Radio do Bloguer do capitão.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

MANUSCRITO ENCONTRADO EM ACCRA


COELHO, Paulo. Rio de Janeiro:
 Editora Sextante, 2012.

Prefácio

            Em 1945, dois irmãos estando exaustos, procuravam um lugar para descansar, encontrando uma urna cheia de pergaminhos numa caverna na região de Hamra Dom, no Alto Egito. Ao invés de avisarem as autoridades locais como é exigido em lei, resolveram vende-los pouco a pouco para não serem pegos pelas autoridades.
            A mãe deles, temendo que sofressem represálias ou influência de “Energias Negativas”, resolveu queimar vários dos papiros recém-descobertos. Passado um ano, esses irmãos brigaram entre si, sendo atribuído o fato às tais “energias negativas”. Sendo assim, a mãe deles entregou os Manuscritos a um sacerdote que, aproveitou e vendeu um deles para o Museu de Copta do Cairo (Egito).
            E lá receberam o nome de Manuscritos de Nag Hammadi, em referência a cidade mais próxima das cavernas onde foram encontrados. Os outros pergaminhos começaram a aparecer no mercado negro. Pouco tempo depois da Revolução de 1952, a maior parte do material foi entregue ao Museu de Copta do Cairo e tornou-se patrimônio nacional.
            Um dos textos acabou aparecendo num antiquário Belga, sendo que foi adquirido pelo Instituto Carl Yung, em 1951. Com a morte do Psicanalista, o pergaminho passou a ser conhecido como “Códex de Yung”, retornando para o Museu do Cairo, onde estão reunidos atualmente cerca de mil páginas e fragmentos dos Manuscritos de Nag Hammadi. (p.11-12)
            Esses papiros são traduções gregas de escritos produzidos entre o final do primeiro século da Era Cristã e o ano de 180 d.C., e constituem um corpo de textos conhecidos como Evangelhos Apócrifos, já que não se encontram na Bíblia tal qual  a conhecemos hoje.
Por que razão?  No ano 170 d.C., um grupo de Bispos se reuniram para definir quais textos faziam parte do Novo Testamento. O critério utilizado foi muito simples: deveria ser incluído tudo aquilo que pudesse combater as heresias e divisões doutrinárias da época. Foram selecionados os atuais Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), as Cartas (Paulinas) e tudo o que tinha certa “coerência”, digamos, com a ideia central do que julgavam ser o Cristianismo. (p. 12-13). A referencia ao encontro dos Bispos e a lista dos livros aceitos estão no desconhecido Cânone Muratori. (acréscimo nosso)

“O Cânone Muratori, também conhecido por fragmento muratoriano ou fragmento de Muratori, é uma cópia da lista mais antiga que se conhece dos livros do Novo Testamento. Foi descoberta na Biblioteca Ambrosiana de Milão por Ludovico Antonio Muratori (1672 – 1750) e publicada em 1740. Na lista figuram os nomes dos livros que o autor desconhecido da lista considerava admissíveis, com alguns comentários. A lista está escrita em latim e encontra-se incompleta, daí ser chamada de fragmento. Apesar de ser consensual datar o manuscrito como sendo do século VII, ele é cópia de um texto mais antigo, datado como tendo sido escrito por volta do ano 170, já que nele é referido o Pastor de Hermas”. (Fonte: http://tradutor.babylon.com/portugues/Canon+de+muratori/, dia 05. Out. 15)

Os outros livros, como os encontrados em Nag Hammadi, ficaram de fora por apresentarem textos de mulheres (como o evangelho de Maria Madalena) ou por revelarem um Jesus consciente de sua missão divina, o que tornaria sua passagem pela morte menos sofrida e dolorosa. (p. 13)
            Em 1974, o arqueólogo inglês – Sir Walter Wilkinson, descobriu perto de Nag Hammadi, um outro manuscrito, dessa vez em três idiomas (língua): Árabe, Hebreu e Latim. Sabendo da lei o encaminhou para o Museu do Cairo. Tempos depois obteve a resposta de que havia aproximadamente 155 cópias dele circulando pelo mundo (inclusive três pertenciam ao Museu) e eram todas iguais. Revelaram ainda, que o pergaminho era relativamente recente, escrito provavelmente no ano de 1307 da Era Cristã. Não foi difícil traçar sua origem até a cidade de Accra (Acre), fora do território egípcio.
O Sir Wilkinson obteve autorização por escrito para levar sua cópia para a Inglaterra. Em 1982, eu conheci (Paulo Coelho) o filho dele em Porthmadog, no Pais de Gales, Reino Unido. Ele mencionou sobre o Manuscrito encontrado pelo seu pai, mas não demos muita ênfase ao assunto.
Tive a oportunidade de vê-lo pelo  menos duas outras vezes, quando estive no país para a promoção de meus livros. Em novembro de 2011, recebi uma cópia do texto a que ele tinha falado em nosso primeiro encontro. E passo agora a transcrevê-lo.
Para nossa família hoje é o dia 14 de julho de 1099. Para a família de Yakob, com quem brincava nas ruas da cidade de Jerusalém, estamos em 4859 – ele gosta de dizer que a religião judaica é mais antiga que a minha. Para Ibn al-Athir, o ano de 492 está prestes a terminar.

“Agora que estou no fim da vida, deixo para os que vierem depois de tudo aquilo que aprendi enquanto caminhava pela face da terra. Que façam bom uso”. (p.15)

O texto acima parece fazer uma referência ao Livro de Eclesiastes, escrito pelo sábio Salomão, quando estava com sua idade bastante avançada. Afirmando, em síntese, que “tudo que ocorre debaixo na terra é vaidade” (comentário nosso).
Há uma semana nossos comandantes se reuniram: as tropas francesas são infinitamente superiores e mais bem  equipadas que as nossas. A todos foi dada uma escolha: abandonar a cidade ou lutar até a morte. A maioria resolveu ficar. (p.17)
Os muçulmanos estão neste momento reunidos na mesquita de Al-Aqsa, os judeus escolheram o Mihrab Dawud para concentrar seus soldados, e os cristãos, dispersos em muitos bairros, ficaram encarregados da defesa do setor sul da cidade.
Pelo movimento das tropas inimigas, imaginamos que amanhã pela manhã eles irão atacar, derramando sangue em nome do papa, da “libertação” da cidade, dos “desejos divinos”. Esta tarde, no átrio onde há um milênio o governador Pôncio Pilatos entregou Jesus à multidão para que fosse crucificado, um grupo de homens e mulheres de todas as idades foi ao encontro do grego que aqui todos conhecemos por Copta. (fato narrado no Evangelho de Marcos 15:1-41)
O Copta é um tipo estranho que resolveu deixar sua cidade natal de Atenas, em busca de dinheiro e aventura. Terminou batendo às portas de nossa cidade e foi bem acolhido, abandonando a ideia de continuar sua viagem e resolveu instalar-se aqui. Conseguiu emprego numa sapataria igual a Ibn al-Athir.
Não se filiou a nenhuma prática religiosa e ninguém tentou convencê-lo do contrário. Para ele não estamos nem em 1099, nem em 4859 e, muito menos no final do ano de 492. Tudo o que Copta acredita é no momento presente e no que chama de Moira – o deus desconhecido, a Energia Divina, responsável por uma lei única que jamais pode ser transgredida ou o mundo desaparecerá.
Há muitos séculos, um homem foi julgado e condenado nesta praça, começou o grego. Na rua que segue pela direita, ele passou por um grupo de mulheres. Ao ver que choravam, disse: “Não chorem por mim, chorem por Jerusalém. A partir de amanhã o que era harmonia se transformará em discórdia. O que era alegria será substituído pelo luto. O que era paz dará lugar a uma guerra que se estenderá por um futuro tão distante que não conseguimos sequer sonhar com seu fim”. (p.19) Seriamos obrigados a ouvir mais um sermão sobre os invasores que chamavam a si mesmo “Cruzados”. (acréscimo nosso)

