COELHO, Paulo. Rio de Janeiro:
Editora Sextante,
2012.
Prefácio
Em
1945, dois irmãos estando exaustos, procuravam um lugar para descansar,
encontrando uma urna cheia de pergaminhos numa caverna na região de Hamra Dom, no Alto Egito. Ao invés de
avisarem as autoridades locais como é exigido em lei, resolveram vende-los
pouco a pouco para não serem pegos pelas autoridades.
A
mãe deles, temendo que sofressem represálias ou influência de “Energias
Negativas”, resolveu queimar vários dos papiros recém-descobertos. Passado um
ano, esses irmãos brigaram entre si, sendo atribuído o fato às tais “energias
negativas”. Sendo assim, a mãe deles entregou os Manuscritos a um sacerdote
que, aproveitou e vendeu um deles para o Museu de Copta do Cairo (Egito).
E
lá receberam o nome de Manuscritos de Nag Hammadi, em referência a cidade mais próxima
das cavernas onde foram encontrados. Os outros pergaminhos começaram a aparecer
no mercado negro. Pouco tempo depois da Revolução de 1952, a maior parte do
material foi entregue ao Museu de Copta do Cairo e tornou-se patrimônio
nacional.
Um
dos textos acabou aparecendo num antiquário Belga, sendo que foi adquirido pelo
Instituto Carl Yung, em 1951. Com a morte do Psicanalista, o pergaminho passou
a ser conhecido como “Códex de Yung”,
retornando para o Museu do Cairo, onde estão reunidos atualmente cerca de mil
páginas e fragmentos dos Manuscritos de Nag
Hammadi. (p.11-12)
Esses
papiros são traduções gregas de escritos produzidos entre o final do primeiro
século da Era Cristã e o ano de 180 d.C., e constituem um corpo de textos
conhecidos como Evangelhos Apócrifos, já que não se encontram na Bíblia tal
qual a conhecemos hoje.
Por
que razão? No ano 170 d.C., um grupo de Bispos
se reuniram para definir quais textos faziam parte do Novo Testamento. O
critério utilizado foi muito simples: deveria ser incluído tudo aquilo que
pudesse combater as heresias e divisões doutrinárias da época. Foram
selecionados os atuais Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), as Cartas
(Paulinas) e tudo o que tinha certa “coerência”, digamos, com a ideia central
do que julgavam ser o Cristianismo. (p. 12-13). A referencia ao encontro dos
Bispos e a lista dos livros aceitos estão no desconhecido Cânone Muratori. (acréscimo nosso)
“O Cânone Muratori, também conhecido por fragmento
muratoriano ou fragmento de Muratori, é uma cópia da lista mais antiga que se
conhece dos livros do Novo Testamento. Foi descoberta na Biblioteca Ambrosiana
de Milão por Ludovico Antonio Muratori (1672 – 1750) e publicada em 1740. Na
lista figuram os nomes dos livros que o autor desconhecido da lista considerava
admissíveis, com alguns comentários. A lista está escrita em latim e
encontra-se incompleta, daí ser chamada de fragmento. Apesar de ser consensual
datar o manuscrito como sendo do século VII, ele é cópia de um texto mais
antigo, datado como tendo sido escrito por volta do ano 170, já que nele é
referido o Pastor de Hermas”. (Fonte: http://tradutor.babylon.com/portugues/Canon+de+muratori/,
dia 05. Out. 15)
Os outros livros, como os
encontrados em Nag Hammadi, ficaram de fora por apresentarem textos de mulheres
(como o evangelho de Maria Madalena) ou por revelarem um Jesus consciente de
sua missão divina, o que tornaria sua passagem pela morte menos sofrida e
dolorosa. (p. 13)
Em
1974, o arqueólogo inglês – Sir Walter Wilkinson, descobriu perto de Nag
Hammadi, um outro manuscrito, dessa vez em três idiomas (língua): Árabe, Hebreu
e Latim. Sabendo da lei o encaminhou para o Museu do Cairo. Tempos depois
obteve a resposta de que havia aproximadamente 155 cópias dele circulando pelo
mundo (inclusive três pertenciam ao Museu) e eram todas iguais. Revelaram
ainda, que o pergaminho era relativamente recente, escrito provavelmente no ano
de 1307 da Era Cristã. Não foi difícil traçar sua origem até a cidade de Accra
(Acre), fora do território egípcio.
O Sir Wilkinson obteve autorização
por escrito para levar sua cópia para a Inglaterra. Em 1982, eu conheci (Paulo
Coelho) o filho dele em Porthmadog,
no Pais de Gales, Reino Unido. Ele mencionou sobre o Manuscrito encontrado pelo
seu pai, mas não demos muita ênfase ao assunto.
Tive a oportunidade de vê-lo
pelo menos duas outras vezes, quando
estive no país para a promoção de meus livros. Em novembro de 2011, recebi uma
cópia do texto a que ele tinha falado em nosso primeiro encontro. E passo agora
a transcrevê-lo.
Para nossa família hoje é o dia 14
de julho de 1099. Para a família de Yakob, com quem brincava nas ruas da cidade
de Jerusalém, estamos em 4859 – ele gosta de dizer que a religião judaica é
mais antiga que a minha. Para Ibn
al-Athir, o ano de 492 está prestes a terminar.
“Agora que
estou no fim da vida, deixo para os que vierem depois de tudo aquilo que
aprendi enquanto caminhava pela face da terra. Que façam bom uso”. (p.15)
O texto acima parece fazer uma
referência ao Livro de Eclesiastes, escrito pelo sábio Salomão, quando estava
com sua idade bastante avançada. Afirmando, em síntese, que “tudo que ocorre
debaixo na terra é vaidade” (comentário
nosso).
Há uma semana nossos comandantes se
reuniram: as tropas francesas são infinitamente superiores e mais bem equipadas que as nossas. A todos foi dada uma
escolha: abandonar a cidade ou lutar até a morte. A maioria resolveu ficar.
(p.17)
Os muçulmanos estão neste momento reunidos na mesquita de Al-Aqsa, os judeus escolheram o Mihrab
Dawud para concentrar seus soldados, e os cristãos, dispersos em muitos bairros, ficaram encarregados da
defesa do setor sul da cidade.
Pelo movimento das tropas inimigas,
imaginamos que amanhã pela manhã eles irão atacar, derramando sangue em nome do
papa, da “libertação” da cidade, dos
“desejos divinos”. Esta tarde, no
átrio onde há um milênio o governador Pôncio
Pilatos entregou Jesus à multidão para que fosse crucificado, um grupo de
homens e mulheres de todas as idades foi ao encontro do grego que aqui todos
conhecemos por Copta. (fato narrado no Evangelho de Marcos 15:1-41)
O Copta é um tipo estranho que
resolveu deixar sua cidade natal de Atenas, em busca de dinheiro e aventura.
Terminou batendo às portas de nossa cidade e foi bem acolhido, abandonando a
ideia de continuar sua viagem e resolveu instalar-se aqui. Conseguiu emprego
numa sapataria igual a Ibn al-Athir.
