Os registros históricos acerca do surgimento da humanidade na terra, dão-nos informações de que, simultaneamente a sua criação ou logo após, foram criadas as árvores e vegetações de todas as espécies que conhecemos na atualidade. E, juntamente com elas, podemos afirmar que também surgiram as “drogas” que faziam (e fazem) parte natural de suas constituições orgânicas:” E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra. E assim foi” (cf. Gênesis 1:11). Durante um bom tempo, após o Criacionismo de Deus, multiplicou-se em muito o número de seres humanos espalhados por todo o canto desta terra. Num dado momento, intencionalmente ou não, este mesmo homem que fora criado por Jeová, descobriu uma das ricas propriedades dessas “ervas” e plantas nativas; e o seu nome, o patriarca Noé!
Gênesis 6:1;9:.20-22. E aconteceu que, como os homens começaram a
multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, (...). E começou
Noé a ser lavrador da terra e plantou uma vinha (várias videiras plantadas num
mesmo terreno). E bebeu do vinho (produto líquido extraído da uva) e
embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda. E viu Cam (ou Cão), o pai de
Canaã, a nudez de seu pai e fê-lo saber a ambos seus irmãos, fora.
A partir desta e doutras descobertas acerca da propriedade das plantas, inúmeras pessoas vêm sofrendo com as consequências produzidas pelo uso abusivo e desenfreado de suas substâncias químicas e nocivas à saúde física e mental do homem. Elas são atualmente conhecidas mundialmente como substâncias psicoativas ou psicotrópicas (SPA), sendo classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em duas categorias: ás de ordem legal ou lícitas, como o álcool etílico, tabaco (e variedades) e certos medicamentos; e ás tipificadas como ilegais ou ilícitas, como a maconha, a cocaína, o crack e tantas outras. Neste artigo, falaremos um pouco sobre algumas delas, sem nos aprofundarmos muito, tendo em vista que é por meio do uso abusivo e o consumo desenfreado, que podemos passar de mero usuário experimental ou recreativo, progredindo para o usuário disfuncional ou problema, até (são muitos os casos) assumirmos a posição complicada e perigosa, classificada pela ciência como dependentes químicos ou toxicômanos.
Vale acentuar que este processo não ocorre linearmente com todas as pessoas. No entanto, o percurso que temos observado em sua grande maioria é este. Nada impede que um indivíduo experimente uma substância química (legal ou ilegal), mas não sinta prazer ou contentamento com a mesma. E por isso, não venha a usá-la mais! Na verdade, de repente ele se arriscou em usá-la por mera “curiosidade” ou pela pressão do grupo social a qual pertence ou tem vontade de fazer parte (necessidade básica do Pertencimento). Entretanto, essa mesma pessoa pode experimentar outro tipo de SPA, gostar muito e passar a usá-la outras vezes. E, sempre que a substância estiver acessível e o local for aprazível para o consumo, ele não vai pensar duas vezes. E a partir daí, pode adquirir o hábito de usá-la com certa frequência e regularidade. Deste seu novo relacionamento com a droga, o usuário pode acabar perdendo o controle sobre seu uso (quando inicia/quando deve parar). E devido a este descontrole, pode fazer sua utilização de forma excessiva, inclusive com doses exageradas, correndo o risco de ter uma “overdose”.
E isso é o que testemunhamos diariamente em nossa sociedade. Pessoas que usavam uma substância química “socialmente” (álcool/cigarro etc.), mas que, de um momento para outro, acabaram migrando da posição de “usuário” para tornar-se num toxicômano (adicto/dependente). Diferentemente do que muitas pessoas pensam, a dependência química é considerada uma doença crônica, progressiva e, além disso, incurável. Porém, ela pode ser tratada. Geralmente, o indivíduo que começa a ter envolvimento com essas substâncias, quer seja lícita ou ilícita, começa a apresentar mudanças comportamentais repentinas e bem perceptíveis aos olhos humanos. Um dos primeiros sinalizadores para a suspeita dos pais e responsáveis, prende-se a observar (e monitorar) se está ocorrendo alguma mudança neles que, seja distinta daquelas tidas como habituais. Não se pode precisar que todas as pessoas, principalmente os adolescentes, irão percorrer este caminho até ingressar na dependência química, como dissemos anteriormente. Alguns podem pular “degraus” e ir mais rápido para este triste caminho. Outros, podem experimentar por mera curiosidade, mas nunca mais voltar a usá-las. Para nós, pais e responsáveis por crianças e adolescentes, existe um Decálogo de Alerta Comportamental, elaborado pelo Dr. Osvaldo Moraes Andrade, psiquiatra, que pode nos ajudar a observar e acompanhar os nossos filhos (e jovens) e, quem sabe, alertá-los antes que entrem neste caminho perigoso. E, quase que sem volta!