O termo cruzada não era conhecido no tempo histórico em que ocorreu. Na época eram usadas, entre outras, as expressões "peregrinação" e "guerra santa". O termo Cruzada surgiu porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo, distinguidos pela cruz aposta a suas roupas. As Cruzadas eram também uma peregrinação, uma forma de pagamento a alguma promessa, ou uma forma de pedir alguma graça, e era considerada uma penitência.
Chama-se Cruzada a qualquer um dos movimentos militares de inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e à cidade de Jerusalém com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão. Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina estava sob controle dos turcos muçulmanos. No médio oriente, as cruzadas foram chamadas de "invasões francas", já que os povos locais viam estes movimentos armados como invasões e porque a maioria dos cruzados vinha dos territórios do antigo Império Carolíngio e se autodenominavam francos.

O Copta saboreou um pouco a confusão que se instalou entre nós e resolveu explicar: Podem destruir a cidade, mas não podem acabar com tudo aquilo que ela nos ensinou. Por isso, é preciso que esse conhecimento não tenha o mesmo destino que nossas muralhas, casas e ruas. (acredito que possa fazer referência aos Evangelhos de Mateus 10:28 e Lucas 12:4-5)
Mas o que é conhecimento? Não é a verdade absoluta sobre a vida e a morte, mas aquilo que nos ajuda a viver e enfrentar os desafios da vida. Não é a erudição (o saber) dos livros, que serve apenas para alimentar discussões inúteis sobre o que aconteceu ou acontecerá, mas a sabedoria que reside no coração de homens e mulheres de boa vontade. (p.20)
O Copta disse: Eu sou um erudito e, embora tenha passado todos esses anos (...), classificando objetos (...) e discutindo política, não sei exatamente o que dizer. Mas neste momento peço à Energia Divina (parece se referir a Deus) que purifique meu coração. Vocês me farão perguntas e eu as responderei. Assim era feito na Grécia Antiga, levando o aprendizado aos mestres, quando seus discípulos lhes questionavam sobre algo em que nunca haviam pensado antes, mas que eram obrigados a responder.
E o que faremos com as respostas? Alguém perguntou. Copta respondeu: Alguns escreverão o que digo. Outros se lembrarão das palavras. Mas o importante é que hoje a noite vocês partam para os quatro cantos do mundo, espalhando o que ouviram. Assim a alma de Jerusalém estará preservada. (parece uma alusão a Comissão instituída por Jesus, no Evangelho de Lucas 10:1-24)
Alguém do povo disse: “Todos nós sabemos o que nos espera amanhã”. Disse outro homem: “Não seria melhor negociarmos a paz ou nos prepararmos para o combate?” Ele olhou para os religiosos que estavam ao seu lado e, em seguida, voltou-se para a multidão: - Ninguém sabe o que nos reserva o dia de amanhã, porque a cada dia basta o seu mal ou o seu bem. (referência ao Evangelho de Mateus 6:34)
Nosso legado não será dizer aqueles que herdarão a terra o que aconteceu na data de hoje; pois isto a história se encarregará de fazer. Falaremos, portanto, de nossa vida cotidiana, das dificuldades que fomos obrigados a enfrentar. (p. 21)

“Então meu vizinho Yacob pediu: Fale-nos sobre a derrota”. (p.24)

Pode uma folha, quando cai da arvore no inverno, sentir-se derrotada pelo frio? E a árvore diz para a folha: - “Este é o ciclo da vida. Embora pense que vai morrer, na verdade ainda continua em mim.(...). Sua seiva está na minha seiva, somos uma coisa só”. (Parece estar se referindo a passagem sobre a Videira Verdadeira, registrada no Evangelho de João 15:1-8).
O Copta continua: “Pode um jovem, quando é rejeitado por seu primeiro amor, afirmar que o amor não existe?” O jovem diz para si mesmo: “Encontrarei alguém capaz de entender o que sinto”. Não existe nem vitória nem derrota no ciclo da natureza: existe movimento. (p.25)
   A gazela come as ervas e é devorada pelo leão. Não se trata de quem é o mais forte, mas de como Deus nos mostra o ciclo da morte e da ressurreição. E neste ciclo não há vencedores nem perdedores: apenas etapas que devem ser cumpridas. Quando o coração do ser humano compreende isso, fica livre. E não se deixa enganar pelos momentos de glória. Ambos vão passar. (p.26)
O lutador (...), se mantiver a sua honra, pode perder a batalha, mas jamais será derrotado, porque sua alma estará intacta. E não culpará ninguém pelo que está acontecendo com ele. Perder uma batalha ou tudo o que pensamos possuir, nos traz momentos de tristeza. (...). Fazem um balanço de sua vida e descobrem que, apesar do terror que sentem, a fé continua incendiando sua alma e os empurrando para frente. (p.27)
E se a vitória não for desta vez, será na próxima. E se não for à próxima, será mais adiante. O pior de tudo não é cair (no caso do dependente químico, não é recair), mas ficar preso ao chão. Só é derrotado quem desiste. Todos os outros são vitoriosos. (se não me falha a memória, assim foi com Franklin Roosevelt. Não desistiu e tornou-se Presidente dos EUA)
Chegará o dia em que os momentos difíceis serão apenas histórias que contarão orgulhosos, para aqueles que quiserem escutar. Eles irão aprender três coisas importantes: 1ª – A ter paciência para esperar o momento certo de agir; 2ª – Terão sabedoria para não deixar a próxima oportunidade escapar;
3ª – Terão orgulho de suas cicatrizes.
“Descreva os derrotados, pediu um mercador, quando notou que o Copta havia acabado de falar”. (p.29)