Não se filiou a nenhuma prática
religiosa e ninguém tentou convencê-lo do contrário. Para ele não estamos nem
em 1099, nem em 4859 e, muito menos no final do ano de 492. Tudo o que Copta
acredita é no momento presente e no que chama de Moira – o deus desconhecido, a
Energia Divina, responsável por uma lei única que jamais pode ser transgredida
ou o mundo desaparecerá.
Há muitos séculos, um homem foi
julgado e condenado nesta praça, começou o grego. Na rua que segue pela direita,
ele passou por um grupo de mulheres. Ao ver que choravam, disse: “Não chorem
por mim, chorem por Jerusalém. A partir de amanhã o que era harmonia se
transformará em discórdia. O que era alegria será substituído pelo luto. O que
era paz dará lugar a uma guerra que se estenderá por um futuro tão distante que
não conseguimos sequer sonhar com seu fim”. (p.19) Seriamos obrigados a ouvir
mais um sermão sobre os invasores que chamavam a si mesmo “Cruzados”. (acréscimo nosso)
O termo cruzada não era conhecido no tempo histórico em que
ocorreu. Na época eram usadas, entre outras, as expressões "peregrinação" e "guerra santa". O termo Cruzada
surgiu porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo, distinguidos
pela cruz aposta a suas roupas. As Cruzadas eram também uma peregrinação, uma
forma de pagamento a alguma promessa, ou uma forma de pedir alguma graça, e era
considerada uma penitência.
Chama-se Cruzada a qualquer um dos movimentos militares de
inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa
(nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e à cidade de Jerusalém
com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão.
Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina
estava sob controle dos turcos muçulmanos. No médio oriente, as cruzadas foram
chamadas de "invasões francas", já que os povos locais viam estes
movimentos armados como invasões e porque a maioria dos cruzados vinha dos
territórios do antigo Império Carolíngio e se autodenominavam francos.
O Copta saboreou um pouco a
confusão que se instalou entre nós e resolveu explicar: Podem destruir a
cidade, mas não podem acabar com tudo aquilo que ela nos ensinou. Por isso, é
preciso que esse conhecimento não tenha o mesmo destino que nossas muralhas,
casas e ruas. (acredito
que possa fazer referência aos Evangelhos de Mateus 10:28 e Lucas 12:4-5)
Mas
o que é conhecimento? Não
é a verdade absoluta sobre a vida e a morte, mas aquilo que nos ajuda a viver e
enfrentar os desafios da vida. Não é a erudição
(o saber) dos livros, que serve apenas para alimentar discussões inúteis sobre
o que aconteceu ou acontecerá, mas a sabedoria que reside no coração de homens
e mulheres de boa vontade. (p.20)
O Copta disse: Eu sou um erudito e,
embora tenha passado todos esses anos (...), classificando objetos (...) e
discutindo política, não sei exatamente o que dizer. Mas neste momento peço à
Energia Divina (parece se referir a Deus) que purifique meu coração. Vocês me
farão perguntas e eu as responderei. Assim era feito na Grécia Antiga, levando
o aprendizado aos mestres, quando seus discípulos lhes questionavam sobre algo
em que nunca haviam pensado antes, mas que eram obrigados a responder.
E o que faremos com as respostas?
Alguém perguntou. Copta respondeu: Alguns escreverão o que digo. Outros se
lembrarão das palavras. Mas o importante é que hoje a noite vocês partam para
os quatro cantos do mundo, espalhando o que ouviram. Assim a alma de Jerusalém
estará preservada. (parece uma alusão a Comissão instituída por Jesus, no
Evangelho de Lucas 10:1-24)
Alguém
do povo disse:
“Todos nós sabemos o que nos espera amanhã”. Disse outro homem: “Não seria
melhor negociarmos a paz ou nos prepararmos para o combate?” Ele olhou para os
religiosos que estavam ao seu lado e, em seguida, voltou-se para a multidão: -
Ninguém sabe o que nos reserva o dia de amanhã, porque a cada dia basta o seu
mal ou o seu bem. (referência ao Evangelho de Mateus 6:34)
Nosso legado não será dizer aqueles
que herdarão a terra o que aconteceu na data de hoje; pois isto a história se
encarregará de fazer. Falaremos, portanto, de nossa vida cotidiana, das
dificuldades que fomos obrigados a enfrentar. (p. 21)
“Então meu
vizinho Yacob pediu: Fale-nos sobre a derrota”. (p.24)
Pode uma folha, quando cai da
arvore no inverno, sentir-se derrotada pelo frio? E a árvore diz para a folha:
- “Este é o ciclo da vida. Embora pense que vai morrer, na verdade ainda
continua em mim.(...). Sua seiva está na minha seiva, somos uma coisa só”. (Parece estar se
referindo a passagem sobre a Videira Verdadeira, registrada no Evangelho de
João 15:1-8).
O Copta continua: “Pode um jovem,
quando é rejeitado por seu primeiro amor, afirmar que o amor não existe?” O
jovem diz para si mesmo: “Encontrarei alguém capaz de entender o que sinto”.
Não existe nem vitória nem derrota no ciclo da natureza: existe movimento.
(p.25)
A gazela come as ervas e é
devorada pelo leão. Não se trata de quem é o mais forte, mas de como Deus nos
mostra o ciclo da morte e da ressurreição. E neste ciclo não há vencedores nem
perdedores: apenas etapas que devem ser cumpridas. Quando o coração do ser
humano compreende isso, fica livre. E não se deixa enganar pelos momentos de
glória. Ambos vão passar. (p.26)
O lutador (...), se mantiver a sua
honra, pode perder a batalha, mas jamais será derrotado, porque sua alma estará
intacta. E não culpará ninguém pelo que está acontecendo com ele. Perder uma
batalha ou tudo o que pensamos possuir, nos traz momentos de tristeza. (...).
Fazem um balanço de sua vida e descobrem que, apesar do terror que sentem, a fé
continua incendiando sua alma e os empurrando para frente. (p.27)
E se a vitória não for desta vez,
será na próxima. E se não for à próxima, será mais adiante. O pior de tudo não
é cair (no caso
do dependente químico, não é recair), mas ficar preso ao chão. Só é
derrotado quem desiste. Todos os outros são vitoriosos. (se não me falha a memória, assim foi com
Franklin Roosevelt. Não desistiu e tornou-se Presidente dos EUA)
Chegará o dia em que os momentos
difíceis serão apenas histórias que contarão orgulhosos, para aqueles que
quiserem escutar. Eles irão aprender três coisas importantes: 1ª – A ter
paciência para esperar o momento certo de agir; 2ª – Terão sabedoria para não deixar
a próxima oportunidade escapar;
3ª – Terão orgulho de suas
cicatrizes.
“Descreva os
derrotados, pediu um mercador, quando notou que o Copta havia acabado de
falar”. (p.29)
Os
derrotados são aqueles que não fracassam. A derrota nos faz perder uma batalha
ou uma guerra. O fracasso não nos deixa lutar. O fracasso não nos permite
sonhar. Seu lema é: “Não deseje nada e nunca sofrerá”. O fracasso não tem um
final, mas é uma escolha de vida.