Decálogo de Alerta Comportamental
1. Mudança brusca em sua conduta diária. 2. Insônia rebelde. 3. Irritabilidade. 4. Inquietação Motora: não tem paciência e não quer estar com a família. 5. Depressão: sem uma causa aparente. 6. Queda ou Desinteresse Estudantil: evasão, notas baixas e abandono. 7. Isolamento: dos amigos de infância e de familiares. 8. Mudança de hábitos (novos): surgimento de objetos estranhos, comprimidos etc. 9. Desaparecimentos de coisas e objetos de valor, insistência em pedir dinheiro e, 10. Más companhias: pessoas desconhecidas de sua família (amigos que usam drogas).
Pode até ser que não venhamos a evitar que eles ingressem neste quadro clinico, mas se torna muito importante, sob nossa ótica, saber deste detalhes para, pelo menos, saber o momento e a hora de se fazer uma intervenção precoce, ou seja, logo que notar os primeiros sinalizadores que indicam o possível envolvimento com substâncias entorpecentes. Como costumo dizer: “Se soubermos toda a verdade sobre determinado assunto, temos mais possibilidades de conversar com eles sobre esta conduta pessoal (e social) e, quem sabe, levá-los a evitar ao ingresso deste comportamento, fazendo com que sejam libertos”.
1. A Dependência Química:
Vimos na abordagem introdutória, um dos caminhos mais comuns e percorridos por muitas pessoas, antes de se tornarem em dependentes químicos. E por falar nisso, o que vem a ser a Dependência Química? Ela é conhecida vulgarmente na sociedade em geral, como sendo um “vício”. Termo este, que não é mais usado pelos profissionais da área médica, pois soa com tom pejorativo. Alguns especialistas afirmam ser ela “um transtorno de ordem mental, relacionado ao uso abusivo de certas substâncias químicas”. Outra significação dada, desta vez, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), diz que: “é o estado de adaptação do organismo, que se manifesta pelo aparecimento de profundas modificações físicas (e/ou mentais), quando se interrompe a administração da droga ou do medicamento”. Uma definição desta patologia que muito nos agrada, diz bem assim: “a dependência química é um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de uma droga ou de uma classe de substâncias psicoativas, começa a alcançar uma prioridade maior na vida de determinado indivíduo”.
Vale lembrar duas coisas importantes sobre este relacionamento entre o “Usuário” e a “Substância Química” por ele usada: a primeira prende-se ao fato, de que ninguém se torna num dependente químico, de uma noite para o dia. Normalmente decorre um período de tempo, entre o uso inicial (experimental ou recreativo), para que possa resultar no quadro clinico classificado como dependente químico. E nem sempre o usuário vai se tornar num adicto, toxicômano ou dependente de droga. Mas, não podemos nos esquecer de uma coisa: “TODO dependente químico, um dia foi ou esteve na posição de USUÁRIO!” Quanto a segunda, ela volta-se para o tipo de substância química que está sendo usada por este indivíduo que, até então, ainda figura como sendo usuário. Aliado a isso, outros aspectos são de fundamental importância, tais como:
. A
dosagem que é usada;
. Quantas
vezes a SPA é usada (por dia/semana);
. A forma
que se dá esse uso: é fumada, inalada, intravenosa ou adesiva (colada na pele);
. A sensibilidade
e personalidade de cada usuário;
. O
local e ambiente em que é usada a droga etc.;
. A
expectativa sobre os efeitos que são esperados pelo usuário;
. A associação durante o uso com outras SPA, o uso “cruzado”.
Cada tipo de SPA possui um teor de toxidade próprio, umas mais e outras menos. Vale lembrar que a utilização em sua forma “cruzada”, faz com que ocorra a potencialização destas substâncias, por exemplo, a maconha com o crack, que é conhecida como “Fristo”. Qual o propósito de se fazer esta mistura na hora do uso? Turbinar ou Potencializar os efeitos dessas drogas. Com isso, tanto a maconha como o crack elevam seu teor de toxidade, podendo trazer maiores sensações e por mais tempo, e que são desejadas por seus usuários. Aqueles que procedem assim, podem estar num alto nível de dependência, beirando-se (se já não estiverem) ao estado de insanidade (demência). Outra coisa importante e grave acerca deste uso cruzado, volta-se para a questão de ser usada substâncias com atuações totalmente opostas no organismo de seus usuários: por exemplo, o álcool com a cocaína. A primeira substância química, é um depressor das funções Cerebrais (desacelera e retarda); enquanto que a segunda, faz parte das substâncias estimulantes das funções cerebrais (estimula e acelera). Portanto, durante o seu uso ou logo após, seu usuário pode vir a ter um AVC - Acidente Vascular Cerebral (AVE/Encefálico) ou uma complicação de ordem Cardiorrespiratória, entre tantas outras.
