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segunda-feira, 30 de maio de 2016

O CORPO FALA

WEIL, Pierre, TOMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. Petrópolis: Vozes, 1986.

1. REALCE DAS PARTES DO CORPO:

Desde as civilizações primitivas usamos símbolos, mensagens sintéticas de significado convencional. São como ferramentas especializadas que a inteligência humana cria e procura padronizar para facilitar a sua própria tarefa – a imensa e incansável tarefa de compreender.
A característica marcante do símbolo é fugir da palavra escrita por extenso. A frase já é o grupo de símbolos (palavras), por sua vez também compostas de símbolos (letras) de fugazes vibrações sonoras. E tudo isso sujeito a um código gramatical de origem empírica e lastrado com a inevitável imprecisão semântica, especialmente a deterioração do significado percebido através de gerações.
Sim, vem de longe, da noite dos tempos, o significado de muitas coisas. Aquele carro do Corpo de Bombeiros foi pintado hoje – mas o simbolismo da sua pintura nos fala uma linguagem tão antiga como o próprio fogo. Tão antiga como a linguagem dos nossos gestos, das nossas atitudes em relação ao meio que, neste livro, tentaremos descodificar.
Momento oportuno para usarmos o símbolo ao compararmos o corpo humano a uma esfinge, aquela dos Egípcios ou dos Assírios. Composta de quatro partes: corpo de Boi; tórax de Leão; asas de Águia e cabeça de Homem.
Há uma tradição muita antiga segundo a cada qual uma destas partes representa uma parte do físico do homem e também a sua correspondência psicológica. Eis como seria essa correspondência:

BOI
ABDÔMEN
VIDA INSTINTIVA E VEGETATIVA
LEÃO
TÓRAX
VIDA EMOCIONAL
ÁGUIA
CABEÇA
VIDA MENTAL (Intelectual e Espiritual)
HOMEM
CONJUNTO
CONSCIÊNCIA E DOMÍNIO DOS TRÊS INCONSCIENTES ANTERIORES

a)    BOI – colocado em evidência na nossa expressão corporal, tende a traduzir por uma acentuação do Abdômen, possuindo a característica das pessoas que gostam de boas refeições (plano alimentar), os homens diante do rebolar das mulheres, engancham  os polegares no cinto (cós), com os dedos direcionados para o órgão genital (plano sexual).

b)    LEÃO – coloca-se em relevo o tórax onde reside o coração, o centro da emoção. Simbolizando a preponderância do EU, essas pessoas são vaidosas, egocêntricas e extremamente narcisistas[1], ou que naquele momento querem se impor perante as demais.
Com o avançar do tórax, no Homem, o movimento inspiratório é ativado e nele entra em ação o diafragma (músculo côncavo que separa o tórax do abdômen), os intercostais, as costelas e certos músculos abdominais, estes mais acentuados. Na Mulher, além do diafragma, a respiração é acionada mais pelas costelas e músculos intercostais.

c)    ÁGUIA – representada pela cabeça, indicando o estado de controle do corpo pela mente. Cabeça erguida significa hipertrofia do controle mental; em contrapartida, cabeça baixa significa que o indivíduo é controlado pelos estímulos externos. Em posição ereta (linear) indica um controle normal da mente.
Com isso, observe sempre a atitude da cabeça das pessoas, destarte, perceberá a intensidade do domínio intelectual e espiritual daquela mente, naquele instante, aprovando ou rejeitando as emoções e instintos do seu corpo.                                                      

2. TENSÃO:

É uma cumulação de energia contraindo certos músculos ou grupos musculares, à espera da ação decisiva para alcançar certo objetivo. Este objetivo pode ser material ou mental, consciente ou não. (pág.168)
Possivelmente começando com Reich (ou, com Freud tentando encontrar conexões entre o Consciente e o Sistema nervoso) que chamou a atenção sobre a Linguagem do Corpo, o mistério começou a ceder. Surgiu a análise energética de Lowen, a terapia Gestalt de Perl e muitas outras. Destarte, Green e demais colaboradores (1970) obtiveram dados suficientes e formularam o Princípio