Só
os derrotados conhecem o Amor. Porque é no reino do amor que travamos nossos
primeiros combates – e geralmente perdemos. Existem pessoas que nunca foram
derrotados. São aqueles que nunca lutaram. (p.31)
Estas
pessoas fecham os olhos às injustiças e ao sofrimento, sentem-se seguras porque
não precisam lidar com os desafios diários daqueles que arriscam ir além dos
próprios limites. Nunca escutaram um “Adeus”. Tampouco um “Eis-me de volta”.
Abraça-me com o sabor de quem me tinha perdido e voltou a me encontrar. (me lembra a
Parábola do Filho Pródigo, conforme se vê no Evangelho de Lucas 15:1-31)
Ensinam
a seus filhos: “Se alguém os agredir, não se sintam ofendidos nem se rebaixem
procurando revidar o ataque”. Há outras coisas com que nos preocuparmos na
vida. (...). E prometem: Amanhã será diferente”. E se o amanhã chegar e “Tudo
der Errado”? Então eles não fazem nada. Ai dos que nunca foram vencidos!
Tampouco serão vencedores nesta vida. (p.32)
“Conte-nos
sobre a solidão, pediu uma jovem que estava prestes a se casar com o filho de
um dos homens mais ricos da cidade e que agora era obrigada a fugir”. (p.35)
Sem
a solidão, o amor não permanecerá muito tempo ao seu lado. Porque também o amor
precisa de repouso, de modo que possa viajar pelos céus e manifestar-se de
outras formas. Sem a solidão, nenhuma planta ou animal sobrevive, nenhuma terra
é produtiva por muito tempo.
A
solidão não é ausência de amor, mas o seu complemento. A solidão não é ausência
de companhia, mas o momento em que nossa alma tem a liberdade de conversar
conosco e nos ajudar a decidir sobre nossas vidas. (uma autoanálise).
E
abençoados os que dizem: “Eu não tenho coragem”. Porque esses entendem que a
culpa não é dos outros. E cedo ou tarde encontrarão a fé necessária para
enfrentar a solidão e seus mistérios.
Na
solidão, eles descobrirão o amor que poderia chegar despercebido. Na solidão,
entenderão e respeitarão o amor que partiu. Na solidão, eles saberão decidir se vale a
pena pedir para que retorne, ou se deverão permitir que ambos sigam um novo
caminho. Na solidão, aprenderão que dizer “Não” nem sempre é falta de
generosidade e quer dizer “Sim” nem sempre é uma virtude. (p.39)
A
Energia Divina nos escuta quando falamos com os outros, mas também nos escuta
quando estamos quietos, em silencio, aceitando a solidão como uma benção. É
preciso lembrar que nos momentos mais importantes da vida sempre estaremos
sozinhos. Assim como o amor é a condição divina, a solidão é a condição humana.
E ambos convivem sem conflitos para aqueles que entendem o milagre da vida. (acredito que o
assunto possa fazer referência ao Amor Mútuo, Vigilância e Pureza, registrado
em Romanos 13:8-10)
“E um rapaz
que tinha escolhido para partir rasgou sus vestes e disse: Minha cidade julga
que não sirvo para o combate. Sou inútil”.
(p.41)
Alguns dizem: Não consigo despertar o amor
dos outros. Outros escrevem em seus
diários. Meu gênio não é reconhecido, meu talento não é apreciado, meus sonhos
não são respeitados. Outros passam o
dia batendo em portas, explicando: Estou desempregado.
Existem
aqueles que acordam todas as manhãs com o coração oprimido. Dizem para si
mesmo: Sou inútil. Vivo porque preciso sobreviver, mas ninguém, absolutamente
ninguém, está interessado no que estou fazendo. (São pessimistas e querem
ostentação)
O
poeta escreve algumas linhas e as
atira no lixo, pensando: “Isto não interessa a ninguém”.
O
empregado chega ao trabalho e tudo o
que faz é repetir a tarefa do dia anterior. Acredita que um dia, se for
despedido, ninguém notará a sua falta.
A
moça costura seu vestido colocando
um enorme esforço em cada detalhe e, quando chega à festa, entende o que os
olhares estão dizendo: “não está mais bonita nem mais feia, aquele é mais um
entre milhões de vestidos em todos os lugares do mundo onde nesse exato momento
estão acontecendo festas semelhantes. Na verdade, não era bonito nem feio, era
apenas mais um vestido.
Os
mais jovens se dão conta de que o
mundo está cheio de problemas gigantescos, que sonham resolver, mas ninguém se
interessa pela opinião deles. Eles escutam: “Vocês são muito jovens, não sabem
a realidade do mundo. Ouçam os mais velhos e saberão melhor o que fazer.
Os
mais velhos ganharam experiência e
maturidade, aprenderam duramente com as adversidades da vida, mas, quando chega
a hora de ensinar, ninguém está interessado. “O mundo mudou, escutam”. É
preciso acompanhar o progresso e escutar os mais jovens. (p. 45)
Na
desesperada intenção de dar sentido a vida, muitos começam a buscar a religião,
porque uma luta em nome da fé sempre parece justificar algo grande, que pode
transformar o mundo. “Estamos trabalhando para Deus”, dizem a si mesmos.
E
se transforma em devotos. Em seguida se transformam em evangelistas. E por fim
se transforma em fanáticos. Eles não entendem que a religião foi feita para
compartilhar os mistérios e a adoração – jamais para oprimir e converter os
outros. A maior manifestação do milagre de Deus é a vida. (parece fazer referencia ao Evangelho de João 6:32-35
- p.45).
Nada
neste mundo é inútil diante dos olhos de Deus. Nem uma folha cai da árvore, nem
um fio de cabelo que cai da cabeça, nem um inseto que é morto porque estava
incomodando. Tudo tem uma razão de ser. (p.46)
Não
tente ser útil. Tente ser você: isso basta, e faz toda a diferença. Ás vezes é
por participar de um grande combate que ajudará a mudar o caminho da história.
Você jamais poderá saber exatamente quando foi útil aos outros. Uma vida nunca
é inútil. Cada alma que desceu à terra
tem uma razão para estar aqui.
Se
preocupe em viver tudo aquilo que sempre desejou viver. Evite criticar os
outros e concentre-se no que sempre sonhou. Deus, que tudo vê, sabe que o
exemplo que você dá O está ajudando a melhorar o mundo. E a cada dia, o cobrirá
de mais bênçãos. (p.47)
E
quando a Indesejada
das Gentes chegar, você vai escutá-la dizer: É justo perguntar: “Meu
Pai, meu Pai, por que me desamparaste? Você entendeu que as pequenas coisas são
responsáveis pelas grandes mudanças. E por causa disso vou leva-lo ao Paraíso.
(p.48)
E uma mulher
chamada Almira, que era costureira, disse: Eu podia ter partido antes da
chegada dos cruzados e hoje estaria trabalhando no Egito. Mas sempre tive medo
de mudar. (p.49)
Copta
disse: Temos medo de mudar porque julgamos que, depois de muito esforço e
sacrifício, conhecemos nosso mundo. Mesmo que ele não seja melhor, mesmo que
não estejamos inteiramente satisfeitos, pelo menos não teremos surpresas. Não
erraremos. Quando necessário, faremos pequenas mudanças para que tudo continue
igual.