1.1 – Algumas SPA e os possíveis Efeitos aos Usuários:
Como dissemos anteriormente, não iremos nos aprofundar muito acerca dessas SPA[1], mas, entendemos que não tem como se falar da Dependência Química, sem tecer alguns comentários sobre alguns personagens principais, que levam as pessoas a ingressarem nesta estrada sinuosa da vida. Por isso, destacamos abaixo, algumas substâncias químicas com suas peculiaridades:
. Álcool Etílico: também conhecido como Etanol. Embora ele se apresente com muitas variedades, mas o mais comum utilizado em bebidas alcoólicas é o Álcool Etil. No Brasil é popularmente chamado de “cana”, “cachaça ou mé etc.”. Ele pode ser apresentado em sua forma fermentada (cerveja, chope, vinho etc.) ou destilada (conhaque, vodca, uísque etc.). As duas formas de apresentação atuam no SNC de seus usuários e costumam promover mudanças social, familiar, comportamental e mental. A sua forma fermentada, costuma apresentar um teor alcoólico que varia basicamente entre os 4% e 12% (por cento). Enquanto que o produto oferecido em sua forma destilada varia entre os 30% e 50%. (por cento). Os efeitos mais comuns são: fala pastosa (embolada), perda do equilíbrio, tristeza, lentidão, mal-estar, sonolência, indisposição etc. Lembrando que os efeitos podem se apresentar de forma distintas de pessoa para pessoa.
. Tabaco: são vários os produtos extraídos ou derivados desta substância, os mais comuns são: os cigarros industrializados (e ilegais doutro País), charutos, fumo de rolo (o rapé/mascar), entre outros. Sua fabricação industrial agrega vários e perigosos produtos tóxicos e muito nocivos à saúde de seus usuários. Segundo os especialistas no assunto, são muitos os produtos usados em sua fabricação, mas iremos destacar apenas três: a cafeína, a nicotina e o alcatrão (contém monóxido de carbono), todas as três tem a capacidade de levar o usuário ao quadro de dependência química. É bem provável, que você conheça alguém que não consegue ficar sem tomar um cafezinho, de tantas em tantas horas. E, se ficar, provavelmente virá em seguida uma dorzinha de cabeça. Lembrando que as “drogas” que mais matam no mundo, pelo seu uso e consumo são e continuam sendo o Álcool e o Tabaco.
Uma pesquisa feita a nível mundial, apresentou como resultado de que o uso e abuso do cigarro, mata por ano, em média 5 milhões de pessoas no mundo. Este número ultrapassa em muito, o número de todas as mortes produzidas por todas as guerras mundiais. Vale sempre lembrar, que essas duas substâncias; o Álcool e o Cigarro (e seus derivados), são classificadas como Legais e, também conhecidas como “Drogas Sociais”. Isto porque são encontradas em qualquer lugar da sociedade e usadas por quaisquer pessoas, sem nenhuma proibição legal, a não ser para menores de 18 anos (embora aqui não se cumpra). Os seus efeitos mais comuns são: aumento da frequência cardíaca, da pressão sanguínea e da frequência respiratória, redução das contrações estomacais (o que inibe o apetite), náuseas, tonteiras, vômitos, dores abdominais, diarreias, entre outras.
. Maconha: ela é conhecida cientificamente por Cannabis Sativa, mas é popularmente chamada no Brasil de baseado, fininho, etc. Em outros países ela costuma ser chamada de haxixe, marijuana, bangh, diamba e ganja. No ano de 2005, foi realizada uma pesquisa em todo o território brasileiro, em que apresentou como resultado, de que a cada 100 brasileiros, pelo menos 9 já fizeram uso desta substância. O resultado ainda nos trouxe, que a faixa etária desses usuários, estava os 18 e 24 anos de idade. Por volta dos anos 60 e 70, acreditou-se e era propagado, que o seu uso não apresentava nenhuma nocividade em seus usuários. Entretanto, estudos e pesquisas realizadas em anos posteriores, comprovaram que poderia surgir muitas complicações tanto de ordem física como mental aos usuários. Para alguns, vermelhidão ocular (hiperemia das conjuntivas), secura evidente na boca, falta da produção de saliva (xerostomia), aceleramento dos batimentos cardíacos (taquicardia), tantos outros. Como dissemos anteriormente, esses efeitos a nível físico e/ou mental, podem variar de pessoa para pessoa, principalmente em relação a “qualidade” da substância química usada e da sensibilidade (e metabolismo[2]) de quem fuma.