             PSICOFISIOLÓGICO: - “Cada modificação no estado fisiológico é acompanhada por uma mudança apropriada no estado mental-emocional; e reciprocamente cada modificação no estado mental-emocional é acompanhada por uma mudança apropriada no estado fisiológico”. (pág.169)
Alexandre Lowen, médico norte-americano, inspirado nos trabalhos de discípulo dissidente de Freud e Willen Reich, apresentou uma explicação muito lúcida de como se instala uma tensão muscular. No entanto, ele lembra primeiro os princípios fundamentaisimeiro psiquico"ue rege o que Freud chamou de "ou uma explicaonal; e reciprocamente cada modifica que regem o que Freud chamou de “aparelho psíquico”.
Segundo o psicanalista em apreço, é do corpo que vem a origem de nosso “Ego” animal que é o “Id”, i.e., os impulsos tais como comer, beber, defecar, urinar, ter relações sexuais, procurando garantir a nossa sobrevivência pessoal e a da espécie.
Só que o meio em que vivemos e, mais particularmente, a sociedade bloqueia estes impulsos ou, pelo menos, atrasam a sua descarga: só se pode mamar em horas determinadas, urinar em local próprio e ter relação sexual com certas pessoas e em certas condições conhecidas de todos.
Em princípio os agentes que assumem o papel repressivo desses impulsos são os Pais e, posteriormente, passam a ser introjetados paulatinamente em nossa mente, com o passar dos anos assumimos totalmente o papel que antes era desempenhado por eles. Exemplos: não defeque nas calças ou não urine na cama, existindo uma “voz” interior que nos impede de o fazer. É essa voz interior que se torna inconsciente e que foi denominada por Freud como o “superego”.
Sendo atribuído ao “Ego” a função de apaziguar esta luta entre o desejo entre o mundo exterior de um lado e o Id, e o mundo interior do outro que é o Superego, assumindo a posição repressora daquelas vontades.
Em síntese, toda tensão muscular  crônica, toda postura ou expressão forçada permanente que se traduz em linguagem “fixa” do corpo, é uma expressão corporal de superego que conseguiu se impor naquelas circunstâncias. (pág.174)

3.  TÉCNICAS DE RELAXAMENTO:

Alguns psicoterapeutas modernos,  inspirados na Ioga, têm desenvolvido métodos e técnicas para o extravasamento de tensões musculares, com a finalidade de:

*  descansar e recuperar energias depois de esforço físico e mental prolongado;
*  preparar o terreno para dormir, nos casos de insônia. (pág.268)

Existem outros métodos mais sofisticados com fins psicoterápicos, como exemplo o “Training” autógeno de Schultz. O Judô, na qual “JU”  ceder, suavidade e “Do” doutrina, princípio, é mais do que defesa pessoal ou meramente esporte, é um meio de desenvolver mais harmonicamente nosso ser integral.
Mais precisamente o Aiki-do tem por objetivo, como afirma o mestre Nakazono, de Tóquio, inocular nos seus adeptos o amor e a beleza que existem em toda vida humana e realizar a permanência da paz no mundo. O ponto de partida, nesta via fundamental, se faz estudando a teoria e a prática dos movimentos.

A TÉCNICA DE ALEXANDER:

Em torno de 1900,  o australiano F.M. Alexander, ao perder totalmente sua voz e nenhum tratamento médico conseguiu solucionar o problema, passou a observar diante de um espelho que seu corpo inteiro estava envolvido, relacionado a posturas inadequadas.
Criou então uma técnica que não se tratava de exercícios fisicos, mas de uma aprendizagem do uso adequado do corpo, utilizando-se dos principais equipamentos: um espelho, uma mesa e uma cadeira.
O ponto marcante de sua técnica é o encontro do uso correto do centro de gravidade. Disto resultam malformações físicas, tensões de músculos dorsais, abdominais ou outros grupos musculares, e um mal-estar com repercussões sobre o estado geral do humor. Em engenharia e medicina isto é “stress”, denominada também de tensão.