É
muito bom sonhar que há sempre espaço para ir mais longe e que faremos isso
algum dia. O sonho nos alegra. Sonhar não implica riscos. Perigoso é querer
transformar os sonhos em realidade. Mas chega o dia em que o destino bate à
nossa porta.
Pode
ser a batida suave do Anjo da Sorte ou a batida inconfundível da Indesejada das
Gentes. Ambos dizem: “Mude agora e não na próxima semana, nem no próximo mês,
nem no próximo ano. Também escutamos o Anjo da Sorte, mas para esse
perguntamos: “Aonde quer me levar?” (p.53)
Uma
pergunta persiste nos primeiros passos do caminho: Será que minha decisão de
mudar fez com que outros sofressem por mim? Mas quem ama quer ver o bem-amado
feliz. Nos momentos em que o sofrimento ou o arrependimento se instalam em suas
tendas e eles não conseguem dormir direito, dizem para si mesmos: “Amanhã, e
apenas amanhã darei mais um passo. Posso sempre voltar, porque conheço o
caminho. Portanto, mais um passo não fará muita diferença”. (p.54-55)
Dificuldade
é o nome de uma antiga ferramenta, criada apenas para nos ajudar a definir quem
somos. As tradições religiosas ensinam que a fé e a transformação são a única
maneira de nos aproximarmos de Deus. A Fé
nos mostra que em nenhum momento estamos sozinhos. A Transformação nos faz amar o mistério.
Não
temeremos o que acontecerá amanhã, porque ontem tivemos quem cuidasse de nós. E
esta mesma Presença continuará ao nosso lado. Ou nos dará força para
enfrenta-lo com dignidade. (Salmo 118:6 – p.57)
A
Indesejada das Gentes chega para os que não mudam e para os que mudam. Mas
estes pelo menos podem dizer: “Minha vida foi interessante, não desperdicei minha
benção”. E para os que acham que a aventura é perigosa, que tentem a rotina:
ela mata antes da hora.
E alguém
pediu: No momento em que tudo parece terrível, precisamos animar nosso
espírito. Portanto, conte-nos sobre a beleza.
O
que importa não é a beleza exterior, mas a interior. Não há nada mais falso do
que essa frase. Se assim fosse, por que as flores fariam tanto esforço para
chamar a atenção das abelhas? E por quer as gotas da chuva se transformariam em
um arco-íris quando encontram o sol?
Porque
a natureza anseia pela beleza. E só fica satisfeita quando ela pode ser
exaltada. A beleza exterior é parte visível da beleza interior. E ela se
manifesta pela luz que sai dos olhos de cada um. Os olhos são o espelho da alma
e refletem tudo o que parece estar oculto. Além da capacidade de brilhar, os
olhos tem outra qualidade: Funcionam como espelho. (penso que pode ser aplicado o Evangelho de
Mateus 6:22)
A
beleza está em tudo o que foi criado. Mais, ás vezes, negamos nossa própria
beleza porque os outros não podem, ou não querem, reconhece-la. Em vez de
aceitar quem somos, procuramos imitar o que vemos ao nosso redor. (p. 62)
A
falsa sabedoria parece dizer: não se preocupe com a beleza, porque ele é
superficial e efêmera. Mas, vale ressaltar que “o belo não reside na igualdade,
mas na diferença”. Pobres daqueles que pensam: “Eu não sou belo, porque o Amor
não bateu à minha porta”. Na verdade, o amor bateu, mas essas pessoas não
abriram porque não estavam preparadas para recebê-lo. (p.64)
Elas
tentavam se enfeitar, quando na verdade já estavam prontas. Tentavam imitar os
outros, quando o amor buscava algo original. Procuravam refletir o que vinha de
fora e esqueceram a Luz mais forte que vinha de dentro.
E disse um
rapaz que devia partir aquela noite: Nunca soube em que direção seguir. (p.67)
Assim
como o sol, a vida espalha sua luz em todas as direções. E, quando nascemos, queremos tudo ao mesmo tempo, sem controlar a
energia que nos é dada. E o grande segredo que a Energia Divina revelou ao
mundo foi o fogo. E chega o momento em que precisamos concentrar esse fogo
interno para que nossa vida tenha um sentido. (p.69)
Alguns
irão perguntar: Mas que sentido é esse? Finalmente existem aqueles que
compreendem que a pergunta é uma armadilha: Ela não tem resposta. Tentem
lembrar da infância, procurem ali o que lhes dava entusiasmo e, apesar do
conselho dos mais velhos, dediquem sua vida a isso. Porque no Entusiasmo está o
Fogo Sagrado.
Só
o Amor e a vontade revelam o objetivo e o rumo que devem seguir. A Vontade é cristalina, mas o Amor é puro e os passos são firmes. O Caminho é escolhido. Nisso reside a
beleza daquele que segue adiante tendo como único guia o Entusiasmo e
respeitando o mistério da vida: “o seu caminho é belo e o seu fardo é suave”. (parece ter usado
parte da Palavra de Jesus, registrado no Evangelho de Mateus 11:30)
Não
esqueça a pergunta, quem a responde ou entende que a ação é a única maneira de
enfrenta-la vai encontrar os mesmos obstáculos e alegrar-se com as mesmas
coisas. Mas apenas aquele que aceita com humildade e coragem o impenetrável
plano de Deus sabe que está no caminho certo. (p.720
E uma mulher
que já havia entrado em anos e nunca encontrara um homem para casar-se
comentou: O amor jamais quis conversar comigo. (p.73)
Para escutarmos as palavras do
Amor, é preciso deixar que ele se aproxime. Mas, quando ele chega perto,
tememos o que ele vai dizer: Porque o Amor é livre e sua voz não é governada
por nossa vontade ou pelo nosso esforço. Mas o verdadeiro amor é aquele que
seduz e jamais se deixa seduzir. Nós nos acostumamos a pensar que aquilo que
damos é igual ao que recebemos. Mas as pessoas que amam esperando ser amadas de
volta perdem seu tempo. O amor é um ato de fé, e não uma troca. (p.75)
Amamos porque precisamos amar. Sem
isso, a vida perde todo o sentido e o sol deixa de brilhar. O maior objetivo da
vida é amar. O resto é apenas silêncio. Precisamos amar, mesmo que isso nos
leve a terra onde os lagos são feitos de lágrimas. Nós amamos porque o Amor nos
liberta. E, assim, passamos a dizer palavras que não tínhamos coragem nem de
sussurrar para nós mesmos. Nosso coração está aberto para o amor e o entregamos
sem medo, porque já não temos mais nada a perder. (p.76-77)
- O amor é como água que se
transforma em nuvem: - é levada aos céus e pode ver tudo de longe, consciente
de que um dia terá que voltar a terra.
- O amor é como nuvem que se
transforma em chuva: - é atraída pela terra e fertiliza o campo.
- O amor é apenas uma palavra, até
o momento em que decidimos deixar que nos possua com toda a sua força.
- O amor é apenas uma palavra, até
que alguém chega para lhe dar um sentido. Não desista, geralmente é a última
chave no chaveiro que abre a porta. (p.78-79).