. Cocaína: ela é um alcalóide[3], principalmente encontrada no vegetal de nome cientifico Erythroxylum coca, originária da América do Sul, na região do Alto Andes (Cordilheira). Sobre esta planta e região onde é encontrada, escreveu Cesar Rodrigues de Souza (1991): “Nas regiões altas dos Andes, onde a planta Coca vem sendo cultivada desde os tempos pré-históricos, a folha é mastigada, pois produz calma, relaxamento muscular, servindo ainda de remédio (alivio) para a fadiga”. A cocaína é uma substância psicotrópica e a mais potente estimulante do SNC. Sua nocividade por meio de seus efeitos, dependem de como o usuário faz a sua administração, se é de forma oral (cafungada pelo nariz), intravenosa (agulhada direto na veia) ou pulmonar (inalação). Seus efeitos mais comuns são: aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e da temperatura corporal, dilatação das pupilas (midríase), sudorese (suor excessivo), tremores nas extremidades do corpo, vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos sanguíneos) etc.
. Crack: esta substância é criada pela mistura de alguns componentes químicos, entre eles, a Pasta Base (da Cocaína), o Bicarbonato de Sódio e outro produto inflamável, por exemplo, gasolina (muito corrosivo). Pesquisadores e especialistas no assunto, afirmam de que esta SPA é a forma “mais impura” da cocaína (restos do refinamento para transformar o Pó/Branquinha). A fumaça que é produzida durante a utilização (pedra queimada), chega ao cérebro em questões de segundos, devido a sua grande absorção pulmonar. Importante lembrar aos leitores, que da mesma forma que ela chega com rapidez ao SNC, os seus efeitos também não são muito duradouros: costumam variar entre 5 a 15 minutos. Esses efeitos tendem a agir com maior intensidade em seus usuários; são eles: muita agitação (corporal), euforia, prazer intenso (porém curto), midríase (pupilas dilatadas), dores no peito, contrações musculares, degeneração corporal (emagrecimento) e óssea (rabdomiólise[4]).
Como esta substância degenera e “suga” (absorve) com muita intensidade as propriedades enérgicas (corpo, vigor etc.) de seus usuários, outras áreas ou órgãos serão mais exigidos para se tentar buscar a recomposição (equilíbrio), principalmente pela atuação dos hormônios cerebrais que são responsáveis pela sensação do prazer, tais como, endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina. Com isso, pode (e acontece) haver o desequilíbrio destes hormônios a nível cerebral, trazendo grandes problemas físicos e mentais em seus usuários (insanidades). Para concluirmos esta parte, nos apropriaremos da fala do Doutor João Goulão, responsável pela questão do uso abusivo de drogas e especialista na área da dependência química que, após adotar medidas ousadas, promoveu uma “virada de página” em Portugal, acerca dos usuários de drogas. Medida que foi muito criticada por outros países, inclusive pelo Brasil. No final dos anos 1990, o consumo de heroína ocupava as ruas de Portugal, o país decidiu tomar uma medida radical e polêmica: descriminalizou o consumo de qualquer droga. A ação adotada pelo Poder Público, deixou de ser focada na repressão policial ao consumo de entorpecentes, para privilegiar o tratamento da saúde e assistência social de seus usuários.
Mesmo enfrentando grande resistência à descriminalização, os especialistas defendem que o mais importante é que a prisão não seja o “primeiro e único” recurso para tratar o consumidor. A forma, qualquer que seja, deve evitar a estigmatização do usuário, disse ao Portal Opera Mundi, Dr. João Goulão, presidente do IDT - Instituto da Droga e da Toxicodependência, de Portugal. O órgão, que fica sob a alçada do Ministério da Saúde, é o equivalente ao português da SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, do Brasil, subordinada ao Ministério da Justiça.
“Penso que a descriminalização não é condição sine qua non para a dissuasão. O que me parece essencial é que o contato do usuário com o sistema (penal ou outro) seja acompanhado por um olhar de profissionais da área da saúde e de apoio social, tendo em vista encontrar respostas para além da mera reclusão, que habitualmente não tem outros resultados que não sejam os do aumento da exclusão e estigmatização”, afirmou Goulão[5].