            Os derrotados são aqueles que não fracassam. A derrota nos faz perder uma batalha ou uma guerra. O fracasso não nos deixa lutar. O fracasso não nos permite sonhar. Seu lema é: “Não deseje nada e nunca sofrerá”. O fracasso não tem um final, mas é uma escolha de vida.
            Só os derrotados conhecem o Amor. Porque é no reino do amor que travamos nossos primeiros combates – e geralmente perdemos. Existem pessoas que nunca foram derrotados. São aqueles que nunca lutaram. (p.31)
            Estas pessoas fecham os olhos às injustiças e ao sofrimento, sentem-se seguras porque não precisam lidar com os desafios diários daqueles que arriscam ir além dos próprios limites. Nunca escutaram um “Adeus”. Tampouco um “Eis-me de volta”. Abraça-me com o sabor de quem me tinha perdido e voltou a me encontrar. (me lembra a Parábola do Filho Pródigo, conforme se vê no Evangelho de Lucas 15:1-31)
            Ensinam a seus filhos: “Se alguém os agredir, não se sintam ofendidos nem se rebaixem procurando revidar o ataque”. Há outras coisas com que nos preocuparmos na vida. (...). E prometem: Amanhã será diferente”. E se o amanhã chegar e “Tudo der Errado”? Então eles não fazem nada. Ai dos que nunca foram vencidos! Tampouco serão vencedores nesta vida. (p.32)

“Conte-nos sobre a solidão, pediu uma jovem que estava prestes a se casar com o filho de um dos homens mais ricos da cidade e que agora era obrigada a fugir”. (p.35)

Sem a solidão, o amor não permanecerá muito tempo ao seu lado. Porque também o amor precisa de repouso, de modo que possa viajar pelos céus e manifestar-se de outras formas. Sem a solidão, nenhuma planta ou animal sobrevive, nenhuma terra é produtiva por muito tempo.
A solidão não é ausência de amor, mas o seu complemento. A solidão não é ausência de companhia, mas o momento em que nossa alma tem a liberdade de conversar conosco e nos ajudar a decidir sobre nossas vidas. (uma autoanálise).
E abençoados os que dizem: “Eu não tenho coragem”. Porque esses entendem que a culpa não é dos outros. E cedo ou tarde encontrarão a fé necessária para enfrentar a solidão e seus mistérios.
Na solidão, eles descobrirão o amor que poderia chegar despercebido. Na solidão, entenderão e respeitarão o amor que partiu.  Na solidão, eles saberão decidir se vale a pena pedir para que retorne, ou se deverão permitir que ambos sigam um novo caminho. Na solidão, aprenderão que dizer “Não” nem sempre é falta de generosidade e quer dizer “Sim” nem sempre é uma virtude. (p.39)
A Energia Divina nos escuta quando falamos com os outros, mas também nos escuta quando estamos quietos, em silencio, aceitando a solidão como uma benção. É preciso lembrar que nos momentos mais importantes da vida sempre estaremos sozinhos. Assim como o amor é a condição divina, a solidão é a condição humana. E ambos convivem sem conflitos para aqueles que entendem o milagre da vida. (acredito que o assunto possa fazer referência ao Amor Mútuo, Vigilância e Pureza, registrado em Romanos 13:8-10)

“E um rapaz que tinha escolhido para partir rasgou sus vestes e disse: Minha cidade julga que não sirvo para o combate. Sou inútil”. (p.41)

            Alguns dizem: Não consigo despertar o amor dos outros. Outros escrevem em seus diários. Meu gênio não é reconhecido, meu talento não é apreciado, meus sonhos não são respeitados. Outros passam o dia batendo em portas, explicando: Estou desempregado.
            Existem aqueles que acordam todas as manhãs com o coração oprimido. Dizem para si mesmo: Sou inútil. Vivo porque preciso sobreviver, mas ninguém, absolutamente ninguém, está interessado no que estou fazendo. (São pessimistas e querem ostentação)
            O poeta escreve algumas linhas e as atira no lixo, pensando: “Isto não interessa a ninguém”.
            O empregado chega ao trabalho e tudo o que faz é repetir a tarefa do dia anterior. Acredita que um dia, se for despedido, ninguém notará a sua falta.
            A moça costura seu vestido colocando um enorme esforço em cada detalhe e, quando chega à festa, entende o que os olhares estão dizendo: “não está mais bonita nem mais feia, aquele é mais um entre milhões de vestidos em todos os lugares do mundo onde nesse exato momento estão acontecendo festas semelhantes. Na verdade, não era bonito nem feio, era apenas mais um vestido.
            Os mais jovens se dão conta de que o mundo está cheio de problemas gigantescos, que sonham resolver, mas ninguém se interessa pela opinião deles. Eles escutam: “Vocês são muito jovens, não sabem a realidade do mundo. Ouçam os mais velhos e saberão melhor o que fazer.
            Os mais velhos ganharam experiência e maturidade, aprenderam duramente com as adversidades da vida, mas, quando chega a hora de ensinar, ninguém está interessado. “O mundo mudou, escutam”. É preciso acompanhar o progresso e escutar os mais jovens. (p. 45)
            Na desesperada intenção de dar sentido a vida, muitos começam a buscar a religião, porque uma luta em nome da fé sempre parece justificar algo grande, que pode transformar o mundo. “Estamos trabalhando para Deus”, dizem a si mesmos.
            E se transforma em devotos. Em seguida se transformam em evangelistas. E por fim se transforma em fanáticos. Eles não entendem que a religião foi feita para compartilhar os mistérios e a adoração – jamais para oprimir e converter os outros. A maior manifestação do milagre de Deus é a vida. (parece fazer referencia ao Evangelho de João 6:32-35 - p.45).
            Nada neste mundo é inútil diante dos olhos de Deus. Nem uma folha cai da árvore, nem um fio de cabelo que cai da cabeça, nem um inseto que é morto porque estava incomodando. Tudo tem uma razão de ser. (p.46)
            Não tente ser útil. Tente ser você: isso basta, e faz toda a diferença. Ás vezes é por participar de um grande combate que ajudará a mudar o caminho da história. Você jamais poderá saber exatamente quando foi útil aos outros. Uma vida nunca é inútil. Cada alma que desceu à  terra tem uma razão para estar aqui.
            Se preocupe em viver tudo aquilo que sempre desejou viver. Evite criticar os outros e concentre-se no que sempre sonhou. Deus, que tudo vê, sabe que o exemplo que você dá O está ajudando a melhorar o mundo. E a cada dia, o cobrirá de mais bênçãos. (p.47)
            E quando a Indesejada das Gentes chegar, você vai escutá-la dizer: É justo perguntar: “Meu Pai, meu Pai, por que me desamparaste? Você entendeu que as pequenas coisas são responsáveis pelas grandes mudanças. E por causa disso vou leva-lo ao Paraíso. (p.48)

E uma mulher chamada Almira, que era costureira, disse: Eu podia ter partido antes da chegada dos cruzados e hoje estaria trabalhando no Egito. Mas sempre tive medo de mudar. (p.49)
           