Mas um jovem
discordou: - Suas palavras são belas, mas na verdade nunca temos muitas
escolhas. A vida e a nossa comunidade já se encarregaram de planejar nosso
destino. Um velho completou dizendo: - Eu não posso mais voltar atrás e
recuperar os momentos perdidos.
O que vou dizer agora pode não ter nenhuma utilidade na
véspera de uma invasão. Mesmo assim, anotem e guardem minhas palavras para que
um dia todos possam saber como vivíamos em Jerusalém.
O Copta
refletiu e continuou: Ninguém pode voltar atrás, mas todos podem seguir
adiante. E amanhã, quando o sol nascer, basta apenas repetir para si mesmo: “Eu
vou olhar esse dia como se fosse o primeiro de minha vida”. (p.83)
Passarei
por um mendigo que me pedir uma esmola. Talvez eu dê, talvez eu ache que ele
irá gastar em bebida e siga adiante.
Passarei
por alguém que está tentando destruir uma ponte. Talvez eu tente impedi-lo,
talvez eu entenda que ele faz isso porque não tem ninguém que o espera do outro
lado e dessa forma procura espantar a própria solidão.
Quando eu
chegar a um vilarejo que já conheço, entrarei por um caminho diferente. Estarei
sorrindo e os habitantes do lugar comentarão entre si: “Está louco, porque a
guerra e a destruição tornaram a terra estéril”. Mas eu continuarei sorrindo,
porque me agrada a ideia de que pensem que estou louco. Meu sorriso é minha
maneira de dizer: “Podem acabar com meu corpo, mas não podem destruir minha
alma” (´podemos
aplicar aqui os Evangelhos de Mateus 10:28 e Lucas 12:4-5).
Que tudo o
que minha mão tocar, meus olhos virem e minha boca provar seja diferente,
embora continue tudo igual. Assim, todas essas coisas deixarão de ser
natureza-morta e passarão a me explicar por que estão comigo a tanto tempo, e
manifestarão o milagre do reencontro com emoções que já tinham sido desgastadas
pela rotina. (p.85-86).
O tempo e
a vida me deram muitas explicações lógicas para tudo, mas minha alma se
alimenta de mistérios. Eu preciso do mistério, de ver no trovão a voz de um
deus enraivecido, embora muitos aqui considerem isso uma heresia.
- Pela
primeira vez sorrirei sem culpa, porque a alegria não é um pecado. – Pela
primeira vez evitarei tudo o que me faz sofrer, porque o sofrimento não é uma
virtude.
-
Prestarei atenção na letra da música que o menestrel[1]
estiver cantando na rua, embora as pessoas não o estejam escutando, porque tem
a alma sufocada pelo medo. A música diz: “O amor reina, mas ninguém sabe onde
está o seu trono, para conhecer o lugar secreto, primeiro tenho que submeter-me
a ele”. (p. 87).
Que eu
seja capaz de me aceitar como sou. E se eu estiver sozinho na cama, chegarei
até a janela, olharei o céu e terei certeza de que a solidão é uma mentira: - o
Universo me acompanha.
E a esposa de um comerciante pediu:
Fale-nos sobre sexo. (p.89)
Homens e mulheres murmuram entre si porque transformaram um
gesto sagrado em um ato pecaminoso. Este é o mundo em que vivemos. E roubar o
presente da sua realidade é perigoso.
E o que é sexo?
Se apenas os corpos se unem, não existe sexo, mas apenas prazer. O sexo vai
muito além do prazer. Nele caminham juntos o relaxamento e a tensão, a dor e a
alegria, a timidez e a coragem de ir além dos limites.
E como colocar em sintonia tantos estados opostos? - Só existe uma maneira. E é por meio da Entrega. Porque o
ato de entrega significa: “Eu confio em você”. Esqueçamos o que nos ensinaram
que é nobre dar e humilhante receber. (podemos aplicar o Livro de Atos 20:35)
Para muitas pessoas a generosidade
consiste em apenas dar, mas receber é também um ato de amor. Permitir que o
outro nos faça feliz e isso também nos deixará feliz. Quando somos capazes de
dar e receber com a mesma intensidade, o corpo vai ficando tenso como a corda
de um arqueiro, mas a mente vai relaxando, como a flecha que se prepara para
ser disparada. O nosso cérebro já não governa o processo: O instinto é o nosso
único guia. Tudo o que é espiritual se manifesta de forma visível, tudo o que é
visível se transforma em energia espiritual. Tudo é permitido se tudo for
aceito. (p.91-92)
Procurem ver o sexo como sendo uma
Oferenda. Um ritual de transformação. Como em todo ritual o êxtase está
presente e glorifica o final. Entretanto, não é o único objetivo. “Dê ao sagrado o sentido do sagrado”.
Abra sem temor a caixa secreta de
suas fantasias. E os verdadeiros amantes poderão entrar no jardim da beleza,
sem temor de serem julgados: “Não serão mais dois corpos e duas almas que se
encontraram, mas uma única fonte de onde jorra a verdadeira água da vida” (parece
se referir aos livros de Gênesis 2:24; Mateus 19:5 e Marcos 10:7-8).
E um dos
combatentes que se preparava para a morte no dia seguinte, mas mesmo assim
decidira vir até o átrio para escutar o que o Copta tinha a dizer, comentou:
“Fomos separados quando queríamos estar unidos. As cidades na rota dos
invasores terminaram sofrendo as consequências de algo que não escolheram. O que
os sobreviventes devem dizer aos seus filhos?” (p.95)
Nascemos sós e morreremos sós. Mas,
enquanto estamos neste planeta, precisamos aceitar e glorificar nosso ato de fé
em outras pessoas. A comunidade é a vida: dela vem nossa capacidade de
sobrevivência.
Respeite
aqueles que cresceram e aprenderam juntos com você. Respeite aqueles que
ensinaram. Conte suas histórias e ensine, assim a comunidade pode continuar
existindo e as tradições permanecerão as mesmas. Quem não compartilha com os
outros as alegrias e os momentos de desânimo jamais conhecerá suas próprias
qualidades e seus efeitos.
Só é amado
e respeitado aquele que se ama e se respeita. Jamais procure agradar a todo
mundo, ou irá perder o respeito de todos.
Não
digo: Busque alguém que pense igual a
você. Digo: Busque quem pensa
diferente e quem você jamais conseguirá convencer de que é você que está certo.
A amizade é uma das muitas faces
do Amor, e o Amor não se deixa levar por opiniões: Ele aceita
incondicionalmente o companheiro e cada um cresce a sua maneira. A amizade é um
ato de fé em outra pessoa, e não um ato de renúncia. Não procure ser amado a
qualquer preço, porque o amor não tem preço. (p.97-98)
1 - Evite
a todo custo aqueles que só estão ao seu lado nos momentos de tristeza, com palavras
de consolo. Porque esses na verdade estão dizendo a si mesmos: Eu sou mais
forte. Eu sou mais sábio. Eu não teria dado esse passo.
- Fique
junto daqueles que estão ao seu lado nas horas de alegria. Porque nessas almas
não existe o ciúme ou a inveja, apenas felicidade por vê-lo feliz.