Com a mudança da lei, no ano de 2000, em Portugal, o usuário de drogas, em vez de enfrentar um Processo Criminal, quando é pego em flagrante com drogas para consumo próprio (quantidade máxima e necessária para 10 dias), respondem a um Processo Administrativo nas Comissões de Dissuasão de Toxicodependência. Hoje, o país é elogiado pelas estatísticas que apontam queda no uso de drogas. Para alguns analistas deste fenômeno social, a política portuguesa deveria servir de referência para o Brasil e outros países, por exemplo, na luta contra o uso do crack. Em contraposição à repressão policial aos seus usuários, principalmente naquela região conhecida como Cracolândia, no centro da cidade de São Paulo.
2. A Dependência Virtual:
Fizemos questão na primeira parte deste artigo, trazer a conhecimento do público e dos diversos leitores, como normalmente se processa o funcionamento cerebral a partir do uso de Substâncias Psicotrópicas (licitas ou ilícitas), sendo que seu usuário pode chegar a ocupar o quadro clínico classificado como dependente químico (adicto). A escrita foi intencional, haja vista que muitos estudiosos neste assunto, afirmam que o processo mental desencadeado pelo usuário abusivo das Redes Sociais, trabalha de forma muito semelhante ao dos usuários de determinadas drogas. Portanto, para que ocorra o desenvolvimento da Dependência Virtual (ou Redes Sociais), pelo uso abusivo e cotidiano das curtidas no Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, entre outras, ocorre também, a nível cerebral, a ativação dos mesmos neurotransmissores cerebrais. E quais seriam eles? Eles são conhecidos como o “Quarteto do Prazer ou do bem-estar”; são eles: a Dopamina, Endorfina, Ocitocina e a Serotonina. E como eles atuam a nível cerebral? Eles existem e são ativados naturalmente no decorrer de nossos afazeres diários, trazendo-nos a sensação de prazer, alívios, relaxamento, felicidade, entre outros benefícios importantíssimos. Vamos conhecer um pouquinho mais sobre este Quarteto da Felicidade:
a) Dopamina: neurotransmissor principal na regulação dos
processos motivacionais, tendo como uma de suas principais funções, nos impulsionar
a alcançar os objetivos.
b) Endorfina: é liberada no organismo como um analgésico,
diante das situações de dificuldades, tais como: dores e estresse, com o
objetivo de amenizá-los.
c) Ocitocina: é conhecida por ser responsável pela sensação de
confiança, auxiliando na criação em laços de relacionamentos, de um modo geral.
É produzida no parto, na amamentação e durante o orgasmo.
d) Serotonina: neurotransmissor responsável
por promover a sensação de prazer e bem-estar. A ausência dessa substância no
cérebro pode causar de mau humor a depressão.
É importante destacar, que estes hormônios atuam o tempo todo em nossas vidas. Lembra daquela sensação gostosa, quando a pessoa está apaixonada? Nesta situação, ocorre a liberação dos quatros hormônios direto na corrente sanguínea, garantindo uma sensação prazerosa. Sensação parecida com aquela sentida, depois duma boa caminhada, uma corridinha para manter a forma ou após uma disputada partida de futebol com os amigos. São várias as possibilidades de prazeres gerados por esses neurotransmissores cerebrais. Eles estão sempre ativos em nosso organismo. Se eles se desequilibram, o corpo pode reagir com insônia, estresse, ganho de peso, mau humor e irritabilidade. Também pode levar à desmotivação e à tendência de adiar tarefas e compromissos. Em casos graves de baixa desses hormônios cerebrais, as pessoas podem até desenvolver a depressão (tristeza profunda). Esse Quarteto do Prazer e bem-estar, tem moradia em nosso cérebro, podendo também se desequilibrarem pelo uso abusivo de drogas (lícitas ou ilegais), pelo uso excessivo das Redes Sociais, entre tantas outras formas.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio de estudos realizados acerca das Redes Sociais, principalmente nas verificações de curtidas no Instagram e Facebook, com base também do número de notificações recebidas pelo WhatsApp, verificou uma grande tendência de levar seus usuários a verificarem e conferir de onde/quem partiram estas mensagens. Outros estudos realizados evidenciaram que repetidas curtidas no Facebook geram picos de “bem-estar” cerebral, através do sistema de recompensa. E esse pico eleva estado de prazer e bem-estar das funções cerebrais, que ocorrem durante o uso das Redes Sociais, como um de seus efeitos ao usuário.
Segundo o resultado deste estudo, a sensação de felicidade e bem-estar gerada por estas curtidas, equipara-se a outros prazeres que são desencadeados pelos mesmos hormônios do bem-estar, mas motivados por outras atitudes humanas, como o uso abusivo de drogas. Só para reforçar como se dá esta atuação hormonal prazerosa, por exemplo; o simples ato de se alimentar; ao ter uma boa relação sexual ou ao fazer o uso da cocaína, que é uma substância psicotrópica com efeitos estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC), entre outros.
