usadas por quaisquer pessoas, sem nenhuma
proibição legal, a não ser para menores de 18 anos (embora aqui não se cumpra).
Os seus efeitos mais comuns são: aumento da frequência cardíaca, da pressão
sanguínea e da frequência respiratória, redução das contrações estomacais (o
que inibe o apetite), náuseas, tonteiras, vômitos, dores abdominais, diarreias,
entre outras.
. Maconha: ela é conhecida
cientificamente por Cannabis Sativa, mas é popularmente chamada no Brasil de baseado,
fininho, etc. Em outros países ela costuma ser chamada de haxixe, marijuana,
bangh, diamba e ganja. No ano de 2005, foi realizada uma pesquisa em todo o
território brasileiro, em que apresentou como resultado, de que a cada 100
brasileiros, pelo menos 9 já fizeram uso desta substância. O resultado ainda
nos trouxe, que a faixa etária desses usuários, estava os 18 e 24 anos de
idade. Por volta dos anos 60 e 70, acreditou-se e era propagado, que o seu uso
não apresentava nenhuma nocividade em seus usuários. Entretanto, estudos e
pesquisas realizadas em anos posteriores, comprovaram que poderia surgir muitas
complicações tanto de ordem física como mental aos usuários. Para alguns, vermelhidão
ocular (hiperemia das conjuntivas), secura evidente na boca, falta da produção
de saliva (xerostomia), aceleramento dos batimentos cardíacos (taquicardia), tantos
outros. Como dissemos anteriormente, esses efeitos a nível físico e/ou mental,
podem variar de pessoa para pessoa, principalmente em relação a “qualidade” da
substância química usada e da sensibilidade (e metabolismo) de quem fuma.
. Cocaína: ela é um alcalóide, principalmente encontrada
no vegetal de nome cientifico Erythroxylum coca, originária da América
do Sul, na região do Alto Andes (Cordilheira). Sobre esta planta e região onde
é encontrada, escreveu Cesar Rodrigues de Souza (1991): “Nas regiões altas dos
Andes, onde a planta Coca vem sendo cultivada desde os tempos pré-históricos, a
folha é mastigada, pois produz calma, relaxamento muscular, servindo ainda de
remédio (alivio) para a fadiga”. A cocaína é uma substância
psicotrópica e a mais potente estimulante do SNC. Sua nocividade por meio de
seus efeitos, dependem de como o usuário faz a sua administração, se é de forma
oral (cafungada pelo nariz), intravenosa (agulhada direto na veia) ou pulmonar
(inalação). Seus efeitos mais comuns são: aumentos da frequência cardíaca, da pressão
arterial e da temperatura corporal, dilatação das pupilas (midríase), sudorese
(suor excessivo), tremores nas extremidades do corpo, vasoconstrição
(diminuição do calibre dos vasos sanguíneos) etc.
. Crack: esta substância é criada
pela mistura de alguns componentes químicos, entre eles, a Pasta Base (da Cocaína),
o Bicarbonato de Sódio e outro produto inflamável, por exemplo, gasolina (muito
corrosivo). Pesquisadores e especialistas no assunto, afirmam de que esta SPA é
a forma “mais impura” da cocaína (restos do refinamento para transformar o Pó/Branquinha).
A fumaça que é produzida durante a utilização (pedra queimada), chega ao cérebro
em questões de segundos, devido a sua grande absorção pulmonar. Importante lembrar aos
leitores, que da mesma forma que ela chega com rapidez ao SNC, os seus efeitos também
não são muito duradouros: costumam variar entre 5 a 15 minutos. Esses efeitos tendem
a agir com maior intensidade em seus usuários; são eles: muita agitação
(corporal), euforia, prazer intenso (porém curto), midríase (pupilas dilatadas),
dores no peito, contrações musculares, degeneração corporal (emagrecimento) e
óssea (rabdomiólise).
