WEIL, Pierre,
TOMPAKOW, Roland. O
corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal.
Petrópolis: Vozes, 1986.
1. REALCE
DAS PARTES DO CORPO:
Desde
as civilizações primitivas usamos símbolos, mensagens sintéticas de significado
convencional. São como ferramentas especializadas que a inteligência humana
cria e procura padronizar para facilitar a sua própria tarefa – a imensa e
incansável tarefa de compreender.
A
característica marcante do símbolo é fugir da palavra escrita por extenso. A
frase já é o grupo de símbolos (palavras), por sua vez também compostas de
símbolos (letras) de fugazes vibrações sonoras. E tudo isso sujeito a um código
gramatical de origem empírica e lastrado com a inevitável imprecisão semântica,
especialmente a deterioração do significado percebido através de gerações.
Sim,
vem de longe, da noite dos tempos, o significado de muitas coisas. Aquele carro
do Corpo de Bombeiros foi pintado hoje – mas o simbolismo da sua pintura nos
fala uma linguagem tão antiga como o próprio fogo. Tão antiga como a linguagem
dos nossos gestos, das nossas atitudes em relação ao meio que, neste livro,
tentaremos descodificar.
Momento
oportuno para usarmos o símbolo ao compararmos o corpo humano a uma esfinge,
aquela dos Egípcios ou dos Assírios. Composta de quatro partes: corpo de Boi;
tórax de Leão; asas de Águia e cabeça de Homem.
Há
uma tradição muita antiga segundo a cada qual uma destas partes representa uma
parte do físico do homem e também a sua correspondência psicológica. Eis como
seria essa correspondência:
BOI
|
ABDÔMEN
|
VIDA INSTINTIVA E VEGETATIVA
|
LEÃO
|
TÓRAX
|
VIDA EMOCIONAL
|
ÁGUIA
|
CABEÇA
|
VIDA MENTAL (Intelectual e Espiritual)
|
HOMEM
|
CONJUNTO
|
CONSCIÊNCIA E DOMÍNIO DOS TRÊS INCONSCIENTES ANTERIORES
|
a) BOI –
colocado em evidência na nossa expressão corporal, tende a traduzir por uma
acentuação do Abdômen, possuindo a característica das pessoas que gostam de
boas refeições (plano alimentar), os homens diante do rebolar das mulheres,
engancham os polegares no cinto (cós),
com os dedos direcionados para o órgão genital (plano sexual).
b) LEÃO –
coloca-se em relevo o tórax onde reside o coração, o centro da emoção.
Simbolizando a preponderância do EU, essas pessoas são vaidosas, egocêntricas e
extremamente narcisistas[1],
ou que naquele momento querem se impor perante as demais.
Com o avançar do tórax, no Homem, o movimento
inspiratório é ativado e nele entra em ação o diafragma (músculo côncavo que
separa o tórax do abdômen), os intercostais, as costelas e certos músculos
abdominais, estes mais acentuados. Na Mulher, além do diafragma, a respiração é
acionada mais pelas costelas e músculos intercostais.
c) ÁGUIA –
representada pela cabeça, indicando o estado de controle do corpo pela mente.
Cabeça erguida significa hipertrofia do controle mental; em contrapartida,
cabeça baixa significa que o indivíduo é controlado pelos estímulos externos.
Em posição ereta (linear) indica um controle normal da mente.
Com isso, observe sempre a atitude da cabeça
das pessoas, destarte, perceberá a intensidade do domínio intelectual e
espiritual daquela mente, naquele instante, aprovando ou rejeitando as emoções
e instintos do seu corpo.