2 - Evite
os que se julgam mais fortes. Porque na verdade estão escondendo a própria
fragilidade.
- Junte-se
aos que não temem ser vulneráveis. Porque esses tem confiança em si mesmos,
sabem que todos tropeçam em algum momento e não interpretam isso como um sinal
de fraqueza, mas de humanidade.
3 - Evite
aqueles que falam muito antes de agir, aqueles que jamais deram um passo sem
ter certeza de que seriam respeitados por isso.
- Junte-se
a quem mais lhe disse quando você errou: Eu teria feito de outra maneira.
4 - Evite
os que procuram amigos para manter uma condição social ou para abrir portas de
que nunca conseguiram chegar perto.
-
Juntem-se aqueles cuja única porta importante que estão procurando abrir é a
porta do seu coração.
A amizade tem as qualidades do rio:
contorna rochas, adapta-se aos vales e montanhas, ás vezes transforma-se em
lago até que a depressão esteja cheia e possa continuar seu caminho. Porque
assim como o rio não esquece que seu objetivo é o mar, a amizade não esquece
que sua única razão de existir é demonstrar amor pelos demais. (p.100)
5 - Evite aqueles que dizem:
“Acabou, preciso parar aqui”. Esses não entendem que nem a vida nem a morte tem
um fim; são apenas etapas da eternidade.
6 - Evite os que se reúnem para
discutir com seriedade e pretensão as decisões que a comunidade precisa tomar.
Esses entendem de política, brilham diante dos outros e procuram demonstrar
sabedoria. Mas não entendem que é impossível controlar a queda de um só fio de
cabelo. Embora a disciplina seja importante, ela deve deixar suas portas e
janelas abertas a intuição e ao inesperado. (p.101)
- Junte-se aos que deixam que a luz
do Amor se manifeste sem restrições, sem julgamentos, sem recompensas, sem
jamais ser bloqueada pelo medo de ser incompreendida. Não importa como esteja
se sentindo, todas as manhãs levante-se e prepare-se para emitir sua luz.
E uma moça que
raramente saia de casa, porque julgava que ninguém se interessava por ela,
disse: Ensine-nos a elegância. A praça inteira murmurou: como fazer uma
pergunta dessas na véspera da invasão dos cruzados, quando sangue deverá correr
por todas as ruas da cidade? Mas o Copta sorriu, e o seu sorriso não era de
escárnio, mas de respeito pela coragem da moça. (p.105)
A elegância normalmente é
confundida com superficialidade e aparência. Nada mais errado do que isso.
Algumas palavras são elegantes, outras conseguem ferir e destruir, mas todas
são escritas com as mesmas letras.
A elegância não é uma qualidade
exterior, mas uma parte da alma que é visível aos outros. Ela não está nas
roupas que usamos, mas sim na maneira como as usamos. Ela não está na maneira
como empunhamos a espada, mas no diálogo que pode evitar uma guerra. A
elegância é atingida quando todo o supérfluo é descartado e descobrimos a
simplicidade e a concentração: quanto mais simples e mais sóbria a postura,
mais bela será. (p.105)
E o que é Simplicidade? É
o encontro com os verdadeiros valores da vida. As coisas mais simples da vida
são as mais extraordinárias. Deixe que elas se manifestem. Olhai os lírios do
campo: não tecem nem fiam. E, no entanto, nem Salomão, em toda a sua glória, se
vestiu como eles. (esse registro está no Evangelho de Mateus 6:28-29)
Quanto mais o coração se aproxima
da simplicidade, mais ele é capaz de amar sem restrições e sem medo. E quanto
mais ele ama sem medo, mais capaz é de demonstrar elegância em cada pequeno
gesto. A elegância não é uma questão de gosto. Cada cultura tem uma maneira de
ver a beleza, que muitas vezes é completamente diferente da nossa. Mas em todas
as tribos, em todos os povos, há valores que demonstram a elegância:
hospitalidade, respeito, delicadeza os gestos. (p.106)
1 – Enquanto a arrogância atrai o
ódio e a inveja, a elegância desperta o respeito e o Amor;
2 – A arrogância nos faz humilhar o
semelhante. A elegância nos ensina a caminhar pela luz;
3 – A arrogância complica as
palavras, porque acha que a inteligência é apenas para alguns eleitos. A
elegância transforma pensamentos complexos em algo que todos possam entender.
Todo homem caminha com elegância e
transmite luz a sua volta quando está percorrendo o caminho que escolheu. Seus passos são firmes, seu olhar é seguro,
seu movimento é belo. A elegância é aceita e admirada porque não faz nenhum
esforço para isso.
Só o Amor dá forma ao que antes era
impossível de ser sequer sonhado. E só a Elegância permite que essa forma possa
se manifestar. (p.107)
E um homem que
sempre acordava cedo para levar seus rebanhos aos pastos em torno da cidade
comentou: O grego estudou para dizer coisas belas, enquanto nós temos que
sustentar nossas famílias. (p.109)
Palavras belas são ditas por poetas. E um dia
alguém escreverá: - Eu dormi e achei que a vida era apenas
alegria. - Acordei e descobri que a vida era Dever. - Cumpri meu Dever e descobri que a vida era
Alegria.
O trabalho é a manifestação do amor
que une os seres humanos. Há dois tipos de trabalho: O primeiro é aquele feito
apenas por obrigação e para ganhar o pão de cada dia. Neste caso, as pessoas
estão apenas vendendo seu tempo, sem entender que jamais poderão compra-lo de
volta.
O segundo é aquele que as pessoas
também aceitam para ganhar o pão de cada dia, mas no qual procuram preencher
cada minuto com dedicação e amor aos demais. A esse segundo damos o nome de
Oferenda.
Podemos ter duas pessoas cozinhando
a mesma comida e usando exatamente os mesmos ingredientes, mas uma delas
colocou Amor no que fazia, enquanto que a outra procurava apenas alimentar-se. O
resultado será completamente diferente, embora o amor não possa ser visto nem
colocado em uma balança.
Quando a Energia Divina colocou o
Universo em movimento, todos os astros e estrelas, todos os mares e florestas,
todos os vales e montanhas receberam a oportunidade de participar da Criação. E
o mesmo aconteceu com todos os homens. (p.112)
Alguns disseram: Não queremos.
Outros disseram: “Com o suor de meu rosto irrigarei o campo, e essa será minha
maneira de louvar o Criador”. (parece se referir ao pecado cometido por Adão/Eva, registrado
no livro de Gênesis 3:19)
Mas veio o demônio e sussurrou com
sua voz de mel: (..). E todos os que acreditaram no demônio disseram: “A vida
não tem mais sentido além de repetir a mesma tarefa”.
A oferenda é a oração sem palavras.
E, como toda oração exige disciplina, mas a disciplina não é uma escravidão, e
sim uma escolha. Não adianta dizer: A sorte foi injusta comigo. A sorte não é
injusta com ninguém. Todos nós estamos livres para amar ou detestar o que
fazemos. O lavrador pode plantar, mas não
pode dizer ao sol: Brilhe mais forte esta manhã. Não pode dizer as nuvens:
Façam chover hoje a tarde. Ele precisa fazer o que é necessário, arar o campo,
colocar as sementes e aprender o dom da paciência por meio da contemplação.