2.1 Comportamentos de Usuários das Redes Sociais:
Os usuários frequentes e assíduos das Redes Sociais, costumam apresentar comportamentos muito parecidos com os de certos usuários abusivos de drogas psicoativas. Neste caso, vale abrir um parêntese, para relatar um fato verídico que aconteceu dentro de uma aeronave, antes dela decolar do aeroporto, com destino a Orlando, nos Estados Unidos. A aeronave estava recebendo seus passageiros, preparando-se para decolar. De repente, uma jovem, aparentando ter entre 14 e 16 anos de idade, estava acompanhada de sua mãe. Quando começou a ter uma crise “histérica” (gritava bem alto e tentava sair da cadeira, enquanto a mãe a segurava). A aeromoça e alguns passageiros foram para saber o que estava acontecendo e tentar ajudar. Eles acreditavam tratar-se de alguma dor, um mal-estar ou pelo medo de voar de avião. Depois de algumas intervenções, descobriu-se o motivo de sua gritaria: A mãe havia tomado o seu aparelho celular, haja vista não poder usá-lo no decorrer da viagem.
Parece brincadeira, mas muitas pessoas na atualidade, não conseguem ficar alguns minutos sequer, sem o seu aparelho celular. Neste sentido, foi feita uma pesquisa com 2 (duas) mil pessoas voluntárias, na faixa etária entre 16 e 45 anos, sendo que todas possuíam Smartphones, comprovando-se que 91% (noventa e um por cento) delas, não conseguiam ficar 1 (uma) hora sem o seu aparelho[6]. O professor Ofir Turel, oriundo da Califórnia State University, atuou como coordenador de um grupo de pesquisadores, que chegaram a acompanhar 20 (vinte) voluntários durante um certo tempo, onde identificaram que o sistema amígdala-corpo estriado, envolvido na dependência do uso de drogas, era afetado quando esses voluntários observavam fotos relacionadas ao Facebook. Segundo disse o coordenador do grupo, este resultado não quer dizer que os efeitos advindos do uso das Redes Sociais, são totalmente similares aos efeitos provocados pelos usuários de drogas químicas (lícitas ou ilícitas). Ele defende haver uma expressiva diferença entre os dois tipos de dependência, quando diz que: “É bem mais fácil largar o Facebook do que o vício em drogas pesadas”. Mas, contrapondo a sua fala, uma matéria veiculada pela Revista Isto é (Edição 263326/06, de 09/05/12), disse assim: “Novos estudos mostram que é mais difícil resistir à tentação de acessar sites como Facebook e Twitter do que dizer não ao álcool e ao cigarro” (grifamos).
Vale lembrar que a mesma motivação e relacionamento entre o usuário com determinada SPA, que pode resultar na dependência química, que se dá, geralmente, pelo uso intenso e descontrolado desta droga, pode levar também o usuário de Redes Sociais ao mesmo quadro clinico que ele. Segundo a pesquisa, pelo mesmo motivo, isto é, o uso exagerado e sem controle das diversas Mídias Sociais, em geral, tem causado diversos problemas relacionados à sociabilidade (dificuldade de se relacionar com outrem), transtornos mentais e comportamentais em seus usuários[7], inclusive, com o desencadeamento da dependência virtual. Outra pesquisa recente acerca deste mesmo tema, demonstrou que aproximadamente 11% (onze por cento) das pessoas sofrem de alguma forma de dependência tecnológica, sendo que o Facebook estaria afetando o cérebro de seus usuários de forma semelhante às drogas (grifamos). Os comportamentos ou as reações podem ser apresentadas de forma distintas entre seus usuários. No entanto, o GEAT – Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas, com base dos estudos em usuários do Estado do Rio Grande do Sul, observou que, quando “esses” usuários ficavam por um período de tempo sem poder fazer o uso ou acessar as redes sociais, “acabavam sentindo um vazio intenso”, muito parecido com o apresentado por alguns dependentes de substâncias químicas.