2. TENSÃO:
É
uma cumulação de energia contraindo certos músculos ou grupos musculares, à
espera da ação decisiva para alcançar certo objetivo. Este objetivo pode ser
material ou mental, consciente ou não. (pág.168)
Possivelmente
começando com Reich (ou, com Freud tentando encontrar conexões entre o
Consciente e o Sistema nervoso) que chamou a atenção sobre a Linguagem do
Corpo, o mistério começou a ceder. Surgiu a análise energética de Lowen, a
terapia Gestalt de Perl e muitas outras. Destarte, Green e demais colaboradores
(1970) obtiveram dados suficientes e formularam o Princípio
PSICOFISIOLÓGICO: - “Cada modificação
no estado fisiológico é acompanhada por uma mudança apropriada no estado
mental-emocional; e reciprocamente cada modificação no estado mental-emocional
é acompanhada por uma mudança apropriada no estado fisiológico”. (pág.169)
Alexandre
Lowen, médico norte-americano, inspirado nos trabalhos de
discípulo dissidente de Freud e Willen Reich, apresentou uma explicação muito
lúcida de como se instala uma tensão muscular. No entanto, ele lembra primeiro
os princípios fundamentais que regem o que Freud chamou de “aparelho
psíquico”.
Segundo
o psicanalista em apreço, é do corpo que vem a origem de nosso “Ego” animal que
é o “Id”, i.e., os impulsos tais como
comer, beber, defecar, urinar, ter relações sexuais, procurando garantir a
nossa sobrevivência pessoal e a da espécie.
Só
que o meio em que vivemos e, mais particularmente, a sociedade bloqueia estes
impulsos ou, pelo menos, atrasam a sua descarga: só se pode mamar em horas
determinadas, urinar em local próprio e ter relação sexual com certas pessoas e
em certas condições conhecidas de todos.
Em
princípio os agentes que assumem o papel repressivo desses impulsos são os Pais
e, posteriormente, passam a ser introjetados paulatinamente em nossa mente, com
o passar dos anos assumimos totalmente o papel que antes era desempenhado por
eles. Exemplos: não defeque nas calças ou não urine na cama, existindo uma
“voz” interior que nos impede de o fazer. É essa voz interior que se torna
inconsciente e que foi denominada por Freud como o “superego”.
Sendo
atribuído ao “Ego” a função de
apaziguar esta luta entre o desejo entre o mundo exterior de um lado e o Id, e
o mundo interior do outro que é o Superego, assumindo a posição repressora
daquelas vontades.
Em
síntese, toda tensão muscular crônica,
toda postura ou expressão forçada permanente que se traduz em linguagem “fixa”
do corpo, é uma expressão corporal de superego que conseguiu se impor naquelas
circunstâncias. (pág.174)
3. TÉCNICAS DE RELAXAMENTO:
Alguns
psicoterapeutas modernos, inspirados na
Ioga, têm desenvolvido métodos e técnicas para o extravasamento de tensões
musculares, com a finalidade de:
descansar
e recuperar energias depois de esforço físico e mental prolongado;
preparar
o terreno para dormir, nos casos de insônia. (pág.268)
Existem
outros métodos mais sofisticados com fins psicoterápicos, como exemplo o “Training”
autógeno de Schultz. O Judô, na qual “JU” ceder, suavidade e “Do” doutrina,
princípio, é mais do que defesa pessoal ou meramente esporte, é um meio de
desenvolver mais harmonicamente nosso ser integral.
Mais
precisamente o Aiki-do tem por objetivo, como afirma o mestre Nakazono, de
Tóquio, inocular nos seus adeptos o amor e a beleza que existem em toda vida
humana e realizar a permanência da paz no mundo. O ponto de partida, nesta via
fundamental, se faz estudando a teoria e a prática dos movimentos.
A
TÉCNICA DE ALEXANDER:
Em
torno de 1900, o australiano F.M.
Alexander, ao perder totalmente sua voz e nenhum tratamento médico conseguiu
solucionar o problema, passou a observar diante de um espelho que seu corpo
inteiro estava envolvido, relacionado a posturas inadequadas.
Criou
então uma técnica que não se tratava de exercícios fisicos, mas de uma
aprendizagem do uso adequado do corpo, utilizando-se dos principais
equipamentos: um espelho, uma mesa e uma cadeira.
