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segunda-feira, 30 de maio de 2016

ANSIEDADE: COMO ENFRENTAR O MAL DO SÉCULO?


                                          CURY, Augusto. 1ª ed. Ansiedade: como enfrentar o maldo século? SãoPaulo: Saraiva, 2014.

Prefácio

Vivemos numa sociedade urgente, rápida e ansiosa. (...). Raros são os que contemplam as flores nas praças ou se sentam para dialogar nas suas varandas ou sacadas. (...) é muito triste descobrir que grande parte das pessoas de todas as nações não sabe ficar só, se interiorizar e refletir sobre as nuances da existência, se curtir, ter um auto diálogo.
Essas pessoas conhecem muitas outras nas redes sociais, mas raramente conhece alguém a fundo e, o que é pior, raramente conhecem a si mesmo. Muitos pensam que o mal do século é a depressão, mas neste livro outro grande mal, talvez mais grave, embora menos perceptível: a ansiedade decorrente da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Pensar é bom, pensar com lucidez é ótimo, porém, pensar demais é uma bomba contra a saúde psíquica, o prazer de viver e a criatividade.
Não são somente as drogas psicotrópicas que viciam, mas também o excesso de informação, de trabalho intelectual, de atividades, de preocupação, de uso do celular, entre outros. Desacelerar nossos pensamentos e aprender a gerir nossa mente são tarefas fundamentais: “O dinheiro compra bajuladores, mas não compra amigos; compra a cama, mas não o sono; compra pacotes turísticos, mas não compra alegria; compra todo e qualquer produto, mas não uma mente livre; compra seguros, mas não o seguro emocional”. (p. 15)

Cap. 1: O Mal do Século: Depressão ou Síndrome do Pensamento Acelerado?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,4 bilhão de pessoas, cedo ou tarde, desenvolverão esta doença (dor humana), e que corresponde a 20% da população mundial. Entretanto, a SPA provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as idades, de alunos e professores, de iletrados e intelectuais, de médicos e pacientes. (p.17)
A sociedade moderna é consumista, rápida e estressante. Com isso, alterou o ritmo da construção de pensamentos, gerando consequências seríssimas para a saúde emocional, o prazer de viver, o desenvolvimento da inteligência, a criatividade e a sustentabilidade das relações sociais. Adoecemos coletivamente.
“O sono é vital para uma mente equilibrada, produtiva e saudável”. As escolas (sistema educacional clássico), estão levando os alunos a conhecer milhões de dados sobre o mundo em que estamos, mas quase nada sobre o mundo que somos – o planeta psíquico”. (p. 21)
Um homem (Jesus Cristo), que talvez seja o maior educador da história, enxergava essa limitação de maneira clara como uma brisa. Quando morria no madeiro, disse algo surpreendente: “Pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem”. Fazendo uma análise sociológica e psicológica, demonstra que a afirmação carrega um altruísmo sem precedente. Mas, ao mesmo tempo, parece inaceitável sua atitude de proteger os carrascos”. (p. 28)
Os soldados romanos sabiam o que faziam, pois cumpriam ordens de Pilatos. Para o Mestre dos mestres, o pensamento construído por eles eram, por uma lado, fruto da livre escolha, e, por outro, reféns da base de dados da sua memória, da cultura tirânica do Império Romano. Eles não eram autônomos nem donos do próprio destino. Eram prisioneiros do seu passado, “escravos” de sua cultura. Para o Mestre da Galiléia, por detrás de uma pessoa que fere, há sempre uma pessoa ferida.