(p.114)
E o mesmo
homem que havia perguntado sobre o trabalho insistiu: E por que certas pessoas
são mais bem sucedidas que outras? (p.115)
O sucesso não vem do conhecimento
alheio. Ele é o resultado daquilo que você plantou com amor. Você conseguiu que
seu trabalho fosse respeitado, porque ele não foi realizado apenas para
sobreviver, mas para demonstrar seu amor pelos demais. (p.117-118)
Não se
deixou paralisar pelas derrotas que estão presentes na vida de todos aqueles
que arriscam algo. Não ficou pensando no que perdeu quando teve uma ideia que
não funcionou. E quando entendeu que era necessário pedir ajuda, não se sentiu
humilhado. Quando soube que alguém precisava de ajuda, mostrou tudo o que tinha
aprendido, sem achar que estava revelando segredos, ou sendo usado pelos
outros. Porque para quem bate, a porta se abre. Quem pede sabe que receberá.
Quem consola sabe que será consolado. (essa frase parece referir-se ao Evangelho de Mateus 7:7-8)
As pessoas
que procuram apenas o sucesso quase nunca o encontram, porque ele não é um fim
em si mesmo, mas uma consequência. Nem todo mundo que tem uma pilha de ouro do
tamanho de uma colina é rico. Rico é aquele que está em contato com a energia
do Amor a cada segundo de sua existência. Pois esta é a manifestação do
sucesso: Enriquecer a vida, e não abarrotar seus cofres com ouro. (p.119)
Porque um
homem pode dizer: Empregarei meu dinheiro para semear, colher, plantar e encher
meu celeiro com o fruto da colheita, para que não me venha faltar nada. Mas a
Indesejada das Gentes aparece, e todo o seu esforço terá sido em vão. (parece com a
Parábola do homem que confia em suas riquezas, registrada no Evangelho de Lucas
12:16-21). E o que é o
sucesso? É poder ir para cama cada noite com a alma em paz. (p.121)
E Almira, que
ainda acreditava que uma força de anjos e arcanjos desceria dos céus para
proteger a cidade sagrada, pediu: Fale-nos sobre o milagre. (p.123)
O que é um milagre? Podemos defini-lo de várias maneiras: 1. Algo que vai
contra as leis da natureza. 2. Intercessão em momentos de crise profunda. 3.
Curas e visões. 4. Encontros impossíveis. 5. Intervenção no momento de
enfrentar a Indesejada das Gentes.
O milagre vai além das definições acima,
embora todas sejam verdadeiras. O milagre é aquilo que de repente enche nossos
corações de Amor. Quando isso acontece, sentimos uma profunda reverencia pela
graça que Deus nos concedeu. Portanto, Senhor, o milagre nosso de cada dia nos
dai hoje. (trocadilho
sobre a Oração do Pai Nosso, registrado no Evangelho de Mateus 6:9 -
p.125)
Que possamos seguir adiante apesar de
todo o medo, e aceitar o inexplicável apesar de nossa necessidade de tudo
explicar e conhecer. E que, cada vez que virmos o humilde ser exaltado e o
arrogante ser humilhado, possamos também ver aí o milagre. (Evangelho de Mateus
23:12)
Que saibamos distinguir entre as lutas que são nossas, as
lutas para as quais estamos sendo empurrados contra a nossa vontade e as lutas
que não podemos evitar porque o destino as colocou em nosso caminho. (p127).
Que nossos olhos se abram e possamos
ver que nunca vivemos dois dias iguais. Cada um trouxe um milagre diferente,
que fez com que continuássemos respirando, sonhando e caminhando debaixo do
sol. E que, quando abrirmos a boca, possamos não falar apenas a língua dos
homens, mas também a língua dos anjos. (Livro de 1 Coríntios 13:1)
Porque assim operam os milagres: 1 - Eles rasgam os véus e mudam tudo, mas não nos deixam
enxergar o que existe além dos véus. 2 – Eles nos fazem escapar ilesos do vale das
sombras e da morte, mas não dizem por que caminho nos conduziram até as
montanhas de alegria e luz. (Salmo 23:4). 3 – Eles abrem portas que estavam
fechadas com cadeados impossíveis de romper, mas não usam nenhuma chave. 4 –
Eles cercam os sóis com planetas para que não se sintam isolados no Universo e
impedem que os planetas se aproximem demais para que não sejam devorados pelos
sóis. 5 – Eles transformam o trigo em pão através do trabalho, a uma em vinho
através da paciência e a morte em vida através da ressurreição dos sonhos.
Portanto, Senhor, dai-nos hoje o milagre
nosso de cada dia. E perdoai-nos se não somos capazes de reconhece-los sempre.
(p.129)
E um homem que
escutava os cantos de guerra vindos do lado de fora das muralhas e que temia
por si e por sua família pediu: Fale-nos sobre ansiedade. (p.131)
Não existe nada de errado com a
ansiedade. Embora não possamos controlar o tempo de Deus, faz parte da condição
humana desejar receber o mais rápido possível aquilo que se espera. Ou afastar
imediatamente aquilo que causa pavor.
- Como dizer a um coração apaixonado que
fique tranquilo, contemplando os milagres da Criação em silencio, livre das
tensões, dos medos e das perguntas sem resposta? A ansiedade faz parte do Amor,
e não deve ser culpada por isso.
- Como dizer a alguém que investiu sua
vida e seus bens em um sonho, e não consegue ver os resultados, que não fique
preocupado? Embora o agricultou não possa acelerar a marcha das estações para recolher os frutos que plantou,ele espera
impaciente a chegada do outono e da colheita.
- Como pedir a um guerreiro que não fique
ansioso antes de um combate? Portanto, a ansiedade nasce com o homem. Por isso,
precisamos aprender a conviver com ela, assim como o homem aprendeu a conviver
com as tempestades. (p.134)
Entretanto, para aqueles que não
conseguem aprender essa convivência, a vida está fadada a ser um pesadelo. E o
que é pior: para tentar afastar a ansiedade, procuram coisas que os deixam mais
ansiosos ainda. A mãe, enquanto espera o filho retornar à casa, começa a
imaginar o pior. “A minha amada é minha e eu sou dela”. (p.134)
Embora a ansiedade seja parte da vida, jamais deixe que ela passe a
controlar seus movimentos. (...): “Não me preocupo com o dia de amanhã, porque
Deus já está lá, me esperando”. A minha amada é minha, e eu sou dela. (livro de Cantares
2:16)
A grande sabedoria da vida é entender que podemos ser os senhores
daquelas coisas que pretendiam nos escravizar. (p.138)
E um jovem pediu:
Fale-nos do que o futuro nos reserva. (p.139)
Todos sabemos o que nos espera no futuro: a Indesejadas das Gentes. Que
pode chegar a qualquer hora, sem aviso, e dizer: Vamos, você precisa me
acompanhar. Nesse momento, a nossa maior alegria ou a nossa maior tristeza,
será olhar o passado.