Como esta substância
degenera e “suga” (absorve) com muita intensidade as propriedades enérgicas (corpo,
vigor etc.) de seus usuários, outras áreas ou órgãos serão mais exigidos para se
tentar buscar a recomposição (equilíbrio), principalmente pela atuação dos
hormônios cerebrais que são responsáveis pela sensação do prazer, tais como,
endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina. Com isso, pode (e acontece) haver
o desequilíbrio destes hormônios a nível cerebral, trazendo grandes problemas
físicos e mentais em seus usuários (insanidades). Para concluirmos esta parte,
nos apropriaremos da fala do Doutor João Goulão, responsável pela questão do
uso abusivo de drogas e especialista na área da dependência química que, após
adotar medidas ousadas, promoveu uma “virada de página” em Portugal, acerca dos
usuários de drogas. Medida que foi muito criticada por outros países, inclusive
pelo Brasil. No final dos anos 1990, o
consumo de heroína ocupava as ruas de Portugal, o país decidiu tomar uma medida
radical e polêmica: descriminalizou o consumo de qualquer droga. A ação adotada
pelo Poder Público, deixou de ser focada na repressão policial ao consumo de
entorpecentes, para privilegiar o tratamento da saúde e assistência social de seus
usuários.
Mesmo enfrentando grande resistência à descriminalização, os
especialistas defendem que o mais importante é que a prisão não seja o “primeiro
e único” recurso para tratar o consumidor. A forma, qualquer que seja, deve evitar
a estigmatização do usuário, disse ao Portal Opera Mundi, Dr. João
Goulão, presidente do IDT - Instituto da Droga e da Toxicodependência, de
Portugal. O órgão, que fica sob a alçada do Ministério da Saúde, é o
equivalente ao português da SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas, do Brasil, subordinada ao Ministério da Justiça.
“Penso que a descriminalização não é condição sine qua non para a
dissuasão. O que me parece essencial é que o contato do usuário com o sistema
(penal ou outro) seja acompanhado por um olhar de profissionais da área da
saúde e de apoio social, tendo em vista encontrar respostas para além da mera reclusão,
que habitualmente não tem outros resultados que não sejam os do aumento da
exclusão e estigmatização”, afirmou Goulão.
Com a mudança da lei, no ano
de 2000, em Portugal, o usuário de drogas, em vez de enfrentar um Processo Criminal,
quando é pego em flagrante com drogas para consumo próprio (quantidade máxima e
necessária para 10 dias), respondem a um Processo Administrativo nas Comissões
de Dissuasão de Toxicodependência. Hoje, o país é elogiado pelas estatísticas
que apontam queda no uso de drogas. Para alguns analistas deste fenômeno
social, a política portuguesa deveria servir de referência para o Brasil e
outros países, por exemplo, na luta contra o uso do crack. Em contraposição à
repressão policial aos seus usuários, principalmente naquela região conhecida
como Cracolândia, no centro da cidade de São Paulo.
2.
A Dependência Virtual:
Fizemos questão na primeira
parte deste artigo, trazer a conhecimento do público e dos diversos leitores, como
normalmente se processa o funcionamento cerebral a partir do uso de Substâncias
Psicotrópicas (licitas ou ilícitas), sendo que seu usuário pode chegar a ocupar
o quadro clínico classificado como dependente químico (adicto). A escrita foi
intencional, haja vista que muitos estudiosos neste assunto, afirmam que o
processo mental desencadeado pelo usuário abusivo das Redes Sociais, trabalha
de forma muito semelhante ao dos usuários de determinadas drogas. Portanto, para que ocorra o desenvolvimento
da Dependência Virtual (ou Redes Sociais), pelo uso abusivo e cotidiano das
curtidas no Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, entre outras, ocorre também,
a nível cerebral, a ativação dos mesmos neurotransmissores cerebrais. E quais
seriam eles? Eles são conhecidos como o “Quarteto do Prazer ou do bem-estar”;
são eles: a Dopamina, Endorfina, Ocitocina e a Serotonina. E como eles atuam a nível cerebral?