            Copta disse: Temos medo de mudar porque julgamos que, depois de muito esforço e sacrifício, conhecemos nosso mundo. Mesmo que ele não seja melhor, mesmo que não estejamos inteiramente satisfeitos, pelo menos não teremos surpresas. Não erraremos. Quando necessário, faremos pequenas mudanças para que tudo continue igual.
            É muito bom sonhar que há sempre espaço para ir mais longe e que faremos isso algum dia. O sonho nos alegra. Sonhar não implica riscos. Perigoso é querer transformar os sonhos em realidade. Mas chega o dia em que o destino bate à nossa porta.
Pode ser a batida suave do Anjo da Sorte ou a batida inconfundível da Indesejada das Gentes. Ambos dizem: “Mude agora e não na próxima semana, nem no próximo mês, nem no próximo ano. Também escutamos o Anjo da Sorte, mas para esse perguntamos: “Aonde quer me levar?” (p.53)
Uma pergunta persiste nos primeiros passos do caminho: Será que minha decisão de mudar fez com que outros sofressem por mim? Mas quem ama quer ver o bem-amado feliz. Nos momentos em que o sofrimento ou o arrependimento se instalam em suas tendas e eles não conseguem dormir direito, dizem para si mesmos: “Amanhã, e apenas amanhã darei mais um passo. Posso sempre voltar, porque conheço o caminho. Portanto, mais um passo não fará muita diferença”. (p.54-55)
Dificuldade é o nome de uma antiga ferramenta, criada apenas para nos ajudar a definir quem somos. As tradições religiosas ensinam que a fé e a transformação são a única maneira de nos aproximarmos de Deus. A nos mostra que em nenhum momento estamos sozinhos. A Transformação nos faz amar o mistério.
Não temeremos o que acontecerá amanhã, porque ontem tivemos quem cuidasse de nós. E esta mesma Presença continuará ao nosso lado. Ou nos dará força para enfrenta-lo com dignidade. (Salmo 118:6 – p.57)
A Indesejada das Gentes chega para os que não mudam e para os que mudam. Mas estes pelo menos podem dizer: “Minha vida foi interessante, não desperdicei minha benção”. E para os que acham que a aventura é perigosa, que tentem a rotina: ela mata antes da hora.

E alguém pediu: No momento em que tudo parece terrível, precisamos animar nosso espírito. Portanto, conte-nos sobre a beleza.

O que importa não é a beleza exterior, mas a interior. Não há nada mais falso do que essa frase. Se assim fosse, por que as flores fariam tanto esforço para chamar a atenção das abelhas? E por quer as gotas da chuva se transformariam em um arco-íris quando encontram o sol?
Porque a natureza anseia pela beleza. E só fica satisfeita quando ela pode ser exaltada. A beleza exterior é parte visível da beleza interior. E ela se manifesta pela luz que sai dos olhos de cada um. Os olhos são o espelho da alma e refletem tudo o que parece estar oculto. Além da capacidade de brilhar, os olhos tem outra qualidade: Funcionam como espelho. (penso que pode ser aplicado o Evangelho de Mateus 6:22)
A beleza está em tudo o que foi criado. Mais, ás vezes, negamos nossa própria beleza porque os outros não podem, ou não querem, reconhece-la. Em vez de aceitar quem somos, procuramos imitar o que vemos ao nosso redor. (p. 62)
A falsa sabedoria parece dizer: não se preocupe com a beleza, porque ele é superficial e efêmera. Mas, vale ressaltar que “o belo não reside na igualdade, mas na diferença”. Pobres daqueles que pensam: “Eu não sou belo, porque o Amor não bateu à minha porta”. Na verdade, o amor bateu, mas essas pessoas não abriram porque não estavam preparadas para recebê-lo. (p.64)
Elas tentavam se enfeitar, quando na verdade já estavam prontas. Tentavam imitar os outros, quando o amor buscava algo original. Procuravam refletir o que vinha de fora e esqueceram a Luz mais forte que vinha de dentro.

E disse um rapaz que devia partir aquela noite: Nunca soube em que direção seguir. (p.67)

Assim como o sol, a vida espalha sua luz em todas as direções.   E, quando nascemos, queremos tudo ao mesmo tempo, sem controlar a energia que nos é dada. E o grande segredo que a Energia Divina revelou ao mundo foi o fogo. E chega o momento em que precisamos concentrar esse fogo interno para que nossa vida tenha um sentido. (p.69)
Alguns irão perguntar: Mas que sentido é esse? Finalmente existem aqueles que compreendem que a pergunta é uma armadilha: Ela não tem resposta. Tentem lembrar da infância, procurem ali o que lhes dava entusiasmo e, apesar do conselho dos mais velhos, dediquem sua vida a isso. Porque no Entusiasmo está o Fogo Sagrado.
Só o Amor e a vontade revelam o objetivo e o rumo que devem seguir. A Vontade é cristalina, mas o Amor é puro e os passos são firmes. O Caminho é escolhido. Nisso reside a beleza daquele que segue adiante tendo como único guia o Entusiasmo e respeitando o mistério da vida: “o seu caminho é belo e o seu fardo é suave”. (parece ter usado parte da Palavra de Jesus, registrado no Evangelho de Mateus 11:30)
Não esqueça a pergunta, quem a responde ou entende que a ação é a única maneira de enfrenta-la vai encontrar os mesmos obstáculos e alegrar-se com as mesmas coisas. Mas apenas aquele que aceita com humildade e coragem o impenetrável plano de Deus sabe que está no caminho certo. (p.720

E uma mulher que já havia entrado em anos e nunca encontrara um homem para casar-se comentou: O amor jamais quis conversar comigo. (p.73)

Para escutarmos as palavras do Amor, é preciso deixar que ele se aproxime. Mas, quando ele chega perto, tememos o que ele vai dizer: Porque o Amor é livre e sua voz não é governada por nossa vontade ou pelo nosso esforço. Mas o verdadeiro amor é aquele que seduz e jamais se deixa seduzir. Nós nos acostumamos a pensar que aquilo que damos é igual ao que recebemos. Mas as pessoas que amam esperando ser amadas de volta perdem seu tempo. O amor é um ato de fé, e não uma troca. (p.75)
Amamos porque precisamos amar. Sem isso, a vida perde todo o sentido e o sol deixa de brilhar. O maior objetivo da vida é amar. O resto é apenas silêncio. Precisamos amar, mesmo que isso nos leve a terra onde os lagos são feitos de lágrimas. Nós amamos porque o Amor nos liberta. E, assim, passamos a dizer palavras que não tínhamos coragem nem de sussurrar para nós mesmos. Nosso coração está aberto para o amor e o entregamos sem medo, porque já não temos mais nada a perder. (p.76-77)
- O amor é como água que se transforma em nuvem: - é levada aos céus e pode ver tudo de longe, consciente de que um dia terá que voltar a terra.
- O amor é como nuvem que se transforma em chuva: - é atraída pela terra e fertiliza o campo.
- O amor é apenas uma palavra, até o momento em que decidimos deixar que nos possua com toda a sua força.
- O amor é apenas uma palavra, até que alguém chega para lhe dar um sentido. Não desista, geralmente é a última chave no chaveiro que abre a porta. (p.78-79).