Cap. 2: O Eu Pode ser Dominado pelo Fenômeno do Autofluxo:

Mesmo dentro dessa base de dados, não temos plena liberdade de escolha, como defendia Sartre. (...). Mas, apesar da liberdade que o Eu tem de acessar e utilizar informações para construir cadeias de pensamentos sob sua responsabilidade. Há fenômenos inconscientes que constroem pensamentos e emoções sem sua autorização. Se esses fenômenos realmente existem, isso muda drasticamente nossa compreensão sobre quem somos - homo sapiens. (p.29)
Afirmo que tal fenômeno inconsciente é de vital importância para o psiquismo humano, para a criatividade e para o prazer de viver, porém pode perder sua função saudável por produzir a SPA.
O nosso Eu é livre para pensar, para organizar os dados da sua memória, mas, ao mesmo tempo, há fenômenos inconscientes, que até então não tinham sido estudados por outros teóricos, que produzem pensamentos sem a autorização do próprio Eu e que podem sabotá-los, escraviza-los e encarcera-los.
Podemos e devemos ser educador para ser autores da nossa história, mas esta liberdade é conquistada e tem seus limites. A história da humanidade, com suas inúmeras injustiças e atrocidades, é um exemplo clássico disso.

O Fenômeno RAM domina a Memória e o Eu:

O registro de tudo o que contatamos é automático e involuntário, produzido por um fenômeno inconsciente chamado Registro Automático da Memória (RAM). Não apenas o que o nosso Eu deseja será arquivado, mas também o que ele odeia e despreza. Tudo o que mais detestamos ou rejeitamos será registrado com mais poder, formando janelas traumáticas que denomino de Killer.
Se o Eu, que representa a capacidade de escolha, não tem liberdade para evitar o registro de nossos pensamentos perturbadores e dos estímulos estressantes que nos abarcam, como podemos dizer que o ser humano está condenado a ser livre? O fato de o mais complexo de todos os fenômenos do intelecto – o pensamento, ter sido muito pouco investigado trouxe consequências seríssimas para o desenvolvimento da nossa espécie. (p. 31-32)

O Erro de Einstein e outras Consequências:

Estamos no apogeu da medicina e psiquiatria, mas nunca estivemos tão doentes. Estudo recente do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan aponta que, ao longo da vida, uma em cada duas pessoas deve desenvolver um transtorno psiquiátrico, ou seja, mais de 3 bilhões de pessoas.
Estamos na era do conhecimento, da democratização da informação, mas nunca produzimos tantos repetidores de informações, em vez de produzirmos pensadores. Quando estudamos o processo de construção de pensamentos, somos iluminados para entender que a loucura e a racionalidade são mais próximos uma da outra do que imaginávamos. Por isso, uma pessoa inteligente jamais discrimina ou diminui os outros.

Cap. 3: Quem somos? Teses e Fundamentos.

A construção de pensamentos não é unifocal, mas multifocal, não dependendo apenas da vontade consciente, ou seja, do Eu, mas de fenômenos inconscientes. Essa tese já é suficiente para demonstrar que a mente humana é mais complexa do que postulam a psicanálise, as teorias comportamentais, as teorias cognitivas, as teorias existencialistas, as teorias sociológicas e as teorias psicolinguísticas. (p. 35)
Somos tão complexos que, quando não temos problemas, nós os criamos. Quem cobra excessivamente se si mesmo pode ser ótimo para a sociedade e para sua empresa, mas certamente será seu próprio algoz. Quem não souber dar um choque de lucidez em sua emoção e em seus pensamentos, jamais poderá dizer que é autor da própria história.
Certa vez, (...), afirmei que nunca houve nas sociedades livres e democráticas, tantos escravos no único lugar onde é inadmissível ser um prisioneiro: em nossa própria mente. O Tempo de escravidão não terminou, apenas mudou de endereço. Antes, algemavam-se o corpo; hoje, algema-se a psique. Antes, havia algozes que puniam os encarcerados; hoje, nós mesmos nos encarceramos. (p.37)

Pensar é uma Grande Aventura:

(...), os nossos pensamentos estão distorcidos e contaminados por nossa cultura e personalidade (quem sou); por nossa emoção (como estou); pelo ambiente social (onde estou) e por nossa motivação (o que pretendo). Não há interpretações puras.  Por isso há julgamentos políticos, baseados menos na lei e muito mais nas intenções subjacentes e subliminares de quem julga. (p.40)
O ciúme é a necessidade neurótica de controlar o outro, tão comuns na juventude, são exemplos de distorções do raciocínio nas relações interpessoais.  De acordo com a Teoria da Inteligência Multifocal (TIM), a virtualidade dos pensamentos demonstra que a verdade absoluta é sempre um fim inatingível. (p.41)