Eles existem e são ativados naturalmente no decorrer de nossos afazeres
diários, trazendo-nos a sensação de prazer, alívios, relaxamento, felicidade,
entre outros benefícios importantíssimos. Vamos conhecer um pouquinho mais
sobre este Quarteto da Felicidade:
a) Dopamina: neurotransmissor principal na regulação dos
processos motivacionais, tendo como uma de suas principais funções, nos impulsionar
a alcançar os objetivos.
b) Endorfina: é liberada no organismo como um analgésico,
diante das situações de dificuldades, tais como: dores e estresse, com o
objetivo de amenizá-los.
c) Ocitocina: é conhecida por ser responsável pela sensação de
confiança, auxiliando na criação em laços de relacionamentos, de um modo geral.
É produzida no parto, na amamentação e durante o orgasmo.
d) Serotonina: neurotransmissor responsável
por promover a sensação de prazer e bem-estar. A ausência dessa substância no
cérebro pode causar de mau humor a depressão.
É importante destacar, que estes hormônios atuam o tempo
todo em nossas vidas. Lembra daquela sensação gostosa, quando a pessoa está apaixonada?
Nesta situação, ocorre a liberação dos quatros hormônios direto na corrente
sanguínea, garantindo uma sensação prazerosa. Sensação parecida com aquela
sentida, depois duma boa caminhada, uma corridinha para manter a forma ou após
uma disputada partida de futebol com os amigos. São várias as possibilidades
de prazeres gerados por esses neurotransmissores cerebrais. Eles estão sempre
ativos em nosso organismo. Se eles se desequilibram, o corpo pode reagir com
insônia, estresse, ganho de peso, mau humor e irritabilidade. Também pode levar
à desmotivação e à tendência de adiar tarefas e compromissos. Em casos graves de baixa
desses hormônios cerebrais, as pessoas podem até desenvolver a depressão
(tristeza profunda). Esse Quarteto do Prazer e bem-estar, tem moradia em nosso cérebro,
podendo também se desequilibrarem pelo uso abusivo de drogas (lícitas ou ilegais),
pelo uso excessivo das Redes Sociais, entre tantas outras formas.
Um grupo de pesquisadores da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio de estudos realizados
acerca das Redes Sociais, principalmente nas verificações de curtidas no
Instagram e Facebook, com base também do número de notificações recebidas pelo WhatsApp,
verificou uma grande tendência de levar seus usuários a verificarem e conferir de
onde/quem partiram estas mensagens. Outros estudos realizados evidenciaram
que repetidas curtidas no Facebook geram picos de “bem-estar” cerebral, através
do sistema de recompensa. E esse pico eleva estado de prazer e bem-estar das
funções cerebrais, que ocorrem durante o uso das Redes Sociais, como um de seus
efeitos ao usuário.
Segundo o resultado deste estudo, a sensação de felicidade
e bem-estar gerada por estas curtidas, equipara-se a outros prazeres que são desencadeados
pelos mesmos hormônios do bem-estar, mas motivados por outras atitudes humanas,
como o uso abusivo de drogas. Só para reforçar como se dá
esta atuação hormonal prazerosa, por exemplo; o simples ato de se alimentar; ao
ter uma boa relação sexual ou ao fazer o uso da cocaína, que é uma substância psicotrópica
com efeitos estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC), entre outros.
2.1 Comportamentos de Usuários das Redes Sociais:
Os usuários frequentes e
assíduos das Redes Sociais, costumam apresentar comportamentos muito parecidos
com os de certos usuários abusivos de drogas psicoativas. Neste caso, vale abrir
um parêntese, para relatar um fato verídico que aconteceu dentro de uma aeronave,
antes dela decolar do aeroporto, com destino a Orlando, nos Estados Unidos. A aeronave estava recebendo seus passageiros, preparando-se para decolar.