Mas um jovem discordou: - Suas palavras são belas, mas na verdade nunca temos muitas escolhas. A vida e a nossa comunidade já se encarregaram de planejar nosso destino. Um velho completou dizendo: - Eu não posso mais voltar atrás e recuperar os momentos perdidos.
 
O que vou dizer agora pode não ter nenhuma utilidade na véspera de uma invasão. Mesmo assim, anotem e guardem minhas palavras para que um dia todos possam saber como vivíamos em Jerusalém.
            O Copta refletiu e continuou: Ninguém pode voltar atrás, mas todos podem seguir adiante. E amanhã, quando o sol nascer, basta apenas repetir para si mesmo: “Eu vou olhar esse dia como se fosse o primeiro de minha vida”. (p.83)
            Passarei por um mendigo que me pedir uma esmola. Talvez eu dê, talvez eu ache que ele irá gastar em bebida e siga adiante.
            Passarei por alguém que está tentando destruir uma ponte. Talvez eu tente impedi-lo, talvez eu entenda que ele faz isso porque não tem ninguém que o espera do outro lado e dessa forma procura espantar a própria solidão.
            Quando eu chegar a um vilarejo que já conheço, entrarei por um caminho diferente. Estarei sorrindo e os habitantes do lugar comentarão entre si: “Está louco, porque a guerra e a destruição tornaram a terra estéril”. Mas eu continuarei sorrindo, porque me agrada a ideia de que pensem que estou louco. Meu sorriso é minha maneira de dizer: “Podem acabar com meu corpo, mas não podem destruir minha alma” (´podemos aplicar aqui os Evangelhos de Mateus 10:28 e Lucas 12:4-5).
            Que tudo o que minha mão tocar, meus olhos virem e minha boca provar seja diferente, embora continue tudo igual. Assim, todas essas coisas deixarão de ser natureza-morta e passarão a me explicar por que estão comigo a tanto tempo, e manifestarão o milagre do reencontro com emoções que já tinham sido desgastadas pela rotina. (p.85-86).
            O tempo e a vida me deram muitas explicações lógicas para tudo, mas minha alma se alimenta de mistérios. Eu preciso do mistério, de ver no trovão a voz de um deus enraivecido, embora muitos aqui considerem isso uma heresia.
            - Pela primeira vez sorrirei sem culpa, porque a alegria não é um pecado. – Pela primeira vez evitarei tudo o que me faz sofrer, porque o sofrimento não é uma virtude.
            - Prestarei atenção na letra da música que o menestrel[1] estiver cantando na rua, embora as pessoas não o estejam escutando, porque tem a alma sufocada pelo medo. A música diz: “O amor reina, mas ninguém sabe onde está o seu trono, para conhecer o lugar secreto, primeiro tenho que submeter-me a ele”. (p. 87).
            Que eu seja capaz de me aceitar como sou. E se eu estiver sozinho na cama, chegarei até a janela, olharei o céu e terei certeza de que a solidão é uma mentira: - o Universo me acompanha.

     E a esposa de um comerciante pediu: Fale-nos sobre sexo. (p.89)

Homens e mulheres murmuram entre si porque transformaram um gesto sagrado em um ato pecaminoso. Este é o mundo em que vivemos. E roubar o presente da sua realidade é perigoso.
            E o que é sexo? Se apenas os corpos se unem, não existe sexo, mas apenas prazer. O sexo vai muito além do prazer. Nele caminham juntos o relaxamento e a tensão, a dor e a alegria, a timidez e a coragem de ir além dos limites.
E como colocar em sintonia tantos estados opostos? - Só existe uma maneira. E é por meio da Entrega. Porque o ato de entrega significa: “Eu confio em você”. Esqueçamos o que nos ensinaram que é nobre dar e humilhante receber. (podemos aplicar o Livro de Atos 20:35)
Para muitas pessoas a generosidade consiste em apenas dar, mas receber é também um ato de amor. Permitir que o outro nos faça feliz e isso também nos deixará feliz. Quando somos capazes de dar e receber com a mesma intensidade, o corpo vai ficando tenso como a corda de um arqueiro, mas a mente vai relaxando, como a flecha que se prepara para ser disparada. O nosso cérebro já não governa o processo: O instinto é o nosso único guia. Tudo o que é espiritual se manifesta de forma visível, tudo o que é visível se transforma em energia espiritual. Tudo é permitido se tudo for aceito. (p.91-92)
Procurem ver o sexo como sendo uma Oferenda. Um ritual de transformação. Como em todo ritual o êxtase está presente e glorifica o final. Entretanto, não é o único objetivo. “Dê ao sagrado o sentido do sagrado”.
Abra sem temor a caixa secreta de suas fantasias. E os verdadeiros amantes poderão entrar no jardim da beleza, sem temor de serem julgados: “Não serão mais dois corpos e duas almas que se encontraram, mas uma única fonte de onde jorra a verdadeira água da vida” (parece se referir aos livros de Gênesis 2:24; Mateus 19:5 e Marcos 10:7-8).

E um dos combatentes que se preparava para a morte no dia seguinte, mas mesmo assim decidira vir até o átrio para escutar o que o Copta tinha a dizer, comentou: “Fomos separados quando queríamos estar unidos. As cidades na rota dos invasores terminaram sofrendo as consequências de algo que não escolheram. O que os sobreviventes devem dizer aos seus filhos?” (p.95)