O Pensamento e suas Armadilhas:

Um profissional de saúde mental deve saber que jamais tocará ou sentirá minimamente a dor do pânico ou da depressão de um paciente. Se sentir, ela será sua, e não do outro, pois estamos ilhados em nós mesmos. Muitos profissionais desta complexa área não entendem que conhecemos o outro sempre a partir de nós mesmos. Nossos pensamentos jamais representam o outro em sua plenitude. Se pais, educadores e executivos não treinarem seu Eu para se esvaziar de seus preconceitos e aprender a se colocar no lugar do outro a fim de entende-lo tanto quanto possível, cometerão erros crassos (grosseiros).

Cap. 4: As Estatísticas Nos Denunciam:

Pesquisas revelam que 80% dos jovens do mundo apresentam sintomas de timidez e insegurança. E aí fica a pergunta: SPA ou Hiperatividade? Muitos profissionais que labutam na área de saúde mental, chegam a diagnósticos errados, ao observarem crianças e adolescentes agitados, rebeldes, inquietos, com dificuldade de concentração e (...) com normas sociais. Quando a maioria desses pacientes é vitima de SPA. (p.46)
          Hiperatividade, há um fundo genético, pois frequentemente um dos pais é hiperativo. Ademais, a agitação e inquietação de uma pessoa hiperativa manifestam-se na infância. O que mais me preocupa na SPA e na Hiperatividade, é a retração de duas funções vitais para o sucesso social, profissional e afetivo: pensar antes de agir e colocar-me no lugar do outro (empatia).
Observe que um simples barulho no motor de um carro nos faz buscar o mecânico. Entretanto, muitas vezes o nosso corpo grita através de fadiga excessiva, insônia, compulsão, tristeza, dores musculares e outros sintomas psicossomáticos e, mesmo assim, não procuramos ajuda. (p.47-48)

Cap. 5: A Vida é Bela e Breve como um Orvalho:

Para os sábios, a brevidade da vida convida-os a valorizá-la como um diamante de inestimável valor. Ser sábio é aprender a usar cada dor como uma ocasião para corrigir caminhos e cada fracasso, uma chance para recomeçar.  
De acordo com TIM, construímos pensamentos não apenas porque queremos construí-los conscientemente pela divisão do Eu, mas também por meio de outros três fenômenos  inconscientes: Gatilho da Memória (auto checagem); auto fluxo e janelas da memória. (p.50)

a)    Gatilho da Memória: é o primeiro fenômeno inconsciente que constrói pensamentos. Ele é acionado quando estamos em contato com cada estímulo extrapsíquico (luz, sons, estímulos táteis, gustativos, olfativos etc.), ou intrapsiquico (imagens mentais, fantasias, desejos, emoções etc.) e inclusive com determinados estímulos orgânicos (substância metabólica,  drogas psicoativas, etc.);

b)    As Janelas da Memória: são áreas de leitura da memória num determinado momento existencial. São arquivos em que o Eu, o gatilho e o autofluxo se ancoram para ler, utilizar as informações e construir o mais incrível dos fenômenos: o pensamento. (p.52-59)

Existe um consenso na Psicologia de que a personalidade não muda. Na verdade, este consenso não tem fundamento, não se sustenta. A personalidade não é rígida, não é linear, ela está em processo de mudança. Ela se desloca ou se transforma quando se muda a base das janelas da memória e quando o Eu é equipado para ser líder de si mesmo. Se a personalidade é mutável, por que então não é fácil mudar características doentias como o mau humor, impulsividade, timidez? Porque a intenção ou o desejo de mudança produz uma janela solitária e, além disso, “pobre” e com poucos recursos. (p.60)