Em nossos dias, não há um consenso entre a classe humana adulta, acerca do tempo recomendável ou ideal para se estar fazendo o uso das Redes Sociais diariamente. No entanto, quando nos referimos as crianças e os adolescentes, os especialistas em psicopedagogia e de saúde física e mental, recomendam aos pais e responsáveis, o tempo estimado em torno de 2 horas por dia. Mas, eles fazem uma ressalva sobre este período de tempo: nestas duas horas, não deve ser incluído as tarefas e as lições escolares. Noutras palavras, duas horas por dia. Gostaríamos de apresentar alguns comportamentos que a OMS orienta para serem observados no usuário de drogas, e que podem sinalizar para o desenvolvimento da dependência química. Mas, de forma proposital, iremos compará-los com algumas condutas também apresentadas por usuários de Redes Sociais[8]:
Usuários de Drogas Usuários
de Redes Sociais
1. Forte/incontrolável desejo de consumir a 1. Compulsão para usar e acessar as redes a droga (Fissura); sociais: vendo posts, vídeos e etc.;
2. Perda/dificuldade de controlar o início e quando 2. Perda da noção da hora e do tempo de seu uso; deve interromper o uso;
3. Utilização persistente, mesmo sabendo dos 3. Acesso rápido e intenso pela facilidade de riscos ou de sua nocividade; de estar em suas mãos, a qualquer hora/lugar;
4. Sua maior prioridade é fazer o uso da droga; 4. Sua maior prioridade é acessar as redes sociais;
5. Sente necessidade de
aumentar a dose 5. Aumenta
a intensidade dos acessos e a
para obter os efeitos desejados (Tolerância);
duração
de sua utilização (Tolerância);
6. Com a interrupção do uso
da SPA, tende a 6. Sem
seu celular ou impossibilitado de acessar as
apresentar a Síndrome de Abstinência[9]. Mídias Virtuais: Síndrome de Abstinência.
Os dados elencados à esquerda, foram extraídos do livro que aborda o tema Drogas, estando referenciado no rodapé deste artigo. Quanto aos dados do lado direito da página, da mesma forma, foram extraídos de artigos que abordam o tema: Dependência das Redes Sociais. Estando também citados no rodapé deste artigo. Tudo isso, para respaldar o que estamos escrevendo, mas, também, com o propósito maior, de que o leitor possa pesquisar e se aprofundar mais em conhecer acerca deste tema tão complexo, controvertido e que se apresenta de forma multifacetada em nossa sociedade. Deve ser ressaltado, que nem todo o usuário virtual (e de drogas), necessariamente irá apresentar os comportamentos e reações, da maneira como foi apresentado no decorrer de nossa abordagem. Segundo afirma o Psiquiatra da Infância e Adolescência, Daniel Spritzer, Coordenador dos Estudos do GEAT, “quando tais prazeres geram uma trama cognitiva (o processo mental de percepção) na qual se espera de forma muito intensa por recompensas (os efeitos desejados), após ter postado uma foto, vídeo ou um pensamento, está se falando de situações nas quais o uso pode estar se aproximando de um caráter alusivo de dependência”.
Spritzer acrescenta outra situação muito importante e tendenciosa a sinalizar para a possível dependência virtual, quando diz assim: “Quando a interação que se desenvolve nas redes sociais, se baseia demasiadamente na busca de um suporte emocional”. Esta pessoa pode estar vivendo um momento de grande fragilidade, sentindo a necessidade de ouvir (ou ler) mensagens de encorajamento e estímulos. Não conseguindo isso, ela pode ingressar num estado totalmente angustiante (e depressivo). As gratificações com as curtidas de suas postagens, é só um entre os inúmeros prazeres proporcionados pelas Redes Sociais. E, entre tantos outros, podemos citar para exemplo, o de poder mostrar para os outros, que fazemos parte dum grupo específico (notoriedade/ostentação). Como também, poder compartilhar suas atividades pessoais, social, estudantis, trabalhista, de lazer e entretenimento, entre tantos outros exemplos.
3. Isolamento Social: aumentou o uso abusivo
de drogas e os acessos as redes sociais?
Como diz um ditado muito antigo: para tudo na vida, sempre existe o lado bom e o lado ruim. Com a chegada do Coronavírus no Brasil e, parece-nos, que este vírus veio para ficar, tendo em vista que ninguém fala com certeza (ocultam/mentem) quando ele vai embora, ou seja, até quando iremos ficar em isolamento social? Dentro de nossas casas, assistindo o aumento do número de contágios e de mortes. Entramos no quinto mês, desde a sua chegada em nosso território e, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Ministério da Saúde Brasileiro, já temos 1.402.041 casos confirmados. E, 59.594 de óbitos. Sendo que nas últimas 24 horas, ocorreram 1.280 mortes pelo COVID-19 (Fonte: olhardigital.com.br, acesso 01/07/20).