Nascemos sós e morreremos sós. Mas, enquanto estamos neste planeta, precisamos aceitar e glorificar nosso ato de fé em outras pessoas. A comunidade é a vida: dela vem nossa capacidade de sobrevivência.
            Respeite aqueles que cresceram e aprenderam juntos com você. Respeite aqueles que ensinaram. Conte suas histórias e ensine, assim a comunidade pode continuar existindo e as tradições permanecerão as mesmas. Quem não compartilha com os outros as alegrias e os momentos de desânimo jamais conhecerá suas próprias qualidades e seus efeitos.
            Só é amado e respeitado aquele que se ama e se respeita. Jamais procure agradar a todo mundo, ou irá perder o respeito de todos.
Não digo: Busque alguém que pense igual a você. Digo: Busque quem pensa diferente e quem você jamais conseguirá convencer de que é você que está certo.         A amizade é uma das muitas faces do Amor, e o Amor não se deixa levar por opiniões: Ele aceita incondicionalmente o companheiro e cada um cresce a sua maneira. A amizade é um ato de fé em outra pessoa, e não um ato de renúncia. Não procure ser amado a qualquer preço, porque o amor não tem preço. (p.97-98)
            1 - Evite a todo custo aqueles que só estão ao seu lado nos momentos de tristeza, com palavras de consolo. Porque esses na verdade estão dizendo a si mesmos: Eu sou mais forte. Eu sou mais sábio. Eu não teria dado esse passo.
            - Fique junto daqueles que estão ao seu lado nas horas de alegria. Porque nessas almas não existe o ciúme ou a inveja, apenas felicidade por vê-lo feliz.
            2 - Evite os que se julgam mais fortes. Porque na verdade estão escondendo a própria fragilidade.
            - Junte-se aos que não temem ser vulneráveis. Porque esses tem confiança em si mesmos, sabem que todos tropeçam em algum momento e não interpretam isso como um sinal de fraqueza, mas de humanidade.
            3 - Evite aqueles que falam muito antes de agir, aqueles que jamais deram um passo sem ter certeza de que seriam respeitados por isso.
            - Junte-se a quem mais lhe disse quando você errou: Eu teria feito de outra maneira.
            4 - Evite os que procuram amigos para manter uma condição social ou para abrir portas de que nunca conseguiram chegar perto.
            - Juntem-se aqueles cuja única porta importante que estão procurando abrir é a porta do seu coração.
A amizade tem as qualidades do rio: contorna rochas, adapta-se aos vales e montanhas, ás vezes transforma-se em lago até que a depressão esteja cheia e possa continuar seu caminho. Porque assim como o rio não esquece que seu objetivo é o mar, a amizade não esquece que sua única razão de existir é demonstrar amor pelos demais. (p.100)
5 - Evite aqueles que dizem: “Acabou, preciso parar aqui”. Esses não entendem que nem a vida nem a morte tem um fim; são apenas etapas da eternidade.
6 - Evite os que se reúnem para discutir com seriedade e pretensão as decisões que a comunidade precisa tomar. Esses entendem de política, brilham diante dos outros e procuram demonstrar sabedoria. Mas não entendem que é impossível controlar a queda de um só fio de cabelo. Embora a disciplina seja importante, ela deve deixar suas portas e janelas abertas a intuição e ao inesperado. (p.101)
- Junte-se aos que deixam que a luz do Amor se manifeste sem restrições, sem julgamentos, sem recompensas, sem jamais ser bloqueada pelo medo de ser incompreendida. Não importa como esteja se sentindo, todas as manhãs levante-se e prepare-se para emitir sua luz.

E uma moça que raramente saia de casa, porque julgava que ninguém se interessava por ela, disse: Ensine-nos a elegância. A praça inteira murmurou: como fazer uma pergunta dessas na véspera da invasão dos cruzados, quando sangue deverá correr por todas as ruas da cidade? Mas o Copta sorriu, e o seu sorriso não era de escárnio, mas de respeito pela coragem da moça. (p.105)

A elegância normalmente é confundida com superficialidade e aparência. Nada mais errado do que isso. Algumas palavras são elegantes, outras conseguem ferir e destruir, mas todas são escritas com as mesmas letras.
A elegância não é uma qualidade exterior, mas uma parte da alma que é visível aos outros. Ela não está nas roupas que usamos, mas sim na maneira como as usamos. Ela não está na maneira como empunhamos a espada, mas no diálogo que pode evitar uma guerra. A elegância é atingida quando todo o supérfluo é descartado e descobrimos a simplicidade e a concentração: quanto mais simples e mais sóbria a postura, mais bela será. (p.105)
E o que é Simplicidade? É o encontro com os verdadeiros valores da vida. As coisas mais simples da vida são as mais extraordinárias. Deixe que elas se manifestem. Olhai os lírios do campo: não tecem nem fiam. E, no entanto, nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como eles. (esse registro está no Evangelho de Mateus 6:28-29)
Quanto mais o coração se aproxima da simplicidade, mais ele é capaz de amar sem restrições e sem medo. E quanto mais ele ama sem medo, mais capaz é de demonstrar elegância em cada pequeno gesto. A elegância não é uma questão de gosto. Cada cultura tem uma maneira de ver a beleza, que muitas vezes é completamente diferente da nossa. Mas em todas as tribos, em todos os povos, há valores que demonstram a elegância: hospitalidade, respeito, delicadeza os gestos. (p.106)
1 – Enquanto a arrogância atrai o ódio e a inveja, a elegância desperta o respeito e o Amor;
2 – A arrogância nos faz humilhar o semelhante. A elegância nos ensina a caminhar pela luz;
3 – A arrogância complica as palavras, porque acha que a inteligência é apenas para alguns eleitos. A elegância transforma pensamentos complexos em algo que todos possam entender.
Todo homem caminha com elegância e transmite luz a sua volta quando está percorrendo o caminho que escolheu.  Seus passos são firmes, seu olhar é seguro, seu movimento é belo. A elegância é aceita e admirada porque não faz nenhum esforço para isso.
Só o Amor dá forma ao que antes era impossível de ser sequer sonhado. E só a Elegância permite que essa forma possa se manifestar. (p.107)

E um homem que sempre acordava cedo para levar seus rebanhos aos pastos em torno da cidade comentou: O grego estudou para dizer coisas belas, enquanto nós temos que sustentar nossas famílias. (p.109)

 Palavras belas são ditas por poetas. E um dia alguém escreverá:  -  Eu dormi e achei que a vida era apenas alegria. - Acordei e descobri que a vida era Dever. -  Cumpri meu Dever e descobri que a vida era Alegria.
O trabalho é a manifestação do amor que une os seres humanos. Há dois tipos de trabalho: O primeiro é aquele feito apenas por obrigação e para ganhar o pão de cada dia. Neste caso, as pessoas estão apenas vendendo seu tempo, sem entender que jamais poderão compra-lo de volta.
O segundo é aquele que as pessoas também aceitam para ganhar o pão de cada dia, mas no qual procuram preencher cada minuto com dedicação e amor aos demais. A esse segundo damos o nome de Oferenda.
Podemos ter duas pessoas cozinhando a mesma comida e usando exatamente os mesmos ingredientes, mas uma delas colocou Amor no que fazia, enquanto que a outra procurava apenas alimentar-se. O resultado será completamente diferente, embora o amor não possa ser visto nem colocado em uma balança.
Quando a Energia Divina colocou o Universo em movimento, todos os astros e estrelas, todos os mares e florestas, todos os vales e montanhas receberam a oportunidade de participar da Criação. E o mesmo aconteceu com todos os homens. (p.112)
Alguns disseram: Não queremos. Outros disseram: “Com o suor de meu rosto irrigarei o campo, e essa será minha maneira de louvar o Criador”. (parece se referir ao pecado cometido por Adão/Eva, registrado no livro de Gênesis 3:19)
Mas veio o demônio e sussurrou com sua voz de mel: (..). E todos os que acreditaram no demônio disseram: “A vida não tem mais sentido além de repetir a mesma tarefa”.
A oferenda é a oração sem palavras. E, como toda oração exige disciplina, mas a disciplina não é uma escravidão, e sim uma escolha. Não adianta dizer: A sorte foi injusta comigo. A sorte não é injusta com ninguém. Todos nós estamos livres para amar ou detestar o que fazemos. O lavrador pode plantar, mas não pode dizer ao sol: Brilhe mais forte esta manhã. Não pode dizer as nuvens: Façam chover hoje a tarde. Ele precisa fazer o que é necessário, arar o campo, colocar as sementes e aprender o dom da paciência por meio da contemplação. (p.114)