Nossa alma é governada por quatro forças invisíveis: amor, morte, poder
e tempo. É necessário amar, porque somos amados por Deus. É necessário ter
consciência da Indesejada das Gentes, para entender bem a vida. É necessário
lutar para crescer, mas sem cair na armadilha do poder que conseguimos com
isso, porque sabemos que ele não vale nada. (p.141)
É necessário aceitar que nossa alma embora seja eterna, está neste
momento presa a teia do tempo, com suas oportunidades e limitações. O amor não
precisa ser entendido. Precisa apenas ser demonstrado. O maior poder que Deus
nos deu foi o poder de nossas decisões.
Mas, se o homem entende que é digno daquilo pelo qual tanto lutou, então
ele se dá conta de que na verdade não chegou sozinho. E precisa respeitar a Mão
que o conduziu. Só entende a própria dignidade aquele que foi capaz de honrar
cada um de seus passos.
E um daqueles
que sabia escrever e procurava freneticamente anotar cada palavra que o Copta
dizia parou para descansar e viu que estava em uma espécie de transe. A praça,
os rostos cansados, os religiosos que escutavam em silêncio, tudo aquilo
parecia parte de um sonho. E, querendo demonstrar a si mesmo que aquilo que
estava vivendo era real, pediu: Fale-nos da lealdade. (p.147)
A lealdade pode ser comparada a uma loja de riquíssimos vasos de
porcelana, cuja chave o Amor nos confiou. Cada um desses vasos é belo porque é
diferente. Da mesma maneira que são diferentes os homens, as gotas da chuva, ou
as rochas que dormem nas montanhas.
A beleza de uma loja de vasos de porcelana está no fato de que cada peça
é única. Mas, quando colocadas lado a lado, mostram harmonia e refletem juntas
o suor do oleiro e a arte do pintor. E assim são os vasos, assim são os homens
e assim são as mulheres. E assim são as tribos, assim são os navios e assim são
as árvores e estrelas (p.150-151).
E um homem que
tinha a fronte marcada pelo tempo e o corpo cheio de cicatrizes que contavam as
histórias dos combates de que participou pediu: Fale-nos das armas que
precisamos usar quando tudo estiver perdido.
(p.153)
Quando existe
lealdade, as armas são inúteis. A lealdade é baseada no respeito, e o respeito
é fruto do Amor. O Amor que afugenta os demônios da imaginação que desconfiam
de tudo e de todos, e que devolve a pureza dos olhos.
- Um sábio,
quando deseja enfraquecer alguém, primeiro faz com que a pessoa acredite que é
forte. Assim, ela desafiará alguém ainda mais forte, caindo na armadilha e sendo
destruída.
- Um sábio,
quando deseja diminuir alguém, primeiro faz com que a pessoa suba na montanha
mais alta do mundo e julgue que tem muito poder. Assim, ela acreditará que pode ir ainda mais alto e
despencará no abismo.
- Um sábio, quando
deseja retira o que o outro possui, tudo o que faz é cobri-lo de presentes.
Assim, o outro terá que cuidar do inútil e perderá tudo o mais, porque estará
ocupado guardando aquilo que julga possuir. (p.155)
- Um sábio,
quando não consegue saber o que o adversário planeja, finge um ataque. Todas
as pessoas do mundo estão sempre
preparadas para se defender, porque vivem com medo e com a paranoia de que os
outros não gostam dela. Então, sabendo exatamente que tipo de confronto deve
esperar, o sábio ataca ou recua.
A mais destruidora das armas não é a
lança ou o canhão, que podem ferir o corpo e destruir a muralha. A mais
terrível de todas as armas é a palavra – que arruína uma vida sem deixar
vestígios de sangue e cujas feridas jamais cicatrizam. (p.158)
E um dos
jovens da audiência, vendo que o sol já estava quase escondido no horizonte e
que em breve o encontro com o Copta chegaria ao fim, perguntou: E quanto aos
inimigos? (p.159)
O combate que enfrentaremos esta noite ou amanhã pela manhã, a história
se encarregará de contar como foi. Quero, portanto, falar de outros inimigos:
aqueles que se encontram ao nosso lado.
- Todos nós teremos que enfrentar muitos
adversários na vida, porém o mais difícil de derrotar será aquele que tememos.
- Todos nós encontraremos rivais em
qualquer coisa que fizermos, porém os mais perigosos serão aqueles que
acreditamos ser nossos amigos.
- Todos sofreremos quando formos atacados e
feridos em nossa dignidade, mas a dor maior será provocada por aqueles que
considerávamos um exemplo para nossa vida. Procure se afastar de alguém que
tenta te agradar o tempo todo.
Entretanto, se alguém aparecer apenas para provoca-lo, limpe a poeira
dos seus sapatos e siga adiante. O inimigo não é aquele que está diante de você
com a espada na mão, mas o que está ao seu lado com o punhal nas costas.
(p.163-164)
A noite havia
descido por completo. O Copta se virou para os religiosos que tudo viam e
escutavam e perguntou se tinham algo a dizer. Os três acenaram positivamente
com a cabeça. (p.167)
E o rabino disse: Um grande religioso
quando via que os judeus estavam sendo maltratados, ia para a floresta, acendia
um fogo sagrado e fazia uma reza especial, pedindo a Deus que protegesse seu
povo. E Deus enviava o milagre.
Depois, seu
Discípulo ia para o mesmo lugar da floresta e dizia: Mestre do Universo, eu não
sei como acender o fogo sagrado, mas ainda sei a reza especial. Escutai-me, por
favor! O milagre acontecia.
Mais uma geração
passou e outro rabino, quando via as perseguições ao seu povo, ia para a
floresta, dizendo: Eu não sei acender o fogo sagrado, nem conheço a prece
especial, mas ainda me lembro do lugar. Ajudai-nos, Senhor! E o Senhor ajudava.
Cinquenta anos se
passaram, o rabino de Israel, em sua cadeira de rodas, falava com Deus: Não sei
acender o fogo sagrado, não conheço a oração e não consigo sequer achar o lugar
da floresta. Tudo o que posso fazer é contar esta história, esperando que Deus
me escute. E mais uma vez, o milagre acontecia. Vão portanto, e contem a
história desta tarde.
A noite agora
cobria a cidade de Jerusalém e o Copta pediu a todos que voltassem às suas
casas e anotassem tudo o que tinham ouvido, e aqueles que não sabiam escrever
que procurassem se lembrar de suas palavras. Mas antes que a multidão partisse
disse ainda:
Não pensem que
estou lhes entregando um tratado de paz. Na verdade, a partir de agora
espalharemos pelo mundo uma espada invisível, para que possamos lutar contra os
demônios da intolerância e da incompreensão. Passem adiante a palavra ou o
manuscrito, sempre escolhendo pessoas dignas de empunhar esta espada.
Se alguma aldeia
ou cidade não o quiser receber, não insistam. Voltem pelo mesmo caminho de onde
vieram e sacudam a poeira do chão que grudou em seus sapatos. Porque esses
serão condenados a repetir os mesmos erros por muitas gerações. (faz referência ao
livro de Mateus 10:11-14)
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