De repente, uma jovem, aparentando ter entre 14 e 16 anos de idade, estava
acompanhada de sua mãe. Quando começou a ter uma crise “histérica” (gritava bem
alto e tentava sair da cadeira, enquanto a mãe a segurava). A aeromoça e alguns
passageiros foram para saber o que estava acontecendo e tentar ajudar. Eles acreditavam
tratar-se de alguma dor, um mal-estar ou pelo medo de voar de avião. Depois de
algumas intervenções, descobriu-se o motivo de sua gritaria: A mãe havia tomado
o seu aparelho celular, haja vista não poder usá-lo no decorrer da viagem.
Parece brincadeira, mas muitas
pessoas na atualidade, não conseguem ficar alguns minutos sequer, sem o seu
aparelho celular. Neste sentido, foi feita uma pesquisa com 2 (duas) mil
pessoas voluntárias, na faixa etária entre 16 e 45 anos, sendo que todas possuíam
Smartphones, comprovando-se que 91% (noventa e um por cento) delas, não
conseguiam ficar 1 (uma) hora sem o seu aparelho. O professor Ofir Turel,
oriundo da Califórnia State University, atuou como coordenador de um
grupo de pesquisadores, que chegaram a acompanhar 20 (vinte) voluntários
durante um certo tempo, onde identificaram que o sistema amígdala-corpo estriado,
envolvido na dependência do uso de drogas, era afetado quando esses voluntários
observavam fotos relacionadas ao Facebook. Segundo disse o coordenador
do grupo, este resultado não quer dizer que os efeitos advindos do uso das Redes
Sociais, são totalmente similares aos efeitos provocados pelos usuários de
drogas químicas (lícitas ou ilícitas). Ele defende haver uma expressiva diferença
entre os dois tipos de dependência, quando diz que: “É bem mais fácil largar o
Facebook do que o vício em drogas pesadas”. Mas, contrapondo a sua fala,
uma matéria veiculada pela Revista Isto é (Edição 263326/06, de 09/05/12), disse
assim: “Novos estudos mostram que é mais difícil resistir à tentação de
acessar sites como Facebook e Twitter do que dizer não ao álcool e ao cigarro” (grifamos).
Vale
lembrar que a mesma motivação e relacionamento entre o usuário com determinada SPA,
que pode resultar na dependência química, que se dá, geralmente, pelo uso intenso
e descontrolado desta droga, pode levar também o usuário de Redes Sociais ao
mesmo quadro clinico que ele. Segundo a pesquisa, pelo mesmo motivo, isto é, o uso exagerado e sem
controle das diversas Mídias Sociais, em geral, tem causado diversos problemas
relacionados à sociabilidade (dificuldade de se relacionar com outrem),
transtornos mentais e comportamentais em seus usuários, inclusive, com o desencadeamento
da dependência virtual. Outra pesquisa recente acerca
deste mesmo tema, demonstrou que aproximadamente 11% (onze por cento) das
pessoas sofrem de alguma forma de dependência tecnológica, sendo que o
Facebook estaria afetando o cérebro de seus usuários de forma semelhante às
drogas
(grifamos). Os comportamentos ou as reações podem ser apresentadas de forma
distintas entre seus usuários. No entanto, o GEAT – Grupo de Estudos sobre Adições
Tecnológicas, com base dos estudos em usuários do Estado do Rio Grande do Sul, observou
que, quando “esses” usuários ficavam por um período de tempo sem poder fazer o
uso ou acessar as redes sociais, “acabavam sentindo um vazio intenso”, muito
parecido com o apresentado por alguns dependentes de substâncias químicas.
Em nossos dias, não há um
consenso entre a classe humana adulta, acerca do tempo recomendável ou ideal
para se estar fazendo o uso das Redes Sociais diariamente. No entanto, quando
nos referimos as crianças e os adolescentes, os especialistas em psicopedagogia
e de saúde física e mental, recomendam aos pais e responsáveis, o tempo
estimado em torno de 2 horas por dia. Mas, eles fazem uma ressalva sobre este
período de tempo: nestas duas horas, não deve ser incluído as tarefas e as lições
escolares. Noutras palavras, duas horas por dia. Gostaríamos de apresentar alguns
comportamentos que a OMS orienta para serem observados no usuário de drogas, e que
podem sinalizar para o desenvolvimento da dependência química. Mas, de forma proposital,
iremos compará-los com algumas condutas também apresentadas por usuários de Redes
Sociais:
Usuários de Drogas Usuários
de Redes Sociais
1.