E o mesmo homem que havia perguntado sobre o trabalho insistiu: E por que certas pessoas são mais bem sucedidas que outras? (p.115)

O sucesso não vem do conhecimento alheio. Ele é o resultado daquilo que você plantou com amor. Você conseguiu que seu trabalho fosse respeitado, porque ele não foi realizado apenas para sobreviver, mas para demonstrar seu amor pelos demais. (p.117-118)
            Não se deixou paralisar pelas derrotas que estão presentes na vida de todos aqueles que arriscam algo. Não ficou pensando no que perdeu quando teve uma ideia que não funcionou. E quando entendeu que era necessário pedir ajuda, não se sentiu humilhado. Quando soube que alguém precisava de ajuda, mostrou tudo o que tinha aprendido, sem achar que estava revelando segredos, ou sendo usado pelos outros. Porque para quem bate, a porta se abre. Quem pede sabe que receberá. Quem consola sabe que será consolado. (essa frase parece referir-se ao Evangelho de Mateus 7:7-8)
            As pessoas que procuram apenas o sucesso quase nunca o encontram, porque ele não é um fim em si mesmo, mas uma consequência. Nem todo mundo que tem uma pilha de ouro do tamanho de uma colina é rico. Rico é aquele que está em contato com a energia do Amor a cada segundo de sua existência. Pois esta é a manifestação do sucesso: Enriquecer a vida, e não abarrotar seus cofres com ouro. (p.119)
            Porque um homem pode dizer: Empregarei meu dinheiro para semear, colher, plantar e encher meu celeiro com o fruto da colheita, para que não me venha faltar nada. Mas a Indesejada das Gentes aparece, e todo o seu esforço terá sido em vão. (parece com a Parábola do homem que confia em suas riquezas, registrada no Evangelho de Lucas 12:16-21). E o que é o sucesso? É poder ir para cama cada noite com a alma em paz. (p.121)

E Almira, que ainda acreditava que uma força de anjos e arcanjos desceria dos céus para proteger a cidade sagrada, pediu: Fale-nos sobre o milagre. (p.123)

          O que é um milagre? Podemos defini-lo de várias maneiras: 1. Algo que vai contra as leis da natureza. 2. Intercessão em momentos de crise profunda. 3. Curas e visões. 4. Encontros impossíveis. 5. Intervenção no momento de enfrentar a Indesejada das Gentes.
         O milagre vai além das definições acima, embora todas sejam verdadeiras. O milagre é aquilo que de repente enche nossos corações de Amor. Quando isso acontece, sentimos uma profunda reverencia pela graça que Deus nos concedeu. Portanto, Senhor, o milagre nosso de cada dia nos dai hoje. (trocadilho sobre a Oração do Pai Nosso, registrado no Evangelho de Mateus 6:9 - p.125)
          Que possamos seguir adiante apesar de todo o medo, e aceitar o inexplicável apesar de nossa necessidade de tudo explicar e conhecer. E que, cada vez que virmos o humilde ser exaltado e o arrogante ser humilhado, possamos também ver aí o milagre. (Evangelho de Mateus 23:12)
          Que saibamos distinguir entre as lutas que são nossas, as lutas para as quais estamos sendo empurrados contra a nossa vontade e as lutas que não podemos evitar porque o destino as colocou em nosso caminho. (p127).
          Que nossos olhos se abram e possamos ver que nunca vivemos dois dias iguais. Cada um trouxe um milagre diferente, que fez com que continuássemos respirando, sonhando e caminhando debaixo do sol. E que, quando abrirmos a boca, possamos não falar apenas a língua dos homens, mas também a língua dos anjos. (Livro de 1 Coríntios 13:1)
       
       Porque assim operam os milagres: 1 - Eles rasgam os véus e mudam tudo, mas não nos deixam enxergar o que existe além dos véus. 2 – Eles nos fazem escapar ilesos do vale das sombras e da morte, mas não dizem por que caminho nos conduziram até as montanhas de alegria e luz. (Salmo 23:4). 3 – Eles abrem portas que estavam fechadas com cadeados impossíveis de romper, mas não usam nenhuma chave. 4 – Eles cercam os sóis com planetas para que não se sintam isolados no Universo e impedem que os planetas se aproximem demais para que não sejam devorados pelos sóis. 5 – Eles transformam o trigo em pão através do trabalho, a uma em vinho através da paciência e a morte em vida através da ressurreição dos sonhos.
       Portanto, Senhor, dai-nos hoje o milagre nosso de cada dia. E perdoai-nos se não somos capazes de reconhece-los sempre. (p.129)

E um homem que escutava os cantos de guerra vindos do lado de fora das muralhas e que temia por si e por sua família pediu: Fale-nos sobre ansiedade. (p.131)

       Não existe nada de errado com a ansiedade. Embora não possamos controlar o tempo de Deus, faz parte da condição humana desejar receber o mais rápido possível aquilo que se espera. Ou afastar imediatamente aquilo que causa pavor.
      - Como dizer a um coração apaixonado que fique tranquilo, contemplando os milagres da Criação em silencio, livre das tensões, dos medos e das perguntas sem resposta? A ansiedade faz parte do Amor, e não deve ser culpada por isso.
       - Como dizer a alguém que investiu sua vida e seus bens em um sonho, e não consegue ver os resultados, que não fique preocupado? Embora o agricultou não possa acelerar a marcha das estações para  recolher os frutos que plantou,ele espera impaciente a chegada do outono e da colheita.
      - Como pedir a um guerreiro que não fique ansioso antes de um combate? Portanto, a ansiedade nasce com o homem. Por isso, precisamos aprender a conviver com ela, assim como o homem aprendeu a conviver com as tempestades. (p.134)
      Entretanto, para aqueles que não conseguem aprender essa convivência, a vida está fadada a ser um pesadelo. E o que é pior: para tentar afastar a ansiedade, procuram coisas que os deixam mais ansiosos ainda. A mãe, enquanto espera o filho retornar à casa, começa a imaginar o pior. “A minha amada é minha e eu sou dela”. (p.134)
     Embora a ansiedade seja parte da vida, jamais deixe que ela passe a controlar seus movimentos. (...): “Não me preocupo com o dia de amanhã, porque Deus já está lá, me esperando”. A minha amada é minha, e eu sou dela.  (livro de Cantares 2:16)
     A grande sabedoria da vida é entender que podemos ser os senhores daquelas coisas que pretendiam nos escravizar. (p.138)

E um jovem pediu: Fale-nos do que o futuro nos reserva. (p.139)

     Todos sabemos o que nos espera no futuro: a Indesejadas das Gentes. Que pode chegar a qualquer hora, sem aviso, e dizer: Vamos, você precisa me acompanhar. Nesse momento, a nossa maior alegria ou a nossa maior tristeza, será olhar o passado.
     Nossa alma é governada por quatro forças invisíveis: amor, morte, poder e tempo. É necessário amar, porque somos amados por Deus. É necessário ter consciência da Indesejada das Gentes, para entender bem a vida. É necessário lutar para crescer, mas sem cair na armadilha do poder que conseguimos com isso, porque sabemos que ele não vale nada. (p.141)
     É necessário aceitar que nossa alma embora seja eterna, está neste momento presa a teia do tempo, com suas oportunidades e limitações. O amor não precisa ser entendido. Precisa apenas ser demonstrado. O maior poder que Deus nos deu foi o poder de nossas decisões.
    Mas, se o homem entende que é digno daquilo pelo qual tanto lutou, então ele se dá conta de que na verdade não chegou sozinho. E precisa respeitar a Mão que o conduziu. Só entende a própria dignidade aquele que foi capaz de honrar cada um de seus passos.