Cap. 6: O Dependente de Drogas:

Eles não se tornam encarcerados pelas drogas (substância química) em si, mas pelo arquivamento das experiências que tiveram com elas. Com o passar do tempo, o problema não é mais a substância psicoativa, mas a masmorra construída dentro do Eu, financiada pelas inumeráveis janelas Killer espalhadas por sua memória. (p.61)

Porque os Dependentes Recaem com Facilidade:

Por mais que eles tenham tido sucesso em seu tratamento, na realidade, eles reeditaram uma parte das janelas traumáticas que contém a representação da droga. Entretanto, outras janelas doentias permanecem “vivas” e capazes de ser encontradas durante um foco de tensão e financiar uma nova compulsão.
Existe um conceito falso de que um dependente de drogas será dependente a vida toda. Embora o conceito seja falso, ele é útil para o Eu viver sempre em estado de alerta, pois numa crise, perda ou frustração, o gatilho da memória poderá encontrar janelas doentias que ainda não foram reeditadas.
E, neste caso, se o Eu não proteger a emoção e nem gerenciar seus pensamentos, poderá recair e se autodestruir novamente. Ao recair, ao invés de se punir e se autodestruir, o Eu poderá usar a recaída par dar uma nova chance para si mesmo, ser mais seguro e reescrever as janelas que o enredaram.  (p.62)

Cap. 7: Tipos de Janelas da Memória:

Janelas Neutras: corresponde a mais de 90% de todas as áreas da memória. Contem milhões de informações “neutras”. Em tese, estas informações são sem conteúdo emocional, tais como: números, endereços, telefones, informações escolares, dados corriqueiros, conhecimentos profissionais. Todas as informações existenciais registradas no córtex cerebral, desde a aurora da vida fetal até o último fôlego, estão contidas nessas janelas. Essas informações se apagam ou são substituídas com o tempo?
É difícil dizer com certeza, mas é bem possível que uma parte seja necessariamente substituída, haja vista que são milhões de informações por ano. O “passado” é reorganizado pelo “presente”. É muito provável, que milhões de dados do passado, organizados eletronicamente nas células do córtex cerebral, ficam arquivados não no centro consciente, que chamo de Memória de Uso continuo (MUC), mas sim, na imensa periferia da memoria, que chamo de Memória Existencial (ME).
Janelas Killer: correspondem a todas as áreas da memoria que tem conteúdo emocional angustiante, fóbico, tenso, depressivo, compulsivo. São as janelas traumáticas ou zonas de conflito. Killer em inglês significa “assassino”. Por isso o nome, pois são janelas que assassinam não o corpo, mas o acesso a leitura de inúmeras outras janelas da memoria, dificultando ou bloqueando respostas inteligentes em situações estressantes. (p.66)
Essas janelas controlam, amordaçam, asfixiam a liderança do Eu. Há vários tipos de janelas Killer, como as janelas do mau humor, ciúme, raiva, pessimismo, alienação, fobias, excesso de autoconfiança e dependência.  Todos devemos saber que não é possível deletar essas janelas, mas é possível reescrevê-las. (p.67)
Janelas Light: corresponde a todas as áreas de leitura que contém prazer, serenidade, tranquilidade, generosidade, flexibilidade, sensibilidade, coerência, ponderação, apoio, exemplos saudáveis. Elas, como seu significado em inglês – “luz ou acender”, traduzem a ideia de que iluminam o Eu para o desenvolvimento das funções mais complexas da inteligência: capacidade de pensar antes de reagir, colocar-se no lugar do outro. Resiliência[1], criatividade, raciocínio complexo, determinação, (...), proteger a emoção, gerenciar pensamentos. (p.68)

O Eu entra no “Palco” quando o “Circo” está armado:

O fenômeno RAM arquiva todas as experiências que vivenciamos, sejam elas prazerosas ou angustiantes. Ela forma e preenche as janelas da memória que serão a base de sustentação e formação do Eu, que , como vimos, representa nossa consciência crítica e capacidade de escolha.