O
ponto marcante de sua técnica é o encontro do uso correto do centro de
gravidade. Disto resultam malformações físicas, tensões de músculos dorsais,
abdominais ou outros grupos musculares, e um mal-estar com repercussões sobre o
estado geral do humor. Em engenharia e medicina isto é “stress”,
denominada também de tensão.
4. PSICOTERAPIA
CORPORAL:
Ilana
Churgin descobriu, ao procurar “nós” musculares de tensão, que certas pessoas
começavam imediatamente a associar a referida tensão com acontecimentos
passados ou a revivê-los. Essa descoberta lhe permitiu elaborar um método que
consiste em provocar verdadeiras catarses[2] e
revivência de acontecimentos antigos, através da massagem direta de partes
musculares em tensão, ou a partir de simples gestos estereotipados.
Ela
observou que o sentimento de culpa, por exemplo, está muitas das vezes
localizado nos músculos dorsais, fato já observado por Feldenkrais que notou
que toda emoção negativa se “inscreve” nos músculos extensores dorsais.
5. ENERGEMAS
E SEMANTEMAS:
Agora
você já sabe ler; braço, nariz ou mão dizem palavras ou até frases inteiras.
Somadas formam um sentido geral que, por percepção direta, um observador
treinado entende na sua totalidade e instantaneamente!
Em
linguagem da Teoria da Informação e Percepção Estética (A.
Moles), diríamos que você juntou Morfemas, i.e., unidades neutras e mensagens
básicas para formar um Semantema (unidade-mensagem) que, equacionando seus
morfemas componentes, emite um conceito completo.
Em
linguagem da Teoria da Percepção Cinésica (Weil e Tompakow), os
morfemas que você juntou são:
Concordantes –
entre si.
ENERGEMAS {
Discordantes –
entre si.
Com
isso, você obteve:
Harmônicos
SEMANTEMAS {
Discordantes
Vejamos
um exemplo para melhor entendimento: Um náufrago numa ilha deserta junta
pauzinhos e coquinhos isolados (morfemas) para formar o pedido de socorro – SOS
– em código morse (semantema).
6. FRONTEIRAS
INVISÍVEIS:
Talvez
você ainda não percebeu, mas o seu EU não é limitado pela sua pele, as
fronteiras do seu corpo são invisíveis. Freud, em “Eu e o Id”, disse que nossa
pele era o limite entre o ego e o mundo
exterior.
É
melhor conceber esta nossa periferia física como apenas um limite descritivo do
universo, ou melhor, entre o Universo do lado de fora e do lado de dentro de
nós. O nosso EU inclui o exterior.
6.1 O TERRITÓRIO FAZ PARTE DO “EU”
Para
entendermos melhor é o espaço pessoal e social, podendo ser definido assim: a
territorialidade regula a densidade das espécies de seres vivos, a distância ideal
entre seus componentes individuais, para as diversas manifestações da vida em
comum.
No reino
animal a territorialidade apresenta funções vitais, desde os reflexos
necessários para se esconder do inimigo até surpreender a presa, comunicar-se
ou reproduzir a espécie. Em suma, mantém o grupo coeso e por isso vivos.
O
espaço social e pessoal humano e a nossa percepção do mesmo, é assunto de um
conjunto de observações e teorias da nossa ciência que Edward Hail, um dos
notáveis pioneiros, batizou de “proxemics” em inglês. Esta
ciência das “distâncias ou proximidades” condiz perfeitamente com o princípio
geral que já estudamos, e que é básico para compreendermos a linguagem do nosso
corpo: só podemos estar livres de “stress” quando cada atitude psíquica
nossa for acompanhada da sua correspondente atitude física ideal.
Portanto,
queremos estar próximos da mulher amada, do bom livro e do copo de bebida,
quando queremos ser amados, adquirir o saber e saciar nossa sede. E queremos
estar distantes do copo quando estamos fartos de tanto beber, da pessoa amada
quando houve algum desentendimento entre eles e assim por diante.
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