Forte/incontrolável desejo de consumir a 1.
Compulsão para usar e acessar as redes a droga (Fissura); sociais: vendo posts, vídeos e etc.;
2.
Perda/dificuldade de controlar o início e quando 2.
Perda da noção da hora e do tempo de seu uso; deve interromper o uso;
3.
Utilização persistente, mesmo sabendo dos 3. Acesso
rápido e intenso pela facilidade de riscos ou de sua nocividade; de
estar em suas mãos, a qualquer hora/lugar;
4. Sua maior prioridade é
fazer o uso da droga; 4. Sua maior prioridade é acessar as redes sociais;
5. Sente necessidade de
aumentar a dose 5. Aumenta
a intensidade dos acessos e a
para obter os efeitos desejados (Tolerância);
duração
de sua utilização (Tolerância);
6. Com a interrupção do uso
da SPA, tende a 6. Sem
seu celular ou impossibilitado de acessar as
apresentar a Síndrome de Abstinência. Mídias Virtuais: Síndrome de Abstinência.
Os dados elencados à esquerda, foram extraídos do livro que
aborda o tema Drogas, estando referenciado no rodapé deste artigo. Quanto aos
dados do lado direito da página, da mesma forma, foram extraídos de artigos que
abordam o tema: Dependência das Redes Sociais. Estando também citados no rodapé
deste artigo. Tudo isso, para respaldar o que estamos escrevendo, mas, também,
com o propósito maior, de que o leitor possa pesquisar e se aprofundar mais em
conhecer acerca deste tema tão complexo, controvertido e que se apresenta de
forma multifacetada em nossa sociedade. Deve ser ressaltado, que nem todo o
usuário virtual (e de drogas), necessariamente irá apresentar os comportamentos
e reações, da maneira como foi apresentado no decorrer de nossa abordagem. Segundo
afirma o Psiquiatra da Infância e Adolescência, Daniel Spritzer,
Coordenador dos Estudos do GEAT, “quando tais prazeres geram uma trama cognitiva
(o processo mental de percepção) na qual se espera de forma muito intensa por
recompensas (os efeitos desejados), após ter postado uma foto, vídeo ou um
pensamento, está se falando de situações nas quais o uso pode estar se aproximando
de um caráter alusivo de dependência”.
Spritzer acrescenta
outra situação muito importante e tendenciosa a sinalizar para a possível
dependência virtual, quando diz assim: “Quando a interação que se desenvolve
nas redes sociais, se baseia demasiadamente na busca de um suporte emocional”. Esta
pessoa pode estar vivendo um momento de grande fragilidade, sentindo a
necessidade de ouvir (ou ler) mensagens de encorajamento e estímulos. Não
conseguindo isso, ela pode ingressar num estado totalmente angustiante (e depressivo). As gratificações com as curtidas
de suas postagens, é só um entre os inúmeros prazeres proporcionados pelas
Redes Sociais. E, entre tantos outros, podemos citar para exemplo, o de poder
mostrar para os outros, que fazemos parte dum grupo específico (notoriedade/ostentação).
Como também, poder compartilhar suas atividades pessoais, social, estudantis,
trabalhista, de lazer e entretenimento, entre tantos outros exemplos.
3. Isolamento Social: aumentou o uso abusivo
de drogas e os acessos as redes sociais?