Os Exemplos Gritam mais que as Palavras:

Provavelmente, mais de 90% da influência que os pais exercem no processo de formação da personalidade dos seus filhos se deve não aquilo que falam, corrigem, apontam, mas aquilo que são fotografados pelo fenômeno RAM dos filhos. “O exemplo não é apenas uma boa forma de educar, é a mais poderosa e eficiente”. (p.70)

Cap. 8: O Fenômeno do Autofluxo e o Eu:

O autofluxo é um fenômeno inconsciente de inigualável importância para o intelecto humano. A leitura do autofluxo é diferente, ele faz uma varredura inconsciente, aleatória, não programada dos mais diversos campos da memória, produzindo pensamentos, imagens mentais, idéias, fantasias, desejos e emoções.  Ele tem outra função vital: ler e retroalimentar as janelas da memória desde o útero materno a fim de armazenar milhões de dados para o desenvolvimento do pensamento na primeira infância. (p. 73)
Freud foi quem descobriu o inconsciente ou, pelo menos, foi o primeiro grande porta-voz da existência do inconsciente. Ele discorreu sobre o principio do prazer como mola mestra da movimentação do psiquismo.  Dos bebês aos idosos, todos são famintos de prazer, mais a maior fonte de prazer é ou deveria ser o fenômeno do autofluxo.
Quando esta fonte falha, as consequências são serias, e um estado de infelicidade inexplicável surge no cenário psíquico. Sem a existência desse fenômeno, nossa espécie desenvolveria um tédio mordaz; uma depressão coletiva, uma total falta de sentido existencial.
Há pessoas bem sucedidas financeiramente, tem bons amigos, filhos maravilhosos, parceiro (a), ou seja, motivos de sobra para festejar sua existência, mas são mal-humorados e insatisfeitos. Qual seria a causa? O autofluxo não tem uma produção intelecto emocional capaz de inspirá-los a sentir o pulsar da vida como um espetáculo imperdível. (p.74-75)
Em muitos casos, o ponto de partida para a leitura realizada pelo fenômeno do autofluxo são as janelas abertas pelo gatilho da memória. Por exemplo, quando uma pessoa claustrofóbica pisa numa aeronave, seu gatilho dispara a janela traumática que contém o medo de que faltará ar ou de que o avião irá cair. Para dirigir a mente humana, que é mais complexo, é preciso ter ferramentas educacionais e treinamentos inteligentes.

O Eu e Seus Papéis:

O Eu é o centro de nossa personalidade, o líder da psique ou da mente, o desejo consciente e a capacidade de autodeterminação e a identidade fundamental que nos torna único. Muitos profissionais e intelectuais, tem um Eu não estruturado e intolerante a frustrações (...), não podem ser contrariados, e não sabem dar um choque de gestão em seus pensamentos. Sua mente é terra de ninguém, não tem segurança. (p. 76-77).

Há pelos menos 25 funções do Eu, mas destacarei apenas algumas (Veronese):

II. Ter consciência crítica e exercer a arte da dúvida sobre tudo o que o controla, em especial as falsas crenças;

III. Ser autônomo, aprender a ter opinião própria e fazer escolhas, mas saber que todas as escolhas implicam perdas;

V. Gerenciar os pensamentos e qualifica-los para não ser escravo das ideias que ruminam o passado ou antecipam o futuro;

VII. Gerenciar a emoção protegê-la como a mais excelente propriedade e filtrar estímulos estressantes;

X. Aprender a dialogar e transferir o capital das experiências, e não apenas comentar o trivial ou ser um manual de regras. Quem é apenas um manual de regras está apto a lidar com máquinas, mas não a formar pensadores;

XI. Reciclar influências genéticas instintivas (raiva, punição, agressividade, competição predatória) que nos tornam homo bios para enriquecer o homo sapiens;

XV. Pensar antes de agir e raciocinar multifocalmente; não ser escravo das respostas, mas em primeiro lugar ser fiel a própria consciência;

XVI. Colocar-se no lugar do outro para interpretá-lo com maior justiça a partir de si mesmo;

XVIII. Desenvolver resiliência: trabalhar perdas e frustrações e reciclar o conformismo e a autopiedade;

XX. Pensar como humanidade, e não apenas como grupo social, nacional, cultural, religioso.

Um dos meus gritos de alerta, é que o sistema educacional está agonizante, formando alunos imaturos e despreparados para ser lideres de si mesmo, numa sociedade desigual. (p. 80).