E um daqueles que sabia escrever e procurava freneticamente anotar cada palavra que o Copta dizia parou para descansar e viu que estava em uma espécie de transe. A praça, os rostos cansados, os religiosos que escutavam em silêncio, tudo aquilo parecia parte de um sonho. E, querendo demonstrar a si mesmo que aquilo que estava vivendo era real, pediu: Fale-nos da lealdade. (p.147)

   A lealdade pode ser comparada a uma loja de riquíssimos vasos de porcelana, cuja chave o Amor nos confiou. Cada um desses vasos é belo porque é diferente. Da mesma maneira que são diferentes os homens, as gotas da chuva, ou as rochas que dormem nas montanhas.
   A beleza de uma loja de vasos de porcelana está no fato de que cada peça é única. Mas, quando colocadas lado a lado, mostram harmonia e refletem juntas o suor do oleiro e a arte do pintor. E assim são os vasos, assim são os homens e assim são as mulheres. E assim são as tribos, assim são os navios e assim são as árvores e estrelas (p.150-151).
   
E um homem que tinha a fronte marcada pelo tempo e o corpo cheio de cicatrizes que contavam as histórias dos combates de que participou pediu: Fale-nos das armas que precisamos usar quando tudo estiver perdido. (p.153)
         
     Quando existe lealdade, as armas são inúteis. A lealdade é baseada no respeito, e o respeito é fruto do Amor. O Amor que afugenta os demônios da imaginação que desconfiam de tudo e de todos, e que devolve a pureza dos olhos.
     - Um sábio, quando deseja enfraquecer alguém, primeiro faz com que a pessoa acredite que é forte. Assim, ela desafiará alguém ainda mais forte, caindo na armadilha e sendo destruída.
     - Um sábio, quando deseja diminuir alguém, primeiro faz com que a pessoa suba na montanha mais alta do mundo e julgue que tem muito poder. Assim, ela acreditará           que pode ir ainda mais alto e despencará no abismo.
     - Um sábio, quando deseja retira o que o outro possui, tudo o que faz é cobri-lo de presentes. Assim, o outro terá que cuidar do inútil e perderá tudo o mais, porque estará ocupado guardando aquilo que julga possuir. (p.155)
     - Um sábio, quando não consegue saber o que o adversário planeja, finge um ataque. Todas as  pessoas do mundo estão sempre preparadas para se defender, porque vivem com medo e com a paranoia de que os outros não gostam dela. Então, sabendo exatamente que tipo de confronto deve esperar, o sábio ataca ou recua.
      A mais destruidora das armas não é a lança ou o canhão, que podem ferir o corpo e destruir a muralha. A mais terrível de todas as armas é a palavra – que arruína uma vida sem deixar vestígios de sangue e cujas feridas jamais cicatrizam. (p.158)

E um dos jovens da audiência, vendo que o sol já estava quase escondido no horizonte e que em breve o encontro com o Copta chegaria ao fim, perguntou: E quanto aos inimigos? (p.159)
                       
     O combate que enfrentaremos esta noite ou amanhã pela manhã, a história se encarregará de contar como foi. Quero, portanto, falar de outros inimigos: aqueles que se encontram ao nosso lado.
      - Todos nós teremos que enfrentar muitos adversários na vida, porém o mais difícil de derrotar será aquele que tememos.    
       - Todos nós encontraremos rivais em qualquer coisa que fizermos, porém os mais perigosos serão aqueles que acreditamos ser nossos amigos.
     - Todos sofreremos quando formos atacados e feridos em nossa dignidade, mas a dor maior será provocada por aqueles que considerávamos um exemplo para nossa vida. Procure se afastar de alguém que tenta te agradar o tempo todo.
    Entretanto, se alguém aparecer apenas para provoca-lo, limpe a poeira dos seus sapatos e siga adiante. O inimigo não é aquele que está diante de você com a espada na mão, mas o que está ao seu lado com o punhal nas costas. (p.163-164)

A noite havia descido por completo. O Copta se virou para os religiosos que tudo viam e escutavam e perguntou se tinham algo a dizer. Os três acenaram positivamente com a cabeça. (p.167)

     E o rabino disse: Um grande religioso quando via que os judeus estavam sendo maltratados, ia para a floresta, acendia um fogo sagrado e fazia uma reza especial, pedindo a Deus que protegesse seu povo. E Deus enviava o milagre.
    Depois, seu Discípulo ia para o mesmo lugar da floresta e dizia: Mestre do Universo, eu não sei como acender o fogo sagrado, mas ainda sei a reza especial. Escutai-me, por favor! O milagre acontecia.
    Mais uma geração passou e outro rabino, quando via as perseguições ao seu povo, ia para a floresta, dizendo: Eu não sei acender o fogo sagrado, nem conheço a prece especial, mas ainda me lembro do lugar. Ajudai-nos, Senhor! E o Senhor ajudava.
   Cinquenta anos se passaram, o rabino de Israel, em sua cadeira de rodas, falava com Deus: Não sei acender o fogo sagrado, não conheço a oração e não consigo sequer achar o lugar da floresta. Tudo o que posso fazer é contar esta história, esperando que Deus me escute. E mais uma vez, o milagre acontecia. Vão portanto, e contem a história desta tarde.
    A noite agora cobria a cidade de Jerusalém e o Copta pediu a todos que voltassem às suas casas e anotassem tudo o que tinham ouvido, e aqueles que não sabiam escrever que procurassem se lembrar de suas palavras. Mas antes que a multidão partisse disse ainda:
    Não pensem que estou lhes entregando um tratado de paz. Na verdade, a partir de agora espalharemos pelo mundo uma espada invisível, para que possamos lutar contra os demônios da intolerância e da incompreensão. Passem adiante a palavra ou o manuscrito, sempre escolhendo pessoas dignas de empunhar esta espada.
     Se alguma aldeia ou cidade não o quiser receber, não insistam. Voltem pelo mesmo caminho de onde vieram e sacudam a poeira do chão que grudou em seus sapatos. Porque esses serão condenados a repetir os mesmos erros por muitas gerações. (faz referência ao livro de Mateus 10:11-14)





[1] Menestrel. Poeta ou músico que fazia versos e os cantava nos Palácios. 2. Trovador.

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