4. PSICOTERAPIA CORPORAL:

Ilana Churgin descobriu, ao procurar “nós” musculares de tensão, que certas pessoas começavam imediatamente a associar a referida tensão com acontecimentos passados ou a revivê-los. Essa descoberta lhe permitiu elaborar um método que consiste em provocar verdadeiras catarses[2] e revivência de acontecimentos antigos, através da massagem direta de partes musculares em tensão, ou a partir de simples gestos estereotipados.
Ela observou que o sentimento de culpa, por exemplo, está muitas das vezes localizado nos músculos dorsais, fato já observado por Feldenkrais que notou que toda emoção negativa se “inscreve” nos músculos extensores dorsais.

5. ENERGEMAS E SEMANTEMAS:

Agora você já sabe ler; braço, nariz ou mão dizem palavras ou até frases inteiras. Somadas formam um sentido geral que, por percepção direta, um observador treinado entende na sua totalidade e instantaneamente!
Em linguagem da Teoria da Informação e Percepção Estética (A. Moles), diríamos que você juntou Morfemas, i.e., unidades neutras e mensagens básicas para formar um Semantema (unidade-mensagem) que, equacionando seus morfemas componentes, emite um conceito completo.
Em linguagem da Teoria da Percepção Cinésica (Weil e Tompakow), os morfemas que você juntou são:
                              Concordantes – entre si.              
ENERGEMAS   { 
                              Discordantes – entre si.

Com isso, você obteve:

                             Harmônicos
SEMANTEMAS  {
                             Discordantes
Vejamos um exemplo para melhor entendimento: Um náufrago numa ilha deserta junta pauzinhos e coquinhos isolados (morfemas) para formar o pedido de socorro – SOS – em código morse (semantema).

6. FRONTEIRAS INVISÍVEIS:

Talvez você ainda não percebeu, mas o seu EU não é limitado pela sua pele, as fronteiras do seu corpo são invisíveis. Freud, em “Eu e o Id”, disse que nossa pele era o limite entre o ego  e o mundo exterior.
É melhor conceber esta nossa periferia física como apenas um limite descritivo do universo, ou melhor, entre o Universo do lado de fora e do lado de dentro de nós. O nosso EU inclui o exterior.

6.1   O TERRITÓRIO FAZ PARTE DO “EU”

Para entendermos melhor é o espaço pessoal e social, podendo ser definido assim: a territorialidade regula a densidade das espécies de seres vivos, a distância ideal entre seus componentes individuais, para as diversas manifestações da vida em comum.
No reino animal a territorialidade apresenta funções vitais, desde os reflexos necessários para se esconder do inimigo até surpreender a presa, comunicar-se ou reproduzir a espécie. Em suma, mantém o grupo coeso e por isso vivos.
O espaço social e pessoal humano e a nossa percepção do mesmo, é assunto de um conjunto de observações e teorias da nossa ciência que Edward Hail, um dos notáveis pioneiros, batizou de “proxemics” em inglês. Esta ciência das “distâncias ou proximidades” condiz perfeitamente com o princípio geral que já estudamos, e que é básico para compreendermos a linguagem do nosso corpo: só podemos estar livres de “stress” quando cada atitude psíquica nossa for acompanhada da sua correspondente atitude física ideal.
Portanto, queremos estar próximos da mulher amada, do bom livro e do copo de bebida, quando queremos ser amados, adquirir o saber e saciar nossa sede. E queremos estar distantes do copo quando estamos fartos de tanto beber, da pessoa amada quando houve algum desentendimento entre eles e assim por diante.




[1] Narcisista. Pessoa extremamente vaidosa.
[2] Catarse. Liberação de pensamentos e ideias que estavam reprimidos no inconsciente, seguindo-se alivio emocional.

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