Cap. 9:  Os Seis Tipos de Eu:

1º. O Eu Gerente:

São as pessoas que exercem a arte de se autoquestionar. Elas libertam seu imaginário, são criativos, motivados, inspirados e também capazes de criticar suas ideias, verdades e crenças. Elas têm consciência de que o fenômeno do autofluxo é uma fonte de inspiração, entretenimento e aventura, porém não permitem ser dominados por ele.

2º. O Eu Viajante:

Também conhecido como desconectado. O céu e o inferno emocional estão muito próximos de alguém que tem um Eu desconectado. Como eles não tem gestão mínima de sua mente, dependendo do lugar da memória em que se ancora o auto fluxo, as pessoas deste tipo assistirão como espectadores passivos aos pensamentos, ideias, imagens mentais e emoções construídos por esse fenômeno inconsciente. Elas vivem fantasiando, imaginando e pensando.

3º. O Eu Flutuante:

Não tem ancora, segurança, estabilidade, clareza sobre onde está e aonde quer chegar. Elas não têm autonomia, ideias próprias e não exercem sua capacidade de escolha. São muito instáveis, desestabiliza a própria emoção, tornando-a volúvel. Por isso, estão alegres num período do dia e, noutro, entristecidos. Num momento, afetivos, noutro, irritadiços e até agressivos.

4º. O Eu Engessado:

Elas têm grande potencial criativo, mas são seus próprios punidores, não sonham, não se inspiram, têm medo de ser abertos e pensar em outras possibilidades. Vivem  entediadas e entendiam quem está próximo. Costumam ser robotizados. Levanta sempre do mesmo modo, faz as mesmas reclamações, dá as mesmas respostas. É uma pessoa encarcerada pela rotina.

5º. O Eu Auto Sabotador:

Por incrível que pareça, vai contra a liberdade, conspira contra seu prazer de viver, sua tranquilidade e seu êxito profissional e social. Uma das mais graves consequências de quem cobra excessivamente de si mesmo é aumentar os níveis de exigência, o que impede de relaxar, sentir-se realizado, satisfeito e feliz.

6º. O Eu Acelerado:

Um número de pessoas em todo o mundo pertence a este tipo de Eu, de crianças a idosos, que se entulham de informações, atividades e preocupações. E, consequentemente,  excitam o fenômeno do auto fluxo a produzir pensamentos numa velocidade nunca vista, gerando a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA).

Cap. 10: A Síndrome do Pensamento Acelerado – SPA:

Pensar é bom, pensar com consciência crítica é melhor ainda, mas pensar excessivamente é uma bomba contra a qualidade de vida, uma emoção equilibrada, um intelecto criativo e produtivo. Qualquer pessoa sabe que uma máquina não pode trabalhar em alta rotação constantemente, dia e noite, pois ocorre o risco de aumentar sua temperatura e fundir suas peças.
Infelizmente, nós, seres humanos, não temos consciência de que pensar exageradamente e sem nenhum autocontrole é uma fonte de esgotamento mental. Crianças e adolescentes estão esgotados mentalmente. Pais e professores estão fatigados sem saber as causas. Profissionais das osmais diversas áreas já acordam sem energia e carregam seu corpo durante o dia. Estamos levando a psique a um estado de falência coletiva e não percebemos o mal do século.