Como dissemos no início, coisas boas também aconteceram. Durante este período de tempo, muitas empresas inovaram acerca de sua empregabilidade (funcionários passaram a trabalhar em home office) e em relação a sua produtividade (oferta/comercialização de sua produção através das redes sociais). Muitas pessoas que foram demitidas de suas empresas, começaram a investir em seu próprio negócio, principalmente nas áreas da gastronomia em geral (refeições e oferta de pratos finos, lanches, bolos, etc.). Entretanto, para aqueles que tiveram condições de manter-se em confinamento social e que estão cumprindo as recomendações dadas pelas autoridades governamentais e sanitárias, as coisas nem sempre correram bem. Quem já tinha o hábito de fazer o uso de bebida alcoólica diariamente, provavelmente deve ter aumentado o seu consumo. De acordo com essas recomendações, foram criadas rotinas para prevenção do contágio deste vírus: “E, no meio disso tudo, percebo nos grupos de mãe, algo recorrente: o consumo de bebida alcoólica como uma “atividade” dentro desta rotina exaustiva que temos enfrentado. E ele pode acabar entrando – mesmo sem perceber, seja no fim do expediente de home office, seja depois que as crianças dormirem, e você (finalmente), tem algumas horas para dedicar-se a você mesmo...” (Fonte: cisa.org.br, postado em 04/04/20).
Cremos, em concordância com o relato acima, de que muitas pessoas, enquanto durar este isolamento social, também chamado de “Quarentena”, poderão passar de meros usuários de substâncias químicas, para o quadro clinico da dependência (alcoólica/e outras drogas) propriamente dita: “Temos que reconhecer que o ano de 2020 está sendo um ano atípico e bastante desafiador para o mundo todo. A pandemia do novo Coronavírus (COVID-19) avança em praticamente todos os países do planeta (...), obrigando muitas empresas a adotarem o modelo home office e feito com que serviços considerados não essenciais fechassem temporariamente suas portas. Embora o cenário se mostre crítico, nunca a internet foi tão utilizada (grifamos). Muitos estão se reinventando digitalmente para suprir suas necessidades, sejam pessoais ou profissionais, o que tem provocado um aumento significativo nas interações nas redes sociais nesse período” (Fonte: pointoisp.com.br).
Também não temos dúvidas de que, neste mesmo período, pessoas que pouco acessavam a Internet e Redes Sociais (usuários ocasionais) podem ter tido um aumento considerável nesta conduta. E acrescentamos mais: até aqueles que nunca tiveram o interesse de comprar/ganhar um aparelho celular com vários aplicativos, podem (e devem) ter mudado de comportamento (minha Mãe, de 81 anos, é uma delas). Desta forma, as redes sociais passaram a ser suas verdadeiras e reais companhias. Portanto, leitores e amigos, como houve a necessidade (e ainda há) de nos mantermos confinados dentro de nossas casas, buscando adotar os cuidados recomendados para não contrairmos o COVID-19 e morrermos; mas não se enganem! Outras complicações podem surgir no decorrer da quarentena e, caso não se resolva logo esta situação, ainda poderemos sofrer muitas consequências.
[1] SILVA, Eduardo
Veronese da. Drogas: Conhecendo suas origens, legislação e seu poder para se
prevenir contra este mal. 2ª ed. São Paulo: Biblioteca24horas.com.br, 2012 (pode
adquirir pela: www.amazon.com).
[2] Metabolismo. Conjunto
de transformações num organismo vivo, pelas quais passam as substâncias que o
constituem: reações de síntese (anabolismo) e de desassimilação (catabolismo) que
liberam energia.
[3] Alcaloide. Substâncias
encontradas em várias plantas. Geralmente são empregadas para fins terapêuticos.
[4] Rabdomiólise. É
uma situação grave caracterizada pela destruição das fibras musculares, levando
à liberação dos componentes presentes no interior das células musculares para a
corrente sanguínea: o cálcio, sódio, potássio, mioglobina, creatinofosfoquinase,
entre outras.
[5] Fonte: https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/19141/experiencia-portuguesa-pode-melhorar-combate-ao-crack-no-brasil-dizem-especialistas
- Acesso em 26/06/20, às 13h52m.
[6] Pesquisa. Oficina
da Net.com.br, acesso em 30/06/20.
[7] Fonte: Portal da
espiritualidade ecumênica – Acesso em 29/06/20.
[8] SILVA,
Bernardo. A dependência das Redes Sociais (31/08/2019). Portal Oficina da Net. https://www.oficinadanet.com.br/midias_sociais/27436-a-dependencia-em-redes-sociais-e-seus-impacto
[9] Síndrome de Abstinência. Um conjunto característico de sinais/sintomas que ocorrem após a interrupção (ou pela diminuição) do consumo de uma droga, seja ela lícita ou ilícita. O quadro clínico de uma dada síndrome de abstinência varia de acordo com a droga consumida.
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