Como diz um ditado muito
antigo: para tudo na vida, sempre existe o lado bom e o lado ruim. Com a
chegada do Coronavírus no Brasil e, parece-nos, que este vírus veio para ficar,
tendo em vista que ninguém fala com certeza (ocultam/mentem) quando ele vai
embora, ou seja, até quando iremos ficar em isolamento social? Dentro de nossas
casas, assistindo o aumento do número de contágios e de mortes. Entramos no quinto
mês, desde a sua chegada em nosso território e, segundo o Conselho Nacional de
Secretários de Saúde (CONASS) e o Ministério da Saúde Brasileiro, já temos 1.402.041
casos confirmados. E, 59.594 de óbitos. Sendo que nas últimas 24 horas, ocorreram
1.280 mortes pelo COVID-19 (Fonte: olhardigital.com.br, acesso 01/07/20).
Como dissemos no início,
coisas boas também aconteceram. Durante este período de tempo, muitas empresas
inovaram acerca de sua empregabilidade (funcionários passaram a trabalhar em home
office) e em relação a sua produtividade (oferta/comercialização de sua
produção através das redes sociais). Muitas pessoas que foram demitidas de suas
empresas, começaram a investir em seu próprio negócio, principalmente nas áreas
da gastronomia em geral (refeições e oferta de pratos finos, lanches, bolos,
etc.). Entretanto, para aqueles que
tiveram condições de manter-se em confinamento social e que estão cumprindo as
recomendações dadas pelas autoridades governamentais e sanitárias, as coisas nem
sempre correram bem. Quem já tinha o hábito de fazer o uso de bebida alcoólica
diariamente, provavelmente deve ter aumentado o seu consumo. De acordo com
essas recomendações, foram criadas rotinas para prevenção do contágio deste vírus: “E, no meio disso tudo,
percebo nos grupos de mãe, algo recorrente: o consumo de bebida alcoólica como
uma “atividade” dentro desta rotina exaustiva que temos enfrentado. E ele pode
acabar entrando – mesmo sem perceber, seja no fim do expediente de home office,
seja depois que as crianças dormirem, e você (finalmente), tem algumas horas
para dedicar-se a você mesmo...” (Fonte: cisa.org.br, postado em 04/04/20).
Cremos, em concordância com o
relato acima, de que muitas pessoas, enquanto durar este isolamento social, também
chamado de “Quarentena”, poderão passar de meros usuários de substâncias químicas,
para o quadro clinico da dependência (alcoólica/e outras drogas) propriamente
dita: “Temos que reconhecer que o ano de 2020 está
sendo um ano atípico e bastante desafiador para o mundo todo. A pandemia do
novo Coronavírus (COVID-19) avança em praticamente todos os países do planeta
(...), obrigando muitas empresas a adotarem o modelo home office e feito
com que serviços considerados não essenciais fechassem temporariamente suas
portas. Embora o cenário se mostre crítico, nunca a internet foi tão utilizada (grifamos). Muitos estão se reinventando
digitalmente para suprir suas necessidades, sejam pessoais ou profissionais, o
que tem provocado um aumento significativo nas interações nas redes sociais
nesse período” (Fonte: pointoisp.com.br).
Também não temos dúvidas de que,
neste mesmo período, pessoas que pouco acessavam a Internet e Redes Sociais
(usuários ocasionais) podem ter tido um aumento considerável nesta conduta. E acrescentamos
mais: até aqueles que nunca tiveram o interesse de comprar/ganhar um aparelho
celular com vários aplicativos, podem (e devem) ter mudado de comportamento
(minha Mãe, de 81 anos, é uma delas). Desta forma, as redes sociais passaram a
ser suas verdadeiras e reais companhias. Portanto, leitores e amigos, como houve
a necessidade (e ainda há) de nos mantermos confinados dentro de nossas casas, buscando
adotar os cuidados recomendados para não contrairmos o COVID-19 e morrermos; mas
não se enganem! Outras complicações podem surgir no decorrer da quarentena e,
caso não se resolva logo esta situação, ainda poderemos sofrer muitas consequências.
Síndrome de Abstinência.
Um conjunto característico de sinais/sintomas que ocorrem após a interrupção
(ou pela diminuição) do consumo de uma droga, seja ela lícita ou ilícita. O quadro
clínico de uma dada síndrome de abstinência varia de acordo com a droga
consumida.