Alguns dos Sintomas: O autor apresenta neste capítulo dezesseis sintomas, dentre os quais, destaco alguns:

Ansiedade;
Cansaço físico exagerado;
Sofrimento por antecipação;
Dificuldade de lidar com pessoas lentas;
Baixo limiar para suportar frustrações;
Déficit de concentração;
Déficit de memória;
etc.

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Do final do século XX para cá, crianças e adolescentes estão cada vez mais agitados, inquietos, sem concentração, sem respeito uns pelos outros e sem prazer em aprender. Porque muitos estão fatigados?
O sono deixa de ser reparador, não consegue repor a energia na mesma velocidade. E os sintomas físicos, porque surgem? Quando nosso cérebro está desgastado, estressado e sem reposição de energia, procura órgãos de choque para nos alertar. Nesse momento, aparece uma série de sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça e músculos, que representam o grito de alerta de bilhões de células suplicando para que mudemos nosso estilo de vida. (p.101)

Cap. 11: O Assassinato da Infância

O sistema social cometeu um dos mais dramáticos assassinatos coletivos: o assassinato da infância. Uma criança de sete anos, na atualidade, provavelmente tem mais informações do que tinha um imperador da Roma antiga.
O mundo fica estarrecido com o uso de armas de destruição em massa, mas silencia diante das “armas” usadas pelo sistema social que provocam a destruição em massa da infância de nossas crianças. (p.107)
Nossas crianças são instáveis, irritadiças, intolerantes a contrariedades, inseguras em relação a situações novas e tem enorme dificuldade de debater ideias em ocasiões minimamente estressantes.

Nunca Foi Tão Difícil Educar:

Todos nós temos responsabilidade no assassinato da infância. Quando as crianças são atingidas pela SPA, na primeira infância, até os cinco anos de idade, os pais ficam extasiados achando que seus filhos são gênios. Eles não conseguem perceber os sintomas. Para piorar, colocam os filhos num mar de atividades (escola, aprendizagem de idiomas, música, esportes, etc.) e, além disso, permitem que acessem as redes sociais indiscriminadamente. Esse processo agita mais ainda a mente deles. (p. 109)
Os pais se esquecem de que as crianças precisam ter infância, caso contrário, terão uma emoção instável, insatisfeita, irritadiça, intolerantes e, claro, hiperpensantes. Quando chega a segunda infância, dos seis aos dez anos, a pré-adolescência e adolescência, os pais começam a perceber que algo está errado, pois o gênio desapareceu.
É fundamental que os pais não deem presentes e roupas em excesso aos filhos, mas também não deixem que fiquem o dia inteiro conectados em redes sociais. A utilização ansiosa desses aparelhos pode causar dependência psicológica, igualmente aos usuários de drogas.

Cap. 13: Graves Consequências da Síndrome do Pensamento Acelerado:

13.1 Emocionais:
1. Envelhecimento Precoce da Emoção: Insatisfação Crônica. Quando hiperaceleramos os pensamentos, a emoção perde em qualidade, estabilidade e profundidade. São necessários cada vez mais estímulos, aplausos, reconhecimento para sentirmos migalhas de prazer.
Uma mente hiperpensante envelhece precocemente a emoção, gerando um estado desconfortável que é bem caracterizado: irritabilidade, reclamação frequente, impaciência com quem não pensa a mesma coisa ou não tem o mesmo ritmo, falta de disciplina para correr atrás dos sonhos, dificuldade de desfrutar o próprio sucesso.
Tem jovens de 10, 12, 15 e 20 anos, com idade emocional mais avançada do que muitos idosos de 80 e 90 anos. Se muitos jovens estão emocionalmente envelhecidos, imagine os adultos mentalmente acelerados. Vários se encontram num asilo emocional. Felizmente, a emoção humana pode e deve rejuvenescer. Por isso, há idosos com a idade biológica de 80 anos, mas com um vigor inacreditável (p. 122).
2. Retardamento da Maturidade da Emoção: Quando uma pessoa tem um SPA impactante e seu Eu é incapaz de gerenciar minimamente os pensamentos, o processo de elaboração das experiências, que contém perdas, decepções, derrotas, limites, fica muito comprometido. O fenômeno RAM não forma núcleos saudáveis de janelas light no córtex cerebral para dar sustentabilidade as funções complexas da inteligência, como proatividade, autodeterminação, resiliência, tolerância.
Além da consequência anterior (número 1), também ocorre o retardamento da maturidade. Imagine um ser humano adulto com uma emoção envelhecida e, ao mesmo tempo, imaturo? Alguns exemplos você já conhece: executivos, médicos,  advogados, psicólogos, jornalistas, entre outros, que não aceitam ser contrariados, criticados ou confrontados. São pessoas sem juventude emocional e imatura intelectualmente. (p. 123-124)
3. Morte Precoce do Tempo Emocional: Esta é uma das mais graves consequências da SPA, a morte da percepção do tempo emocional. A SPA nos leva a viver uma vida tão rápida em nossa mente, que acaba por distorcer nossa percepção. Em relação ao passado, vivemos mais tempo biologicamente, mas também morremos mais cedo emocionalmente.
A medicina prolongou a vida, mas o sistema social contraiu o tempo emocional. Estamos tão atolados com atividades mentais e profissionais que não temos tempo para desfrutar, digerir e assimilar as experiências existenciais. Um dos nossos maiores desafios é dilatar o tempo.
4. Desproteção Emocional e Desenvolvimento de Transtornos Psiquiátricos: Uma pessoa agitada e hiperpensante reduz a habilidade de filtrar estímulos estressantes. Ela tem uma facilidade enorme de formar janelas kyller. Qualquer crítica ou injustiça a derrota. Perdas e decepções a afetam tanto que desertificam seu dia, sua semana, seu mês e, ás vezes, sua vida.
Estando desprotegida emocionalmente tem grande chance de desenvolver hipersensibilidade. Ela não só se preocupa com a dor do outro, mas acaba vivendo esta dor. Costuma ter uma preocupação exagerada com sua imagem social (reputação), com o que os outros pensam dela. Elas tem mais facilidade de intensificar a SPA e deflagrar ou desenvolver depressão, síndrome do pânico e doenças psicossomáticas. Lembrem-se: nossos piores inimigos não estão fora de nós (p. 127).

Outras Consequências da SPA:
5. Doenças Psicossomáticas: A ansiedade crônica (contínua) pode causar inúmeros sintomas e transtornos psicossomáticos: taquicardia, hipertensão, nó na garganta, queda de cabelos, entre outros. Pode, inclusive, desencadear ou acelerar a evolução de determinados tipos de enfarto e de câncer. (p.129)
6. Comprometimento de Desempenho Intelectual Global: Em longo prazo, a SPA afeta o processo de observação, assimilação, resgate e organização de dados. Provas orais e escritas podem ser severamente afetadas por uma mente hiperpensante e hiperpreocupada com seu rendimento intelectual e com a opinião de pais e professores. O estresse crônico da SPA pode dificultar a abertura das janelas da memória e a construção do raciocínio. (p. 129)
7. Deterioração das Relações Sociais: Uma mente hiperacelerada tem tendência a ser impulsiva, a não pensar antes de reagir e a ter baixo nível de paciência com filhos, amigos, cônjuges, colegas de trabalho. Este comportamento acaba por comprometer a afetividade, a estabilidade e a profundidade das relações interpessoais. Muitos casais começam sua relação no céu do afeto e a terminam no inferno dos atritos. (p. 130)

8. Dificuldade de Trabalhar em Equipe: Uma mente agitada tem maior dificuldade de expressar seus pensamentos, debater ideias, promover seus colegas, ser simpático (agradável) ou empático (olhar com os olhos do outro). A SPA compromete a saúde psíquica de um ser humano, o futuro de uma empresa, o Produto Interno Bruto (PIB) de um país e a sustentabilidade de meio ambiente e da espécie humana.















[1] Resiliência. É a capacidade de voltar ao seu estado natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum.

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